Ao vir a este mundo, Jesus tinha como objetivo primeiro o estabelecimento de Seu reino da graça. Posterionnente, estabelecería o reino da glória. Para a execução desse plano salvífico, poderia contar com o Seu poder, ou convocar as hostes celestiais. De maneira extraordinária e miraculosa, o Seu evangelho poderia ser pregado, e todo o programa da salvação ser executado muito rapidamente, com êxito total.

Mas não foi este o processo escolhido por Deus. Nosso Pai resolveu salvar o homem através do homem, com o homem. Poderia ter usado outro método, porém, foi este o que escolheu. Assim sendo, Jesus, ao dar início a Seu ministério, chamou alguns poucos homens para auxiliá-Lo. Eram homens simples, um ou outro dotado de melhores condições intelectuais. Necessitavam ser trabalhados, melhor preparados. Sabendo que tinha pouco tempo, Jesus gastou cerca de dois terços do Seu tempo de trabalho preparando-os para o ministério. Através de palavras e ações, foi-lhes mostrando a tarefa que deveriam realizar.

A primeira coisa que Jesus fez com os Seus discípulos foi buscar convencê-los de que Ele era o Filho de Deus, o “Pão que desceu do Céu”. Isso somente seria possível através da convivência diária deles com o Salvador. Por isso estavam juntos, dia e noite. E mais tarde puderam dizer que falavam daquilo que viram e ouviram.

O êxito da comissão

Passado o tempo de preparo e experiência, Jesus lhes ordenou: “Ide por todo o mundo, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado, e eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.” (Mat. 28:19 e 20).

Aqueles tímidos, limitados e medrosos discípulos, levantaram-se cheios de fé, convicção e disposição, de tal maneira que ninguém mais poderia segurá-los. Não havia hora nem lugar para falar a respeito do Salvador. Rejeitados, injuriados, perseguidos, saíam de uma prisão e entravam em outra; mas o evangelho seguiu seu curso, sendo divulgado no mundo conhecido de então.

Mas como isso foi possível? Primeiramente, eles ficaram em Jerusalém, reunidos, “perseverando unânimes’ em oração”, até que receberam o Espírito Santo. E, cheios do Espírito Santo, explodiram por todos os lados com as boas novas de salvação.

No início eram doze, depois 70, depois 120, e depois cada converso tomava-se um discípulo pregador. Naquele tempo, o batismo era uma ordenação para pregar. Por isso, não é de admirar que o evangelho foi pregado a todo o mundo conhecido daquela época.

Com o crescimento da Igreja, apareceram os problemas que acabaram prejudicando o avanço da evangelização. Convocando-se toda a comunidade dos cristãos, foram eleitos diáconos para ajudar a Igreja e os apóstolos puderam consagrar-se exclusivamente “à oração e ao ministério da Palavra” (Atos 6:1-7).

Assim a Igreja crescia “contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos 2:47)..

Será que é possível repetir a mesma experiência de êxito evangelístico, vivida pela Igreja Apostólica? Alguns de nós, examinando os relatórios que chegam ao nosso conhecimento, sem dúvida nos apressaríamos a dizer sim. Mas, nesse ponto, cabe outra indagação: Não estaríamos nós vivenciando um triunfalismo falso, baseado em números que talvez não correspondam à realidade9 E ainda que sejam reais, o que isso representa diante de Deus, levando-se em conta os milhares de indivíduos que nunca ouviram do evangelho de Cristo?

Reavaliando prioridades

Inquieta-me a necessidade que temos, como pastores, de priorizar nossa vocação ministerial, a fim de conduzirmos a Igreja a uma experiência cristã elevada, e de íntima comunhão com seu Senhor. Isto é indispensável para que cumpramos os objetivos para os quais Deus nos chamou, e os propósitos para os quais Sua Igreja foi estabelecida. Devemos estar lembrados de que nem sempre o êxito segundo os homens se enquadra na medida do verdadeiro êxito, segundo Deus.

Mas, o que especificamente deveriamos fazer? E aqui passo a falar como membro da Igreja, por mais de cinco décadas, sobre aquilo que sei, vejo e sinto.

Para mim, o pastor é um sacerdote. O sacerdote era o representante do povo diante de Deus. Seu porta-voz e mediador entre Ele e o povo. O sacerdote dirigia o culto e instruía o povo com relação à vontade de Deus. Tinha a função especial de dirigir o cerimonial do santuário, presidia o culto público, intercedendo em favor do povo, para que este obtivesse o perdão dos pecados, incumbindo-se também da manutenção do ritual de boas relações entre Deus e Seus filhos.

Atualmente, os pastores exercem funções semelhantes. Em certo sentido são sacerdotes. Falando dos pastores, Ellen White os classifica como “representantes de Cristo”, “mensageiros de Deus”, “designados para atuar no lugar de Cristo”, “subpastores de Cristo”, “mordomos dos mistérios de Deus”, “guardiães espirituais do povo colocado sob seu cuidado”. Entre outras expressões. Embora creiamos que Cristo é o único sumo sacerdote e que o caminho para o Céu somente pode ser encontrado através dEle, cremos também que o pastor mostra esse caminho ao pecador. Nesse sentido, ele é, sim, um sacerdote.

Ministrar ou administrar

Infelizmente, o sacerdote desviou-se do seu caminho. Lemos em Oséias 3:9 que, “como é o povo, assim é o sacerdote”. É uma tragédia que o sacerdote foi se tomando ainda pior do que o povo. É-nos dito, em Sofonias 2:4 que eles “profanaram o santuário, e violam a lei”. E Miquéias acrescenta que eles “ensinavam por interesse” (Miq. 3:11). Comentando esse versículo, Selden afirma que “os sacerdotes de Roma desejavam duas coisas: obter o poder dos reis e o dinheiro do povo”. Tal foi a delinqüência sacerdotal que o último profeta do Velho Testamento disse: “Atirarei excremento aos vossos rostos” (Mal. 2:1-3).

Graças a Deus, que Jesus veio restaurar o trabalho do sacerdote como pastor. A Pedro, que mais tarde seria um grande pastor, Cristo indagou com insistência: “Amas-me?” Para em seguida, com a mesma ênfase amorosa, apontar-lhe a suprema prioridade: “Pastoreia as minhas ovelhas” (João 21:15-17). O discípulo ouviu também a comissão: “Ide e ensinai”.

Dessa forma, estou seguro de que o trabalho do pastor, como o do sacerdote, é mais de ministrar do que administrar.

Não necessitamos de multiplicar sermões e reuniões sobre o que devemos fazer e falar de Deus, ou de Cristo, aos outros. O de que mais necessitamos é Cristo. O falecido Pastor Robert Pierson, ex-presidente da Associação Geral, disse certa vez que “a maior necessidade do mundo hoje é de Cristo”. A maior necessidade dos meus amigos, irmãos da Igreja Adventista do Sétimo Dia é Cristo. Necessitamos conhecê-Lo. É possível que nos esforcemos para conhecê-Lo e não o conseguimos.

Possuir para dar

Alguém disse que evangelismo é partilhar Cristo. Mas como a Igreja pode compartilhar sua fé com os outros, quando não O conhece experimentalmente? Ela necessita, primeiro, recebê-Lo de alguém que O conheça como Moisés O conhecia. Alguém que seja amigo dos amigos de Deus, que tenha falado com Ele, como o faziam Abraão, Elias, Davi, Pedro, João e muitos outros.

Estamos, como Igreja, necessitando do Pão do Céu, porque temos fome. Necessita-mos que a Água da Vida seja derramada em nossa alma ressequida. Sabemos que o sétimo dia é o verdadeiro sábado, conhecemos nossa obrigação quanto à devolução do dízimo, nosso dever quanto à modéstia cristã. Sabe-mos que carne, cigarros, bebidas alcoólicas e drogas não nos fazem bem. Conhecemos as regras de um viver saudável. Estamos bem informados a respeito de muitas boas coisas, altamente necessárias. Mas carecemos saber mais sobre Deus e Seu Filho Jesus Cristo.

Se tivéssemos um relacionamento vivo com Cristo, quer como Igreja, quer como in-divíduos, o mundo o percebería; e, certamente, viria abordar-nos a Seu respeito. E nós teríamos alguma coisa para dizer ou para dar.

Dever pastoral

A mensagem de Cristo, Sua vida inteira, foi uma revelação do caráter de Deus. É lógico que, pela leitura da Bíblia e de outras obras inspiradas, podemos alcançar uma visão mais clara de Deus e começar a conhecê-Lo melhor. No entanto, desejo dizer aos meus queridos pastores, que, como membros da Igreja, anelamos muitíssimo ouvi-los falando desse conhecimento íntimo e pessoal com Deus, provendo-nos em primeira mão o conhecimento do Deus a quem servem.

Existem muitas pessoas que deixam a Igreja. E não procuram associar-se a nenhuma outra, porque sabem que não encontram uma que preencha o profundo vazio da alma. Saem desiludidas, amarguradas, famintas e sem esperança. Não conhecem a Deus. Nunca Lhe foram apresentadas. Aqueles que tinham a responsabilidade de revelá-Lo simplesmente falharam.

Nenhum pastor deveria usar como desculpa a informação de que cada pessoa pode conhecer a Deus através da leitura da Bíblia e da oração. É certo que através desses meios podemos conhecê-Lo. Mas, é também positivo quando podemos encontrar alguém que O conhece e vive para Ele, relacionando-se com Ele de forma dinâmica e pessoal, transmitindo-nos essa viva experiência. O Senhor poderia usar apenas o estudo da Bíblia e a oração para Se familiarizar conosco, mas viu a necessidade de usar seres humanos. Este é o seu método.

Sim, os membros da Igreja estão esperando ansiosamente por alguém que lhes ajude a ter uma experiência pessoal com Deus. Isso somente é possível quando o pastor, como um sacerdote, espera na presença de Deus, aprende dEle por meio do Espírito Santo, qualificando-se diante dos membros, trazendo-lhes a mensagem do Céu.

Conta-se que um padre encontrou-se com um homem, na rua, e perguntou-lhe; “Meu amigo, por favor, pode dizer-me onde fica o correio?” Depois que o transeunte ensinou o caminho, o padre, agradecido, disse-lhe: “Olha, meu filho, quando você quiser conhecer a Deus, pode vir falar comigo.” Ao que o outro lhe respondeu: “Mas se o senhor não conhece o caminho do correio, como pode ensinar-me o caminho do Céu?”

Talvez seja isso o que esteja acontecendo entre nós. O pastor, ocupado com muitas boas coisas, não tem tempo para conhecer a Deus; por conseguinte, não tem Deus para partilhar com seu rebanho. Está tão ocupado em administrar que não tem tempo para ministrar.

“A idéia de que o ministro é que deve arcar com todos os encargos e fazer toda a obra é grande erro. Sobrecarregado e alquebrado, poderá descer à sepultura, quando, se os encargos tivessem sido divididos, como o Senhor pretendia, ele poderia ter vivido.” (Testimonies, vol. 6, pág. 435).

Pefil pastoral

Em suma, os membros de qualquer igreja esperam que seu pastor seja portador das seguintes características:

  • 1. Primeiro de tudo, um homem de Deus, vivendo com Deus, para trazê-Lo a nós.
  • 2. Pregador de sermões bíblicos bem pre-parados, que não tenham o propósito de chicotear a igreja, mas de alimentá-la com o Pão da Vida.
  • 3. Use os testemunhos do Espírito de Profecia como “uma luz menor para guiar à luz maior”, que é a Bíblia. Esses testemunhos servem para orientar, guiar e unir a Igreja. Não são instrumentos de tortura.
  • 4. Visitador dos membros, ricos e pobres, cultos e ignorantes, sem acepção de pessoas.
  • 5. Disposição para orar pelos necessitados, e com eles, em seus lares.
  • 6. Cuidado para não ferir ninguém com palavras duras e descorteses.
  • 7. Sabedoria para sorrir, e ter sempre uma palavra de gratidão.
  • 8. Ser estudioso, culto e atualizado.
  • 9. Mensagens cristocêntricas, e não conceitos pessoais.
  • 10. Ser um pastor, líder, cavalheiro, amigo e irmão.

Se me permitem, gostaria de chamar isso de Os Dez Mandamentos que os membros da igreja esperam ver e sentir em seus pastores.