Deus apela aos ministros que aceitam Sua verdade, e ostentam, em Seu nome, a mensagem mais solene jamais dada ao mundo, que ergam a bandeira das verdades bíblicas e exemplifiquem seus preceitos em sua vida diária. Tal conduta induziria a crer muitos que se têm entrincheirado atrás das barreiras da infidelidade. A influência do caráter verdadeiramente cristão é como os brilhantes raios do sol que penetram nos cantos mais remotos dos obscuros lugares nos quais conseguem entrar. A luz que emana do exemplo do ministro verdadeiramente cristão não deve ser vacilante nem incerta como o lampejo de um meteoro, mas deve possuir o calmo e contínuo resplendor das estrelas celestes.

Judas exemplifica os ministros que talvez amem a Jesus, mas se apegam aos seus questionáveis traços de caráter. Em Cristo ele via um caráter puro, inofensivo e imaculado, e seu coração foi levado a amar seu Mestre. Mas a luz do caráter de Cristo, que irradiou sobre ele, trouxe consigo a responsabilidade de sujeitar todo traço natural ou adquirido que não estava em harmonia com o caráter de Jesus. Nisso Judas não resistiu ao teste. O amor ao mundo estava profundamente enraizado em seu coração, e ele não abandonou esse amor nem rendeu a Cristo sua ambição.

Ele nunca chegou ao ponto de se entregar completamente a Cristo. Achava que podia manter seu próprio discernimento e opinião. Embora tivesse aceitado o cargo de ministro de Cristo, nunca se submeteu ao Seu molde divino. Apegou-se aos seus contestáveis traços de caráter, cedeu aos próprios hábitos pecaminosos e, em vez de se tornar puro e semelhante a Cristo, tornou-se egoísta e cobiçoso.

Consagração

O que necessitamos neste tempo perigoso é de um pastorado convertido. Necessitamos de homens que reconheçam sua pobreza de alma, e que busquem ardentemente o dom do Espírito Santo. Uma preparação interior é necessária para que Deus nos dê Sua bênção, mas essa obra do coração não foi realizada. Quando os pastores despertarão para as solenes responsabilidades colocadas sobre eles e rogarão fervorosamente pelo poder celestial? É o Espírito Santo que precisa dar agudeza e poder ao sermão do ministro, ou sua pregação será destituída da justiça de Cristo como foi a oferta de Caim.

Foram-me apresentados pastores que, antes de se converterem, tiveram uma trajetória e um caráter muito difíceis – eram os mais incorrigíveis, inflexíveis e teimosos – e, no entanto, cada um desses traços de caráter transformado era o que se necessitava na obra de Deus.

Deve haver uma transformação do caráter. O fermento precisa agir no coração humano até que cada ação esteja em conformidade com a vontade de Deus e [os pastores] sejam santificados; então esses ministros se tornam os mais valiosos. É justamente essa classe de indivíduos que Deus pode usar nos diferentes ramos de Sua obra.

Não são sempre os homens os que melhor se adaptam a uma bem-sucedida administração da igreja. Se há mulheres fiéis que têm maior consagração do que os homens, elas certamente podem, através de suas orações e serviços, fazer mais do que homens cuja vida e cujo coração não são consagrados.

Desprendimento

Nem todos os pregadores se entregam ao trabalho de Deus como lhes é exigido. Alguns sentem que o trabalho do pregador é difícil, porque são obrigados a ficar separados de suas famílias. Eles se esquecem de que antes era muito mais difícil do que agora. Não havia senão poucos amigos da causa. Eles se esquecem daqueles sobre quem Deus pôs no passado a responsabilidade da obra.

Havia então apenas alguns que recebiam a verdade como resultado de muito trabalho. Os escolhidos servos de Deus choravam e oravam para obter uma clara compreensão da verdade, sofriam privações e exerciam muita abnegação para levá-la aos outros. Passo a passo, prosseguiam conforme a providência de Deus os conduzisse. Não levavam em conta a própria conveniência nem recuavam diante das dificuldades. Por meio desses homens, Deus preparou o caminho e tornou a verdade clara à compreensão de toda mente sincera.

Tudo foi posto nas mãos dos pastores que abraçaram a verdade desde então, mas alguns deles não sentiram a responsabilidade do trabalho. Eles procuraram uma solução mais fácil, uma posição menos abnegada. Esta Terra não é o lugar de repouso dos cristãos, e muito menos dos escolhidos pastores de Deus. Eles se esquecem de que Cristo deixou Suas riquezas e Sua glória no Céu e veio à Terra para morrer, e que Ele nos ordenou amar uns aos outros, assim como Ele nos amou (Jo 15:12). Esquecem-se daqueles “dos quais o mundo não era digno”, que “andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados” (Hb 11:38, 37).

Os pastores que acham que estão sofrendo devem “visitar” a oficina do apóstolo Paulo. Embora de saúde frágil, ele trabalhava durante o dia no serviço da causa de Cristo; e, então, boa parte da noite, se esforçava arduamente, muitas vezes a noite toda, para que pudesse fazer provisão para as próprias necessidades e as de outros.

Moisés foi dirigido por Deus para obter experiência em zelar, considerar e demonstrar terna solicitude por seu rebanho para que pudesse, como fiel pastor, estar pronto quando Deus o chamasse a liderar Seu povo. Experiência semelhante é essencial para aqueles que se empenham na grande obra de pregação da verdade.

A fim de conduzir pessoas à fonte vivificante, o próprio pregador deve primeiramente beber da fonte. Ele precisa compreender o infinito sacrifício feito pelo Filho de Deus para salvar a humanidade caída, e seu coração deve estar repleto do espírito do infinito amor. Se Deus nos determina que realizemos um árduo trabalho, precisamos fazê-lo sem reclamar. Se o caminho é difícil e perigoso, é plano de Deus fazer com que sigamos em humildade, e clamemos a Ele por força.

Uma lição deve ser aprendida da experiência de alguns dos nossos pastores que, de forma semelhante, nada souberam de dificuldades e provações, contudo sempre se julgam mártires. Eles ainda têm que aprender a aceitar com gratidão o caminho da escolha de Deus, lembrando-se
do Autor de nossa salvação. A obra do pastor deve ser realizada com muito mais energia, zelo e dedicação do que manifesta nas transações comerciais, pois o trabalho é muito mais sagrado e os resultados mais significativos.

Compaixão

Irmão A, você necessita trabalhar com o máximo empenho para controlar o eu e desenvolver um caráter em harmonia com os princípios da Palavra de Deus. Você precisa se educar e treinar, a fim de se tornar um pastor bem-sucedido. Precisa cultivar um bom temperamento – traços de caráter bondosos, alegres, animadores, generosos, compassivos, corteses e piedosos. Deve vencer seu espírito mal-humorado, fanático, estreito, crítico e dominante. Se está ligado à obra de Deus, precisa batalhar consigo mesmo vigorosamente e formar seu caráter segundo o Modelo divino.

Que maravilhosa reverência Jesus expressou pela vida humana em Sua missão! Ele não Se apresentou perante as pessoas como um rei exigindo atenção, reverência e serviço, mas como alguém que desejava servir, para erguer a humanidade. Ele disse que não tinha vindo para ser servido, mas para servir.

Tenho certeza de que a grande lição de perdão deve ser aprendida mais perfeitamente por todos nós, e devemos praticar as virtudes cristãs. Onde quer que Cristo visse um ser humano, Ele via alguém que necessitava de compaixão. Muitos de nós estamos dispostos a servir a quem honramos, mas justamente aqueles a quem Cristo tornaria uma bênção para nós se não fôssemos tão insensíveis, desatenciosos e egoístas, passamos por alto como sendo indignos de nossa atenção. Não os ajudamos, embora seja nosso dever fazê-lo, tolerando sua rudeza, enquanto procuramos cultivar neles os traços de caráter opostos.

Atitude positiva

Zombaria, piadas e conversas profanas pertencem ao mundo. Os cristãos que possuem a paz de Deus no coração serão alegres e felizes, sem condescender com superficialidade ou frivolidade. Enquanto vigiam em oração, hão de possuir uma serenidade e uma paz que os elevarão acima de todas as futilidades.

Não é preciso buscar maior evidência de que a pessoa se encontra distante de Jesus e negligenciando a oração particular, a devoção pessoal, do que o fato de que ela expressa dúvidas e descrença porque as circunstâncias não são favoráveis. Tais pessoas não têm a religião pura, verdadeira e imaculada de Cristo. Elas possuem um artigo falso que o processo refinador consumirá totalmente como escória.

Logo que Deus prova e testa sua fé, elas vacilam, enfraquecem-se e oscilam primeiro para um lado e depois para o outro. Não possuem o artigo genuíno que Paulo tinha, de poder gloriar-se na tribulação porque “a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração” (Rm 5:3-5).

A religião dessas pessoas é circunstancial. Se todos ao seu redor estão fortes na fé e encorajados com relação ao triunfo final da mensagem do terceiro anjo e, se nenhuma influência especial se fizer presente contra elas, então aparentam possuir alguma fé. Mas tão logo a adversidade pareça surgir contra a causa, o trabalho se arraste pesadamente e o auxílio de todos se torna necessário, esses pobres seres humanos, embora sejam professos ministros do evangelho, esperam que tudo resulte em nada. Atrapalham em vez de ajudar.

Satanás trabalhará por todo e qualquer meio que puder empregar para desanimar os servos ativos do Senhor. Se o pastor puder ser desviado de sua responsabilidade, o caminho ficará livre para que os lobos dispersem e devorem as ovelhas.

Confiabilidade

Os ministros de Jesus Cristo devem ensinar, tanto na igreja quanto a indivíduos, o fato de que a profissão de fé, mesmo dos adventistas do sétimo dia, a menos que proceda de piedade sincera, é impotente para fazer o bem. Uma luz espiritual deve resplandecer da igreja e especialmente dos pastores, em raios claros e invariáveis. Ela não deve resplandecer apenas em momentos especiais e então diminuir e oscilar como se estivesse se extinguindo.

O irmão C pode falar de maneira a atrair o interesse da congregação e, se isso é tudo que é necessário para tornar um pregador bem-sucedido, então os irmãos e irmãs deveriam estar certos em sua avaliação a respeito dele. Mas ele não é um obreiro completo nem confiável.

Humildade

O seu perigo será sempre de desprezar o conselho e atribuir a si um valor mais elevado do que Deus lhe atribui. Há muitos que estão sempre prontos a lisonjear e louvar o pastor que sabe falar. Um pastor se prejudica por estar sempre em risco de ser mimado e ovacionado, enquanto ao mesmo tempo pode ser deficiente nas coisas essenciais que Deus requer daquele que professa ser um porta-voz dEle.

Você mal entrou na escola de Cristo. A adaptação para sua obra é uma tarefa vital, uma luta diária, penosa e custosa com hábitos estabelecidos, inclinações e tendências hereditárias. Guardar e controlar o próprio eu, para manter Jesus em destaque e o eu fora de vista, requer esforço constante, diligente e vigilante.

Quanto tempo foi necessário para que Moisés aprendesse a lição da mansidão e se tornasse um general para guiar o exército de Israel para fora do Egito? Ele passou por um longo período de disciplina. Durante quarenta anos cuidou de ovelhas na terra de Midiã, aprendendo a ser um bom pastor para o rebanho. Enquanto era pastor, foi chamado para cuidar do fraco, para guiar o desobediente, para buscar o perdido. Esse foi um treinamento necessário para ele se tornar o líder de Israel, pois, no cuidado do rebanho do Senhor, ele seria chamado a alimentar o fraco, instruir o desobediente e trazer o perdido de volta ao aprisco.

Responsabilidade

Os ministros da Palavra, e outros que ocupam cargos de responsabilidade, assim como o corpo da igreja, necessitam ter este espírito de humildade e contrição. O apóstolo Pedro escreveu àqueles que trabalham com o evangelho: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados, Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho” (1Pe 5:2, 3).

Nenhuma parte das responsabilidades do ministro deve ser negligenciada. Ele deve pregar a Palavra, não as opiniões dos homens. Deve trabalhar com os indivíduos, visitar as famílias, não para falar apenas das coisas comuns da vida, mas das coisas de interesse eterno, orando com eles, e ensinando com toda a simplicidade a verdade de Deus.

O trabalho do ministro representado pelas sete estrelas é sublime e sagrado. Quando ele nutre a ideia de que sua tarefa se resume em pregar sermões, passa por alto e certamente negligencia o trabalho que recai sobre o pastor do rebanho. É sua incumbência cuidar do rebanho e supervisioná-lo, bem como organizar os assuntos da igreja de modo que todos tenham o que fazer. – Transcrito do livro Ministério Pastoral,