Membros felizes e motivados são aqueles que executam ministérios com base nos dons espirituais

Nos dias modernos, quem exerce o pastorado necessita de um paradigma seguro; e, em Jesus, pode encontrar a resposta para essa necessidade. Um olhar atento para o ministério de Cristo revela princípios de grande valor a serem aplicados no ministério pastoral do século 21. Seus pés trilharam caminhos pelos quais todos os pastores necessitam passar, e Seus passos marcaram os contornos desses caminhos. O exemplo dEle revela o perfil do verdadeiro pastor. Dessa observação vem a revelação de que “Ele mesmo fez a uns certamente … pastores”1 ou “escolheu alguns para serem … pastores”.2

O exemplo de Cristo revela que o ministério pastoral tem uma tríplice ênfase: ensinar, pregar e curar. “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.” (Mat. 9:35). Embora muito possa ser dito sobre cada um desses aspectos do ministério de Jesus, eles podem ser resumidos em uma palavra: restauração. Foi para isto que Cristo veio: restaurar a humanidade caída à sua antiga condição diante de Deus.

Todo ministério pastoral efetivo precisa ter o foco na restauração integral do ser humano. Diariamente, o pastor lida com pessoas abatidas, física, emocional e espiritualmente, e precisa restaurá-las à sua melhor condição diante de Deus e dos desafios da vida moderna. Cada membro precisa desempenhar-se bem, frente às exigências da modernidade, principalmente no contexto da vida cristã. Tal desempenho é resultado de um pastorado de restauração eficaz em funcionamento na igreja.

Competências na igreja

A administração empresarial foi revolucionada com o advento do conceito de gestão por competências. Nela procura-se explorar ao máximo o potencial dos colaboradores, através de programas de desenvolvimento de competências que identificam talentos e habilidades. Feita essa identificação, talentos e habilidades são estrategicamente distribuídos para que atendam às necessidades da organização e mantenham um alto índice de motivação e satisfação no trabalho e nos resultados.3 Podemos dizer que esse modelo faz lembrar o ideal bíblico de sacerdócio de todos os crentes e ministérios orientados segundo os dons. Uma boa definição afirma que “o ministério orientado pelos dons é a arte de colocar as pessoas certas nos lugares certos, pelos motivos certos, para conseguir os melhores resultados”.4

A Igreja cristã continuará trabalhando com a maioria de seus colaboradores em regime de ministério voluntário. Boas evidências indicam que a execução da maioria das funções eclesiásticas é e sempre será desempenhada por esse ministério. Tal realidade nos leva à compreensão de que os membros precisam ser motivados, capacitados e orientados para que continuem comprometidos com a missão da Igreja. Também é importante que os ministros voluntários atuem felizes, sentindo-se úteis e satisfeitos nas áreas em que foram colocados mediante a aplicação dos dons concedidos pelo Espírito Santo.

O sonho do pastor

Equipes de trabalho entusiastas e produtivas, lideranças multiplicadoras e comprometidas, membros engajados em ministérios efetivos em um ambiente de unidade e identificação com Cristo, eis o sonho do líder cristão. Como disse David Kornfield, “todo pastor sonha ver a igreja inteira mobilizada”,5 cumprindo sua missão tanto na dimensão externa como interna.

O grande desafio, nesse contexto, é conseguir agregar, motivar, capacitar e conduzir os membros na experiência do serviço na causa de Deus, num tempo em que fortes correntes de secularismo e relativismo agridem as estruturas da igreja institucional e local. “A grande tragédia é que um imenso número de cristãos não estão envolvidos de jeito nenhum, ou não estão adequadamente envolvidos em qualquer tipo de ministério por Cristo ou Sua igreja.”6

A solução do problema estará cada vez mais perto na medida em que houver uma aproximação do ideal de restaurar as pessoas que compõem a igreja de Deus, colocando-as nos lugares para os quais o Espírito Santo as capacitou. Os recursos humanos da igreja são as pessoas com suas competências. E quando seu posicionamento em postos de serviço contempla a dotação que cada uma recebeu do Espírito Santo, o resultado é qualificado na motivação e satisfação daquele que serve, e quantificado no produto do serviço prestado à igreja. Então, inicia-se o processo de aproximação daquele quadro tão sonhado e ainda tão pouco experimentado: vidas restauradas serão vidas produtivas.

Função pastoral

É-nos dito que “a tarefa primária do pastor, segundo as Escrituras, é treinar ou equipar os membros para o desempenho do seu ministério. Muito do tempo do pastor deveria ser passado em ajudar os membros a descobrirem seu lugar no ministério em harmonia com seus dons espirituais”.7

Analistas do crescimento de igreja estão certos de que “a igreja era bem clara em dizer que o trabalho do pastor era equipar os membros para o ministério”.8 Essa visão é compartilhada por John Fowler, em seu livro Ministério Pastoral Adventista: “O papel do pastor no ministério de ensino da igreja é vitalmente importante … seu alvo deve ser edificar cristãos fortes e maduros que são treinados para o serviço.”9

Um programa de ministério orientado segundo os dons estabelece um ponto de equilíbrio entre as necessidades institucionais e das pessoas envolvidas. Se, por um lado, o crente deve ser priorizado em sua necessidade de desenvolver seus dons em ministérios adequados, por outro, ele deve ser mobilizado para o serviço. Igreja e membros, instituição e pessoas, todos crescem da forma como o Espírito Santo orientou.10 Conforme a descrição de Paulo, os dons são outorgados “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efés. 4:12).

Não é papel do pastor executar todos os ministérios necessários ao crescimento da igreja, mas mobilizar os crentes na descoberta da respectiva função ministerial dentro do corpo de Cristo. “O pastor é pago para treinar os membros. Se ele não está fazendo isso, então, biblicamente, não está fazendo o seu trabalho.”11

A igreja dispõe de conselhos inspirados nesse sentido: “Algumas vezes, os pastores trabalham em excesso, procuram tomar todo o trabalho em suas mãos. Isto os esgota e prejudica, mas continuam a se envolver com tudo. Pensam que só eles devem trabalhar na causa de Deus, ao passo que os membros da igreja ficam ociosos. Essa não é, de maneira alguma, a ordem de Deus.”12

A descoberta dos dons

Os membros de uma igreja com ministérios orientados pelos dons sabem que não existe cristianismo sem discipulado. Para isso, o pastor necessita estar consciente de que seu trabalho principal “é manter as ovelhas em boa forma, para que elas possam produzir ovelhas. Se o pastor cuida realmente do rebanho, ele treinará os membros para realizarem o ministério que lhes compete”.13

Ajudar os membros na descoberta de seus dons espirituais é muito importante, uma vez que os dons espirituais definirão o direcionamento que as equipes de obreiros voluntários deverão tomar. Portanto, a maior preocupação do pastor deverá ser ocupar-se com a restauração e capacitação dos membros.

Uma forma clara e precisa de se definir a natureza da Igreja e de sua obra no mundo tem como fundamento a responsabilidade individual de cada membro. Cada cristão é convidado a descobrir seu lugar na dinâmica da vida eclesiástica, bem como no lugar em que ele vive, porque aí é seu espaço para desenvolvimento do seu ministério.14 Nesse cenário, o pastor surge com um papel múltiplo: 1) Restaurar o rebanho à sua melhor condição, a fim de utilizar o máximo do potencial disponível; 2) ajudar os membros na identificação de seus dons; 3) treiná-los, “com vistas ao aperfeiçoamento” de suas competências para o serviço; 4) organizá-los em equipes de ministérios eficazes, e 5) facilitar a abertura de espaços para o desenvolvimento de novos ministérios dentro e fora da igreja.

Quando a restauração e a capacitação de cada membro se tornarem o foco do ministério do século 21, todos visualizaremos uma igreja dinâmica, comprometida e espiritualizada. Podemos apressar esse dia.

Referências:

1 Tradução Portuguesa da Vulgata Latina pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo, Ia ed., (São Paulo, SP: Editora Rideel, 1997).

2 Tradução na Linguagem de Hoje (São Paulo, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1988).

3 Wélida Dancini Silva, O Impacto da Gestão por Competências na Motivação e nos Relacionamentos Interpessoais, Monografia de conclusão de pós-graduação em Psicologia nas Organizações (Itabuna, BA: PUC-RS, 2004), págs. 19-41.

4 Marcos De Benedicto, Ministério, novembro-dezembro de 2005, (entrevista) pág. 5.

5 David Kornfield, Desenvolvendo Dons Espirituais e Equipes de Ministérios (São Paulo, SP: Ed. Sepal, 1998), pág. 7.

6 Aubrey Malphurs, Planting Growing Churches for The 21st Century (Grand Rapids, MI: Baker Book House Company, 1998), pág. 152.

7 Russel Burrill, Revolução na Igreja (Almargem do Bispo, Portugal: Publicadora Atlântico S.A., 1999), pág. 111.

8 Rick Warren Uma Igreja com Propósitos (São Paulo, SP: Editora Vida, 1998), pág. 472.

9 John Fowler, Ministério Pastoral Adventista (São Paulo, SP: Editora Tempos), págs. 143 e 144.

10 Russel Burrill, Op. Cit., pág. 107.

11 Ibidem, pág. 50.

12 Ellen White, Evangelismo, pág. 113.

13 Russel Burrill, Op. Cit., pág. 37.

14 Rex Edwards, Every Believer a Minister (Boise, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 1979), pág. 21.

Ednaldo Juarez Silva, Pastor na Associação Bahia Sul