ENTREVISTA: HYVETH WILLIANS

“Os pregadores proféticos necessitam falar clara e poderosamente sobre o que está errado e mostrar como retomar o caminho de volta a Deus”

por Derek Morris

Falando aos discípulos, Jesus declarou: “Estas palavras que vocês estão ouvindo não são Minhas; são de Meu Pai que Me enviou” (Jo 14:24). Essa foi a marca de Seu ministério. Seus ensinos e Sua própria vida eram nada mais que uma poderosa proclamação da Palavra de Deus. Por isso, as multidões ficavam embevecidas. Conhecedor experimental do poder da Palavra, o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, aconselhou: “Pregue a Palavra” (2Tm 4:2).

Como pregadores, devemos ter em mente o fato de que o povo necessita ouvir a Palavra de Deus, não nossas opiniões. O que Deus tem a dizer é mais importante do que o que temos a dizer. Atualmente, temos ouvido muitos sermões que apenas tocam de leve a Palavra de Deus; o resultado é a falta de poder no púlpito e falta de transformação na igreja.

Priorizando a excelência de nossa pregação, Ministério entrevistou a teóloga Hyveth Williams. Ela é formada em Teologia pela Columbia Union College (1984), com mestrado em Divindade pela Universidade Andrews (1989) e doutorado em Ministério pelo Seminário Teológico da Universidade de Boston (1998). Atualmente, Hyveth é professora de homilética no Seminário Teológico da Universidade Andrews, nos Estados Unidos.

Ministério: O que é pregação profética?

Hyveth: Trata-se de uma forma biblicamente fundamentada de proclamação na qual o pregador exercita
a autoridade divina da qual está investido como porta-voz de Deus. Quando falo de autoridade, refiro-me ao que Cristo tinha e que deixava “as multidões maravilhadas de Sua doutrina” (Mt 7:28). Embora o poder seja naturalmente derivado da autoridade,
exercê-lo a bel-prazer é sempre perigoso e opressivo. Mas, quando o poder é dádiva da autoridade divina, ele é libertador e redentor.

Ministério: Isso é o que supostamente acontece com toda pregação bíblica. Mas, o que torna única a pregação profética?

Hyveth: Todo pregador bíblico deve exercer autoridade, mas a pregação profética destaca a justiça de Deus, de uma forma diferente e relevante para as necessidades dos ouvintes. Pregadores proféticos não estão preocupados em ser politicamente corretos. Eles estão prontos para confrontar com autoridade divina a injustiça em todas as formas e lugares. Cristo deu essa autoridade aos discípulos (Lc 9:1, 2). Os ouvintes podem identificar isso durante a mensagem, porque o mensageiro revela a santa ousadia de um cora

Ministério: Então, podemos concordar com Leonora Tisdale que, no livro Prophetic Preaching: A Pastoral Approach, diz que “pregação profética é contracultural e desafia o status quo”.

Hyveth: Exatamente. Esse tipo de pregação não apenas desafia o status quo, mas oferece critérios bíblicos e teológicos para a atual condição humana, desde a escravidão individual ao pecado até os atuais clamores por liberdade ecoados em todo o mundo através de protestos massivos. Provê estratégias divinamente orquestradas sobre maneiras de sair do desespero com determinação e esperança.

Ministério: De que maneira a pregação profética está relacionada com a vida particular do ouvinte, e não apenas com as preocupações sociais mais amplas?

Hyveth: O pecado generalizado está intimamente ligado à transgressão pessoal. De fato, o pecado generalizado começa na mente de alguém, muito antes de penetrar o sistema, poluindo-o e pervertendo-o. Por isso, é importante confrontar o pecado individual antes que ele finque raízes corporativas. Por exemplo, há uma definida ligação entre adultério e corrupção corporativa, porque alguém que é infiel ao cônjuge muito provavelmente será desonesto no tratamento com outras esferas da vida. Os pregadores proféticos necessitam falar clara e poderosamente sobre o que está errado e mostrar como retomar o caminho de volta a Deus, nos âmbitos pessoal e corporativo.

“Necessitamos nos apresentar diante da comunidade e declarar: ‘Assim diz o Senhor’, de modo que as pessoas parem e ouçam o que temos a dizer”

Ministério: Quais são os passos que devemos dar no preparo de um sermão profético?

Hyveth: O primeiro passo é estudar e integrar a Palavra de Deus na mente e no coração. Isso precede o preparo de todo sermão, porque o pregador deve falar de um Deus pessoalmente conhecido por ele, para que possa ser amado por todos. Recentemente, estive estudando a passagem de 2 Timóteo 2:15, onde o apóstolo Paulo aconselha o jovem pregador a procurar se apresentar “a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Aqui, o sentido original de “procurar” é “ser muito ativo”, implicando algo mais do que estar simplesmente familiarizado com informações, mas buscar os nobres traços que distinguem os produtivos servos de Deus.

Ministério: Qual é o segundo passo?

Hyveth: O pregador profético necessita examinar cuidadosamente a atual situação cultural, social ou religiosa, e colocar essa situação numa perspectiva bíblica. Para isso é preciso fazer algumas perguntas: Onde o povo errou? Quão longe do ideal de Deus ele tem se afastado? Qual é o papel que os líderes têm desempenhado nesse erro? Em 2006, o pastor batista Calvin Butts pregou um sermão intitulado “De torres e luzes”, comparando a queda das torres gêmeas do World Trade Center em Nova York à história da torre de Babel em Gênesis 11. Ele mostrou como a atividade de líderes tem destruído a honra e diminuído a perfeição. Ressaltou que a linguagem da comunidade financeira tem sido confusa. Então, falou uma palavra do Senhor, chamando as pessoas a reinstalar a linguagem da santidade em todas as suas atividades. Esse foi um maravilhoso exemplo de pregação profética.

Ministério: Tisdale diz que a pregação profética requer que o pregador denuncie o que não é de Deus no mundo e anuncie a nova realidade que Ele trará no futuro. O que a senhora nos diz sobre a proclamação dessa nova realidade?

Hyveth: Nós temos uma mensagem especial a proclamar nestes últimos dias da história da Terra. Deus criou nossa família humana para viver com Ele eternamente. Temos nos afastado do Seu ideal, mas Deus planejou restaurar-nos à comunhão com Ele. Mais do que simplesmente informar, a pregação profética tem como objetivo redimir e transformar, levar as pessoas de volta a um relacionamento salvador com Deus. Não temos muito tempo para voltar. Por isso, a pregação profética tem senso de urgência. O mundo está incendiando moral e espiritualmente. É tempo de o pregador profético se levantar e advertir os habitantes da Terra sobre o modo de escapar antes da conflagração final e lhes mostrar o refúgio que pode ser encontrado em Jesus Cristo, antes que Ele venha.

Ministério: Para a senhora, o que é mais impressionante na pregação profética?

Hyveth: A Bíblia diz que Jesus “ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1:22). A pregação profética me impressiona porque nos desafia a falar com autoridade. Jesus disse: “Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra” (Mt 28:18) e partilhou essa autoridade com os discípulos para que fossem fazer discípulos de todas as nações. Muitos pregadores parecem ter perdido essa autoridade. Parecem mais preocupados em ser divertidos do que em ser mensageiros cheios do Espírito que falam com autoridade. Poucas gerações atrás, as pessoas viam os pregadores como importantes personagens de autoridade. Hoje, muitos são ignorados e apresentados na mídia como caricaturas ou gananciosos aduladores. Chegou o tempo em que devemos reclamar o dom da pregação profética. Necessitamos nos apresentar diante da comunidade e declarar: “Assim diz o Senhor”, de modo que as pessoas parem e ouçam o que temos a dizer. Então, não lhes restará outra opção senão responder Àquele que nos chamou para proclamar a justiça e falar corajosamente contra o pecado.

Ministério: Em sua opinião, qual é a importância do exemplo do pregador profético para a credibilidade da mensagem proclamada?

Hyveth: Evidentemente, nem todos que foram chamados para pregar profeticamente serão como João Batista, a respeito de quem Cristo mesmo disse: “Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt 11:11). Entretanto, é essencial que o pregador profético mantenha um testemunho pessoal coerente com a mensagem. Da minha experiência pessoal, também posso dizer que Deus escolhe alguns vasos improváveis, mesmo quebrados, para ser Seus mensageiros proféticos; mas esses devem experimentar uma entrega pessoal completa a Cristo como Salvador e Senhor. Isso significa que o pregador, ao ser tentado a comprometer um mínimo que seja em qualquer área da vida, está pronto a resistir. Significa também que, quando estiver pregando, ninguém estará cochichando: “Você precisa ver este homem em casa”. Finalmente, significa que ele é extremamente fiel à elevada vocação com que Deus o agraciou.


“Pregadores proféticos não estão preocupados em ser politicamente corretos. Com autoridade divina, confrontam a injustiça em todas as formas”

Ministério: Quando olhamos a pregação profética, tanto na Bíblia como na História, parece que sempre houve um preço muito alto a ser pago ao se confrontar uma cultura que tem se distanciado de Deus. A senhora concorda?

Hyveth: Você está certo. Muitos daqueles que falaram por Deus acabaram sendo aprisionados, apedrejados, escarnecidos, torturados e crucificados (Hb 11). Isso é verdadeiro também nos dias de hoje. Um pregador do século 20, que me vem à mente, é Martin Luther King Jr. Outros que tiveram que pagar o preço são heróis e heroínas anônimos cujas identidades não conheceremos antes da vinda de Jesus. Em certa ocasião, Ellen G. White falou, como qualquer pregador profético deve falar: “Sei que o que digo me colocará em conflito. Esse não é meu desejo; pois o conflito parece ser incessante até o fim dos tempos; mas eu não posso viver covardemente nem morrer covardemente, deixando meu trabalho incompleto. Devo seguir os passos do meu Mestre.” Esse é o meu sentimento. Algumas pessoas podem isolar você e dizer: “Não dê ouvidos a esse pregador maluco.” Mas, Cristo disse: “Bem-aventurados serão vocês quando, por Minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos Céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mt 5:11, 12).

Ministério: O que a senhora gostaria de dizer ao pregador que, embora consciente da responsabilidade, teme o custo pessoal que a pregação profética possa ter?

Hyveth: A primeira coisa que eu diria é o seguinte: “Louve a Deus pelo fato de você não se sentir adequado para a tarefa.” O pregador que não está assustado é que me preocupa. Corra do pregador cheio de presunçosa confiança própria e sentimentos de autopromoção. Esse pregador é um falso profeta. Quando você tem o senso da grandeza que representa a pregação profética, você está na boa companhia de pregadores como Jeremias e Isaías, que temeram na presença de Deus, mas foram em frente no cumprimento do dever de pregar de toda maneira e em todo lugar, dependendo inteiramente do poder de Deus.