Desde o fim dos anos sessenta até o período no Seminário, tive o privilégio de cantar em ótimos quartetos. O primeiro deles, na igreja central de Feira de Santana, BA. Ainda no início da minha juventude, eu era duplamente baixo: no tom de voz e também na estatura física, além de ser magricela. Talvez por isso, havia pessoas que, no fim de algumas apresentações, dirigiam-se ao primeiro tenor, o mais robusto do grupo (os outros dois tinham constituição física média), elogiando-o pelo “eficiente baixo” que, na opinião delas, era ele.

Aquelas pessoas não conseguiam destacar individualmente quem cantava qual voz. Certamente, admiravam a boa música, porém sendo leigas, talvez pensassem: “O magricela não pode ser o dono da voz grave; o mais robusto, sim.” Embora fosse leiga, e divertida para nós, essa observação nos dava a sensação de que estávamos crescendo no item harmonia (o que, aliás, era confirmado por maestros que nos ouviam). Sabiam que havia quatro vozes diferentes, mas ouviam apenas um conjunto. Aqui está um fato que pode muito bem ser projetado na vida eclesiástica.

Na harmonia musical, encontramos um símbolo da unidade que a igreja deve experimentar. De fato, o caminho pelo qual se chega à primeira contém lições aplicáveis à busca da segunda. A primeira lição é a aceitação da individualidade do nosso semelhante. É na fusão perfeita dos diferentes tons que a beleza musical é realçada. Não há imposição de um tom sobre outro, nem rejeição de um em favor de outro. Todos são necessários. Assim deve ser na igreja. Deus não nos criou diferentes para que nos repelíssemos, mas para que nos completássemos.

A segunda lição é a necessidade de perseverante empenho na busca da unidade. A formação de um bom conjunto musical exige que os cantores exercitem muitas vezes, adaptando-se, corrigindo erros, eliminando distorções, vigiando para que ninguém sobressaia aos demais. Semelhantemente, na igreja, precisamos exercitar humildade para descartar caprichos e objetivos egoístas, projetos individuais, se é que desejamos vivenciar a unidade pela qual Cristo orou (Jo 17:21).

A última lição: Inicialmente, nosso quarteto não tinha pianista. Ouvindo antigos LPs, cada um de nós devia captar a tonalidade respectiva e isso, às vezes, gerava alguma tensão. Certo dia, nosso pastor (Plácido Rocha Pita) trouxe a notícia de que havia conseguido a pianista de uma igreja evangélica da cidade para nos ajudar. Então, tudo ficou mais fácil. De igual forma, a busca de unidade da igreja será penosa, enquanto nos limitarmos ao emprego de nossos deficientes recursos individuais. Precisamos do grande Maestro. Com Seu toque, Ele fará os ajustes necessários a personalidades tão desafinadas como as nossas, e verá satisfeito Seu desejo de que todos nós sejamos “um”. 

Zinaldo A. Santos