– “BOM dia, doutor! Vim ver se o senhor pode ajudar-me a salvar minha alma.

Estas foram as palavras de uma senhora de uns quarenta anos de idade, ao entrar em meu consultório para a primeira de uma série de palestras acêrca dos seus problemas matrimoniais.

Apesar de ser um tanto abrupta, a observação dessa senhora chamou-me a atenção para um importante elemento nos conselhos matrimoniais que são dados por um ministro ou um médico cristão. Os conselhos matrimoniais proporcionam excelente oportunidade para despertar a atenção para as necessidades espirituais. Sempre que surgem problemas entre o marido e a esposa, se acha em jôgo a salvação de alguma pessoa.

A arte de dar conselhos pode ser o meio de despertar o marido ou a espôsa para as evidências de que êles retrocederam na vida espiritual. Pode levá-los à compreensão de que o Senhor, em Sua misericórdia, permitiu que o seu casamento corresse perigo a fim de livrá-los, se o quiserem, de uma tragédia muito pior: a perda da vida eterna. Pode ajudá-los a encararem a si mesmos sob uma nova perspectiva e reconhecer como Satanás os induziu ao egoísmo. Pode revelar-lhes que desprezaram as oportunidades de partilhar a fé com os que necessitam de salvação.

Nalguns casos, os conselhos matrimoniais não produzem o almejado resultado de trazer harmonia para o casamento. As técnicas da arte de dar conselhos não provêem alguma magia por meio da qual o ser humano seja levado a fazer o que se opõe a sua vontade. No entanto, os conselhos matrimoniais, ministrados por uma pessoa de grande compreensão espiritual, podem centralizar-se na maneira como Deus permite a adversidade para fortalecimento do caráter. A arte de dar conselhos pode salvar uma alma, embora nem sempre consiga salvar um casamento.

Dar conselhos matrimoniais não é fácil. Às vêzes pode parecer que os esforços envidados não produziram os bons resultados que se esperava. O próprio fato, porém, de que se teve o privilégio de debater problemas pessoais, interêsses espirituais e assuntos que dizem respeito ao bem-estar eterno, com uma pessoa que se mostrava atenta por se encontrar numa situação angustiosa, significa que provàvelmente se efetuou maior bem do que se imaginava. Só a eternidade revelará o verdadeiro resultado.

Alguns pormenores da entrevista com as pessoas que buscam conselhos matrimoniais serão considerados na segunda parte dêste artigo. Mencionaremos agora as atitudes e a polidez de vossa parte como ministros-conselheiros, que contribuirão para o vosso êxito e vos ajudarão a permanecer com o ânimo alevantado, apesar das fragilidades humanas de vossos clientes.

Não Superestimeis a Vossa Habilidade

Há muitos tipos de personalidade, e nenhum dêles se mostra favorável aos conselhos de tôdas as pessoas. Quanto antes reconhecerdes que há certas pessoas às quais não conseguireis alcançar por intermédio de conselhos, maior será o vosso ânimo. Até mesmo conselheiros de longa experiência julgam conveniente recomendar que alguns de seus clientes procurem outros conselheiros. Não hesiteis em transferir a um colega no ministério o cliente que não corresponde aos vossos esforços. Talvez a sua personalidade se adapte melhor às necessidades dêsse indivíduo. Quando a consulta abrange problemas legais, encaminhai o cliente a um advogado, de preferência a envolver-vos com questões que fogem de vossa alçada. Do mesmo modo, quando suspeitais da existência de alguma causa física para desajustamento sexual, entregai o caso a um médico.

Protegei o Vosso Bom Nome

Dar conselhos torna a pessoa mais vulnerável à crítica do que quase qualquer outra atividade profissional. Se cometerdes a imprudência de palestrar a sós com uma senhora, dentro de sua própria casa ou em vosso escritório, quando ninguém se encontrar por perto, ficareis expostos a tudo quanto ela resolver propalar a vosso respeito. Isto constitui um risco demasiado grande para o ministro. Se a cliente insistir numa entrevista “absolutamente particular,” deveis ser muito mais cautelosos. Não é necessário que outra pessoa ouça o que é mencionado na entrevista, mas pelo menos deve haver alguém no aposento contíguo.

Nalguns casos, o marido e a esposa resolverão vir juntos à entrevista. Isto simplifica o problema de manter o decoro na palestra com a mulher. No entanto, suscita freqüentemente uma outra ‘dificuldade. Quando ambos estão juntos, existe o perigo de se perder o controle da conversação quando êles começarem a fazer acusações pessoais. Não é fácil alguém admitir que errou, especialmente quando é o cônjuge que expõe a situação e quando é o ministro que está ouvindo. Quando percebeis que se desenvolve essa espécie de tensão, sugeri que êles se revezem, esperando no aposento contíguo enquanto conversais com uma só pessoa de cada vez. •

Não Sejais Arbitrários

O objetivo dos conselhos matrimoniais não é dar ordens, mas ajudar as pessoas em dificuldade a avaliar seu problema e esclarecer assim as questões. Refreai-vos, portanto, quando gostarieis de declarar no que consiste o problema fundamental, segundo a vossa opinião, e indicar como solucioná-lo. Vossa tarefa não é dar ordens arbitrárias, mas orientar os pensamentos do cliente. O que êle pensa terá muito maior influência sôbre o seu futuro do que as palavras que usardes ao aconselhá-lo. Incentivai-o a descobrir o que realmente está errado, e delineai então a maneira de corrigi-lo.

O cliente fica contrariado quando o conselheiro tira conclusões precipitadas. Tendo lutado semanas a fio com o seu problema, e nalguns casos durante meses, poderá deduzir que as respostas apressadas do conselheiro constituem uma crítica a sua inteligência. É como se o conselheiro estivesse dizendo: “É fácil descobrir em que consiste a dificuldade. Você deveria ter sido capaz de resolver isso sem qualquer auxílio de minha parte.” Portanto, sêde pacientes e não avanceis mais depressa do que tendes a certeza de que o cliente pode acompanhar-vos quando lhe ajudais a ver as relações entre causa e efeito.

Não Espereis Efusivas Manifestações de Gratidão ,

A razão por que as pessoas que hauriram benefícios dos conselhos dados muitas vêzes parecem ser ingratas, é que na verdade lhes é bastante penoso relembrar as desagradáveis experiências pelas quais passaram. Para êles, o ato de expressar gratidão pelo auxílio que lhes prestastes num momento de necessidade equivale a admitir que houve uma ocasião em que os seus problemas eram muito grandes. Contentai-vos, portanto, com a suposição de que as circunstâncias melhoraram, do contrário êles teriam voltado em busca de conselhos adicionais.

Arquivai as Anotações

Para vossa própria segurança e em virtude do valor que as anotações poderão ter como material de referência, conservai registos por escrito das sessões de conselho que mantiverdes. Êsses registos deviam conter nomes, datas e um sumário das circunstâncias. Deveis anotar também qual o conselho que foi dado e a reação por parte do cliente. Guardai os registos com muito cuidado, para que não caiam nas mãos de qualquer outra pessoa. É melhor que as anotações sejam de vosso próprio punho ou datilografadas por vós mesmos, em vez de serem preparadas por uma secretária.

Respeitai Tôda Informação Confidencial

A maior desvantagem que pode sobrevir ao conselheiro matrimonial é a divulgação do boato de que êle conta a outros aquilo que lhe foi transmitido confidencialmente. A única atitude segura consiste em não mencionar a pessoa alguma, nem mesmo para a espôsa ou para um colega, o conteúdo de vossas entrevistas com alguém que procure orientação matrimonial. Caso vos perguntem alguma coisa, dizei simplesmente: “Não tenho permissão para revelar os fatos.”

Cuidai para não usar um dêsses problemas matrimoniais como ilustração num sermão pregado na mesma comunidade em que vivem as partes envolvidas. Para restabelecer a confiança daqueles que mais tarde poderão escolher-vos como conselheiro, declarai simplesmente: “Êste incidente ocorreu diversos anos atrás, numa comunidade bem distante daqui.”

Ao lidar com um casal, obtende a permissão do cônjuge que ireis citar, antes de contar ao outro o que êle disse.

Dar conselhos matrimoniais é uma experiência recompensadora. Mesmo que alguns casos se mostrem menos favoráveis do que se esperava, conforme já foi mencionado, o privilégio de estar ao lado dos que têm problemas pessoais constitui uma parte meritória da obra de um ministro. E a satisfação decorrente do caso em que, com a graça divina, um casamento é preservado da ruína, suaviza o desapontamento causado pelo caso em que a reação é desfavorável.

Em sua admoestação a Timóteo, o apóstolo Paulo indicou que a obra de um ministro é muito mais ampla do que apenas pregar. Essa exortação se aplica igualmente aos ministros da geração atual: “Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com tôda a longanimidade e doutrina.” II Tim. 4:2.

A Oferta do Velho Aposentado

ERNESTO LLOYD

o PASTOR duma igreja estava recebendo ofertas dos membros de sua congregação, para um fundo a ser usado no aumento do edifício da igreja. Êsse fundo crescia constantemente. Um dos membros abastados da igreja foi à residência do pastor, e depois de cumprimentá-lo pôsse a preencher um cheque de duzentos dólares. O pastor lançou um olhar para a importância escrita, ao dirigir umas palavras a um recém-chegado, velho aposentado, alquebrado por quarenta anos de trabalho. Com algum esfôrço o idoso irmão rebuscou os bolsos e, níquel a níquel, foi pondo sôbre a mesa a importância de dois dólares e cinqüenta centavos (uns dez cruzeiros novos).

  • — Eu não devo receber essa importância do irmão — disse-lhe o pastor. — O irmão não está em situação de dar tanto dinheiro assim.
  • — Não pode, mas precisa — respondeu o velho irmão, com voz comovida. Estive economizando-o, e não quero dar ao Senhor aquilo que nada me custe.

Assim, o pastor aceitou a oferta do velho aposentado e lhe passou um recibo. Ao terminar de escrevê-lo e levantar os olhos do papel, buscou em volta o membro rico, mas êle havia desaparecido. O pastor pensou que a atenção dispensada ao velho aposentado houvesse ofendido o outro irmão. Despediu-se afetuosamente de seu grande amigo e agradeceu ao Senhor, de todo o coração, o sacrifício voluntário que acabara de testemunhar.

À tardinha daquele mesmo dia, o irmão rico tornou a ir à casa do pastor. Apertou-lhe cordialmente a mão e pôs sôbre a mesa um cheque de face para baixo.

  • — Viu o senhor a importância do cheque que preenchí esta manhã? — perguntou êle.
  • — Sim — respondeu o pastor. — Não pude deixar de ver. Eram duzentos dólares.
  • — E o senhor se lembra da oferta do velho aposentado?
  • — Como não! — disse o pastor.
  • — Pois bem, êste cheque é melhor um pouco, pastor.

E assim dizendo mostrou a outra face do cheque, que era de mil dólares.

  • — Senti vergonha diante de nosso bravo e velho irmão. Tôda a tarde estive lutando com meu amor ao dinheiro, e também decidi que não devo dar a Deus alguma coisa que não me custe nada.

Mais tarde, nesse dia, o pastor foi visitar o velho aposentado, e lhe perguntou:

  • — Irmão João, sabe quanto deu hoje para o fundo de construção da igreja?
  • — Sim, senhor. Dei dois dólares e cinqüenta centavos.
  • — Não — respondeu-lhe o pastor. A oferta do irmão foi de oitocentos dólares, e mais dois dólares e cinqüenta centavos.— E lhe contou então o que acontecera.

“Deus ama o que dá com alegria.” Alegria, mais liberalidade, mais conhecimento de que nossas ofertas irão abençoar outros, fazem da doação um gôzo.