(Continuação)
- VI. Cristo ao Mesmo Tempo Sacerdote e Sacrifício
Ali no Getsêmani, e mais tarde na cruz, Êle foi ao mesmo tempo ofertante e oferta; sacerdote e vítima.
“Como no serviço típico o sumo sacerdote despia suas vestes pontificais e oficiava vestido de linho branco dos sacerdotes comuns, assim Cristo abandonou Suas vestes reais e Se vestiu de humanidade, oferecendo-Se em sacrifício, sendo Êle mesmo o sacerdote, Êle mesmo a vítima.” — Atos dos Apóstolos, pág. 33.
Os sacerdotes levíticos, no serviço típico, eram consagrados por meio do sangue de novilhos (Lev. 8), mas Cristo, na perfeição do Seu sacerdócio, foi consagrado por Seu próprio sangue (Heb. 9:12). “A Si mesmo Se ofereceu,” diz a Escritura, e como nosso Sacerdote Êle foi “consagrado para sempre” (versão inglêsa), “não… sem prestar juramento” (Heb. 7:27, 28 e 20).
Seu sacerdócio abrange, portanto, o oferecimento de Si mesmo a Deus, pois só os sacerdotes podiam oferecer sacrifícios. E foi o derramamento do Seu próprio sangue que ratificou o concêrto eterno, instituído por Deus no princípio, em favor do homem. Os efeitos dêsse sacrifício, entretanto, nunca se tornariam acessíveis ao homem se Cristo não houvesse ressuscitado dentre os mortos e assumido Sua posição à destra do Pai. O apóstolo Paulo enuncia isso com clareza: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a vossa fé.” “Se Cristo não ressuscitou,.. . ainda permaneceis nos vossos pecados.” I Cor. 15:14 e 17.
Quando nosso Senhor ascendeu aos Céus, Êle compareceu perante o Pai, na presença dos anjos, e nessa ocasião foi investido como nosso Sumo Sacerdote. Do mesmo modo que Melquisedeque, Êle é “Rei de justiça” e “Rei de paz” (Heb. 7:2). Apesar de ser o Rei da glória, Cristo é também Rei-Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, no trono de Seu Pai, e o único Mediador entre Deus e o Seu povo. “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” I Tim. 2:5. Como divino Filho de Deus, Êle tornou-Se sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Heb. 6:20), e o aspecto singular dêsse ministério é que êle permanece “perpétuamente” (Heb. 7:3). Assim, também, Cristo “continua para sempre” (Verso 24), “vivendo sempre para interceder” (Verso 25).
- VII. O Ritual do Santuário Antigo Como Lição Objetiva
Embora os adventistas creiam que o tabernáculo ou santuário mosaico, com suas cerimônias sacrificais, como tipo, devia encontrar o seu cumprimento no perfeito sacrifício e no ministério sacerdotal de nosso Senhor, reconhecemos também que importantes lições podem ser tiradas do estudo do tabernáculo e de seu ritual. Mas, conquanto os tipos e sombras do ritual levítico tenham significado espiritual, não se deve supor que todos os pormenores do santuário antigo tenham uma significação peculiar.
Por exemplo, as estacas, as cavilhas e as bases que sustentavam o tabernáculo eram coisas úteis, mas não tinham especial significação. É melhor compreender e estudar as grandes realidades do sacrifício e do ministério sacerdotal de Cristo, do que ocupar-se demasiado com os pormenores do serviço típico, que era apenas uma representação inadequada do sacrifício e do ministério de Cristo. É muito melhor interpretar o santuário terrestre sob a luz do celestial, do que circunscrever as realidades antitípicas pelas limitações da aplicação muito restrita do tipo.
O edifício, o ritual e os sacrifícios, como um todo, visavam mostrar-nos o caminho para Deus. Os sacerdotes da antiguidade “ministravam em figura e sombra das coisas celestes” (Heb. 8:5). Conquanto fossem apenas “a sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas” (Heb. PÁGINA 19 10:1), constituíam, porém, uma vivida lição objetiva da realidade, uma instituição profética de profunda significação. Por êsse motivo, foi feito um relato minucioso do edifício e de seu ritual. Grande parte do livro de Êxodo e todo o livro de Levítico contêm informações a respeito; e a essência da significação antitípica dêsses pormenores é apresentada na Epístola aos Hebreus.
Lamentàvelmente, há cristãos que parecem discernir pouco valor no estudo do santuário antigo e seu ritual. No entanto, êsses símbolos encerram profundo significado. Embora “a lei” nunca aperfeiçoasse “coisa alguma” (Heb. 7:19), e jamais pudesse “tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano,” êles efetuavam continuamente (Heb. 10:1), o fato de que as Escrituras dão tanta ênfase ao santuário antigo e seu ritual, revela a sua importância, não só para os israelitas do passado, mas também para os cristãos do tempo atual.
“É impossível que sangue de touros e de bodes remova pecados” (Heb. 10:4), mas o sacrifício de nosso Senhor na cruz provê a remoção do pecado. “Ao se cumprirem os tempos, [Êle] Se manifestou uma vez por tôdas, para aniquilar pelo sacrifício de Si mesmo o pecado” (Heb. 9: 26). Cristo ofereceu-Se “uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos” (Vers. 28). A expressão “uma vez” ou “uma vez por tôdas,” em conexão com o sacrifício de Cristo, é profundamente significativa. A palavra grega é hapax: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados” (I S. Ped. 3:18); Cristo ofereceu-Se “uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos” (Heb. 9:28); “ao se cumprirem os tempos, Se manifestou uma vez por tôdas” (Vers. 26).
Em I S. Pedro 3:18 e Hebreus 9:26, a Revised Standard Version traduz hapax por “uma vez por tôdas.” Isto provém de ephapax, uma forma enfática de hapax. E ephapax é traduzido “uma vez por tôdas” na English Revised Version e na Standard Revised Version (e em parte também na Edição Revista e Atualizada no Brasil), nas passagens que seguem: Êle “fêz isto uma vez por tôdas, quando a Si mesmo Se ofereceu” (Heb. 7:27); “Êle entrou uma vez por tôdas no lugar santo” (Heb. 9:12); “Êle morreu para o pecado, uma vez por tôdas” (Rom. 6:10); “A oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por tôdas” (Heb. 10:10). Êle não fêz isto “por meio do sangue de bodes e de bezerros,” mas “pelo Seu próprio sangue” entrou uma vez por tôdas no lugar santo,* “obtendo assim eterna redenção” para nós (Heb. 9:12, R. S. V.).
- VIII. Redenção Absoluta Pela Vitória de Cristo
Quando Êle ascendeu ao Céu, “assentou-Se à direita da Majestade nas alturas” (Heb. 1:3; comparar com Rom. 8:34; Efés. 1:20; Col. 3:1). Perdemos a significação disto se o interpretamos meramente como postura. Em realidade, denota honra representada por autoridade. Estêvão não O descreveu como estando sentado, mas “em pé à destra de Deus” (Atos 7:56). Embora Êle seja o Sumo Sacerdote que ministra em nosso favor, participa também, junto com o Pai, do govêrno do universo. Quão glorioso é o pensamento de que o Rei, que ocupa o trono, é também nosso representante na côrte celestial! Isto se torna ainda muito mais significativo quando compreendemos que Jesus, nosso Fiador, entrou nos “lugares santos,” e compareceu à presença de Deus por nós. Mas não foi com a esperança de obter alguma coisa para nós nessa ocasião ou numa ocasião futura. Não! Êle já a obtivera para nós na cruz. E agora, como nosso Sumo Sacerdote, Êle ministra os méritos de Seu sacrifício expiatório em nosso favor. Disse com acêrto o Dr. Tomás Carlos Edwards:
“O sacrifício foi efetuado e completado na cruz, assim como as vítimas eram imoladas no pátio exterior. Mas era por meio do sangue dessas vítimas que o sumo sacerdote tinha autoridade para entrar no lugar santíssimo; e depois de entrar ali, êle precisava aspergir o sangue que ainda estava quente, apresentando assim o sacrifício a Deus. Semelhantemente, Cristo precisava entrar num santuário a fim de apresentar o sacrifício efetuado no Calvário.” — The Epistle to the Hebrews, pág. 135, cm The Expositor’s Bible.
O Dr. H. B. Swete, professor de Teologia na Universidade de Cambridge, também declarou corretamente:
“Um evangelho que terminasse com a história da cruz teria tido todo o enlevante poder de infinita compaixão e amor. Mas o poder de vida eterna estaria ausente. É a vida duradoura de nosso Sumo Sacerdote que torna eficaz o Seu sacrifício expiatório e constitui a inexaurível fonte da vida de justificação e graça em todos os Seus fiéis membros sôbre a Terra.” — The As-cended Christ, pág. 51.
Embora não consigamos compreender plena-mente a natureza do ministério sacerdotal de Cristo, sabemos no entanto que Êle é nosso Mediador, e o único Mediador entre Deus e o homem (I Tim. 2:5). Êsse ministério é uma obra de intercessão (Rom. 8:34; Heb. 7:25). Êle confessa a nós diante do Pai e nos reivindica como Sua propriedade (Apoc. 3:5). Concede misericórdia e auxílio do trono da graça (Heb. 4:16). E, como Sumo Sacerdote, outorga poder a Seu povo para vencer o pecado (I Cor. 15:57; Apoc. 3:21).
Uma das palavras-chaves no estudo do sacerdócio de Cristo é o vocábulo “melhor.” Êle introduziu “melhor esperança” (Heb. 7:19), e é Mediador de “melhor concêrto,” “instituído com base em “melhores promessas” (Heb. 8:6), e por isso mesmo tornou-Se Fiador de “melhor concêrto” (Heb. 7:22).
- IX. Jesus Se Toma Nosso “Fiador”
Cristo Se tornou nosso Fiador (Heb. 7:22), e Êle mesmo cumpriu tudo o que requeria o concêrto eterno. Como o “último Adão” (I Cor. 15:45), Êle tornou-Se participante da raça de Adão. E como nosso Fiador, Êle não só tomou sôbre Si os nossos pecados, e as nossas dores levou sôbre Si no Calvário, mas outorga Suas bênçãos do trono da graça e intercede em nosso favor.
Êle podia ser “escolhido” acertadamente “dentre o povo” porque era “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Heb. 7:26). Participou da humanidade, não por meio de geração natural, mas por meio de um milagre. Seu nascimento foi sobrenatural; Deus era Seu Pai. Embora assumisse a forma humana, era Deus, e estêve isento das paixões e poluições herdadas que corrompem os descendentes naturais de Adão. Êle era “sem pecado,” não só em Sua conduta exterior, mas em Sua própria natureza. Podia dizer realmente: “Aí vem o príncipe do mundo; e êle nada tem [ou não encontra acolhida] em Mim” (S. João 14:30). Nada havia em Sua Pessoa que fôsse suscetível à influência de Satanás. E necessitamos exatamente de um sacerdote assim. Se houvesse sido maculado por qualquer mancha de pecado, ter-Se-ia desqualificado tanto para ser nosso sacrifício como nosso Sumo Sacerdote. Todavia, conquanto estivesse isento de pecado em Sua vida e em Sua natureza, foi “tentado em tôdas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Heb. 4: 15). E por isso, pode compadecer-Se de nós em tôdas as nossas dores ou provações.
A fim de desempenhar, porém, devidamente o ofício sacerdotal, Êle, do mesmo modo como o sacerdote do Israel antigo, precisa ter “o que oferecer” (Heb. 8:3). Quando Arão se apresentava perante o Senhor, no serviço típico, êle tinha de levar consigo o sangue de um sacrifício. Assim também, quando Jesus Se apresentou diante do Pai, em nosso favor, no santuário celestial, precisou igualmente de sangue; mas foi “pelo Seu próprio sangue” que Êle entrou ali (Heb. 9:12). Fomos resgatados “pelo precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (I S. Ped. 1:19).
Já mencionamos que foi no Jardim do Getsêmani que o fardo do pecado do mundo recaiu sôbre o nosso Salvador. O apóstolo Pedro declara o seguinte a Seu respeito: “Êle mesmo, em Seu corpo,” carregou “sôbre o madeiro, os nossos pecados” (I S. Ped. 2:24). Assim, foram-Lhe imputados os nossos pecados. Aquêle “que não conheceu pecado,” Se tornou “pecado por nós; para que nÊle fôssemos feitos justiça de Deus” (II Cor. 5:21). Êle recebeu nosso pecado e carregou-o vicariamente, sendo ao mesmo tempo sacrifício e sacerdote. Mas, para que efetuasse completamente o Seu propósito referente a nossa redenção, precisava ascender aos lugares celetiais, como nosso Mediador. Concordamos plenamente com o que disse Artur VV. Pink:
“Se Cristo permanecesse sôbre a Terra depois de Sua ressurreição, ter-se-ia realizado apenas metade de Sua obra sacerdotal. Sua ascensão era necessária para a preservação dos direitos governamentais de Deus, para a vindicação do próprio Redentor e para o bem-estar de Seu povo; a fim de que a obra por Êle iniciada na Terra pudesse ser continuada, consumada e concluída totalmente no Céu. O sacrifício expiatório de Cristo fôra oferecido uma vez por tôdas, mas Êle precisava assumir Sua posição como Intercessor à direita de Deus, para que Sua Igreja pudesse desfrutar os benefícios daí resultantes. … Se Cristo houvesse permanecido na Terra, Sua obra teria sido incompleta, pois o Seu povo necessitava de Alguém que comparecesse, por êles diante de Deus” (Heb. 9:24). Se Arão apenas oferecesse sacrifício junto ao altar de bronze, e não levasse o sangue para dentro do véu, teria realizado a sua obra apenas pela metade.” — An Exposition of Hebrews, Vol. 1, págs. 433 e 434.
- X. O Lugar do Ministério de Cristo
Onde e como oficia o nosso Senhor? As Escrituras não deixam margem para especulações. Êle ministra no santuário celestial (Heb. 8:1 e 2). Enquanto continuou o ritual antigo, “o caminho do Santo Lugar [lugares santos] não se manifestou” (Heb. 9:8).**
Várias traduções refletem êsse pensamento:
“E com isso o Espírito Santo indicou que o caminho para os santos (lugares) ainda não se havia manifestado, enquanto o primeiro tabernáculo permanecia de pé.” SIRÍACA, DE MURDOCH.
“O Espírito Santo queria que víssemos que não nos era franqueado nenhum caminho de acesso ao verdadeiro santuário, enquanto o tabernáculo antigo continuava erguido.” — KNOX.
“O Espírito Santo anuncia assim que o caminho para o santuário não é revelado, enquanto o primeiro tabernáculo ainda está em pé: o último dos quais é uma figura para o tempo presente.” — LATTEY.
“O Espírito Santo evidenciava que o caminho para os santos lugares ainda não havia sido franqueado, enquanto o primeiro tabernáculo ainda estava em pé.” — CAMPBELL, DODDRIDGE E MACKNIGHT.
Quando nosso Senhor expirou na cruz, o véu do templo terrestre “se rasgou em duas partes, de alto a baixo” (S. Mat. 27:51), revelando para tôdas as gerações posteriores, que a sombra encontrara a realidade; o tipo se cumpria no antítipo. Pela primeira vez o lugar santíssimo do santuário terrestre deixou de estar vedado ao olhar humano, e não era mais um lugar sagrado. Foram demolidas tôdas as barreiras anteriores. Podemos achegar-nos agora, “confiadamente, junto ao trono da graça” (Heb. 4:16), não com mêdo e pavor, mas com confiança e regozijo. “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé,” “pelo nôvo e vivo caminho que Êle nos consagrou pelo véu, isto é, pela Sua carne” (Heb. 10:22 e 20). Quando nosso Senhor deu Sua carne “pela vida do mundo” (S. João 6:51), abriu-se o caminho para o Céu. “Ninguém vem ao Pai senão por Mim.” S. João 14:6.
- XI. O Aperfeiçoamento de Nosso Caráter
Como nosso sublime Senhor, Cristo compartilha o trono da Divindade. Não obstante, Êle é nosso “Advogado” ^parakletos, I S. João 2:1), representando a nós perante o Pai. O mesmo vocábulo é traduzido “Confortador” em S. João 14:26. Jesus estava falando aos discípulos acêrca do Espírito Santo, que devia vir como o Paracleto, ou “Ajudador” (alguém que socorre ou defende outra pessoa). Tanto Jesus como o Espírito Santo exercem a função de advogado: Nosso Salvador é um advogado junto ao Pai, representando a nós no trono do Pai, ao passo que o Espírito Santo é nosso advogado ou ajudador aqui na Terra, representando o Pai e o Filho perante a humanidade perdida. No Evangelho de S. João, parakletos é traduzido por “Confortador.” Mas na Epístola do mesmo autor, é usada a palavra “Advogado” para traduzir êsse vocábulo. Como nosso Advogado e Mediador, Jesus envia o Seu Espírito a nossos corações, para ser ao mesmo tempo nosso Confortador e Guia.
A perfeição é o desígnio de Deus para com o Seu povo. Disse Jesus: “Sêde vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (S. Mat. 5:48). No entanto, o sacrifício “de touros e de bodes” (Heb. 10:4), como tal, jamais poderia aperfeiçoar o homem. Cristo realizou em favor da humanidade perdida aquilo que os sacrifícios de outrora jamais conseguiríam fazer. Quando carregou “em Seu corpo, sôbre o madeiro, os nossos pecados” (I S. Ped. 2:24), Êle cancelou “o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Col. 2:14).
“O sacrifício de Cristo em favor do homem foi amplo e completo. A condição da expiação tinha sido preenchida. A obra para que viera a êste mundo tinha sido realizada. Êle conquistara o reino. Arrebatara-o de Satanás, e Se tornara herdeiro de tôdas as coisas.” — Atos dos Apóstolos, pág. 29.
Embora Cristo “se nos tornou. . . sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Cor. 1: 30), as únicas pessoas que são aperfeiçoadas ou santificadas são as que aceitam completamente a Sua graça. Na verdade, Êle “também pode salvar totalmente os que por Êle se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por êles” (Heb. 7:25); todavia, os que desejam salvar-se precisam dirigir-se a Deus. Devem apoderar-se da vida eterna (I Tim. 6:19). Quando nós O aceitamos, somos justificados, isto é, a Sua justiça nos é imputada, e permanecemos diante de Deus como se nunca houvéssemos pecado. Mas sòmente são santificados ou aperfeiçoados aquêles que continuam a desfrutar na vida o poder de Sua Pessoa e que se apoderam contínuamente de Sua graça para obter vitória sôbre suas naturezas pecaminosas. Concordamos com Artur W. Pink, o qual declara o seguinte:
“A justificação e a santificação nunca estão separadas: onde Deus imputa a justiça de Cristo, Êle também comunica um princípio de santidade, sendo o último o fruto ou a conseqüência do primeiro; ambos são necessários antes de podermos ser admitidos no Céu. Visto que o sangue de Cristo satisfez plenamente todo reclamo de Deus para com o Seu povo e contra êle, suas virtudes e seus efeitos purificadores são-lhes aplicados pelo Espírito …. Pois o sangue de Cristo não é meramente, por assim dizer, a chave para abrir o santo dos santos para Êle como nosso Sumo Sacerdote e Redentor, não é sòmente o nosso resgate pelo qual somos libertados da escravidão, e, libertos da maldição, somos conduzidos para mais perto de Deus; mas também nos separa da morte e do pecado. Êle é incorruptível, sempre purificando e vivificando; por intermédio dêsse sangue somos separados dêste mundo mau, e nos tomamos vitoriosos; por meio dêsse sangue conservamos brancas as nossas vestes (S. João 6:53; Apoc. 7:14).” — Artur W. Pink, op. cit., págs. 494 e 495.
Por conseguinte, a justificação é justiça imputada, e a santificação é justiça comunicada.
A perfeição de nosso Senhor — Sua vida de renúncia e obediência — pertence-nos pela fé. E do santuário celestial Êle confere a Seu povo essas qualidades de perfeição. Nossas orações, relacionadas de alguma forma misteriosa com o altar de incenso (Apoc. 8:3 e 4; comparar com Apoc. 5:8) no santuário celestial, ascendem perante o Senhor e são misturadas com os méritos de Sua própria vida imaculada. Ellen G. White expressa claramente a posição adventista nestas impressionantes palavras:
“Cristo Se comprometeu a ser nosso substituto e fiador, e não despreza ninguém. Êle, que não pôde ver sêres humanos sujeitos à ruína eterna sem entregar Sua vida à morte por êles, contemplará com piedade e compaixão tôda alma que reconhece não poder salvar-se a si própria.
“Não contemplará nenhum trêmulo suplicante, sem soerguê-lo. Êle, que pela expiação proveu ao homem um infinito tesouro de fôrça moral, não deixará de empregar êsse poder em nosso favor. Podemos depositar a Seus pés nossos pecados e cuidados; pois Êle nos ama. Mesmo Seu olhar e palavras despertam nossa confiança. Formará e moldará nosso caráter segundo Sua vontade.” — Parábolas de Jesus, pág. 157.
“Cristo comprometeu-Se a ser nosso substituto e fiador, e não negligencia a ninguém. Há inexaurível fundo de perfeita obediência manando da obediência dÊle. Seus méritos, Sua abnegação e sacrifício acham-se entesourados como incenso a ser oferecido juntamente com as orações de Seu povo. Ao ascenderem ao trono de Deus as orações sinceras, humildes do pecador, Cristo mistura com elas os méritos de Sua própria vida de obediência perfeita. Êsse incenso empresta fragrância às nossas orações. Cristo comprometeu-Se a interceder em nosso favor, e o Pai ouve sempre ao Filho.” — Filhos e Filhas de Deus, pág. 22.
Cristo, nosso Sumo Sacerdote, representa o Seu povo como Alguém que possui autoridade. Tendo ganho a batalha contra o reino das trevas, Êle é agora o Chefe de um nôvo reino — o reino de luz e paz. Ellen G. White salienta igualmente esta verdade, declarando:
“O Capitão de nossa salvação está intercedendo por Seu povo, não como um suplicante que quer mover a compaixão do Pai, mas como um vencedor, que reclama os troféus da Sua vitória.” — Obreiros Evangélicos, pág. 150.
“Por Sua vida imaculada, obediência e morte na cruz do Calvário, intercedeu Cristo pela raça perdida. E agora o Príncipe de nossa salvação não intercede por nós como mero peticionário, mas como um Conquistador que reclama a vitória. Seu sacrifício está consumado e como nosso Intercessor cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs, apresentando a Deus o incensário que contém os Seus méritos imaculados e as orações, confissões e ações de graças de Seu povo. Perfumados com a fragrância de Sua justiça, sobem como cheiro suave a Deus. A oferenda é inteiramente aceitável, e o perdão cobre tôdas as transgressões.” — Parábolas de Jesus, pág. 156.
- XII. O Ministério de Cristo Culmina no Juízo
Cremos que o ministério sacerdotal de nosso Senhor culmina numa obra de julgamento. E isso ocorre pouco antes de Seu regresso em glória. Embora Êle não ministre em “santuário feito por mãos” (Heb. 9:24), visto que é Senhor supremo, as duas espécies de ministérios efetuados no santuário antigo — primeiro, o de reconciliação no lugar santo, e segundo, o de julgamento no lugar santíssimo — ilustram vividamente as duas fases do ministério de nosso Senhor como Sumo Sacerdote. E então, quando concluir o Seu ministério, Êle virá em glória, para retribuir a cada um segundo as suas obras.
- XIII. Destruição Final do Pecado
Quando nosso Salvador voltar, Êle não só levará os remidos para o lar, mas também destruirá finalmente o pecado e exterminará todo vestígio do mal. O próprio universo será purificado até mesmo do lúgubre registo de rebelião e pecado, e os pecadores deixarão de existir. “O dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo.” Mal. 4:1.
Os adventistas não defendem nenhuma teoria referente a uma expiação dupla. “Cristo nos resgatou” (Gál. 3:13) “uma vez por tôdas” (Heb. 10:10). Cremos, porém, que o aspecto mais amplo da expiação e do ministério de nosso Senhor nem sempre é compreendido devidamente, mesmo pelos que, com tôda a certeza, O amam e honram Sua Palavra. A purificação do universo e a completa destruição do autor do pecado e de tôdas as suas hostes malignas revelam, segundo cremos, a grandeza, a glória e o poder de nosso Senhor crucificado e ressurgido. Aguardamos o dia em que, quando o pecado houver sido extirpado, tôdas as vozes no universo participarão do cântico de adoração: “Digno é o Cordeiro, que foi morto.”
Nossos ouvidos procuram captar o som dêsse cântico de louvor que, conforme declara o profeta João, começa junto ao trono de Deus, alastrando-se depois pelo vasto universo, até que “tôda criatura que há no Céu e sôbre a Terra, debaixo da Terra e sôbre o mar, e tudo o que nêles há [exclame]. . .: Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apoc. 5:13). — Questions on Doctrine, págs. 377-390.
- * A palavra grega traduzida aqui por “lugar santo” (na R.S.V.) é hagia, e encontra-se no plural. A tradução correta seria “lugares santos,” como em Hebreus 9: 24 (na King James Version). Essa investidura, segundo é ensinado peias Escrituras, ocorreu quando Cristo ascendeu à glória (Atos 1), quando já havia concluído Sua obra sacrifical sôbre a cruz. A palavra traduzida por “obtendo” (na R.S.V.) é o vocábulo heurisko no grego, e tem sido traduzida por “encontrado,” “conseguido,” “obtido” ou “obtendo” (na R.S.V.), e está no nominativo, masculino, singular, aoristo, particípio médio.
* * A expressão “Santo dos santos” (na K.J.V.) é uma tradução incorreta. A forma grega encontra-se no plural — ton hágion, “lugares santos” — e foi traduzida corretamente em Hebreus 9:24 (na K.J.V.). O contraste aqui não é entre o lugar santo e o lugar santíssimo do tabernáculo terrestre, mas entre o santuário terrestre e o santuário celestial.
Solicitude de Deus por Sua Obra
ELLEN G. WHITE
Na obra de Deus, demasiadas vêzes nos deixamos influenciar pelos cuidados e dificuldades ambientes. O pêso da responsabilidade não impende sôbre mortais. Precisamos confiar em Deus, crer nÊle e avançar. A incansável vigilância dos mensageiros celestiais, e seu incessante empenho em prol dos que vivem na Terra nos revelam como a mão de Deus está guiando uma roda dentro de outra. O Instrutor divino diz a cada qual que desempenha uma parte em Sua obra, o que outrora disse a respeito de Ciro: “Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças.”
Na visão de Ezequiel, a mão divina aparece debaixo das asas dos querubins. Isto tem, por fim ensinar aos servos de Deus que é Seu poder que lhes há de garantir o êxito. Operará por meio dêles, se renunciarem à iniqüidade, purificando o coração e a vida.
A brilhante luz, que resplandece por entre as criaturas viventes, com a velocidade do relâmpago, representa a rapidez com que a obra de Deus há de por fim ser consumada. Aquêle que não toscaneja e está operando continuamente a fim de realizar Seus desígnios, há de levar avante a Sua grande obra de modo harmonioso. Aquilo que a homens finitos parece confuso e complicado, a mão do Senhor pode manter em perfeita ordem. Tem meios e modos de frustrar as| intenções de homens ímpios, e pode destruir o conselho dos que maquinam o mal contra Seu povo.
Irmãos, não é tempo de nos lamentarmos e entregarmos ao desespêro, nem de ceder à dúvida e incredulidade. Cristo não é para nós um Salvador que jaz no sepulcro de José, vedado por uma grande pedra selada com o sêlo romano; temos um Salvador ressuscitado. É o rei, o Senhor dos> exércitos, que está assentado entre querubins, e que no meio da peleja e do tumulto das nações continua a guardar Seu povo. Aquêle que domina nos Céus é nosso Salvador. Avalia cada provação; vigia a fornalha ardente destinada a provar cada alma. Quando as fortalezas dos reis ruírem e as flechas da ira de Deus atravessarem o coração de Seus inimigos. Seu povo estará seguro em Suas mãos. — Testemunhos Para a Igreja, págs. 70 e 71.