A. W. STAPLES

(Presidente da Associação do Cabo, Sul da África)

O ARQUIVO de sermões, sempre à mão, pode converter-se num laço para o pregador adventista. A circunstância de êle saber que contém muitos sermões já preparados, pode induzir o pregador a descuidar tanto o preparo do coração como do sermão para certas ocasiões especiais. Sermões velhos, enrugados pela idade e sensabor, por muito repetidos, tornam-se evidentes em muitas de nossas pregações.

“Tem Cuidado de Ti Mesmo”

Em I Tim. 4:16, o apóstolo Paulo dirige ao jovem Timóteo um convite e, por meio dêle, a todos os pregadores. Êsse convite é digno da maior consideração e de estudo cuidadoso: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás a ti mesmo como aos que te ouvem.”

“Tem cuidado de ti mesmo.” Em última análise, o sermão é o homem. O sermão nunca se elevará a nível intelectual e espiritual superior ao de que goza o próprio pregador. O preparo do homem, portanto, é o preparo do sermão. Somente pregadores vivos, que continuamente se desenvolvam, pregarão sermões vivos e que continuamente se desenvolvem.

Quem conhece a Deus, conhecer-se-á a si próprio. Com base em seu conhecimento do poder e da bondade de Deus, surgir-lhe-á na alma a convicção de sua própria fraqueza e ineficiência naturais, pela obra do Espírito Santo. Quem sente a Deus em sua vida não pode ser orgulhoso; quem se vê a si próprio será humilde. A humildade é certamente uma compreensão de necessidade, sem a qual ninguém pode preparar-se para pregar. Nesse preparo do coração o pregador deve estar inspirado por um motivo puro, porque é impossível que o ministro cause impressão de que é muito capaz, e ao mesmo tempo aponte para Jesus como a um Salvador plenamente suficiente. Ao postarem-se perante a congregação, todos quantos não falam impulsionados pelo puro motivo de exaltar a Jesus e ganhar almas, oferecem “fogo estranho” perante o Senhor. Êste perigo mortal sempre assalta o ministério. Tenhamos cuidado, pois, de nós mesmos, e preparemos humildemente o coração e a mente para o ministério da Palavra.

A Necessidade de Estudar

“Procura apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade.” (II Tim. 2: 15.)

O verdadeiro pastor interessa-se pelos seus membros. Êsse interêsse capacitá-lo-á para privar com êles em forma amigável e aprender a conhecer-lhes as provações e tentações, suas fraquezas e necessidades, seus anseios e aspirações. À medida que aprende a conhecê-los, entretecem-se suas vidas, e o Espírito Santo lhe ateia na alma profundo amor por êles. O amor é portador do anelo de salvá-los.

O anelo de salvar as almas no ambiente de suas necessidades conhecidas, anelo inspirado pelo amor, o inspira por sua vez a preparar êle próprio o sermão. Não escolherá o sermão com folhear o arquivo de sermões velhos, mas preparará um novo para atender às necessidades das almas confiadas ao seu cuidado. A Bíblia e o Espírito de profecia adquirirão vida nova, e dêles surgirão sermes vivos. Tôdas as leituras e observações do pregador terão um novo propósito. Sua mente e seu caderno de apontamentos estarão cheios de novas idéias e ilustrações ali entesouradas para enriquecer e iluminar-lhe as mensagens. Estudará com mentalidade homilética que lhe encherá a alma de gordura espiritual.

O pregador eficiente considera seus sermões como ferramenta, destinada a realizar uma obra específica na vida dos ouvintes. Manterá um registo de seus sermões para que sua pregação seja equilibrada e tenha a certeza de que está comunicando aos seus ouvintes todo o conselho de Deus. Desta maneira o pregador que contìnuamente cresce dará sempre ao seu auditório alguma coisa que o ajudará a desenvolver-se.

O Preparo para o Próximo Sábado

  • 1. Agora chegamos ao assunto da escolha de um assunto definido. O pregador pode passar horas e dias, até que se decida neste sentido. Quais são as necessidades dos irmãos? Dá voltas a esta pergunta uma e outra vez na mente à medida que estuda e ora, até que o assunto surge, e só isto tem importância.
  • 2. Munido de lápis, papel, da concordância e de livros, faz uma oração, senta-se e faz uma lista de tudo quanto lhe parece importante com relação ao assunto. Deve ter muito cuidado de fazer uma lista que abranja idéias, citações, textos e ilustrações.
  • 3.  De tôda essa lista de material escolhe primeiramente sua conclusão. Deve ser um versículo acompanhado de uma ilustração ou citação. Esta conclusão deve ser a culminação de todos os seus pensamentos, e conterá um apêlo para que os ouvintes se dediquem a fazer alguma coisa.
  • 4.  Uma vez escolhida a conclusão, o pregador sabe justamente aonde vai e o que quer que as pessoas façam. Imediatamente depois escolhe sua introdução. Quando as pessoas se reúnem, estão pensando em assuntos vários. Portanto, a introdução deve ser interessante e atraente. Deve reunir os pensamentos de todos e induzí-los a prestar aten-ção ao que irá dizer.
  • 5.  O primeiro texto deverá apresentar o assunto com que os ouvintes já foram interessados. Deverá estimular-lhes o pensamento e a vontade, e induzi-los a concentrar-se no assunto.
  • 6. Deveriamos comparar o sermão a uma escada. Começa onde a gente está, e ao subir degrau a degrau, deve levá-los aonde Deus deseja que estejam. A introdução é a trama inicial, e a conclusão é o último degrau na escada do sermão. Da lista feita deverá reunir-se o material, ponto por ponto, em ordem ascendente e lógica. Isto assegurará um movimento ascendente no sermão, a partir da introdução até à conclusão. Isto é essencial para manter o interêsse.
  • 7. As ilustrações são semelhantes a janelas; deixam entrar a luz. O pregador usa-as de quando em quando e comedidamente. Devem elas iluminar os versículos empregados. Deverão atrair a atenção, não para si próprias, mas para o versículo que devem ilustrar. Uma ilustração que seja lembrada quando o sermão já houver sido esquecido, não cumpriu o propósito para que foi empregada. Evite-se a tentação de entreter os ouvintes contando-lhes histórias, preferível é conhecer-se o ministro como expositor das Sagradas Escrituras, de pensamento profundo, linguagem eloqüente e estilo dinâmico.
  • 8. O sermão não deverá conter material demasiado. Seja êle estricto e elimine tudo quanto não seja essencial para a introdução, o desenvolvimento e a conclusão do tema. Isto dará tempo e lugar pa-ra que Jesus esteja em cada sermão. Sòmente ao fazermos de Cristo o centro de todo sermão, dará o Espírito Santo testemunho dos sermões que pregamos.

Meditação e Oração

Poderá ser que o ministro não tome muito tempo para esboçar seu sermão, mas ao terminar o esbôço, êle ainda estará no papel. Teve o pregador “cuidado da doutrina.” Necessário é, então, que se entregue a Deus, juntamente com seu ser-mão, ajoelhando-se para orar.

Paulo diz: “Medita nestas coisas.” Tome o ministro seu esbôço e suas notas e saia a caminhar. Imagine sua congregação. Pese cada ponto do esbôço, e sublinhe sua meditação com uma oração elevada a Deus suplicando a presença do Espírito Santo. O salmista declara: “Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo; então falei com a minha língua.” (Sal. 39:3.)

Sim, dedique uma hora à meditação e oração, até que o coração arda com fogo sagrado. Então o sermão não mais estará no papel; estará no coração. Então poderá falar com sua língua, e o coração lhe aflorará aos lábios. Necessita-se justamente dêsse afloramento do coração para que o sermão seja verdadeiramente eloqüente e possua o poder de ganhar almas. Sòmente o sermão que primeiramente levou o pregador a comungar Intimamente com Deus, que lhe fêz bem à própria alma, pode ser utilizado pelo Espírito Santo em favor de outros. Paulo, o evangelista, termina dizendo: “Porque, fazendo isto, te salvarás a ti mesmo como aos que te ouvem.”

“Diante da honra, vai a humildade. Deus escolhe para ocupar um elevado pôsto diante dos homens, o obreiro que, como João Batista, procura um lugar humilde perante Deus.” — O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 436.