MELVIM K. ECKENROTH
(Instrutor, Departamento de Religião Prática, S.D.A. Theological Seminary.)
DESFECHOS tremendos ocorrerão no transcurso desta geração. Por certo, bem poderiamos repetir a declaração de que “É mais tarde do que pensais.” A grande hora dos desfechos para a eternidade está-se-nos aproximando. Todos os acontecimentos do presente se processam suavemente em conformidade com o plano pré-estabelecido por Deus há longo tempo. “Disse pois Jesus: O que fazes, fá-lo depressa. … E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já tarde.” (S. João 13: 27 e 30.) Êste passo é o registo de uma amarga desilusão. É um extrato de uma das mais amargas experiências da Terra. É um texto de amarga derrota, texto escrito com lágrimas, texto de uma tragédia total. É a final anotação da vida de um homem que se perdeu no labirinto da confusão social e econômica. É o término trágico de uma vida que se tornara confusa por motivo do raciocínio impróprio e de conclusões errôneas. Relaciona-se com um homem que estêve intimamente ligado a Jesus, e isto é o que o torna mais trágico ainda. É um dos últimos registos da vida de Judas.
Êste registo do remate da vida de Judas é o quadro triste de uma pessoa intimamente relacionada com Jesus e, não obstante, dÊle tão distanciada. A razão óbvia para êsse afastamento de Cristo foi a medida da sua visão. Olhava as situações e as condições que o cercavam. As finanças de seu tempo, os interêsses e as responsabilidades pecuniárias que sôbre êle pesavam, anulavam no seu íntimo tôda outra consideração. As coisas materiais da vida haviam assumido proporção anormal em suas cogitações. O verdadeiro conceito do reino de Cristo e da obra que Cristo tinha para êle fazer estava-lhe muito distante. A essência e o senso profundo do repto de Cristo nunca se lhe havia realmente apossado do coração.
Nesta presente época e geração há tantas incontáveis multidões em nosso derredor que trilham a mesma estrada traiçoeira, alguns dêles até professando proximidades do Salvador, contudo não reconhecendo os princípios básicos primários de estar verdadeiramente a Êle unidos no potente repto para esta época.
“Quão poucos dentre nós têm o coração uno com o Redentor nesta solene, encerradora obra! Mal existe uma décima parte da compaixão que deveria haver pelas almas por salvar. Tantos há para serem advertidos, e todavia quão poucos se compadessem juntamente com Deus o suficiente para ser alguma coisa ou não ser nada, contanto que vejam almas salvas para Cristo!” — Obreiros Evangélicos, pág. 116.
Nisso, realmente consiste a essência do apêlo à Igreja. “Quão poucos têm afinidade com Deus!” Êle é o Senhor ferido. É Aquêle que deu o Seu Filho unigênito para que tôda a humanidade viva. Contudo, quão poucos realmente têm afinidade com Deus para ser alguma coisa ou nada ser, contanto que vejam almas salvas para Deus!
Em tôrno de nós hoje em dia há exemplos trágicos de milhões que sofrem de feridas profundas de desilusão. Somos muito propensos a condenar Judas por haver traído a Jesus por trinta moedas de prata. Por pequeno que nos pareça êsse preço, e terrível como foi a traição, entretanto, quantos há hoje que traem a Cristo até por menos! Um fatalismo estranho parece existir em tôda parte; e em muitas terras milhões jazem em estóico silêncio ao perscrutarem, desorientados, um futuro que nada oferece além de tristeza, tragédia e amargura.
“Nossa Última Oportunidade”
Lembramo nos todos de como o general de Exército, Douglas MacArthur, num momento dramático da História, apresentou-se perante o Congresso dos Estados Unidos e reafirmou a sua convicção de que “perdemos nossa última oportunidade.” A declaração completa contém todo elemento de urgência.
“Desde o comêço dos tempos têm os homens buscado a paz. Vários métodos através dos tempos foram tentados para idear um processo internacional que evite as disputas entre as nações, ou as resolva. Desde o início, métodos viáveis foram achados, no que se referia aos cidadãos individualmente, mas o mecanismo de uma instrumentalidade de mais amplo raio internacional, nunca foi bem sucedido. Alianças militares, equilíbrio de fôrças, Ligas de Nações, todos por sua vez fracassaram, deixando como única solução possível o crucial caminho da guerra.
“A extrema destrutibilidade da guerra impede agora esta alternativa. Perdemos a nossa última opor-tunidade. Se não idearmos algum sistema melhor e mais eqüitativo, o Armagedon nos estará à porta — bàsicamente, o problema é teológico e envolve uma recrudescência espiritual e o aprimoramento do caráter humano que sincronizará com os nossos quase inigualáveis progressos da ciência, da arte, a literatura e de todo o desenvolvimento material dos passados dois mil anos. Se o quisermos, será do espírito que nos advirá a salvação da carne.” Falando aos estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o Primeiro Ministro Winston Churchill fêz esta significativa pergunta: ‘‘Está o tempo a nosso favor?” Freqüentemente se ouve de tôda parte o comentário de jornalistas, líderes públicos, estadistas, diplomatas, escritores — fazendo todos a mesma pergunta: “Venceremos na corrida contra o tempo?”
O tempo tem sempre tido função importante no esquema divino das coisas. “Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.” (Gál. 4:4). Ao iniciar o Seu ministério na Terra, Jesus declarou: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo.” (S. Mar. 1:15). A apêlo de Paulo aos romanos, no capítulo treze, foi: “Isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono” (v. 11); e até a mensagem apocalíptica declara “que não haveria mais demora” (Apoc. 10:6). Tudo isto tem a mais significativa ligação com a nossa grande tarefa presente, tarefa que se torna um portentoso privilégio quando o aceitamos como uma urgência da parte de Deus.
A Pressa é Urgente
Há uma parte muito significativa neste texto: “O que fazes, fá-lo depressa.” Não é possível lê-lo sem sentir a profunda convicção do que Cristo pretendeu dizer ao insistir com Judas para que saísse e cumprisse o seu papel no grande drama da salvação. Cristo não estava apressando Judas para fazer o que era errado, mas sim para que fizesse rapidamente o que em seu coração, já decidira definitivamente. Por certo podemos traçar o paralelo de que — ou assentamos em nosso coração sair para fazer rapidamente a tarefa de que Deus nos incumbiu, que é a de abençoar a humanidade, ou ajuntamo-nos à turba louca em sua iníqua traição.
A premência e a iminência da hora em que vivemos estão incluídos no sentido dêste passo. Nesse repto que nos é feito, não é apontado um tempo distante, ilusório. Não nos é dado para confiar ao nebuloso e vago amanhã o que devemos fazer agora. Não somos comissionados para confiar às águas incertas do futuro oceano do tempo a nossa participação na derradeira vitória da igreja que se aproxima mansamente. Os homens de resolução fraca nunca são mencionados. Os que não são movidos por qualquer urgência, nada realizam.
Cristo estava sempre cônscio da urgência do tempo. “O que fazes, fá-lo depressa.” Havia muito sentira o Salvador o pêso da culpa do mundo. Eis, que era chegado o momento; o tempo estava às portas — aquêle tempo que fôra designado milênios antes nos concílios celestes, como o momento do Seu sacrifício, chegara então. Incessantemente, o rio do tempo havia avançado, e chegara a hora. Todo o Céu estava observando o drama naquela pequena sala em que doze homens se agrupavam em tôrno do Salvador do mundo. Todos os baluartes das hostes celestes observavam o passar de séculos e milênios, ao ferir-se a grande luta numa minúscula sala duma aldeiazinha. A urgência das profecias encontrara o seu cumprimento; e naquele momento dramático, reconhecendo que chegara a hora, Jesus simplesmente se voltou para aquêle cujo coração se inclinara para a traição, e reconheceu que chegara o momento do Seu sacrifício a fim de que todo o mundo fôsse salvo, e disse: “O que fazes, fá-lo depressa.” A intensidade, a urgência e a relevância daquele cometimento simples nos toca o coração hoje.
Aquêle mesmo senso de urgência foi-nos transmitido, através dos séculos, até aos nossos dias. Aquelas palavras da Santa Escritura apresentam-se-nos em caracteres nítidos e maiúsculos contra os céus aproximados da geração presente:
“Porque o Senhor executará a Sua Palavra sôbre a Terra, completando-a e abreviando-a.” (Rom. 9: 28).
“A noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (S. João 9:4).
“Vêde as terras, que já estão brancas para a ceifa”. (S. João 4:35).
“Eis que presto venho” (Apoc. 22:7).
“Ora vem, Senhor Jesus” (Apoc. 22:20).
“Remindo o tempo” (Efés. 5:16).
“À hora em que não penseis” (S. Mat. 24:44).
Todos êstes passos, e múltiplos outros, dizem-nos da urgência do tempo em que vivemos. Não precisa o mundo hoje de melhor legislação, mas de melhores legisladores; não de melhor comércio, mas de melhores comerciantes; não de melhores bancos, mas de melhores banqueiros; não de melhores medicamentos, mas de melhores médicos; não de melhor agricultura, mas de melhores agricultores; não de melhor ensino, mas de melhores professores; não de melhores leis, mas de melhores intérpretes da lei; não de melhor pregação, mas de pregadores mais consagrados. Isto, portanto, põe perante nós o repto de nosso tempo.
A esta igreja, portanto, é dirigido o tremendo apêlo de Deus para avançar agora numa grande campanha e cruzada por nosso Cristo; não apenas uma campanha comum, pois êste tempo é extraordinário; não apenas uma consagração comum, mas sim extraordinária. O mundo, em verdade, está a espera de que alguém avance com a luz da verdade e profira uma fala certa numa hora incerta.
Um editorial de Times-Herald, de Washington, de 28 de julho de 1951, dizia:
“O Congresso tem estado ultimamente bastante alarmado com os acontecimentos, e discute como poderia produzir um código moral para o Govêrno.
“O Times-Herald encontrou para o caso, excelente remédio num livro muito velho, que tem a satisfação de indicar à consideração do Congresso. O Livro é encontrado em qualquer livraria, e intitula-se ‘A Bíblia Sagrada’. No livro de Êxodo, é-nos dito que Moisés, líder dos judeus, foi por Deus chamado ao cume do Monte Sinai. Ao voltar de lá para junto do seu povo, trouxe consigo os Dez Mandamentos. São êles: [Cita-os o autor, por extenso].”
A seguir, diz:
“Tomamos a liberdade de sugerir que os homens nos cargos públicos, bem como na vida privada, meditem sôbre o código apresentado nesses Dez Mandamentos e reconheçam que quem quer que por êles se norteie, não precisa de novo conselho de bons costumes, quer do Congresso quer de outra fonte.”
Esta verdade têm os Adventistas do Sétimo Dia proclamado ao mundo há anos. Êste é o tempo para proclamar a mensagem de esperança. Que hora, esta, para a aceitação da mensagem de Cristo! “O que fazes, fa-lo depressa”!
“Era já Noite”
Eis outro aspecto deste passo, que devemos tam-bém examinar. Reza a Escritura que depois de Judas haver recebido a mensagem de Jesus, “saiu logo; e era já noite.” Palavras sóbrias, por certo — solenes no seu conteúdo. Ao sair êle da presença de Jesus, saiu para a escuridão da noite. Sempre tem sido assim. Tudo quanto necessitais fazer para provar a validade destas palavras é olhar em tôrno, hoje, e ver os exemplos trágicos de quantos jazem desiludidos à beira do desespero, depois de se haverem apartado da presença de Jesus. É sempre assim quando alguém sai. É noite, e há milhões de pessoas na noite escura em tôrno de nós, hoje. Era noite escura para Judas; era-lhe noite escura para a alma. É noite escura para muito pecador, hoje em dia. Aflição, temor, desesperança, incerteza, desconfiança, têm-se apossado do coração das multidões.
Esta é a inalterável lei da vida. Ninguém que já haja abandonado a Jesus escapou dessa experiência da noite. Nosso mundo está agora envolto por uma noite de agonias da derradeira hora. E o que fazemos, precisa ser feito à noite. Porque o que a igreja deixou de fazer nos seus momentos de prosperidade e oportunidade, precisa ser feito em tempo da maior angústia e perplexidade.
Em Heart of Midlothian, de Scott, deparamos com o belo personagem que é Jeny Deans, que vai a Londres em busca do perdão real para sua desgarrada irmã. Apresenta-nos ela estas belas palavras: “Ao chegarmos ao fim da vida, não é o que fizemos em proveito próprio, mas o que fizemos em prol de outros, que será o nosso auxílio e conforto.”
Por isso é que desejamos fazer hoje veemente apêlo a todos para que se empenhem em mais ampla experiência de penetrar na noite escura que nos rodeia, não como desiludidos, mas para atingir os desiludidos e estender-lhes a tocha da luz e da verdade.
Lembrai-vos de que, enquanto Judas saía, decepcionado, abatido e amargando, onze outros ho-mens saíram para salvar um mundo ferido de pecado. Dêsse pequeno embrião surgiu a grandiosa igreja cristã de hoje; e a nós, adventistas do sétimo dia, neste século vinte, é que Deus entregou a tocha para iluminar a senda de cada homem que se disponha a escutar a verdade e a ela atender. Não temos a responsabilidade de acender a tocha; nossa tarefa é apenas empunhá-la. Deus não necessita de defesa; precisa, tão sòmente, de alguém que O proclame. A verdade não necessita de arrimo; necessita, apenas, de ser contada. A verdade não precisa de quem a defenda; necessita, tão sòmente, de um mensageiro.
Uns poucos anos faz, no Canadá, uma garotinha de três anos de idade ausentou-se da casa paterna. Um grupo de pessoas saiu a sua procura. Buscaram-na por tôda parte — o dia todo, tôda a noite, o dia seguinte e também a noite seguinte. Finalmente, o dirigente do grupo, exausto de cansaço, sugeriu que a busca fôsse abandonada. Mas o aturdido e jovem pai não podia conformar-se, e suplicou, veementemente, com lágrimas, que, uma vez mais, formando uma frente única, de mãos dadas, todos voltassem a vasculhar o macegal. Embora estivessem cansados a ponto de exaustão, ninguém pôde deixar de atender ao apêlo daquele pai angustiado. Deram-se as mãos e avançaram, uma vez mais. Eis, então, que um dêles encontra num tufo de macega o corpo inerte da menina, e o entrega ao jovem pai. Êle a estreita ternamente contra o peito, e, com grossas lágrimas a rolarem-lhe pela face, exclama: “Oh, Deus meu, por que não nos demos as mãos mais cedo?”
Não avançaremos nós, agora, de mãos dadas com Deus, com a determinação de que o que quer que por Êle fizermos, façamo-lo com rapidez?
Consagração
A DIFERENÇA entre uma vida cheia do Espírito e outra vazia do mesmo, é a que há entre uma existência plenamente consagrada a Deus e outra que quer seguir seus próprios caminhos e, ao mesmo tempo, agradar a Deus. A consagração é tema de que é sumamente fácil falar, mas em que a maioria dos homens fracassa. Os sêres humanos estão dispostos a assinar compromissos, a realizar qualquer trabalho e não importa em que quantidade, e até assinar cheques e dar dinheiro, sob a condição de que Deus lhes deixe fazerem o que bem apraz. Contanto que não faça tanta questão da consagração, contanto que os não leve à cruz, farão qualquer coisa. O que sempre recusam é a entrega total da vida.
E, não obstante, é só no altar do sacrifício que o Espírito Santo pode descer e impregnar toda a vida, e dota-la de nova energia, de maneira que em cada circunstância da existência Jesus seja reconhecido como Senhor, e o fruto do Espírito se manifeste no caráter.
Nada pode ocupar o lugar da consagração. Algumas pessoas põem oração onde Deus quer que ponham consagração. Outras professam esperar que o Senhor as encha de Seu poder. Ambos êsses grupos estão enganados! Ao passo que pretendem esperar que Deus actue, a verdade é que Deus está esperando que elas façam alguma coisa. Em qualquer momento, quando estiverem dispostas a entregarem-se ao Espírito Santo, êste tomará posse de todos os recantos de sua vida. — G. Campbell, “The Spirit of God.”