ROY F. COTTRELL

Escondido, Califórnia

UMA das reuniões mais impressionantes, interessantes e dramáticas que já tive o prazer de freqüentar, foi a de uns quatrocentos missionários protestantes na China central. Ao ser tratado o assunto da unidade e cooperação cristãs, levantou-se um ministro e, com muita veemência perguntou: “Eu gostaria de saber o que estão fazendo aqui os Adventistas do Sétimo Dia. Têm o propósito de agitar e perturbar o entendimento dos nossos crentes cristãos simples?”

Vozes numerosas ergueram-se em apoio, e generalizou-se grande tumulto. Quando a calma foi restabelecida, senti-me induzido a responder, e havendo-me sido concedida a palavra pelo presidente, disse, em síntese, o seguinte: “Irmãos e amigos, nós honramos e apreciamos êstes missionários pioneiros que durante muitos decênios têm feito resplandecer a trilha do cristianismo nesta terra entenebrecida; e não estamos aqui para opor-nos a trabalho nenhum bom. Mas ao lermos as Escrituras convencemo-nos intimamente de que há nelas certas verdades vitais e essenciais que não estão sendo ensinadas nem suficientemente salientadas pela maioria dos missionários. Se êles estivessem ensinando um evangelho completo, tal como nós o entendemos, não haveria motivo para a nossa penetração na China como uma organização independente. Como, porém, percebemos sinceramente que isto não está sendo feito, consideramos ser nosso dever cristão penetrar na China e em tôda parte com o simples evangelho de Cristo. E, em vez de restringir-nos por meio de acordos sôbre áreas em que possamos ou não possamos penetrar, sentimo-nos compelidos a adotar a orientação de João Wesley, que declarou: ‘Minha paróquia é o mundo’.”

Quarenta anos se passaram desde êsse episódio agitado; entretanto, a pergunta feita por aquêle missionário, se bem que em sentido diverso, é pertinente aos nossos obreiros de hoje: Que estão fazendo aqui os adventistas?

Qual é a Mensagem de Nossos Sermões?

Não faz muito assisti a um culto de sábado e escutei um sermonete pregado por um ministro jovem. Seu tema, “Um Lar Feliz” foi apresentado com retórica impecável e beleza de expressão, mas não houve nêle menção alguma de passos bíblicos, de religião, de auxílio divino nem de culto familiar. Foi-me dito que êsse jovem freqüentara certos cursos numa universidade próxima.

Faz poucas semanas recebi carta de um amigo que reside próximo de um colégio adventista do sétimo dia. Êle escreveu a propósito de uma série de palestras proferidas na Semana de Oração, por alguém que interpretou a experiência cristã sob o prisma da mente e da psicologia. Eu também já ouvi uns poucos dêsses sermões. Com seu ponto de vista moderno e linguagem universitária, continham certo apêlo intelectual; entretanto, a maioria dos ouvintes, creio eu, ficaram tão desprovidos de alimento espiritual quanto de vegetação os montes de Gilboa.

A experiência do apóstolo Paulo fornece lições valiosas ao mensageiro divino de hoje. Em Atenas proferiu êle um discurso soberbamente burilado e universitário, em que à “lógica opusera lógica; respondera à ciência com ciência; à filosofia com filosofia.” — Atos dos Apóstolos, pág. 244. Não obstante, êsse esfôrço oratório não produziu senão pouquíssimo fruto; e ao prosseguir viagem para Corinto, decidiu “evitar discussões e argumentos elaborados e nada se propor saber entre os Coríntios, ‘senão a Jesus Cristo, e Êste crucificado.’ Estava disposto a pregar-lhes, não com ‘palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder’.” — Idem.

Como resultado dessa pregação simples e sincera do evangelho, fundou-se em Corinto uma grande igreja. No tocante ao ministério de Cristo, acha-se declarado que Êle “não empregou em Seus discursos palavras longas nem difíceis, mas usou linguagem simples, adaptada à compreensão do povo comum.” — Testimonies, Vol. IV, pág. 260. Seus ensinos podiam ser entendidos com clareza tanto pelos camponeses quanto pelos príncipes, assim pelos analfabetos como pelos intelectuais. O povo comum escutava-o com regozijo, pois essa é a espécie de linguagem que atinge o coração e converte a alma.

Necessário é que de quando em quando nos façamos a pergunta: Que estamos nós fazendo aqui? Esta igreja e povo foram suscitados por Deus para fazerem um trabalho específico nesta hora auspiciosa, e devemos pregar sermões tais como nenhum outro ministro está pregando. Declara a serva do Senhor:

“Há muitas verdades preciosas contidas na Palavra de Deus, mas é da ‘verdade presente’ que o rebanho necessita agora. Eu vi o perigo de os mensageiros afastarem-se dos pontos importantes da verdade presente, para tratarem de assuntos que não se destinam a unir o rebanho nem santificar a alma. Satanás tirará nesse sentido tôda vantagem possível para prejudicar a causa.

“Mais assuntos tais como o santuário, em relação com os 2.300 dias, os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, estão perfeitamente destinados a explicar os primórdios do movimento adventista e mostrar qual é a nossa posição presente, firmar a fé dos que duvidam e comunicar certeza quanto ao futuro glorioso. Êstes, vi com freqüência, eram os assuntos principais sôbre que os mensageiros deveriam insistir.” — Early Writtings, pág. 63.

Para Pregar que Sermões Somos nós Ordenados ?

Irmãos, nós não fomos ordenados para pregar sociologia, cultura, éticas, psicologia ou qualquer outra coisa, “senão a Jesus Cristo, e Êste crucificado,” tal como é exaltado na grande mensagem evangélica. Esta é a espécie de pregação que produziu adventistas do sétimo dia; esta é a espécie de pregação que os fortalecerá na fé e preparará um povo para a trasladação.

Diz Ellen G. White:

“Oh! quem me dera servir-me de uma linguagem suficientemente vigorosa para causar a impressão que desejo sôbre meus companheiros de obra no evangelho! Meus irmãos, estais lidando com as palavras da vida; estais tratando com espíritos capazes do máximo desenvolvimento. Cristo crucificado, Cristo ressurgido, Cristo assunto aos Céus, Cristo vindo outra vez, deve abrandar, alegrar e encher o espírito do ministro, por tal forma, que êle apresente estas verdades ao povo em amor, e profundo zêlo. O ministro desaparecerá então, e Jesus será revelado.

“Exaltai a Jesus, vós que ensinais o povo, exaltai-O nos sermões, em cânticos, em oração. .. . Não introduzais em vossas pregações coisa alguma que seja um suplemento a Cristo, a sabedoria e o poder de Deus.” — Obreiros Evangélicos, págs. 155 e 156.

“Lembrar-se-ão os nossos irmãos de que estamos vivendo entre os perigos dos últimos dias? Lêde o Apocalipse em conexão com Daniel. Ensinai estas coisas. Sejam os discursos breves, espirituais, elevados. Encha-se o pregador da Palavra do Senhor. . . .

“A Palavra é a luz do pregador, e ao fluir da figueira celetial o óleo áureo para o reservatório, faz que a lâmpada da vida resplandeça com uma clareza e poder que todos venham a discernir. . . . O pão da vida satisfará tôda alma faminta.” — Testimonies to Ministers, págs. 337-340.

Os homens de Deus ponderarão freqüentemente estas palavras penetrantes: “Que fazes tu aqui, Elias?” Então, com o espírito e o poder de um Elias, a dedicação de um Daniel, e a indomável fé e ânimo de um Paulo, declararão todo o conselho de Deus, não omitindo verdades vitais nem essenciais da tríplice mensagem.

Irmãos, preguemos a Palavra!

Não Substituir a Bíblia

“Provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade.” — Carta 12, 1890.

Tornai Manifesto o Sinal Distintivo

“Temos que dar ao mundo uma demonstração dos princípios puros, nobres e santos que devem distinguir o povo de Deus do do mundo. Em vez de o povo de Deus chegar a distinguir-se cada vez menos definidamente dos que não guardam o sábado do sétimo dia, devem êles tornar a observância do sábado tão manifesta que o mundo não possa deixar de reconhecer que são adventistas do sétimo dia.” — Evangelismo, pág. 233.