O relato da apresentação de Jesus no templo revela um contraste marcante: o sacerdote que oficiou o rito e um desconhecido ancião. O primeiro executou a cerimônia mecanicamente sem perceber que estava diante do Filho de Deus; o outro, por sua vez, apresentou Jesus em direta conexão com o Céu.
Sem visão espiritual, o sacerdote cumpriu tecnicamente o ritual. “Tomou a criança nos braços e ergueu-a perante o altar. Depois de devolvê-la à mãe, escreveu o nome ‘Jesus’ na lista dos primogênitos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 33). Despediu a família como teria feito com qualquer outra.
Aquele sacerdote jamais podia imaginar que o casal de camponeses da Galileia seria escolhido para educar o Messias. As coisas espirituais são loucura para o coração carnal. Não pode percebê-las, “porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14, ARA). A tragédia é maior aqui, pois estamos falando da cegueira de alguém chamado para um serviço essencialmente espiritual.
Porém, Deus não permitiria que Seu Filho ficasse à mercê da máquina burocrática sacerdotal da época. “Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2:25, ARA). Sintonizado na frequência do Céu, ele teve olhos aguçados para perceber a gloriosa manifestação divina escondida no corpo frágil de um bebê. Pelo menos três pontos diferenciavam Simeão do sacerdote.
Justo e piedoso. Justificado pela fé, Simeão tinha um comportamento íntegro. Ele via as coisas como Deus as vê. Por isso estava apto a “ver o Cristo do Senhor” (Lc 2:26) antes de ver a face da morte. A palavra “piedoso” aponta para sua prática devocional constante. Sua religião não era vazia e formal, mas cheia de vida e significado. Só pode enxergar as manifestações de Deus quem está treinando a mente e o coração para o encontro com o Senhor.
Com os olhos na promessa. Simeão levava a sério as profecias e esperava a consolação de Israel. Sua vida girava em torno da expectativa do cumprimento da promessa messiânica. Desejava com todas as forças viver o dia em que o mundo seria visitado pela Majestade do Céu. Para gente assim, o segredo de Deus é revelado. Isso nos ensina que não é preciso apenas saber que Jesus vem. É necessário amar a Sua vinda (2Tm 4:8).
Possuído pelo Espírito. Simeão não tinha uma relação esporádica com o Espírito Santo. Não vivia de lampejos espirituais nem na dependência de inspiração alheia. O texto é enfático: “O Espírito estava sobre ele” (Lc 2:25). Cheio do Espírito, recebeu o dom de profecia, que aguçou ainda mais o sonho de ver o Cristo. Impelido pelo mesmo Espírito, foi ao templo e viu o que o sacerdote não viu. O fruto e os dons espirituais modelam a mente para percebermos as coisas de Deus e assim Ele nos usar com poder para Sua glória.
José e Maria estavam indo embora sem que ninguém percebesse até que um ancião desconhecido apareceu. A atmosfera celestial baixou ali. Simeão recebeu em seus braços o Presente de Deus e cantou a música que havia ensaiado a vida inteira: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o Teu Servo, segundo a Tua palavra; porque os meus olhos já viram a Tua salvação” (Lc 2:29 e 30). Essa foi a apresentação de fato de Jesus; feita na Terra e celebrada no Céu. Que em cada rito e cerimônia tenhamos olhos espirituais abertos para ver Jesus!
Vinícius Mendes, coordenador editorial na CPB