Muito se tem dito sobre a solidão. Poemas, cânticos, crônicas e discursos fazem referência a ela, sempre enfatizando o seu lado sombrio. De fato, não é bom, muito menos fácil, viver em solidão. Depois de ter criado os animais e lhes proporcionado a correspondente companhia, o Senhor disse, referindo-se a Adão: “Não é bom que o homem esteja só.” (Gên. 2:18). E lhe deu Eva.
O pecado, entretanto, trouxe muitos dissabores. Entre esses encontra-se a solidão, cuja chegada, não raro surpreendente, é lamentada por muitas pessoas. Às vezes, ela é passageira, como no caso da jovem esposa cujo esposo, pastor, precisa ausentar-se do lar durante algum tempo, em visita ao extenso distrito ou realizando campanhas evangelísticas. Sem falar nos imprevistos do dia-a-dia. Ou os pais que têm filhos residindo fora do lar, por razões de estudo ou mesmo casamento.
Noutras ocasiões, ela permanece indefinida e dolorosamente na vida daquelas pessoas que, por alguma razão ainda incompreensível, não se casaram; ou que perderam o cônjuge, inesperada e prematuramente, e até depois de longos anos de feliz vida em comum.
Há ainda o caso de indivíduos que se sentem sozinhos, mesmo estando rodeados de pessoas. São aqueles aos quais ninguém nota, carentes de atenção. Pessoas que sofrem caladas, sem que ninguém se importe com suas necessidades. Ninguém delas se aproxima. Se a elas fazem alguma referência, é sempre em tom pejorativo, de censura ou desdém. A menos que consigam usufruir proveitosamente a companhia de si mesmos, tais indivíduos sofrem em demasia.
Pessoas existem que convivem relativamente bem com a solidão. Para outras, no entanto, essa é uma situação ameaçadora, quase insuportável. É aqui onde muitos acabam cedendo aos impulsos humanos e fazem uso de recursos censuráveis, alimentando relacionamentos de qualidade inferior, por exemplo, na tentativa de preencher o vazio. Ou dão asas ao próprio desespero. Alguns experimentam profundas alterações psicossomáticas, ansiedade, depressão e angústia. A verdade, porém, é que tais reações em nada resolvem o problema. Isso Jesus ensinava quando questionou: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” (Luc. 12:25). A resposta, óbvia, é negativa.
Entretanto, nada existe na vida humana, mesmo em suas experiências mais difíceis e dolorosas, que não signifique uma oportunidade para reflexão e aquisição de lições preciosas. Assim como a escuridão da noite é embelezada pelo brilho das estrelas; e os pontiagudos espinhos de um roseiral têm sua capacidade de ferir suplantada pelo perfume e colorido das rosas, a solidão também deve ter seu lado positivo. No mínimo, amadurecemos em meio a ela, fortalecemo-nos, crescemos como em qualquer revés.
Há muitas armas das quais podemos lançar mão na luta para vencer a solidão. Mas a coisa mais importante que precisa ser feita é, indubitavelmente, voltar os pensamentos a Deus. Nesse caso, ela passa a ser nada me-nos que um trampolim para vitórias pessoais incomparáveis.
À parte disso, medite nas seguintes sugestões:
- 1. Permaneça em comunhão íntima com Cristo. O apóstolo João, em seu exílio, se deleitava em meditar sobre a obra da criação e adorar o divino Arquiteto. Entre as rochas e recifes de Patmos, ele manteve comunhão com seu criador. Recapitulou sua vida passada e, ao pensar nas bênçãos que havia recebido, seu coração encheu-se de paz.
- 2. Acredite piamente que Deus enviou Seu Filho unigênito à Terra, por amor a você; como se apenas você existisse no mundo. Quando todas as esperanças terrestres forem desfeitas como a névoa, ainda restará Jesus, a ponte sobre nosso isolamento, pela qual chegamos a Deus. Aí, a solidão é desfeita.
- 3. Se a lembrança do motivo pelo qual você está só causa-lhe mais intenso sofrimento, procure motivos para alegrar-se, por mais estranho que isso pareça. “Alegrai-vos sempre no Senhor. Outra vez digo: alegrai-vos”, foi o conselho de Paulo aos filipenses.
- 4. Pense no que você é capaz de fazer por si mesma. Deus lhe abençoou com talentos e habilidades. Deu-lhe inteligência, vontade. Submeta tudo isso a Deus. Permita-Lhe agir através das aptidões com que lhe presenteou. Ocupe sua mente e suas mãos com pensamentos e coisas úteis, em benefício do semelhante. Você também colherá preciosos frutos.
- 5. A solidão é um monstro com um apetite voraz. Cada vez que você concebe pensamentos negativos e pessimistas, somente estará alimentando-o. É assim que ele irá crescendo, pouco a pouco, até ficar absolutamente incontrolável e destruir sua presa. Quando imaginamos o pior desfecho para uma situação ruim por si mesma, estamos lhe servindo o prato predileto.
- 6. Controle seus pensamentos, não se deixe controlar por eles. Procure ver o mundo além e sentir-se completa numa ligação direta com o centro de todas as coisas – Jesus.
- 7. Jamais diga uma palavra que implique acusação contra Deus, culpando-O pela situação. Não pense que Ele a esteja castigando por alguma transgressão. Isso é justamente o que Satanás deseja. Não lhe proporcione esta satisfação. Deus é sempre amor.
- 8. Lembre-se de que outros servos de Deus também já se sentiram solitários. Veja Elias, deprimido, sob a árvore de zimbro, pedindo a morte. João Batista lançado numa prisão. Deus esteve com eles, e através deles cumpriu Seus planos para o mundo que os cercava e para sua própria vida.
- 9. Imagine o dia em que a dor terá fim, no qual “Deus enxugará dos olhos toda lágrima”. Pense no dia em que todas as provas serão como nada, diante do sorriso de Jesus. Está perto o dia em que Ele nos receberá nas mansões que nos foi preparar. Compensa ser paciente, por Sua graça e em Seu poder, por um pouco mais de tempo.
- 10. Tenha em mente esta declaração de Ellen White: “Em meio de todas as nossas provações, temos um infalível ajudador. Não nos deixa lutar sozinhos com a tentação, combater o mal, e ser afinal esmagados ao peso dos fardos e das dores. Conquanto Se ache agora oculto aos nossos olhos mortais, o ouvido da fé pode-Lhe ouvir a voz dizendo ‘Não temas, Eu estou contigo. Eu sou o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Suportei as vossas dores, experimentei as vossas lutas, enfrentei as vossas tentações. Conheço as vossas lágrimas; também Eu chorei. Aqueles pesares demasiado profundos para serem desafogados em algum ouvido humano, Eu os conheço. Não penseis que estais abandonados e perdidos. Ainda que a vossa dor não encontre eco em nenhum coração na Terra, olhai para Mim e vivei!’”
É isso então. Deus sempre está perto. Com Ele, não existe solidão. Na prosperidade ou na adversidade, na saúde ou na doença, no pranto ou no riso, podemos ter a certeza de que Ele não nos abandona, embora muitos o façam, ou mesmo as circunstâncias da vida terrestre contribuam para que nos sintamos sós. Jesus prometeu: “Eis que estou convosco … até à cosumação do século” (Mat. 28:20), e não falhará.