A descrição bíblica da destruição de Coré, Datã, Abirão e seus familiares preocuparam por muitos anos o autor, até que ele verificou que “os filhos de Coré não morreram”.

Uma das recordações mais vividas da Bíblia, do meu tempo de infância, é a história de Coré, Datã e Abirão. Minha família possuía um volume de Scripture Prints (Gravuras Bíblicas) do famoso pintor francês Doré, o qual me ajudou mais tarde a desenvolver a imaginação jovem. Muitas vezes meditei sobre a versão de Doré relativa à sorte dos três cobiçosos levitas. Ali, levando nas vestes as insígnias hieráticas, afundavam eles entre as pontiagudas rochas fendidas. Seus pertences eram lançados sobre eles, enquanto no interior da terra os aguardavam chamas fumegantes.

Mais inquietante ainda do que a pintura de Doré, porém, era a idéia de terem seus filhos sido lançados juntamente com eles. Eis a descrição:

“E disse (Moisés) à congregação: Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens perversos, e não toqueis nada do que é seu, para que não sejais arrebatados em todos os seus pecados. Levantaram-se, pois, do redor da habitação de Coré, Datã e Abirão; e Datã e Abirão saíram e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com suas mulheres, seus filhos e suas crianças. … e (a terra) abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens” (Núm. 16:26, 27 e 32).

Criança ainda, fiquei pensando no que deve ter passado pela mente daquelas crianças, quando perceberam que a terra se abria. Pensei de novo no apelo de Moisés: “Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens perversos, … para que não sejais arrebatados em todos os seus pecados”. Acho que se eu fizesse parte de alguma daquelas famílias, teria obedecido a Moisés, e me afastado.

Nem todos os filhos dos rebeldes morreram

Anos mais tarde, encontrei referências aos filhos de Coré, indicando que séculos depois do Êxodo, Coré ainda tinha descendentes vivos. O profeta Samuel e o cantor Hemã pertenciam a esse grupo (I Crôn. 6:22-28 e 33-38). Onze dos salmos (e.g., Salmo 84 e 85) são apresentados como salmos dos filhos de Coré.

O exame de I Crônicas 6:22-28 e 33-38, mostra que os filhos de Coré, nos salmos e em outros lugares, eram realmente descendentes de algum tetraneto de Levi, que desceu à sepultura de maneira tão desprovida de cerimônia. Mas como pôde acontecer isso?

Para minha tranqüilidade e satisfação pessoal, encontrei a resposta em Números 26:11 — um verso que declara simplesmente: “Mas os filhos de Coré não morreram”. A leitura cuidadosa de Números 16, mostra que o episódio original omite a família de Coré, dizendo que “Datã e Abirão saíram, e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com suas mulheres, e seus filhos e suas crianças”.

Assim, nem todos os filhos dos rebeldes morreram! Nem todos desatenderam o apelo final de Moisés. Os filhos de Coré deram atenção. Em lugar de perecerem com os rebeldes, viveram para se tomar descendentes de muitas gerações que cantavam louvores a Deus nas cortes do templo.

“Os filhos de Coré não morreram.”

Estou feliz porque eles não morreram; você também está?

Coré, Datã e Abirão se consideravam líderes do povo. Defenderam os direitos dos leigos. “Toda a congregação é santa”, disseram, e não apenas os dirigentes (Núm. 16:3). Altivamente, enfrentaram a liderança, à qual consideraram arbitrária e faltosa. Acusaram Moisés de conduzir o povo para fora, e não para dentro da terra que manava leite e mel (verso 14). Em sua obra Interpreters Bible, Albert George Butler pede que não sejamos tão severos em julgar esses três homens; pois “nos alegramos hoje em suas duas principais contendas”.1

Na verdade, muitas pessoas se gloriam. Querem um ministro corajoso, que não vacile em chamar o pecado pelo seu verdadeiro nome, mesmo que o pecado seja praticado pela cúpula dos administradores. O profeta Isaías falou sobre erguer a voz como a trombeta para expor o pecado, e levou pessoalmente uma mensagem sem rodeios aos reis Acaz e Ezequias. Admiramos os Reformadores por exigirem mudanças nas crenças e práticas. O próprio movimento do Advento nasceu em meio a um clamor que taxava de “Babilônia” as outras igrejas; e nós respeitamos as reprovações escritas de nossa mensageira moderna.

Não repreendeu Paulo a Pedro? Não chamou Jesus os Seus contemporâneos de “hipócritas”, “serpentes” e “raça de víboras” (Mat. 23:29)?

Há, contudo, nas Escrituras, o ponto de equilíbrio. O Espírito apela expressamente à unidade, ordenando-nos a nos curvarmos para alcançá-la. A inspiração requer que diminuamos o nosso senso de infalibilidade pessoal e o substituamos pelo respeito franco às opiniões alheias, entre as quais as da liderança. Junto com a apatia e condescendência culposa, a Bíblia aponta também a desunião e o desrespeito para com a autoridade, como pecado.

Promessas de novo concerto

 na Bíblia muitas versões do novo concerto, e várias promessas feitas nessas versões. Por exemplo, há quatro promessas no novo concerto mencionado em Jeremias 31:33 e 34, e pelo menos sete promessas na versão apresentada por Ezequiel 36:22-32.

Tanto em Jeremias 31, como em Ezequiel 36, Deus faz a promessa: “Eu serei seu Deus, e eles serão Meu povo” — ou, como diz o Senhor por intermédio de Ezequiel: “Vós sereis Meu povo, e Eu serei o vosso Deus”. Em ambas as versões, notamos também que Deus prometeu gravar a Sua lei em nosso coração. Jeremias diz, representando a Deus: “Porei a Minha lei dentro de vós, e a escreverei em vossos corações”. Ezequiel diz: “Porei o Meu Espírito dentro em vós, e farei com que andeis nos Meus estatutos”. E, em Ezequiel, Deus faz a promessa adicional: “Vindicarei a santidade do Meu grande nome” entre as nações.

Quando pensarmos na responsabilidade que tem o ministro, de reformar e reprovar a igreja, devemos ter em mente estas promessas do concerto. Olhemos agora para elas com mais atenção.

1. Vós sereis Meu povo. A promessa de que seremos “povo” de Deus não se baseia em nossa relação pessoal com Deus. Notamos que implicou nas palavras da promessa de novo concerto: “Todos Me conhecerão”. A promessa a respeito de um povo, sugere um conceito corporativo. Deus terá um povo homogêneo, um grupo muito especial.

Era propósito de Deus, quando tirou Israel do Egito, a formação de um povo especial. “O Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra…. porque o Senhor vos amava” (Deut. 7:6-10).

Para distinguir um povo, foram necessárias as pragas e a coluna de fogo; o mar encapelado; o aniquilamento das tropas de elite e o trovão; a labareda e os sons de trombeta no Monte Sinai. Para ter um povo peculiar foi que o sangue da Páscoa foi derramado, o qual sustenta e envolve tudo o que Deus fez. Deus tudo fez a fim de dar origem a uma nação, um reino sacerdotal, Seu povo especial.

Este foi também o propósito do sangue, do sofrimento e vergonha da cruz — trazer à existência um povo especial, unido em amor, bem como em Seu nome. No Novo Testamento, o Cordeiro Pascal falou do Bom Pastor que “dá a vida pelo Seu rebanho”, e acrescentou: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; devo trazê-las também, e elas ouvirão a Minha voz. Assim haverá um só rebanho, um só pastor” (João 10:16, RSV).

No caminho para a cruz, a fim de dar a Sua vida pelas ovelhas, Jesus orou: “Eu neles e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste, e os amaste como também amaste a Mim” (João 17:21-23). Ao usar palavras como estas, o Senhor, nosso Sacrifício, ampliou-nos a compreensão sobre a expiação, sugerindo a expiação entre pessoas, bem com entre os indivíduos e Deus.

Nestes últimos dias, Deus tem operado de novo como um Deus “maravilhoso”.2 E continuará a operar maravilhas em favor de Seu povo especial — o remanescente que guarda os Seus mandamentos e tem a fé de Jesus, os “144.000” que recebem o selo de Deus e estão em pé no Monte de Sião, entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. Entoam o cântico de Moisés, regozijando-se na libertação do Egito moderno. Cantam o cântico do Cordeiro Pascal, que operou a libertação e que “vê o trabalho de Sua alma e fica satisfeito”. Este grupo especial não tem na boca nenhum “engano” (Apoc. 14:5, KJV).

“Deus está guiando um povo, não uns poucos indivíduos separados aqui e ali, uns crendo nisto, outros naquilo…. O terceiro anjo está guiando e purificando um povo, e este deve andar com ele de maneira unida. Alguns vão à frente dos anjos que estão guiando este povo; eles, porém, devem recuar cada passo, e pacientemente não ir além de onde os anjos os levam”.3

“Como um poderoso exército, move-se a igreja de Deus.

Irmãos, estamos pisando onde os santos pisaram!”

Assim cantamos, e somos instados a cantar. Mas o que acontecerá se, sem necessidade, interrompermos a unidade dos fiéis, por meio da crítica impiedosa e das inovações que glorificam o eu?

Como um poderoso exército desloca este punhado de homens?

Segurando-se firmemente e sendo complacente cada dia até às dez e meia!

Mesmo os antigos santos esperavam receber a sua recompensa, tão persistente é Deus em salvar um povo especial, unido, feliz e leal. Hebreus 11:39 e 40 (VKJ) nos lembra: “Todos estes, tendo obtido um bom testemunho pela fé, não alcançaram as promessas … para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados”.

Nossa zelosa urgência em reformar a igreja, necessita ser equilibrada com uma forte apreciação da promessa do concerto de Deus quanto a uma igreja unida.

“Os filhos de Coré não morreram.” Em lugar de apoiarem um cisma popular, permaneceram leais à corporação do escolhido povo de Deus.

2. “Porei dentro de vós o Meu Espírito. ” “O cumprimento da lei é o amor” (Rom. 13:10). Quando Deus prometeu que Seu Espírito gravaria Sua lei em nossos corações, referia-Se à lei do amor. E o amor, como sabemos, “não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (I Cor. 13:5 e 6). 

Uma das muitas formas em que a promessa do novo concerto ocorre na Bíblia, está em Gálatas 5:22: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade”, etc. O amor é uma forma de sentirmos acerca de outra pessoa. Quando o Espírito de Deus escreve Sua lei no coração de Seus seguidores, estes sentem uma afeição e apreciação que torna possível um povo singularmente unido.

Cristo chama Seu povo para ser reformadores; devemos, porém, fazer um eletrocardiograma espiritual periódico, para saber se estamos permitindo que o Espírito escreva Sua lei de afeição em nossos corações. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle” (Rom. 8:9). “Os filhos de Coré não morreram.”

3. Por meio de vós vindicarei Minha santidade. Quando Jesus tomou o cálice que representava o sangue do Cordeiro Pascal e disse: “Este é o novo concerto no Meu sangue”, Ele tinha em mente algo mais do que o perdão dos pecados. O novo concerto promete cidadania aos outrora opressos e deserdados. Promete aplicar os princípios do amor à mais profunda sede das nossas emoções e atitudes. Promete-nos também o exaltado privilégio de fazer parte de um grupo de pessoas mediante o qual Deus pode vindicar Sua honra diante das nações.

Em harmonia com esta terceira promessa, quando Jesus ordenou, por ocasião da Ceia, que os Seus discípulos amassem uns aos outros, Ele acrescentou as palavras: “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos” (João 13:35). A caminho para a cruz, suplicou Ele ao Pai: “Que eles sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste, e os amaste como também amaste a Mim” (João 17:23).

Jesus sabia que a amorosa lealdade e obediência demonstrada pelos Seus outrora insubordinados e desunidos discípulos, daria evidência ao mundo ao qual Deus os enviara. Mostraria que Ele estivera desejoso de que eles amassem uns aos outros. Sua confiança mútua e perfeita aceitação deveriam comunicar alguma coisa vital a respeito de Deus e acerca do significado da missão de Cristo, que ninguém poderia contradizer.

Cantamos acertadamente, de acordo com nossa experiência pessoal:

“Remido e feliz em Jesus,

Seu filho pra sempre serei.”

Quando, porém, compreendermos o nosso papel na comunidade escolhida de Deus, e que nosso amor ajuda a vindicar o caráter de Deus em um mundo hostil e desconfiado, podemos cantar também:

“Remido para trazer honra a Jesus,

Uma parte de Seu povo sou.”

Quando Agostinho renunciou aos laços de afeição da família e declarou que o homem é feito para Deus, pintou um quadro de um lado só. Marco Aurélio, o imperador filósofo, pintou outro quadro de um lado só, quando disse que os homens, como os dentes superiores e os inferiores, foram feitos uns para os outros. Deus nos fez para Si mesmo e uns para os outros. Mostramos ao mundo o nosso amor a Ele e Seu amor a nós, amando-nos uns aos outros.

“Os filhos de Coré não morreram.” Eles não quiseram nada com o descontentamento de seu pai. Recusaram-se a tomar qualquer parte na desairosa mensagem que os rebeldes estavam comunicando a respeito de Deus e da escolha da liderança da igreja.

Outros conselhos

4. Esforçai-vos pela paz com todos os homens. Mesmo o amor aos crentes, nem sempre surge naturalmente para a maioria de nós. É por isso que necessitamos que o Espírito escreva a lei de Deus em nosso coração. Paulo sabia que também nós necessitamos cooperar com o Espírito. Assim, escreveu ele: “Esforçai-vos pela paz com todos os homens” (Heb. 12:14). “Procurai estar em paz” (TEV). “Seja esta vossa ambição” (Phillips). “Fazei todo esforço” (NIV).

Se precisamos esforçar-nos para estar em paz com todos, quanto mais não deveríamos fazer uma tentativa com os domésticos da fé? “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (I Cor. 1:10).

“Pela graça que me foi dada”, aconselhou Paulo, “digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo, além do que convém” (Rom. 12:3). “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (v. 10). “Devotai-vos uns aos outros” (NIV). “Amai-vos ardentemente uns aos outros como irmãos em Cristo, e sede ávidos por mostrar respeito uns para com os outros” (TEV). “Permiti que a outra pessoa tenha o crédito” (Phillips).

Escreveu a mensageira para o tempo do fim, ao povo remanescente: “Cultivai o amor, erradicai a suspeita, a inveja, o ciúme e o pensar e falar mal. Uni-vos; trabalhai como um só homem. Estai em paz entre vós mesmos”.4

“Uma vez após outra, o anjo me disse: ‘Uni-vos, uni-vos, sede de um mesmo pensamento e do mesmo parecer’.”5

“Oh! quantas vezes, quando me tem parecido estar na presença de Deus e dos santos anjos, tenho ouvido a voz do anjo dizendo: ‘Uni-vos, uni-vos, uni-vos!’.”6

“Se possível, quanto estiver em vós, vivei em paz com todos.” “Esforçai-vos pela paz com todos os homens.”

5. “Obedecei por causa da consciência. ” Os cristãos mais zelosos costumam citar Atos 5:29: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens”. Às vezes nos é necessário desobedecer à autoridade legal. É importante, porém, lembrar que parte de nossa obediência a Deus é obediência à administração. Se a consciência de uma pessoa a leva a pensar que deveria desobedecer à autoridade humana, por causa de Atos 5:29, deve ela lembrar-se de que a Bíblia também possui Romanos 13:5: “É necessário que lhe estejais sujeitos… por dever de consciência”.

“Todo homem se submeta às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus. E os que se opõem atrairão sobre si a condenação…. Por isso é necessário submeter-se não somente por temor do castigo, mas também por dever de consciência” (Rom. 13:1-5, BJ).

Em I Timóteo 2:1 e 2, Paulo dá a mais elevada prioridade à lealdade para com a liderança humana. “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade.”

Os membros de um grupo que amam uns aos outros, não desprezarão seus líderes. Na provação, eles orarão em favor do seu sucesso; no fracasso, por seu perdão; na crise, por sua orientação; no erro, por sua iluminação. Mas depreciá-los em público? Jamais! Nem por um momento devem eles agredi-los com invectivas. Com a lei do amor escrita pelo Espírito na sede de suas emoções e atitudes, como poderiam fazê-lo?

Uma coisa é discordar; outra, desrespeitar. Jesus não concordava com algumas práticas da administração da igreja em Seus dias. Quando, porém, discordava, mostrava respeito. Escrevia-lhes os pecados na areia. E não recusava voluntariamente a ninguém — pois “veio buscar e salvar o perdido” (Luc. 19:10).

Mas não é verdade que em outra ocasião Jesus mencionou publicamente os pecados dos líderes e os chamou de “hipócritas”, “serpentes” e “raças de víboras”? (ver Mateus 23:29 e 33). Isto nos leva ainda a outro ponto vital.

6. “Poderieis dar a vida para salvá-lo?” Certa vez Ellen White perguntou a um professo membro do povo de Deus: “Achais, quando um irmão erra, que poderieis dar a vida para salvá-lo? Se achais que sim, podeis aproximar-vos dele e comover-lhe o coração; sois precisamente a pessoa indicada para visitar aquele irmão.”7

Ocasiões há que nos obrigam a discordar e mesmo nos afastar. Romanos 16:17, especialmente, manda-nos que anotemos “bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles”. Paulo continua a desmascarar-lhes a hipocrisia como Jesus desmascarou a dos fariseus. A respeito dos promotores de dissensões, diz ele: “… não servem a Cristo nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos incautos” (verso 18).

Certa ocasião, Paulo repreendeu publicamente a Pedro por um descuido momentâneo de um regulamento bastante divulgado da igreja. Não encontramos, porém, da parte de Paulo, nenhum comentário que procure minar-lhe a influência. No mesmo contexto onde lemos sobre a repreensão de Paulo, o apóstolo nos diz que Deus separou tanto a Pedro como a ele próprio para uma função mais elevada no evangelismo missionário (Gál. 2:7). Por certo, Paulo sabia que Pedro aceitaria varonilmente a repreensão, assim como ele aceitara anos antes as censuras de Cristo.

Se alguém tentou diminuir a autoridade de outrem naqueles dias, foram alguns dos líderes cristãos de Jerusalém. À medida que os anos passavam, esses líderes se tornavam imponderadamente mais invejosos do grande êxito de Paulo. Em todo o seu ministério, Paulo buscou a Deus, pedindo-Lhe orientação direta. Ao mesmo tempo, contudo, “tinha sido muito cuidadoso em trabalhar de acordo com as decisões do concilio geral de Jerusalém; e, como resultado, as igrejas ‘eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número’”.8

Em sua última viagem de que se tem notícia, para Jerusalém, “não obstante a falta de simpatia mostrada por alguns, encontrava conforto na tranqüila consciência de que havia cumprido seu dever ao encorajar em seus conversos um espírito de lealdade, generosidade e amor fraternal, como se revelou nessa ocasião nas contribuições liberais que lhe foi possível colocar diante dos anciãos judeus”.9

Sabemos que Paulo demonstrou sua lealdade para com a liderança central de seus dias, ao colaborar com sua sugestão de voto no templo e passar assim os vários anos seguintes na prisão. Contudo, não há nenhum registro de que ele condescendesse uma vez sequer quanto aos irmãos da liderança tirarem proveito dele.

E quanto a Jesus? “Jesus não suprimia da verdade uma palavra que fosse, mas sempre a proferia com amor. Em Seu convívio com o povo exercia o maior tato, dispensando-lhe atenta e bondosa consideração. Não era nunca rude; jamais pronunciava desnecessariamente uma palavra severa; nunca motivava dores desnecessária a uma alma sensível…. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a injustiça; mas o pranto transparecia em Sua voz quando proferia Suas fulminantes repreensões.”10

Cristo apontava os pecados dos líderes religiosos do Seu tempo com a voz de amor de um coração quebrantado. Dirigia-Se a eles como um homem que dentro de três dias morreria numa cruz em seu favor. “Achais, quando um irmão erra, que sois capaz de dar a vida para salvá-lo? Em caso positivo, podeis aproximar-vos dele e tocar-lhe o coração; sois exatamente a pessoa que deve visitar esse irmão.”

7. “Afastai-vos, peço-vos, das tendas desses homens ímpios. ” Dissemos, no início, que Coré, Datã e Abirão se consideravam como nobres maiorais do povo.

Moisés, porém, os chamou de “homens ímpios”; e eles, de fato, o eram; pois nenhuma daquelas pessoas de maneira alguma era “santa”. Antes, eram instadas a ser santas (Êxo. 22:31). Ao citarem o Egito como uma terra de leite e mel, habilmente distraíam a atenção daqueles fabricantes de tijolos da nação. Dizerem que Moisés efetuava sozinho o Êxodo era pura blasfêmia.

Moisés lembrou mais tarde àqueles ingratos, que foi Deus quem os tirou do Egito, com grande mão e poderosos sinais. A resposta de Moisés foi supernaturalista e triunfalista; mas, não obstante, era a verdade (ver Deut. 20:3 e 16; 21:5).

Coré, Datã e Abirão negaram a autoridade de Deus, exercida através da liderança humana por Ele designada, e declararam que qualquer leigo poderia guiar tão bem quanto Moisés. Ao assim fazerem, indicavam ao povo uma administração de natureza humana, do tipo que sempre falhou.

O novo concerto de Deus prefigurava um povo que Ele havia guiado e transformado; um povo mediante o qual havia Ele trazido honra ao Seu nome; um povo cujos membros deviam pôr de lado o seu orgulho pessoal e ter em alta estima uns aos outros.

Coré, Datã e Abirão, é triste dizê-lo, ainda agitam seus incensários na congregação do Senhor. E as palavras de Moisés ainda soam: “Afastai-vos, peço-vos, das tendas destes homens ímpios, e não toqueis nada do que é seu, para que não sejais consumidos em seus pecados.”

É alentador ler que em alguma ocasião o apelo de Moisés surtiu algum efeito. “Os filhos de Coré não morreram.”

C. Mervyn Maxwell, professor de História da Igreja no Seminário Teológico da Universidade Andrews

Referências:

1. Albert George Butler, The Interpreters Bible, vol. 2, págs. 221 e 222.

2. Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 6, pág. 365.

3. Testimonies, vol. 1, pág. 207.

4. Sons and Daughters of God, pág. 295.

5. Evangelismo, pág. 102.

6. Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 374.

7. Testimonies, vol. 1, pág. 166.

8. Atos dos Apóstolos, pág. 402.

9. Ibidem.

10. Caminho Para Cristo, pág. 12.