A lealdade ou a deslealdade do ser humano determina o valor e a utilidade de sua vida no presente e seu destino eterno.

Que se entende por lealdade? Uma autoridade a define como o “cumprimento do que exigem as leis da fidelidade, da honra e da probidade.”’ A fidelidade diz respeito à exatidão com que se cumpre uma obrigação assumida. E que obrigações são assumidas pelos seres humanos?

Quer o reconheçamos, quer não, estamos moralmente comprometidos com a própria vida e com os que a transmitiram para nós ou contribuíram para que a desfrutemos. Estamos comprometidos de modo especial com Deus, a Fonte da vida, o supremo Autor de nossos dias e em Quem “vivemos, e nos movemos, e existimos.”2 E nossas obrigações são tantas e tão grandes como as dádivas e oportunidades que nos concede a Providência Divina.

À exatidão com que a fidelidade cumpre as obrigações contraídas, a lealdade acrescenta a idéia do afeto pessoal com que são cumpridas. Um computador pode conservar e devolver com toda a fidelidade as informações que lhe foram confiadas, mas não diremos que o faz com lealdade. Somente o homem, dotado de razão, de livre arbítrio e de vontade, pode ser leal ou desleal.

Originalmente, “Deus fez o homem reto; deu-lhe nobres traços de caráter, sem nenhum pendor para o mal. Dotou-o de altas capacidades intelectuais, e apresentou-lhe os mais fortes incentivos possíveis para que fosse 16 fiel a seu dever.”3 Sua lealdade se manifestaria em sua fiel e amo-rosa obediência à lei de Deus. “A lei de Deus é tão sagrada como Ele próprio. É uma revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter, expressão do amor e sabedoria divinos. … Ao homem, a obra coroadora da criação, Deus deu o poder de compreender o que Ele requer, a justiça e beneficência da Sua lei, e as santas reivindicações da mesma para com ele; e do homem se exige inabalável obediência.”4 Mas Adão e Eva foram desleais a Deus. Traíram Sua confiança; e os resultados foram funestos. Colocaram toda a sua descendência em condições desvantajosas. Temos por isso menos obrigação moral de ser leais a Deus e a Suas leis?

A queda de nossos primeiros pais deu lugar a maior manifestação do amor de Deus do que a criação: o dom inefável de Seu Filho para nossa eterna redenção. E o Pai estava em Cristo, “Homem de dores e que sabe o que é padecer”5, “reconciliando consigo o mundo”, “e nos deu o ministério da reconciliação.”6

“O primeiro homem, Adão, foi feito ser vivente”; mas, por ele “entrou o pecado no mundo, e pelo pecado e morte; assim também a morte passou a todos os homens”. Porém Cristo, “o último Adão, . .. é espírito vivificante”, em quem “todos serão vivificados.”7

O domínio perdido pela deslealdade de Adão foi recuperado pela lealdade de Cristo à lei e à vontade de Deus, manifesta em condições indizivelmente mais difíceis do que as que teve de enfrentar o Pai da humanidade. Cristo disse por intermédio do Salmista: “Agrada-Me fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; dentro em Meu coração está a Tua lei.” E no Sermão do Monte Ele afirmou: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir.”8

Noutra ocasião Jesus declarou: “Eu desci do Céu não para fazer a Minha própria vontade; e, sim, a vontade dAquele que Me enviou.” E no Getsêmani demonstrou que estava disposto a fazer a vontade de Deus “até à morte, e morte de cruz”.’ Cristo “foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. E pôde afirmar: “Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e no Seu amor permaneço.”10

Ele não veio, porém, somente para manifestar Sua lealdade a Deus, mediante a obediência, e para enfrentar vitoriosamente tentações muito mais insidiosas do que aquelas perante as quais Adão sucumbiu. “Cristo anseia por estender o Seu domínio a todo espírito humano. . . . Sua peregrinação na Terra foi alegrada pelo pensamento de que nem todo o Seu trabalho seria vão, mas haveria de reconquistar o homem à lealdade para com Deus. ”11 Além disso, “Cristo nos dá a prova pela qual demonstramos nossa lealdade ou deslealdade. Diz Ele: ‘Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. . . . Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda esse é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele. … Quem Me não ama não guarda as Minhas palavras’ (S. João 14:15-24).”12

Conhecer os mandamentos de Deus, como foram ilustrados pela vida e pelas palavras de Cristo, aumenta nossa responsabilidade e compromete nossa lealdade. “Aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. Quais são, portanto, nossos compromissos, como adventistas do sétimo dia e como obreiros, para com Deus, para com Sua Igreja e para com o mundo?

“[Os adventistas do sétimo dia] . . . testificam de sua lealdade ao Deus do Céu, tributando obediência às leis de Seu governo”;14 e essas leis destinam-se a regular todos os aspectos da vida: suas faculdades físicas, mentais, sociais e espirituais.

Por inspiração divina, é-nos declarado que em nossas instituições “há grande necessidade de lealdade aos princípios”.15 Mas a obediência e o serviço a Deus devem ser sinceros e provir do coração. “Não enganeis a vossa alma. É o coração íntegro que Cristo aprecia. A lealdade da alma é a única que tem valor à vista de Deus.”16

A verdadeira lealdade a Deus só pode ser obtida pela libertação do domínio do príncipe deste mundo. Lemos: “Redenção é o processo pelo qual a alma é preparada para o Céu. Esse preparo implica em conhecer a Cristo. Significa emancipação de idéias, hábitos e práticas adquiridos na escola do príncipe das trevas. A alma se deve libertar de tudo que se opõe à lealdade para com Deus.”17 A lealdade a Deus abrange a dedicação de todas as nossas faculdades Aquele ao qual pertencem por direito de criação e de redenção.

Não somos donos, e, sim, mordomos da vida que nos foi confiada, bem como do tempo, do corpo, dos talentos e do dinheiro; e requer-se que os mordomos ou despenseiros sejam fiéis, porque a seu devido tempo terão que dar conta de sua mordomia. 18 Somos mordomos fiéis e leais ao Autor de nossos dias?

A lealdade a Deus também se manifesta na devida relação com Sua Igreja. “A igreja foi organizada para o serviço; e numa vida de serviço dedicado a Cristo, a conexão com a igreja é um dos primeiros passos. A lealdade para com Cristo exige o fiel cumprimento dos deveres da igreja.”19

“A igreja é o instrumento de Deus para a proclamação da verdade, por Ele dotada de poder para fazer uma obra especial; e se ela for leal ao Senhor, obediente a todos os Seus mandamentos, nela habitará a excelência da graça divina. Se for fiel a sua missão, se honrar ao Senhor Deus de Israel, não haverá poder capaz de a ela se opor.”20 E os que a integram participarão de seus triunfos.

“Aqueles cuja fé e fervor são proporcionais a seu conhecimento da verdade revelarão sua lealdade a Deus comunicando a ver-dade, com todo o seu poder salvador e santificador, àqueles com quem se relacionam. ”21 E o farão com abnegação e espírito agradecido. “Se por meio de grandes esforços e sofrimento podem ser obtidos grandes resultados, quem de nós, que somos objeto da graça divina, recusará fazer esse sacrifício? . . . Que daremos a Deus por todos os benefícios que nos tem concedido? Sua incomparável misericórdia nunca poderá ser paga. Pela obediência voluntária e pelo serviço agradecido, só nos é possível demonstrar nossa lealdade e cobrir de honra a nosso Redentor.”22

Também devemos ser leais com o próximo. “Os que são regidos pelo Espírito de Deus devem manter alerta suas faculdades perceptivas; pois é chegado o tempo em que sua integridade e lealdade a Deus e uns aos outros será provada. Não cometais a mínima injustiça a fim de obter qualquer vantagem para vós mesmos. Fazei aos outros, nas coisas pequeninas como nas grandes, como quererieis que vos fizessem a vós.”23

Somos leais a nossos semelhantes? Colocamo-nos mental e emocionalmente em seu lugar, para partilhar suas preocupações e suas alegrias? Alegramo-nos com os que se alegram e choramos com os que choram? Protegemos sua reputação? Como, por exemplo, a dos que nos precederam ou sucederam em determinada função ou atividade? Não traímos a confiança dos que nos transmitem os seus segredos?

Somos leais com os dirigentes de nossa Obra, em instituições, igrejas, associações, uniões ou divisões, os quais depositaram sua confiança em nós? Como dirigentes, recomendamos a outra instituição ou entidade administrativa, com palavras de elogio ou silêncio culposo, o nome de algum obreiro do qual queremos livrar-nos? Repartimos abnegada e denodadamente com os pobres o nosso dinheiro e com os extraviados nosso conhecimento do evangelho?

Todas as obras do bem, todos os triunfos do amor, da verdade e da justiça, todos os feitos heróicos que honraram a Deus e beneficiaram a humanidade no passado podem ser atribuídos à lealdade de seus executores às leis da vida e a seu divino Autor. E, direta ou indiretamente, todas as calamidades têm sido provocadas pelos desleais e traidores.

Pensemos nalguns dos personagens da história sagrada: José no Egito; Moisés com a vara de Deus na mão; Daniel em Babilônia, preferindo, com o risco da própria vida, ser fiel aos princípios, a gozar o favor dos reis. Ao mesmo tempo, porém, ele foi irrepreensível em seu serviço a mais de um império. Falando a respeito dele, Ellen G. White escreveu o seguinte: “A lealdade a Deus . . . deve ter precedência, e temer ofender ao Senhor do Céu é que deve reger o cristão. . . . Deus honrou a Daniel, e honrará todo jovem que seguir a direção tomada por ele em honrar a Deus. ”24

Pensemos em João Batista, o corajoso porta-voz do Céu, que não teve receio de apontar os pecados de pessoas eminentes; e o abnegado precursor do Messias, ao qual apresentou como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”,25 não se considerando digno de desatar-Lhe as correias das sandálias.

“Na história dos profetas e apóstolos, existem muitos nobres exemplos de lealdade para com Deus. As testemunhas de Cristo têm suportado a prisão, tortura e a própria morte, de preferência a violar os mandamentos de Deus. O relatório deixado por Pedro e João é tão heróico como qualquer da dispensação cristã. Achando-se eles pela segunda vez perante os homens que pareciam empenhados em efetuar a sua destruição, nenhum temor ou hesitação se poderia divisar em suas palavras e atitudes. E quando o sumo sacerdote disse: ‘Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem’, Pedro respondeu: ‘Mais importa obedecer a Deus do que aos homens’. ”26

Pensemos no apóstolo Paulo. Sua lealdade a Cristo e à “visão celestial jamais esmoreceu diante da prisão, de açoites ou da morte. Quase no fim de seu ministério, ele declarou: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. “Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus. ’27

E agora, nos últimos dias do “tempo do fim”, de acontecimentos e presságios alarmantes, “Deus pede homens de decidida fidelidade. Não há utilidade, para Ele, em uma emergência, para homens de duplicidade. 28 Não pode depender de pessoas como Caim, Saul ou Judas.

“Já os juízos de Deus se manifestam na Terra, em forma de tempestades, inundações, terremotos e perigos por terra e mar. O grande EU SOU está falando aos que anulam Sua lei. Quando a ira de Deus for derramada sobre a Terra, quem estará em condições de subsistir? Agora é o tempo de mostrar-se o povo de Deus leal aos princípios. Quando a religião de Cristo for mais desprezada, quando Sua lei mais desprezada for, então deve nosso 18 zelo ser mais ardoroso e nosso ânimo e firmeza mais inabaláveis. Permanecer em defesa da verdade e justiça quando a maioria nos abandona, ferir as batalhas do Senhor quando são poucos os campeões — essa será nossa prova. Naquele tempo devemos tirar calor da frieza dos outros, coragem de sua covardia, e lealdade de sua traição. ”2

Será possível que a maioria dos que nos acompanham nos dias de relativa tranqüilidade nos abandonem nos tempos angustiosos que se acham à nossa frente? Oxalá Deus evite que isso aconteça! Somos, porém, advertidos de que agora, “muitos, tanto entre ministros como entre o povo, estão tripudiando sobre os mandamentos de Deus”. 30

“Ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário. . . . Homens de talento e maneiras agradáveis, que se haviam já regozijado na verdade, empregam sua capacidade em enganar e transviar as almas. Tornam-se os piores inimigos de seus antigos irmãos.”31

“Levante-se a oposição, de novo exerçam domínio o fanatismo e a intolerância, acenda-se a perseguição, e os insinceros e hipócritas vacilarão, renunciando a fé; mas o verdadeiro crente permanecerá firme como uma rocha, tomando-se mais forte a sua fé, sua esperança mais viva do que nos dias da prosperidade. ” 32 Sim, a lealdade dos sinceros de coração aumentará diante da adversidade. “Em Apocalipse 14, João contempla outra cena. Vê um povo cuja fidelidade e lealdade às leis do reino de Deus aumentam com a emergência. O desprezo para com a lei de Deus só tende a fazer com que revelem mais decididamente seu amor a essa lei. Esse amor aumenta com o desprezo que lhe é manifestado. 33

“Para o coração leal, as ordenações de homens pecaminosos e finitos se tornam insignificantes ao lado da Palavra do eterno Deus. A verdade será obedecida, embora o resultado seja prisão, exílio ou morte. ”34

Agora devemos servir lealmente a Deus, a Sua Igreja e à humanidade, com plena confiança nas promessas de nosso supremo Dirigente. “Esperar pacientemente, confiar quando tudo parece escuro, eis a lição que os líderes na obra de Deus necessitam aprender. . . . Aquele que foi a fortaleza de Elias é forte para sustentar cada um de Seus filhos em luta, não importa quão fraco seja. Ele espera lealdade de cada um, e a cada um concede poder de acordo com a necessidade. ”35

  • E, finalmente, como a hipocrisia, a deslealdade e a traição têm seu correspondente e justo castigo, também a sinceridade, a fidelidade e a lealdade têm sua recompensa, e isso por toda a eternidade. “Aquele que designou a todo homem a sua obra’, segundo sua capacidade, jamais consentirá que o fiel cumprimento do dever fique sem recompensa. Todo ato de lealdade e fé, será coroado por manifestações especiais do favor e da aprovação de Deus. ”36

Bibliografia

  • 1. Enciclopedia del Idioma, de Martin Alonso.
  • 2. Atos 17:28.
  • 3. Patriarcas e Projetas, págs. 32 e 33.
  • 4. Idem, págs. 44 e 45.
  • 5. Isaías 53:3.
  • 6. II Coríntios 5:19 e 18.
  • 7. Romanos 5:12, I Coríntios 15:45 e 22.
  • 8. Salmo 40:8; S. Mateus 5:17.
  • 9. S. João 6:38; S. Lucas 22:42 e 44; Filipenses 2:8.
  • 10. Hebreus 4:15, S. João 15:10.
  • 11. Obreiros Evangélicos, pág. 28.
  • 12. Parábolas de Jesus, pág. 283.
  • 13. S. Lucas 12:48.
  • 14. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 277.
  • 15. Medicai Ministry, pág. 73.
  • 16. Testimonies, vol. 5. pág. 73.
  • 17. O Desejado de Todas as Nações, ed. popular, pág. 313.
  • 18. S. Lucas 16:2; I Coríntios 4:2.
  • 19. Educação, pág. 269.
  • 20. Atos dos Apóstolos, pág. 600.
  • 21. Testimonies, vol. 8, pág. 118.
  • 22. Idem. vol. 5, pág. 87.
  • 23. Meditações Matinais. 1956, pág. 164
  • 24. Idem, pág. 174.
  • 25. S. João 1:29.
  • 26. Atos dos Apóstolos, pág. 81.
  • 27. Atos 20:24; 21:13.
  • 28. Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 174.
  • 29. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 31.
  • 30. Atos dos Apóstolos, pág. 505.
  • 31. O Grande Conjlito, pág. 607.
  • 32. Idem, pág. 601.
  • 33. Ellen G White. SDABC, vol. 7, pág 981
  • 34. Projetas e Reis. págs. 512 e 513.
  • 35. Idem. págs. 174 e 175.
  • 36. Serviço Cristão, pág. 267.