Como avaliaremos o programa da igreja? Por alguns é êle medido apenas em função de dólares ou cruzeiros. Outros acham que o programa é um sucesso quando podem relatar mais do que o ordinário progresso estatístico.

Diz-nos a serva do Senhor que a igreja “é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens” (Atos dos Apóstolos, pág. 9). E além disso: “A igreja é a depositária das abundantes riquezas da graça de Cristo, e através da igreja será finalmente manifestada a derradeira e completa revelação do mor de Deus ao mundo que deve ser iluminado com a glória dela.” — Testimonies to Ministers, pág. 50.

Visto que a igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens, e visto que a igreja é também a depositária das abundantes • riquezas da graça de Cristo, e VISTO QUE através da igreja a derradeira e completa revelação do amor de Deus será finalmente manifestada a todo o mundo, esta necessàriamente deve ser uma fôrça dinâmica. Não pode haver revelação do amor de Deus, a não ser que haja vida no programa da igreja.

Permiti-me que acrescente, entretanto, que por dinâmico não indico simplesmente um programa de mera atividade. Um programa apressado e ruidoso, uma bem organizada máquina que se movimenta ràpidamente, não indicam imprescindìvelmente que o programa é dinâmico. Podem os membros da igreja estar muito ocupados sem que recebam benefício espiritual de sua atividade. Podem prestar um bom relatório estatístico, mas perder sua experiência cristã na tentativa de o fazer. Se as atividades proveitosas sozinhas fossem uma indicação de um programa ativo, um regular Rotary Club seria capaz de fazer com que algumas igrejas parecessem bem fracas.

É bem possível, diz certo dirigente de igreja, que “a organizada colmeia da paróquia seja tão ativada, departamentalizada, estruturada e constantemente movimentada, que o crepitante maquinismo pareça ser um fim em si mesmo. Há um lugar para cada pessoa e todo indivíduo nêle é colocado, quer queira, quer não. Não há aí tranqüilidade ou paz, mas muita atividade.” Êle prossegue dizendo que numa cidade onde residira, havia uma igreja local que servia refeições com grande presteza, a numerosos grupos. Os números eram ufanosamente publicados no fim do ano. Eram surpreendentes. Um dos moradores mais antigos da localidade observou: “Isso não é uma igreja, é um restaurante.” — Lowell Ditzen, em Handbook of Church Administration, págs. 49 e 50.

É possível haver um programa de igreja muito ativo, por amor à atividade. “As boas novas fortalecem os ossos,” não nos esqueçamos, porém, de que debaixo dos ossos fortalecidos pode estar um coração espiritualmente desnutrido. Certa senhora aproximou-se do pastor e disse: “Durante tôda a vida tenho sido uma pessoa empreendedora. Alcancei o que desejava. De um momento para outro tudo então se tornou em cinzas. Percebi que tudo fôra feito em atenção a mim mesma. Tôda a minha obra religiosa constava de exaltação própria. Visava dar-me uma aparência de devoção e piedade. Nunca me renunciei a mim mesma, e agora encontro-me internamente fraca, minha confiança própria foi-se, estou no pó.” Disse ela algum tempo depois: “Sou uma nova pessoa. Ressuscitei. Estou outra vez com vida. Deus está enchendo de poder cada fibra de meu ser.” — E. Stanley Jones, em Power and Poise, pág. 70.

Declaram os escritos do Espírito de Profecia: “Aparência e maquinaria têm sido exaltadas como poderosas, enquanto que a virtude da verdadeira bondade, nobre piedade e santidade de coração, têm recebido uma consideração secundária. Aquilo que devia ser tido na conta de principal, tem sido considerado como ínfimo e menos importante.” — Ellen G. White, em Review and Herald, 27 de fevereiro de 1894. “Pode haver uma aparência de luz na igreja; todo o maquinismo — grande parte dêle de invenção humana — pode parecer estar funcionando bem, e no entanto a igreja pode estar tão destituída da graça de Deus como os montes de Gilboa o estavam de orvalho e chuva.” — Ellen G. White, em Review and Herald, 31 de janeiro de 1893. Repetimos: em primeiro lugar o programa da igreja deve ser dinâmico. Um programa repleto do Espírito de Deus é um programa que salva almas. É um programa salutar. É um programa progressivo.

Segundo, para haver um programa repleto do Espírito de Deus é necessário que haja um pastor cheio do Espírito Santo. E êste o segundo ponto essencial de um consistente programa de igreja. Importa haver uma pessoa que seja o dirigente responsável. Quem é êste líder? Bem pode o pastor dizer: “Não é o ancião, não é o diácono, mas sou eu, Senhor.” Depois que tudo é apresentado e feito, o verdadeiro líder precisa ser capaz de dominar as circunstâncias que o cercam e finalmente prevalecer-se delas. Se alguma vez elas chegam a apoderar-se dêle, aquêles que estão sob sua direção perdem a confiança nêle, e êle deixará de ser um líder de valor.

Ninguém nega o fato de que nove vêzes em dez, quando a igreja está fraca, é porque a liderança é fraca. Sempre que a igreja é dirigida por homens capazes e consagrados, algo acontece com o programa da igreja. Êste se torna vivo. Cintila com uma atividade provinda do Espírito Santo. É dinâmico porque a liderança é dinâmica. A fôrça ou a fraqueza da igreja dependem de o pastor assumir ou não devota e eficientemente o inevitável papel de administrador.

Terceiro, um dinâmico programa de igreja servirá de alimento espiritual para a congregação. Pensando a respeito da igreja, disse Jesus a Pedro: “Apascenta as Minhas ovelhas”. Isto indica que o programa da igreja deve fortalecer os músculos espirituais das ovelhas. Antes que o mundo possa ser salvo, as ovelhas precisam ser alimentadas. O primeiro passo para evangelizar o mundo é evangelizar a igreja. Talvez o primeiro passo para ganhar muitos membros seja obter melhores membros. Antes de acrescetar novos membros à igreja, deveríamos tentar adicionar nova vida aos membros já existentes.

Fui foguista de uma grande máquina a vapor. Havia ocasiões em que o fogo não produzia muito calor. Encontrava dificuldades para produzir vapor. Comumente eu remediava a situação empurrando um longo atiçador para dentro da fornalha. Um amontoado de escória impedia que a fumaça passasse por ali. Com o atiçador eu separava a escória e a espalhava sôbre as brasas da fornalha. Obtinha eu então uma boa corrente de ar e em pouco tempo o fogo crepitava.

Há épocas em nossas igrejas em que existe mornidão porque há demasiada escória. Esta fecha por assim dizer a corrente do Espírito Santo. Se não pudermos remover a escória, tenhamos um tão espiritual programa de igreja que ela acabe se inflamando também. É unicamente através de um programa saturado do Espírito Santo que os membros da igreja continuarão a ser brasas vivas para Deus. A menos que o programa da igreja ajude os membros a se manterem repletos do fogo do Espírito Santo, êles se tornarão frios e se afastarão.

Quarto, Jesus afirmou: “Ainda tenho outras ovelhas que não são dêste aprisco; também Me convém agregar estas, e elas ouvirão a Minha voz.” A igreja precisa ter também um programa que sirva de alimento espiritual para essas “outras ovelhas”. Êste programa as atrairá ou repelirá. Se elas se agradarem do alimento que lhes é oferecido em nossas igrejas, se acharem que o programa é espiritualmente edificante, voltarão outra vez. Quando no tempo de rapaz eu cuidava de ovelhas, nunca encontrei dificuldade em trazê-las de volta a boas pastagens. Não havia também problema em conservá-las ali. Podiam desviar-se para cá e lá, mas sempre voltavam para o lugar em que havia bom pasto.

Reconhecendo que o programa de igreja precisa ser comovente e eficaz, que o pastor necessita estar repleto do Espírito e que o programa deve alimentar tanto as ovelhas do rebanho como as “outras ovelhas”, fazemos a importante pergunta: Como pode o programa ser mantido espiritualmente aceso em nossas igrejas?

Como pode, por exemplo, o departamento da escola sabatina ajudar a alimentar as ovelhas? Qual a relação do superintendente, seus auxiliares e dos professores para com êsse elevado programa espiritual? Que espécie de programa é necessário? Por que ainda há milhares de pessoas que não assistem à escola sabatina? Dar-se-ia o caso de não se impressionarem com o programa da igreja e de não estarem recebendo alimento espiritual?

Pensemos por um momento na campanha da Recolta. Ela também faz parte do programa da igreja. Como consideram as ovelhas o alimento da Recolta? Recordo-me de que quando era menino meus pais atrelavam um par de cavalos a uma pequena carruagem e passavam o dia recoltando. Ao regressarem de tarde para casa, brilhava-lhes o rosto. Nunca tive a impressão de que saíam para angariar dinheiro. Depois de voltarem geralmente falavam a respeito de sua experiência em partilhar a fé com outros, bem como das visitas que fizeram aos doentes. Parecia ser um programa satisfatório.

Será que temos profanado o templo com nossa tentativa de obter milhões de cruzeiros? Somos mais ansiosos por considerar e relatar cruzeiros do que almas? É a Recolta ainda um programa que salva almas? Outro dia ouvi um bem sucedido obreiro falar a uma congregação, e no decorrer de sua palestra referiu-se êle à Recolta. Ressaltou o fato de que teria de interromper seu programa evangelístico para recoltar, e então êle disse dum modo jocoso: “Oh, irmãos, estou ficando saudoso do Céu!” Como pode a Recolta tornar-se assim uma bênção espiritual para as ovelhas do rebanho e para as “outras ovelhas” que não são dêste aprisco? Pessoalmente, creio que isso depende em grande parte da liderança. Se o pastor pode conduzir a igreja a uma experiência espiritual através de um programa de construção de igreja, também o poderá fazer através da Recolta.

Consideremos agora ligeiramente o culto das onze horas da manhã. É êste o culto-chave do dia de sábado. É êle preparado com vistas a ganhar almas? São as ovelhas nutridas ou extenuadas pela nossa pregação? Esta une ou dispersa as ovelhas? Fortalece ou enfraquece o rebanho? Pregava João Wesley certa vez a milhares de pessoas que estavam ao ar livre. Na frente havia um grupo de desordeiros com pedaços de tijolos na mão. Estavam a ponto de ferir o grande pregador. No entanto, a paixão e ternura dêsse notável pastor de tal maneira lhes cativaram o coração que um a um largaram as pedras e um dêles exclamou: “Vêde, êle brilha, êle reluz!” Cativa o culto divino as ovelhas?

Gostaríamos de perguntar também se o programa de construção de igreja pode ser orientado para ganhar almas. Muitas vêzes em minha experiência no trabalho administrativo tenho visto exatamente o contrário. Ao tempo da conclusão do prédio da igreja, haviam-se as ovelhas dispersado de Dã até Berseba. Por ocasião da dedicação do templo desaparecera uma boa parte da congregação. Alguns se haviam transferido, alguns abandonaram sua qualidade de membros, outros estavam magoados e desanimados e não mais intencionavam voltar. Por outro lado, fui também testemunha de como o programa de construção trouxe extraordinárias bênçãos espirituais e unidade à congregação. A igreja foi grandemente fortalecida em resultado do programa de construção. Que fêz a diferença?

Consideremos outra parte do programa da igreja, isto é, a música. Qual é a contribuição da música para o plano de ganhar almas? É-nos dito que a música constitui “um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais. . . . Como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração.” — Educação, pág. 167. Às vêzes tem-se a impressão de que certos cantores estão mais interessados na apropriada atuação de suas cordas vocais do que na mensagem do canto ou na alma das ovelhas. Esforcei-me ao máximo para compreender as palavras de certos cantores, mas acho que êles entraram em órbita e perderam todo o contato com a Terra.

A “prova final está na salvação dos perdidos e em elevar os remidos para mais perto de Deus. Se ela falha em convencer os pecadores e elevar os santos, deixa de fazer jus ao padrão de uma boa música para a igreja.” —The Ministry, janeiro de 1961, pág. 30.

Poderiamos mencionar outros aspectos do programa da igreja, tais como a cerimônia batismal, a visitação pastoral, os casamentos, os cultos de oração, as atividades dos jovens, a consagração de templos, a dedicação de crianças, o programa de saúde — todos êstes e muitos outros deveriam ser canais através dos quais possa advir grande bênção à congregação.

Cada atividade deve ser uma oportunidade para o Espírito Santo infundir nova vida à igreja. Importa que tôdas as partes do programa da igreja sejam executadas com o objetivo de conduzir os homens a Cristo e manifestar o amor de Deus.