Fazer discípulos é a principal razão de ser da igreja, e nisso deveria ser consumida boa parte de nossas energias, pois esse foi o instrumento que Cristo escolheu para alcançar o mundo, conforme Mateus 28:19 e 20. Observe que esse versículo se encontra no comissionamento missionário. Por isso, considerar o discipulado somente em termos de relacionamento é limitar o texto e separá-lo da missão é fugir da essência de sua mensagem.

Em Marcos 3:14, há algo que pode nos ajudar a compreender melhor o discipulado. Diz o texto: “Então, designou doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar”. Note duas características: (1) estar com Jesus e (2) ser enviado a pregar; ou seja, permanência em Cristo e testemunho por Ele. Assim, poderíamos resumir essas características em duas palavras: comunhão e missão, e acrescentar uma terceira: relacionamento, que é o meio em que as coisas acontecem. O Manual da Igreja apresenta a razão da existência da igreja, dizendo: “O propósito da igreja na qualidade de corpo de Cristo é discipular intencionalmente os membros, a fim de que permaneçam em um relacionamento ativo e frutífero com Cristo e Sua igreja” (p. 133).

Como reflexo desse entendimento, a principal preocupação da comissão da igreja local deve ser “colocar em prática um plano de discipulado ativo que inclua tanto a nutrição espiritual da igreja como o trabalho de planejar e promover o evangelismo” (ibid., p. 132, 135). Nesse processo, é de fundamental importância a integração dos pequenos grupos e das unidades de ação da Escola Sabatina.

Quando o discipulado não é prioridade, a igreja sofre com ausência de líderes capacitados, crentes imaturos, baixo índice de crescimento numérico e um ministério frustrado. Por outro lado, quando o discipulado assume o primeiro item do planejamento da igreja, o resultado é maior comprometimento dos membros com a missão, liderança madura e capacitada, maior fidelidade nos dízimos e ofertas, baixo índice de apostasia, paixão pela missão e um ministério mais realizado.

Acredito que nosso papel como pastores é fundamental para o cumprimento do propósito da igreja. É verdade que temos uma lista de atividades quase infinita, e muitos esperam de nós até o que não deveriam esperar, mas existem elementos essenciais que precisamos realizar. Ellen White afirmou: “O Senhor deseja que toda pessoa em Seu serviço compreenda qual é o tipo de trabalho requerido dela” (Olhando para o Alto, p. 50).

Surge então a pergunta: Qual é o tipo de trabalho requerido do pastor? Um dos textos-chave para responder essa questão é Efésios 4:11 e 12. O apóstolo Paulo escreveu: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo.” Segundo ele, o pastor-mestre deve promover o crescimento espiritual dos membros em Cristo, ensiná-los a andar com Cristo todos os dias, além de prepará-los para o serviço, quando, por meio de suas habilidades e oportunidades, eles devem testemunhar de Cristo. Como disse Lutero: “todos são ministros, e alguns são pastores” (Rex Edwards, Every Believer a Minister, p. 8).

Nossa proximidade com as Escrituras nos mostrará que o discipulado não é modismo, uma nova onda, teoria sem resultados, relacionamentos sem missão ou comunhão contemplativa, mas o plano de Deus colocado em prática para abalar o mundo, viver intensamente para Cristo e levar pessoas a Ele. Em resumo, o discipulado reafirma o propósito e a razão da existência da igreja, isto é, ser “o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, p. 9). 

Lucas Alves, doutorando em Ministério, é secretário ministerial da Igreja Adventista para a América do Sul