O que é ser pastor, segundo o ponto de vista de uma ovelha
Quando eu era criança, a chegada de um pastor à nossa casa era uma festa. Fazíamos uma limpeza especial no templo, enfeitando-o com muitos vasos floridos. Em casa, a comida era preparada com muito carinho. Eram feitos pratos especiais, uma sobremesa diferente; enfim, muita alegria e muita música. De-pois das intensas atividades espirituais sabáticas, sempre havia uma programação social que integrava jovens e idosos. Era bom demais!
O sermão era esperado com ansiosa expectativa. Afinal, quem iria pregar era um pastor, formado em teologia. Isso significava muito para nós que vivíamos em uma comunidade no interior, onde a visita de um pastor não era muito freqüente.
Hoje, essas recordações da mimha infância despertam a pergunta: Afinal, o que é ser um pastor?
Um pregador
Para responder a essa pergunta, coloco em primeiro lugar o trabalho da pre-gação. Um pastor deve saber pregar. Seu sermão não precisa ser rebuscado, com palavras difíceis; mas, além de trazer uma mensagem simples e clara, deve estar acompanhado de poder. Um po-der especial que queima todo o lixo do coração humano e permite Cristo entrar e ocupar todo o espaço.
Na pregação, não é o poder do homem que deve falar e se tornar evidente, mas o poder do Espírito Santo, movendo-Se entre as pessoas no auditório; levando-as a experimentar dependência de Deus e uma entrega de seus caminhos ao Senhor. É o poder da Palavra de Deus, levando o ouvinte a sair do recinto sagrado saciado de sua fome espiritual. É o poder que traz vida, renovação, entusiasmo e desejo de pros-seguir firme na carreira cristã até a volta do Senhor.
A fim de que possa pregar com poder, é certo que o pastor precisa entregar-se à oração, ao preparo, mas sobretudo também deve ser vocacionado para esse trabalho. Isso significa que ele deve ter paixão pela pregação. Deve amar o seu rebanho e desejar nutri-lo com o melhor alimento. Então, receberá a resposta de gratidão do rebanho pelo banquete recebido. É uma tremenda responsabilidade e um sagrado privilégio ser porta-voz de Deus ao Seu povo, comunicar-se bem em nome de Deus.
Um professor
O segundo ponto que considero muito importante no trabalho de um pastor é seu conhecimento da arte de ensinar. O pastor é uma pessoa que ensina o tempo todo. Tanto ele como sua família estão ensinando constantemente, sem que isso represente uso de palavras. Ensinam pelo testemunho.
Mas o pastor precisa compreender a metodologia do ensino, para saber o mo-mento certo e a maneira como falar, orientar, aconselhar e, sobretudo, convencer. A arte de ensinar toma-se difícil especialmente quando existem montanhas de informações, quase sempre em total desacordo com o “assim diz o Senhor”.
Ensinar, portanto, exige estudo, preparo, metodologia e arte. Um pastor precisa ser um professor e educador por excelência. Afinal, trabalha com a família: pais, mães e filhos. Nessa altura concluo que o pastor que tem uma família bem constituída é feliz. Dessa maneira, será mais fácil ensinar.
Pescador de homens
Um pastor precisa ser um bom “pescador” de almas para o reino de Jesus Cristo. Realiza esse trabalho com muita simpatia, irradiando felicidade. É um pescador que sabe aproveitar as oportunidades para jogar o anzol com a isca certa.
Sendo um bom pescador, o pastor vive empenhado em formar outros pescadores de almas, unindo toda a sua congregação em grandes pescarias evangelísticas. Não importa se os peixes são grandes ou pequenos. A rede nunca será recolhida vazia, se o trabalho for feito em união com o Mestre que disse: “Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens” (Mat. 4:19).
Guardião do rebanho
O pastor deve estar sempre pre-sente às programações da igreja, atento às necessidades imediatas dos membros, ter um plano de visitação aos membros. Deve dar prioridade aos enfermos e enlutados, avaliar o crescimento de seu rebanho, mostrar apreciação e gratidão aos que o ajudam a alcançar as metas estabelecidas para seu trabalho. Jamais deve se esquecer de orientar e ensinar os membros no cumprimento de suas tarefas na igreja. Uma igreja unida e forte está presa aos vínculos do serviço, do louvor e do agradecimento.
De igual forma, o pastor é alguém que está atento às necessidades afetivas, emocionais e espirituais do rebanho. Carinho, bom trato, sem bajulação, mas de coração sincero e cuidadoso, são atitudes que fazem muito bem às pessoas. Não posso imaginar um pastor rude e grosseiro conquistando pessoas para Cristo. Ele pode até ser firme, mas essa firmeza deve ser demonstrada com muito amor e equilíbrio.
Enfim, ser um guardião do rebanho, significa dar assistência a todos os departamentos da igreja, objetivando o bom funcionamento de todas as áreas, além de ministrar as necessidades pessoais do re-banho. O pastor é o supervisor geral de tudo.
Um pastor
Ser pastor é saber pastorear. É cuidar das ovelhas, estando atento a qualquer perigo que possa ameaçá-las. Ele adverte, admoesta, toma providências, buscando a segurança do rebanho. E, se preciso for, enfrenta o inimigo sem temor, porque o Supremo Pastor oferece-lhe proteção e ajuda constante.
Isso me traz à mente a recomendação feita pelo apóstolo Pedro: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho.” (I Ped. 5:2 e 3).
Difícil? Não para o pastor que serve por amor; que dá de si, antes de pensar em si mesmo. Para quem tem paixão pelas almas, não existe maior glória do que ser um pastor. Sua re-compensa maior não será o salário, nem mesmo o fato de ser amado pelo rebanho. A maior recompensa é aquela expressa por Pedro: “Ora, logo que o Supremo Pastor Se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória.” (I Ped. 5:4).