Nossa observância do sábado do sétimo dia é uma expressão de nossa crença de que Cristo criou o mundo. É também um sinal de nosso amor, e lealdade para com Êle como nosso Criador e Rei. O fato posterior de que o Senhor do sábado de tal maneira nos amou que Se tornou homem e sacrificou sua vida para nos salvar a ruína do pecado, toma o Seu sábado absolutamente precioso e glorioso como o dia do Senhor.

Cremos que ao encarnar-Se Jesus Cristo veio para revelar o caráter a vontade e o amor pefeitos de Deus, e vindicar e cobrir a justiça de Sua lei e govêrno morais. Dessa maneira a obediência e justiça perfeitas de Cristo são primeiramente imputadas (pela justificação) e a seguir comunicadas (pela santificação) a todos quantos aceitam Sua morte expiatória em lugar dêles. Então se fêz provisão e assim Sua perfeita observância do sábado cobre tôdas as nossas transgreções do sábado, bem como a inflação dos outros nove preceitos dos dez mandamentos.

  • 3. Os Sábados Moral e Cerimonial São Bàsicamente Diferentes. — Cremos que foi feita uma distinção nítida e fundamental entre o sábado do Senhor que é semanal, e os sete sábados cerimoniais ou típicos do ritual do tabernáculo, e que eram anuais (Páscoa, Pentecostes, Dia da Expiação, e outros). Cada um dêstes sábados anuais recaía num dia determinado do mês, não num determinado dia da semana, e apenas ocasionalmente coincidia com o sábado do sétimo dia.

Cremos que êstes sábados anuais e típicos, com suas especiais ofertas sacrificais, todos apontava para o futuro, para a oferta tôda-abrangente e tôda-suficiente de Jesus Cristo como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (S. João 1: 29). As Escrituras declaram que Êle é nossa Páscoa (I Cor. 5:7). Sua morte ocorreu no dia da Páscoa (14 de Nisã), que naquele ano recaiu numa sexta-feira. Sua ressurreição teve lugar no dia do môlho movido, ou primícias (16 de Nisã), quando, como as “primícias” dêstes frutos dormiam (I Cor. 15:20 e 23), Êle ressurgiu triunfante da morte. Êstes grandiosos acontecimentos nos garantem ser aceitos nÊle, bem como nossa ressurreição no último dia. Êstes sábados anuais típicos terminaram para sempre na cruz, onde todos os tipos encontraram seu perfeito antítipo. Isto, porém, de modo algum afetou o sábado do sétimo dia, o qual jamais foi um tipo, e conseqüentemente não foi abrogado.

  • 4. O Sábado Não Foi Abrogado Por Cristo. — O sábado do quarto mandamento não tinha nenhuma significação cerimonial ou típica que pudesse ser “cumprida” ou “abrogada” em Cristo. Não foi instituído como parte do ritual do tabernáculo no Sinai, e não apontava no futuro para o sacrifício expiatório de Cristo no Calvário. Pelo contrário, o sábado permaneceu como o memorial estabelecido da Criação original, e portanto apontava ao passado para a obra do Criador. E isto, pela própria natureza, não pode ser cumprido nem abrogado enquanto permanecer Sua obra da Criação.

As tradições que os judeus acrescentaram à observância do sábado foram desfeitas por Cristo, não porque Êle as cumprisse pela Sua morte antitípica e sacrificial, mas porque não passavam de meras “tradições de homens” sem nenhuma autorização e que jamais tiveram qualquer validade. Assim eram as inúmeras regras rabínicas acrescentadas à observância do sábado — verdadeiros embaraços que foram eliminados pelos ensinos de Cristo. Isto, porém, envolvia unicamente os acréscimos, não o sábado em si mesmo.

Isaías profetizou que Cristo engrandecería a lei e a tornaria honorável (Isaías 42:21). E isto Êle o fêz. Engrandeceu o sábado da lei, mostrando não ser êle um dia de cargas de restrições, mas um dia de repouso e de livramento das cargas do pecado e suas conseqüências. Êle observou o sábado através de tôda Sua vida e ministério, e exemplificou o verdadeiro sentido da guarda do sábado, mostrando que nesse dia era lícito fazer o bem e ocasião em que se deveria curar os doentes.

Havia, além disso, leis civis de Israel, dadas quando a nação se achava sob a teocracia. Algumas dessas relacionavam-se com o sábado, e cominavam severas penas pela profanação do sétimo dia, e mesmo a pena de morte caso alguém deliberadamente fôsse apanhar lenha no dia de sábado (Êx. 31:14; 35:2 e 3; Núm. 15:32-36). Estas leis civis terminaram para sempre com a cessação da teocracia em Israel, e jamais foram transferidas para outros tempos.

Os adventistas do sétimo dia sustentam que o sábado destina-se a todo mundo e a todos os tempos. Cremos firmemente que nada há de cerimonial ou típico no sábado do quarto mandamento.

  • 5. O “Sabatismo do Sétimo Dia’’ e “Sabaticidade” do Sábado. — Dois característicos sobressaem nitidamente em relação com a instituição do sábado original, os quais por conveniência da argumentação, passamos a denominar de sabatismo do sétimo dia e sua sabaticidade, ou sejam o tempo específico pôsto à parte, e a natureza da observância, que o descanso do trabalho. Como observamos anteriormente, todo o sistema cerimonial foi instituído depois que o pecado entrou no mundo com o propósito determinado de apontar aos pecadores a futura vinda do Salvador. Foi designado para inculcar fé no Seu poder de salvá-los de seus pecados. Em nenhuma parte das Escrituras se declara ou mesmo se sugere que o elemento tempo do mandamento original do sábado fôsse cerimonial. Pelo contrário as Escrituras dão plena prova de que o sabatismo do sétimo dia não podia ser cerimonial, pois para que o fôsse o elemento tempo teria que ser instituído depois da entrada do pecado, e a conseqüente necessidade do Salvador.

O mandamento do sábado dá a própria razão de sua existência que é: “em seis dias fêz o Senhor o céu e a Terra, o mar e tudo o que nêles há, e descansou no sétimo dia: portanto o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Êxo. 20:11). O sabatismo do sétimo dia acha-se tão firmemente estabelecido na Criação quanto a qualidade moral que pode ser denominado sua sabaticidade. Reconhecemos que um aspecto é tão grande como o outro. Em favor dêstes fato inegável testefica a semana de sete dias, que nos é transmitida desde a época da Criação (ver Gên. 2:1-3).

Deus instituiu o sábado no sétimo dia da primeira semana — primeiro ciclo de tempo que o mundo conheceu. Desta forma ambos os aspectos dêste dia — seu sabatismo e sua sabaticidade — acham-se inseparàvelmente ligados à Criação. Contra declarações explícitas das Escrituras, afirmar um aspecto e negar o outro está em desacordo com as primiças que analisámos, especialmente diante da posição protestante sôbre a suprema autoridade das Escrituras.

Nada havia de cerimonial ou típico nos falhos atos da Criação, ou repouso divino da obra da Criação, ou no fato de ter Êle repousado no sétimo dia. Assim as Escrituras em parte alguma sugerem que o sabatismo do sábado apontem ao futuro para a cruz. E sòmente aquelas coisas que apontavam ao futuro para a cruz foram abolidas na cruz. E o sabatismo do sábado não era uma destas coisas.

  • 6. A Lógica do Caso. — O Sabatismo do sába do é mencionado por alguns como algo “temporário”, unicamente para os judeus e para os tempos do Velho Testamento. Em vista, porém, das provas anteriores, caberia indagar: Se se pretende que o repousar Deus no sétimo dia é um aspecto “temporário”, não deveria então o mesmo argumento ser aplicado ao fato de ter Êle repousado? Que há de menos “temporário”: ter Deus escolhido repousar no sétimo dia da semana da Criação ou simplesmente no fato de ter repousado?

Outra controvérsia comum relativa a êste sabatismo do sábado é que a sua observância no sétimo dia da semana envolve o crente no legalismo. Perguntamos, porém: de que maneira exatamente, e com que autoridade escriturística se pode acoimar de legalismo a observância sabática? Era Deus acaso legalista ao escolher repousar no sétimo dia da semana da Criação? Se-Lo-ia menos se o fizesse no primeiro dia da semana, no princípio da Criação? Ou, interrompendo a obra criadora, repousasse em qualquer outro dia que separasse da semana? E se não foi legalista para Deus o repousar desta forma, porque o é para nós que o fazemos a Seu mando? Se é legalístico para nós o repousarmos no sétimo dia da semana porque não o é o repousar no primeiro dia, ou outro qualquer da semana?

E onde a Bíblia afirma explicitamente ou mesmo sugere que a sabaticidade do sábado não seja legalística enquanto que o sabatismo (ou o descanso num determinado sétimo dia) o seja? Além disso, instituiu Deus uma parte cerimonial ou típica do sábado escolhendo repousar no específico sétimo dia? Então por que processo de lógica se pode afirmar que é cerimonial para nós observar o sábado no sétimo dia da semana, mas não o é para Deus que também o observou?

Mais ainda, afirma-se repetidas vêzes que o propósito essencial do sábado (a sabaticidade) estava em harmonia com a preservação e manutenção da vida. Implica isto que há um conflito inevitável entre o sabatismo do sábado e a preservação e manutenção da vida? Mas de que maneira achava-se o sabatismo do sábado mais em conflito com a preservação e manutenção da vida do que em sua sabaticidade? Esta sabaticidade restringe as atividades num determinado dia, ao passo que o sabatismo simplesmente especifica em que dia isto deve ocorrer.

Alega-se também que a sabaticidade do sábado existia para o bem do homem, implicando isto que o sabatismo age contra o bem-estar do homem. De que maneira, porém, o sabatismo milita contra o bem do homem mais do que o domingo, o primeiro dia da semana? A ênfase que Deus pôs no sabatismo do primeiro sábado dado ao mundo acaso milita contra o bem do Criador.

Resumindo: Protestamos contra o falso raciocínio que afirma ser legalístico observar o sétimo dia e não legalístico o conservar o primeiro dia da semana. Estas linhas de argumentação são incoerentes dentro da lógica correta. A coerência manda que para ser exato deve prosseguir, para chegar às conclusões lógicas, as primiças maiores dos pontos 1 e 2 do debate anterior, reconhecendo o sabatismo divinamente instituído bem como a sabaticidade do sábado, ou senão desistir das primiças maiores indicadas e achar base para manter a qualidade moral do sábado. Por outro lado, êste procedimento leva a posição de afirmar que os Dez Mandamentos foram abolidos, ou a posição católico-romana de que a igreja tem autoridade e poder para alterar o decálogo.