Desta maneira, a substituição do sábado pelo domingo na prática geral teve lugar lentamente, mas com muito conflito e mesmo derramamento de sangue, como confirma a história da igreja celta, de acordo com Lange. (1) Levou séculos para o domingo vir a ser considerado como o sábado. (2) E, até hoje, em espanhol, português, italiano, polonês e grande número de outras línguas, o sétimo dia da semana é ainda chamado por algumas transliterações de o velho nome “sábado”.
- 9. Profetizada a Mudança do Sábado. — Nós, os adventistas, cremos ter havido aí uma mudança inteiramente desautorizada, injustificada e presunçosa, do sábado, pela grande apostasia católica ou romana, conforme foi profetizado por Daniel (registrada em Daniel 7, especialmente os versos 24 e 25). A audaciosa fraqueza de reivindicação de autoridade e poder de Roma para mudar mesmo os preceitos dos “Dez Mandamentos de Deus” é vista por Catholic Belief de Joseph Faa di Bruno (1884), que tem conhecido várias traduções e muitas impressões. Na página 311, estão arrolados os “Dez Mandamentos de Deus ”, de Êxodo 20, dados em sua forma abreviada, em que o terceiro (quarto) é assim redigido: “Lembra-te de guardar o santo dia de sábado.” Na página seguinte (312) aparecem “Os Mandamentos da do que somos defensores da pregação numa linguagem erudita, com vocábulos rebuscados e difíceis, muito ao contrário, cremos que a expressão deva ser simples, mas correta.
Estas palavras visam apenas preparar-nos o espírito, para alguns artigos, que desejamos apresentar aos obreiros, relacionados com a nossa bela e agradável, mas ao mesmo tempo, tão menosprezada língua materna.
Que o Senhor nos ajude a alcançarmos êste desiderato.
Igreja’’, o primeiro dos quais é êste: “É-nos autorizadamente ordenado pela igreja. — 1. Observar os domingos e festas de guarda.
Que isto envolve especialmente a substituição do sábado pelo domingo, é visto no significado da expressão “Tradição Apostólica e Eclesiástica” que aparece no autorizado “Credo de Pio IV,” o qual foi dado a lume no final do Concilio de Trento:
Assim é que, eu admito como pontos de verdade revelada aquilo que a Igreja declara os apóstolos ensinaram como tais, quer claramente ou não claramente expressa, ou nem mesmo mencionada na escrita Palavra de Deus como, por exemplo, . . . que o domingo em lugar do sétimo dia (chamado sábado) deve ser guardado como santo. — Idem, pág. 251.
Nada poderia ser mais claro ou mais ousado.
Enquanto, como notamos, o sábado do sétimo dia continuou sendo observado em certas regiões por séculos, após a crucifixão, a comemoração da ressurreição veio gradualmente igualá-lo, e então, mais tarde, obscurecê-lo. E no Sínodo de Laodicéia, a influência predominante no concilio anatematizou aquêles que continuassem a obersar o sábado do sétimo dia, e impôs a observância do domingo. (3) Os cânones dominicais dêste concilio oriental, foram incorporados aos do Concilio Geral de Calcedônia em 451, e assim receberam força de lei pela igreja tôda.
Então, no século seguinte, Justiniano incorporou os cânones dos quatro primeiros concílios gerais (inclusive o cânon 29 de Calcedônia e Laudicéia) ao seu famoso código (Corpus Juris Civilis), cuja infração seria punível por penalidades civis. E isto permaneceu como a lei dominante de tôda a Europa durante a Idade Média, até ser modificado pelos países que adotaram o Protestantismo, nos quais decretos de tolerância foram baixados por seus respectivos parlamentos. Mais tarde isto foi substituído pelo Código de Napoleão, depois da Revolução Francesa, no final do século dezoito.
Nós, como adventistas do sétimo dia — e sem dúvida muitos em outras comunidades protestantes — negamos a validade de tal mudança do sábado como os católicos romanos se arrogam o direito de fazer, e é repetidamente admitida por influentes protestantes. Cremos que o sétimo dia continua como o imutável memorial da criação original de Deus e mais ainda, que o regenerado crente em Cristo que, cessando de pecar, entra no repouso espiritual, pode guardar o sábado como um sinal de sua recriação. Por êsse motivo recusamos reconhecer, honrar e obedecer àquilo que cremos ser uma substituição papal do imutável sábado de Deus.
Tomando a Bíblia como nossa única regra de fé e prática, e incapazes de encontrar autorização na Escritura para tal mudança, declinamos de seguir aquilo que cremos ser tradições e “mandamentos de homens”.
Enquanto os católicos assumem a responsabilidade da mudança do sábado, influentes protestantes — desde os tempos da Reforma — admitem que a mudança não foi feita por autoridade escriturística ou por ato apostólico, mas por humana ação eclesiástica. Assim:
A Confissão de Augsburg de 1530, Art. XXVII, declara:
Êles [os católicos] alegam que a troca do sábado para o dia do Senhor é contrária, como parece, ao Decálogo; e não encontram melhor exemplo para citar do que a mudança do sábado. Necessitam ter o poder da igreja para serem muito grandes, porque ela abriu mão de um preceito do Decálogo. — Philip Schaff. The Creeds of Christedom, Vol. 3, pág. 64.
O historiador da igreja, Johann August Neander, alemão, na The History of the Christian Religion and Church, tradução de Roses (1831), Vol. 1, pág. 186, afirma:
A comemoração do domingo, semelhante a outras comemorações, foi sempre e unicamente uma ordem humana; e longe estava da intenção dos apóstolos estabelecer uma ordenação divina a êste respeito; longe estava dêles, e da primitiva igreja apostólica, transferir as obrigações do sábado para o domingo.
O congregacionalista inglês, Robert W. Dale, em The Ten Commandments (1891), pág. 100, diz:
O sábado foi estabelecido sôbre uma específica ordem divina. Não podemos reclamar tal ordem como obrigação para observar o domingo.
O anglicano Dr. Isaac Williams, em Plain Sermons on the Catechism (1882), Vol. 1, pág. 336, adimite:
As razões pelas quais guardamos como santo o primeiro dia da semana em lugar do sétimo, são as mesmas pelas quais observamos muitas outras coisas, não porque a Bíblia, mas porque a Igreja, tem mandado.
O congregacionalista americano, Lyman Abbott, em Christian Union, de 26 de junho de 1890, declara:
A idéia corrente de que Cristo e Seus apóstolos substituíram oficialmente o sétimo dia da semana pelo primeiro, é absolutamente sem nenhuma autoridade no Nôvo Testamento.
O anglicano inglês, Dean F. W. Farrar, em The Voice From Sinai (1892), pág. 167, diz:
A igreja cristã não fêz uma transferência formal, mas gradual e quase inconsciente, de um dia para o outro.
O Cânon Anglicano Eyton, de Westminster, em The Ten Commandments (1894), pág. 62, acrescenta:
Não há palavra, nem alusão, no Nôvo Testamento, acêrca de abstenção de trabalho no domingo.
N. Summerbell, em History of the Christians, pág. 418, assegura:
Ela, (a igreja católica romana) tem invertido o quarto mandamento, pondo de lado o sábado da Palavra de Deus, e instituído o domingo como dia santo.
E o estadista William E. Gladstone, primeiro ministro da Inglaterra por quatro vêzes, em Later Gleanings, pág. 342, observa:
O sétimo dia da semana foi despojado de seu título de obrigatória observância religiosa, e sua prerrogativa foi transferida para o primeiro, sob nenhum preceito direto da Escritura.
- 10. O Sábado Mudado por “Autoridade” da Igreja Romana. — A resposta formal do papismo ao protestantismo foi dada no Concilio de Trento (1545-1563). Foi aqui que sua deliberada e final rejeição e anátema, dos ensinos da Reforma referentes à supremacia da Bíblia, e outras claras doutrinas da Palavra de Deus, tiveram lugar. O objetivo real foi a igualdade, ou a efetiva superioridade da tradição, sôbre as Escrituras como regra de fé.
Durante a décima-sétima sessão, o cardeal Casper del Fosso, arcebispo de Reggio, em 18 de janeiro de 1562, asseverou que a tradição é o resultado da contínua inspiração eclesiástica existente na igreja católica. Ele apelou para a longamente estabelecida mudança do sábado para o domingo como firme prova da inspirada autoridade da igreja romana. Declarou que a mudança não tinha sido feita por ordem de Cristo, mas pela autoridade da igreja católica, mudança esta que os protestantes aceitam. Seu discurso foi o fator determinante da decisão do concilio. E sempre, desde Trento, a mudança do sábado para o domingo tem sido apontada pelos católicos romanos como a evidência do poder da igreja para alterar até mesmo o Decálogo. (Ver o Credo resumido de Pio IV em Joseph Faa di Bruno, Catholic Belief, págs. 250-254; Henry Schroeder (tr.) Canons and Decrees of the Council of Trent, 1937.
- 11. Porque Observamos o Sábado. — Cremos que os protestantes estão em terreno perigoso quando inadvertidamente seguem o mesmo engenhoso argumento sabático exposto no Concilio de Trento, como está registrado no Cathecism of the Council of Trent (Catechismus Romanus). Nêle é sustentado que, enquanto o princípio sabático é moral, eterno e específico, o elemento tempo é apenas cerimonial e temporário. E, mais, que assim como o sétimo dia constituiu o tempo transitório em vigor para os judeus dos tempos do Velho Testamento, assim a igreja-mãe, católica, na plenitude de seu delegado poder, autoridade e intuição, e como a designada guardiã e único intérprete infalível da tradição e verdade, transferiu a solenidade do sétimo para o primeiro dia da semana. (Donovan, Catechism of the Council of Trent, 1867, págs. 340 e 342; ver também Labbe and Cossart, Sacrosancta Concilia; Fra Paolo Sarpi, Histoire du concile de Trent, Vol. 2; H. J. Holtzmann, Canon and Tradition; T. A. Buckley, A History of the Council of Trent; etc.)
Em fazendo isto efetivo, a maioria dos catecismos católico-romanos reduzem o mandamento do sábado a: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar” (e. g., Geiermann’s The Convert’s Catechism of Catholic Doctrine, pág. 50; Butler’s Catechism, pág. 28; etc.) E em vários catecismos vernáculos, o mandamento do sábado, na realidade, se lê: “Lembra-te de guardar as festas”, ou “solenidades”, ao invés de: “Lembra-te de santificar o sábado.”
A igreja censura e desafia a sinceridade dos protestantes que, professando seguir a Bíblia como sua única regra de fé e prática, na realidade aceitam e seguem a autoridade e o exemplo da tradição católica. (4) Ao contrário, nós como adventistas cremos que Jesus Cristo mesmo — Aquêle que foi o Criador de tôdas as coisas (S. João 1:3 e 10; I Cor. 8;6) é o Originador do sábado, e Aquêle que é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Heb. 13:8) — não fêz mudança no sábado. Êle não autorizou mudança a ser feita pelos Seus seguidores. Por isso cremos que, até que a lei do sábado seja revogada por autoridade divina, e sua mudança tornada conhecida por definido mandato da Escritura, devemos ‘lembrar” e “guardar” solenemente o irrevogado original dia sétimo do sábado do Decálogo, o qual está explicitamente registrado.
Cremos, sem nenhuma reserva, que o sábado é o memorial de um fato histórico imutável — a finalizada criação, e o repouso do Criador, no específico sétimo dia no final da semana da criação. Dizemo-lo humildemente, mas cremos que nada —nem pessoa nem grupo, ou poder sôbre a Terra —pode mudar o comemorativo, histórico acontecimento de que Deus repousou no sétimo dia da semana da criação e deu êste dia de repouso à humanidade como o memorial perpétuo de uma obra terminada — jamais revogada e que nunca o será.
Cremos, além disso, que o sábado será sempre o eterno memorial do poder criador e justiça de Deus (Isa. 66:22 e 23), e conservará a eterna recordação de Sua justiça e soberano govêrno, bem como de Seu maravilhoso plano de redenção e de recriação do homem através das maravilhas de Sua graça.
- 1. O sábado foi observado pela Igreja Celta em data tão antiga como o século onze. (Andrew Lange, A History of Scotland, 1909, Vol. 1, pág. 96; ver também William F. Skene, Celtic Scotland, 1877, Vol. 2, pág. 349).
- 2. Seventeenth century Edward Brerewood, de Gresham College, Londres (A Learned Treatise of the Sabbath, 1630, pág. 77), deixou o registro:
“O antigo sábado permaneceu e foi observado pelos cristãos da igreja oriental, mais de trezentos anos após a morte de nosso Salvador.”
Isto é sustentado por Sir William Domville (The Sabbath: or an Examination of Six Texts, 1849, Vol. 1, págs. 291), escrevendo três séculos mais tarde:
“Passaram-se séculos da era cristã, antes que o domingo fôsse observado pela igreja cristã como o sábado.”
E o historiador Lyman Coleman, do Lafayete College (Ancient Christianity Exemplified, 1852, cap. 26, sec. 2), concorda com êstes e muitos outros testemunhos:
“Através mesmo do décimo-quinto século a observância do sábado judaico continuou na igreja cristã, mas com um rigor e solenidade gradualmente diminuídos.”
- 3. O Cânon 29, do Concilio de Laodicéia, é citado por Hefele (A History of the Councils of the Church, 1896, Vol. 2, pág. 316) como segue:
“Os cristãos não judaizarão nem ficarão ociosos no sétimo dia (“sábado,” original), mas trabalharão nesse dia; mas o dia do Senhor êles honrarão de maneira especial e, sendo cristãos, se possível não trabalharão nesse dia. Se, porém, forem encontrados judaizando, serão separados de Cristo.”
Por volta do século dezesseis, William Prynne da Inglaterra (A Brief Polemicall Dissertation Concerning the True Time of the Inchoation and Determination of the Lord’s Day-Sabbath, 1655, págs. 33 e 44), afirmou êste fato:
“O sábado do sétimo dia foi . . . solenizado por Cristo, os apóstolos e os primitivos cristãos … até que êste Concilio de Laodicéia de maneira sutil fêz abolir sua observância.” “O Concilio de Laodicéia .. . estabeleceu a observância do dia do Senhor.”
Três séculos mais tarde o catecismo católico romano, ainda sustentava que êste Concilio tinha sido o ponto decisivo. Assim, Peter Geiermann (The Convert’s Catechism of Catholic Doctrine, 1910, pág. 50), cujo tratado recebeu a bênção apostólica de Pio X, em 25 de janeiro de 1910, dá esta resposta:
“P. Qual é o dia de descanso?
“R. O dia de descanso é o sábado.
“P. Por que observamos o domingo em lugar do sábado?
“R. Observamos o domingo em lugar do sábado porque a Igreja Católica, no Concilio de Laodicéia (336-A.D.), transferiu a solenidade do sábado para o domingo.”
Alguns até põem a data justamente antes de Nicéia (332); outros após Constantinopla (381). A maioria dos escritores mais antigos fixam-na em 364.
- 4. Assim o prelado francês Mons. Louis de Segur (Plain Talk About the Protestantism of Today, 1868, pág. 213, com imprimatur por Johannes Josephus), declara:
“Foi a Igreja Católica que, pela autoridade de Jesus Cristo, transferiu êste repouso para o domingo em memória da ressurreição de nosso Senhor. Assim a observância do domingo pelos protestantes é uma homenagem que êles tributam, mau grado seu, à autoridade da Igreja (católica).”
O Catholic Mirror, órgão oficial do Cardeal Gibbons (23 de setembro de 1893), em uma série de quatro editoriais, semelhantemente assevera :
“A Igreja Católica, mais de trezentos anos antes da existência de um protestante, em virtude de sua divina missão, mudou o dia de sábado para o domingo.”
“O mundo protestante em seu surgimento (Reforma do século dezesseis) encontrou o sábado cristão demasiadamente forte e enraizado para dispor-se a contrariar sua existência. Foi, portanto, colocado sob a necessidade de concordar no arranjo, admitindo assim o direito da igreja de mudar o dia, por mais de trezentos anos. O sábado cristão é, até hoje, o reconhecido produto da Igreja Católica como espôsa do Espírito Santo, sem uma palavra de oposição do mundo protestante.”
(Ver também James Cardinal Gibbons, The Faith of Our Fathers, 1893, pág. 111; J. I. von Döllinger, The First Age of Christianity and the Church, Vol. 2, págs. 206 e 207.