A melhor maneira de viver o Natal é entronizar no coração o espirito salvador que ele encerra, enquanto aguardamos a segunda vinda de Cristo

A humanidade aprendeu a conviver com sonhos, fantasias, romances, suspense, terror, comédias, ficção e esportes cada vez mais radicais. Tudo movido a muita adrenalina. Sem os shows “da pesada” a semana parece incompleta. O calendário dos acontecimentos obriga a um permanente estado de excitação. Os estádios, salões, bares e restaurantes já não podem abrigar o sempre crescente público. É como disse o Senhor: “Comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento” (Mat. 24:38).

A mídia divulga tudo como sendo o programa cultural do mês, da semana, do feriadão. O efeito disso que a agenda pessoal fica tão congestionada que não sobra espaço, tempo nem lugar, para o indivíduo pensar nas realidades eternas. No extenso calendário anual sobram duas datas para a mesma pessoa: são os eventos da Páscoa e do Natal. Na Páscoa, os sentimentos são mais para o introspectivo, conduzindo as pessoas a um solene recolhimento. Já o Natal possui características extrovertidas. A sociedade explode. Os empresários investem alto, apostando em um melhor faturamento.

O Natal alcança a tudo e a todos; fraternais emoções são despertadas. Corais exibem-se nos shoppings centers, asilos, favelas, creches, praças e lixões. Enfeitam-se edifícios, lojas, ruas e casas. Milhões de lâmpadas coloridas piscam como vaga-lumes. As celebrações natalinas têm efeito terapêutico. Toneladas de endorfina são lançadas na corrente sanguínea, produzindo alegria e fortalecendo o sistema imunológico. No ato de doar Seu único Filho, Deus revelou a imensidão do amor referido em João 3:16. Amor que não sofre mu-dança; amor eterno. Ao entregar Seu Filho, Deus nos deu a maior dádiva do Céu, demonstrando assim quão importante somos a Seus olhos. Jesus deu-Se, humilhou-Se, fez-Se pobre e, por isso, o Natal é rico de alegria. É impossível computar o “tudo” que está envolvido na manjedoura.

Noite de paz

Após uma longa caminhada até Belém, obedientes a uma ordem do império que ordenara um recenseamento no próprio lugar do nascimento, José e Maria estavam cansados. Encontraram os caminhos congestionados e as pousadas lotadas. Depois de muito procurar, encontraram um estalajadeiro que, comovido com a situação de Maria, tomou um facho de luz e conduziu o casal para um lugar, em sua casa, onde havia muita palha, um cocho e alguns animais. Carinhosamente, José improvisou um colchão macio com o material disponível.

A noite avançava e Maria não conseguia dormir. As contrações aumentavam. Finalmente, um doce e suave choro anunciava que o Messias entrava em nosso planeta. Chegara o Senhor da glória, de um modo que não poderia ser mais humilde.

Não muito distante, um grupo de pastores guardavam suas ovelhas. Uma fogueira já extinguindo-se pontuava o adiantado da hora. Alguns desses pastores já bocejavam; outros quase adormeciam. Eis que uma radiante luz aproxima-se e os desperta. Surgem vultos organizando-se num coral que irrompe em jubilosos cânticos, quebrando o silêncio e anunciando a chegada do Príncipe da Paz. “Na cidade de Davi… encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura”, diz o texto, acrescentando que os pastores “foram apressadamente” (Luc. 2:11, 12 e 16). Ante os gritantes acontecimentos de nossos dias, a marcha suicida da humanidade, quão apressados deveriamos estar em preparar um povo para o glorioso regresso do Salvador!

Cajado na mão, desceram a colina e “acharam… a criança deitada na manjedoura”. Os pastores não foram os únicos a se dirigirem até Belém. Ilustres governantes orientais, homens estudiosos e inteligentes viram a estrela. Ao saírem da entrevista com Herodes, seguiram-na até que ela parou sobre o local onde nasceu Jesus. Entraram, adoraram e ofertaram.

Espírito de doação

O gesto dos magos perpetuou-se através dos séculos. No Natal, damos e recebemos; alegramos e somos alegrados. Presentes grandes, médios, pequenos, não importa. Dê algo a alguém. E se for o caso de nada possuir para doar, ofereça um olhar de simpatia, um sorriso sincero, um caloroso abraço, um aperto de mão, palavras recheadas de bondade, ternura e fé. Visite alguém que está incapacitado de fazê-lo, ofereça um cântico aos que não podem cantar. Abra o guarda-roupa e vista não só os maltrapilhos mas aos nus também. Abra a despensa e distribua pão.

Seria incansável, e mesmo infrutífera, a busca de palavras para esgotar o significado do Natal de Jesus. O único e o mais correto é aceitarmos o dom do Céu e viver o espírito altruísta e salvador que ele encerra.

Terra sem paz

No dia 11/09/2001, a rainha das nações foi agredida, humilhada e ultrajada. Duas frases passaram a identificar a trágica realidade: “O mundo não será mais o mesmo”; “a América não será mais a mesma”. Para os mais de 200 milhões de norte-americanos, o primeiro Natal após o 11 de setembro foi demasiadamente amargo. Dez mil órfãos sentiram a falta dos pais. Quinhentos mil desempregados. Foi um Natal com uma bandeira hasteada a meio pau no mastro do coração daqueles que tiveram seus entes queridos pulverizados pelas explosões das famosas torres gêmeas. Em seguida, as escuras cavernas do Afeganistão passaram a ser iluminadas e perfuradas pelas bombas, em busca dos responsáveis por aquele Natal enlutado.

Eis-nos uma vez mais diante de um Natal. Os enlutados agora são da Inglaterra, da própria América do Norte e do Iraque. Nas metrópoles, as lágrimas rolam pelos queridos tombados na permanente e indomável guerra urbana. O eco harmonioso e milenar do cântico de Belém fica mais silente, imperceptível e distante a cada ano. Onde está a paz?

O Rei Vindouro

Não podemos olvidar que o Natal de Belém foi o primeiro advento. O prometido Messias, o que havia de vir, veio. Cumpriu Sua missão. Resta-nos agora como bálsamo o segundo advento. O mesmo Jesus, não mais um indefeso bebê, agora virá glorioso como Rei dos reis. A Terra inteira ouvirá o som das trombetas. Mesmo os que dormem ouvirão e se levantarão para, junto aos santos vivos, erguerem a cabeça e os braços saudando o Rei: “Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação exultaremos e nos alegraremos” (Isa. 25:9).

A partir de então, tudo será alegria, vida eterna. “Vem, Senhor Jesus” (Apoc. 22:20).