ANDRÉ HENRIOT

Presidente da Associação Oriental Francesa

EXCELÊNCIA do ministério pastoral e, conseqüentemente a sua utilidade, resultam da sua ação salutar. O pastor é o portador daquela admirável panacéia que comunica sociabilidade ao pagão moderno, estabilidade moral para o intelectual, e cultura para quem ainda está no estágio rudimentar. O pastor é, em tôda parte e em todo tempo, o representante da bondade, paz, justiça, misericórdia, e não o representante do lado aflitivo da existência, como é crença errônea, algumas vêzes. Está êle incansavelmente ligado à missão de guiar as almas, a fim de nelas despertar e fortalecer pensamentos que lhes devem dominar a vida e guiá-las para a vida futura.

O pastor, pastor de crentes, é dotado de poder para as necessidades espirituais. Assim como precisamos comer e respirar cada dia, e não apenas em certas grandes ocasiões da vida, também o nosso ser espiritual requer alimento diário para gozar saúde. Inevitavelmente, pois, é o homem de cada dia. Sua função é não sòmente batizar, casar e sepultar, se bem que nesses grandes momentos da nossa frágil existência seja êle desejável e até indispensável, mas êle é quem deve manter, nos que lhe são confiados, a fé nas coisas invisíveis e eternas. Sua intervenção é tanto mais imperativa quanto mais as contingências mundanas contribuem para diminuir no homem o apêgo às coisas e realidades divinas.

O ministro do evangelho é, sobretudo, apóstolo; o portador das boas-novas de salvação. A fim de disseminar a palavra da vida, não pode êle permanecer sentado numa cadeira; muito ao contrário, precisa literalmente carregá-la: pregando em público, penetrando nos lares, visitando as almas isoladas. É, pois, in-dispensàvelmente necessário que possua certa medida de intrepidez, tanto mais que sua vocação dêle exige não limitar as atividades aos já ganhos para a sua causa. Em verdade, sob a pressão do seu fogo sagrado, tem êle de comunicar a sua convicção a outros e enfrentar os descrentes e céticos. Êsse aspecto de seu ministério guinda-o ao pôsto de combatente de paz e dêle exige que leve as suas vitórias aonde quer que a ordem do seu grande Comandante o envie ou coloque.

Deveres do Pastor

Como líder, tem o verdadeiro pastor os deveres de auxiliar o fraco a definir e aplicar-se a sua regra de moralidade e norma de proceder, e relembrar a quem tem a consciência calejada por compromissos, os princípios normativos do evangelho. Precisa sempre guiar o seu rebanho, adaptando os ensinos, os conselhos e os incentivos às muito diversas vicissitudes da vida de cada pessoa. Algumas vêzes precisará ter a coragem de denunciar irregularidades na vida privada e aplicar com cortesia a necessária reprovação. É sempre delicado, mesmo para os árbitros, participarem de certas disputas; entretanto, o dever de curar a alma implica também essa intervenção difícil que felizmente trans-forma o pastor em mensageiro e até em pacificador.

Quem se consagra à vocação pastoral deve ser capaz de falar como dispenseiro de consolação. Nesse sentido o seu trabalho consiste em devotar-se incansavelmente ao serviço das almas feridas pela adversidade. Sua função como médico da alma designa-o para atenuar, calmar ou aplacar os sofrimentos e tristezas que constantemente assaltam a humanidade. Deve sempre aproximar-se da miséria humana; animando os desesperançados, enfermos, viúvas, pobres, os atingidos por enfermidades físicas ou morais, e todos quantos necessitam de quem dêles se compadeça. É chamado como auxiliador nas horas de infortúnio e angústia.

O líder verdadeiramente espiritual deve ser capaz de seguir, com o mesmo zêlo e perseverança, a multidão de suas atividades através de tôdas as crises. Em meio à insegurança das perseguições, permanece êle como modêlo da fidelidade. Quando a guerra paraliza e retalha o país, ali está êle como embaixador do Príncipe da paz. Se uma epidemia semeia terror e angústia, transforma-se automàticamente no bom samaritano que se deixa gastar sem medida. O escárnio e a zombaria não lhe alteram a constância pois êsse ministério requer heroísmo inquebrantável.

O pregador do amor, da paz e da justiça faz impressão mais pela eloqüência do exemplo do que pela palavra. Evitará o perigo de buscar agradar pelo espírito de condescendência. Nunca cederá diante da ameaça da lisonja. Faz parte de seus deveres a manutenção da naturalidade, enquanto com muita clareza mantém o ideal da justiça. Nêle, a fidelidade tem de sempre triunfar sôbre a facilidade. E como fiel representante de sua religião, será, por exemplo de abnegação e benevolência, a coluna mestra do santuário espiritual que busca construir sôbre a Terra. Sua vocação é realmente elevada.

Ajuda para os Membros Fracos

W. E. STRICKLAND 

Presidente da Associação Kentucky-Tennesse

NÃO é pouca coisa o pertencer à igreja Adventista do Sétimo Dia. Não sòmente é necessário coragem para dar êsse passo, mas é preciso vigor e fé para permanecer firme e vencer.

Os novos conversos, repletos do gôzo das verdades recém-encontradas, são alvos nítidos pa-ra o diabo, que raramente deixa de aproveitar tôda oportunidade que se lhe depara para os assediar e desanimar. É-lhes muitas vêzes tarefa sôbre-humana o manterem-se fiéis e fazerem aquilo que sabem ser correto.

Não duvidam da verdade. Sabem que tudo quanto ensinamos é a Palavra inspirada de Deus, mas muitos fracassam.

Faz algum tempo visitei uma igreja grande onde falei aos oficiais. Fiz-lhes menção de que possuíam mais de seiscentos membros, e disse:

— Suponho haver entre êles os chamados pêso-morto — os indiferentes, os que não comparecem à igreja e perderam todo interêsse, os que, possivelmente, julgais deverem ser eliminados. Quantos dêsses pensais haver aqui?

Um irmão sugeriu duzentos, e todos os demais concordaram em que sem dúvida alguma deveria haver uns cem.

Cem membros a ponto de serem eliminados! Esta história poderá repetir-se mais ou menos em quase cada igreja, grande ou pequena. Alguns que figuram na lista de membros, em realidade não o são. Por quê? Muitos motivos haverá, talvez, mas, independentemente das razões, tem a igreja a sua responsabilidade.

A igreja não é uma sociedade social, um clube ou entidade similar. Está estabelecida como igreja para um único propósito, que é o de salvar almas. Essa é a comissão e deve ser o objetivo.

Jesus disse não haver vindo para chamar os justos mas os pecadores ao arrependimento; buscar e salvar os perdidos. Sua vida inteira dedicou-a Êle aos outros. Não deu um passo egoistamente. Não ensinou teorias egoístas. Seu caminho foi e é o caminho da vida, caminho do livramento do pecado, caminho de volta para Deus. Justiça e misericórdia, bondade e compreensão, com abundância de amor, motivarm-Lhe as palavras e os atos, e os pecadores encontraram salvação.

Custa dinheiro o trazer pessoas para a igreja. Nalguns casos, milhares de cruzeiros, até. Isso mostra que os membros são um ativo valioso, e que do prisma de cruzeiros e centavos apenas, devemos esforçar-nos para reter os nossos frutos.

Tão fácil é perder de vista o nosso objetivo, esquecer que a salvação de almas é o nosso negócio, pensar que os nossos alvos individuais nos são uma importunação, e que as normas da igreja são de suprema importância! Não ponhamos o carro adiante dos bois! Nosso ocupação é salvar almas e isso tanto dentro quanto fora da igreja. Matai a árvore e as fôlhas cairão.

Cristo não Veio Para Condenar

Reza S. João 3:16 “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquêle que nÊle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Conhecemos êsse versículo extraordinário. Amamo-lo. Nêle cremos. Quantos de nós, porém, analisam S. João 3:17: “Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fôsse salvo por Êle”?

Êle não veio condenar. Ao ler o livro de João, verificamos que reza: “Não cuideis que Eu vos hei de acusar.” “Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.” Êle não era acusador, juiz, ou quem condena, e em I S. João 2:6, lemos: “Aquêle que diz que está nÊle, também deve andar como Êle andou.”

Nós, portanto, não devemos acusar, nem julgar, nem condenar. Quem acusa, julga e condena, é o diabo. Nós devemos sustentar as normas da igreja, mas fazê-lo como fêz Jesus, sem acusação, nem julgamento, nem condenação.

Permiti-me uma ilustração. Um homem fuma desde a infância. Está impregnado de fumo. Muitas vêzes a sua espôsa encontra-lhe a roupa de baixo amarelecida pela transpiração. Tôda fibra do seu organismo está atacada por êsses muitos anos de uso do fumo. O seu organismo exige a nicotina. Em idade adulta ou já bem entrado em anos, ouve a mensagem adventista. Escuta noite após noite o pregador apresentar de maneira clara a doutrina bíblica da verdade divina. Convence-se. Todos êsses anos estêve êle conjeturando acêrca de certos passos bíblicos, e agora os compreende. Reconhe-ce o que deve fazer. São-lhe ditas coisas que o despertam: O fumo, o álcool e as carnes imundas— todos devem ser abandonados; e com firme determinação tudo abandona por Cristo. É honesto. Crê que os adventistas são um povo extraordinário, e são-no! Ingressa na igreja. Seu batismo, é-lhe um grande acontecimento na vida, pois está abandonando velhos hábitos, velhos lugares de reuniões, velhos amigos, para congregar-se à igreja de Deus e a Seu povo.

Nesse ponto surge o diabo com maior determinação. Os pontos fracos do novo crente são especialmente atacados. Sua confiança, seus velhos hábitos, são todos submetidos a crescente pessão. Com que resultado?

A ninguém condenamos. Andamos todos tão atarefados! E, afinal de contas, a salvação à assunto individual, ou pelo menos parece sê-lo. E assim o nosso irmão luta. O fumo, sua grande fraqueza, é usado pelo inimigo para derrubá-lo, e um belo dia o encontramos fumando. Êle o esconde de nós, mas nós vimos, sabemos; e que fazemos? Bem, o mais provável é que digamos o que pensamos de um adventista que fuma. “Sabíamos que isso iria acontecer. Não achávamos nós que o pastor tivera muita pressa para batizá-lo? Disséramos isso na ocasião, e agora vemos o que temos que fazer” — e assim por diante.

O homem está vencido. Está envergonhado da sua fraqueza. Odeia-se, e o de que precisa é misericórdia e amor. Precisa de ajuda. Não necessita de acusação. Não precisa de que se lhe fale de normas da igreja. Necessita de alguém que tenha coração compreensivo para confortar-lhe as mãos fracas, erguê-lo, apontar-lhe Àquele que, sòmente, pode salvar uma pessoa tal qual êle. Aí é que o coração ferido precisa ser curado — não com correções ásperas, mas com o amor que se compadece e esquece o eu. tendo apenas um alvo em vista — salvar. Permiti-me, mostrar com uma observação pes-soal, o que penso.

O Amor dos Irmãos Estabeleceu a Diferença

Faz alguns anos, certo ministro meu conhecido assumiu o pastorado de uma de nossas igrejas, justamente quando um dos nossos evangelistas terminava uma série de conferên-cias públicas em que mais de 150 almas foram acrescidas às igrejas daquela cidade. Coube-lhe assumir o cuidado de cem dêsses novos membros. Eram excelentes almas — novas, recentes, de tôdas as idades. Jóias! Entre êles estavam um senhor e sua espôsa, egressos de outra igreja. Êle, vendedor duma casa de móveis, aceitou a verdade com sinceridade e júbilo imenso.

Êle e a espôsa assentavam-se quase sempre nos mesmos lugares na igreja, cada sábado. Um sábado, ao ir o pastor para o púlpito, notou que a espôsa estava presente, mas faltava o marido. Depois do sermão, cumprimentando o povo à saída, perguntou à espôsa:

— Onde está o seu marido?

— Oh! pastor, disse ela, está trabalhando! Eu gostaria que o senhor fôsse a nossa casa para falar com êle.

— Trabalhando! Mau, mau! Por certo irei vê-lo! respondeu êle.

Na tarde de domingo o ministro foi à casa dêles. A casa estava edificada num alto, um pouco afastada da rua e, ao descer o pastor da condução, olhou para cima. O marido, que estava no alpendre, vendo-o chegar encaminhou-se para dentro de casa, deu meia-volta, olhou para êle, tornou a voltar para dentro da casa, e uma vez mais voltou para cumprimentá-lo. Era verão. Êle perguntou ao pastor se preferia ficar no alpendre ou ir para dentro. O pastor preferiu o alpendre. Nisso veio de dentro a espôsa, e todos se sentaram. Por algum tempo falaram de assuntos banais, mas o ministro podia notar que o irmão estava desassossegado — esperando, dir-se-ia, que sôbre êle desabasse uma condenação.

Ao chegar o momento oportuno, o pastor lhe disse:

— Sentimos a sua falta, sábado.

— É! respondeu êle, não me foi possível ir.

— Que aconteceu? irmão.

— Tive que trabalhar. O boi caiu numa cova.

— Sinto muito, respondeu o ministro. Sabe o irmão que sentimos muito quando o irmão não vai à igreja? Nós o amamos e, saiba que também Deus sente a sua falta.

— Obrigado, pastor, foi tudo quanto pôde dizer.

Conversaram um pouco mais, e o pastor despediu-se. Domingo à noite o crente estava na igreja, bem como no sábado seguinte e em vá-rios outros. Novamente, porém, em dia de sá-bado, notou o pastor a sua ausência. Ao sair da igreja a espôsa, perguntou-lhe o pastor:

— E seu marido, onde está?

— Oh! pastor, êle está de novo trabalhando, disse ela, com alguma excitação que denunciava ser-lhe difícil admiti-lo.

Que deveria o pastor fazer? Domingo à noite o irmão foi à igreja. À saída, depois do culto, o pastor o cumprimentou, dizendo-lhe:

— Senti a sua falta, ontem.

— Não pude evitar, pastor. E, sem deter-se, desceu a escada, indo postar-se junto às grades, no pátio fronteiro à igreja.

Logo que pôde, o pastor desceu e foi ter com êle. Pondo-lhe um braço sôbre o ombro, perguntou :

— Irmão: Que aconteceu?

— Oh! Tive que trabalhar de novo. O boi tornou a cair na cova!

— Ah! Sabe o irmão duma coisa? perguntou o pastor.

— Não. Que é?

— Se eu fôsse o irmão entulharia essa cova ou me desfaria do boi!

Isso o fêz rir por uns momentos. Então o pastor, apertando-o num abraço, disse:

— Lembre-se de que sentimos a sua falta e o amamos, e queremos tê-lo conosco nesta jornada para o Reino.

Acontece que havia, e ainda há, nessa igreja um casal de crentes que perceberam o que estava acontecendo com êsses crentes novos, e decidiram fazer-se amigos íntimos dêles, amá-los. e animá-los, e exercer vigilância sôbre êles. Sentaram-se juntos na igreja, juntos iam a reuniões sociais e eram também encontrados juntos em reuniões públicas e particulares. Semelhante amor sempre dá bom resultado. Êles lhes foram uma inspiração e ajuda.

Passaram-se semanas, até que um dia, o gerente da loja de móveis disse ao nosso irmão:

— O senhor terá que trabalhar sábado. Fulano adoeceu e Sicrano está ausente, em férias. O senhor terá que vir.

— Não poderei, foi a firme resposta.

— Escute — disse-lhe o gerente — o senhor terá que escolher entre o trabalho ou a sua religião. Ou um ou outra. Precisamos do senhor aqui sábado. Se não vier, teremos que conseguir outra pessoa que venha. Pense e responda-me.

— Não precisarei de prazo para pensar, foi a firme resposta.

— Quer isso dizer que trabalhará sábado?

— Não! Preciso obedecer a Deus. Não poderei trabalhar sábado.

— Não me diga que prefere perder o emprê-go a trabalhar no sábado!

— Sim senhor, assim é realmente.

— Remeter-lhe-ei o aviso legal de desemprê-go, foi a resposta:

Isso aconteceu na hora do almôço. Nosso irmão atravessou a rua, onde falou ao gerente duma loja de móveis maior que a de que era empregado, e perguntou se necessitava dum vendedor. Foi-lhe respondido que sim. Consegui imediatamente o emprêgo, com aumento de salário e o sábado livre.

Surge a pergunta: Onde conseguiu êle tôda aquela coragem? Uns meses antes trabalhara quando lhe foi mandado fazê-lo. Por que não esta vez? Foi o amor dos irmãos que operou a diferença. Nessa sua hora de nova prova amparara-se no amor de Deus e dos irmãos, e vencera.

Mais tarde êsse mesmo irmão, excelente vendedor, abandonou o emprêgo de vendedor de móveis, tornando-se excelente colportor. E, agora, é auxiliar do diretor do Departamento de Publicações numa de nossas Associações. Contou-me êle, faz uns poucos meses, que nunca esquecerá a maneira em que os irmãos o amaram quando mais necessitava de amor.

Todos os membros de nossas igrejas precisam justamente dêsse amor, e talvez se amássemos como nos amou o nosso Mestre, teríamos menos apostasias. Não nos fará bem lembrar que é sòmente a graça divina que nos livra da apostasia? Nada temos de que ufanar-nos. Só Jesus nos pode conceder a fôrça de permanecer firmes contra a tentação. Em nós mesmos não possuímos poder algum que nos salve.

Conta-se de João Wesley que, andando por uma rua duma cidade da Inglaterra, viu um grande grupo de pessoas e, aproximando-se e olhando sôbre o ombro dos que ali estavam, viu um bêbado caído na sargeta. Ficou assim observando durante alguns momentos, até que alguém reconheceu o grande evangelista, e’ perguntou-lhe:

— Êsse homem é seu parente, Sr. Wesley? (pois notara lágrimas a rolarem-lhe pela face.)

— Não, não é.

— Por que, então, está o senhor tão comovido?

— Veio-me ao pensamento que, se não fôsse pela mercê de Deus, êsse seria o João Wesley.

Assim é, amigos leitores. A graça divina nos sustém. Nós, pobres, fracas criaturas de carne, nada temos de que nos ufanar; nada, além de derrota e pecado e, sem o poder de Deus, não seríamos melhores do que outros que já fracassaram e estão fracassando. Oh! exerçamos mais compreensão, mais consideração, mais superabundante amor, para ajudar os nossos irmãos e irmãs que lutam com as hostes das trevas e fracassam!

Oh! Ajude-nos Deus a, ao dizimarmos a hortelã, o endro e o cuminho, não esquecer o juízo, a misericórdia e a fé.

A Devida Atitude Para com as Normas

Há entre nós quem fracasse por não ter com-preensão. Alguns neófitos fracassam por não poderem ver o “porquê” das coisas exigidas. As normas estabelecidas por líderes, muitas vêzes motivam dificuldades, especialmente entre os jovens. As tentações dos jovens são problemas que muitas vêzes se situam além da tolerância dos líderes que não são tão tentados.

Por exemplo, faz umas poucas semanas veio ter comigo, em meu gabinete, um de nossos ministros jovens, excelente homem, de bons propósitos, enérgico e cheio do desejo de ganhar almas. Ao olhar para êle verifiquei que adotara um feitio de bigode tipo escova de dentes. Eu lhe perguntei:

— Onde arranjou você isso aí?

Êle compreendeu a que eu me referia.

— Na Flórida, em férias, foi a resposta.

— Para quê? perguntei-lhe a seguir.

Êle olhou para o chão, depois enfrentou de novo o meu olhar, dizendo:

— Para mudar de aspecto, parece-me.

Sorrindo, respondi-lhe:

— Cuidado, então, com a maneira em que tratar com as mocinhas e as senhoras que por acaso usem “baton”. Que diferença existe en-tre um bigode usado para mudar de aspecto e o “baton” usado para o mesmo fim?

Naturalmente, as pessoas fazem coisas para melhorar a própria aparência! Não exatamente para seguirem os costumes mundanos, mas por julgarem que melhoram a sua aparência pessoal — tornam-se mais belas, ou jovens, ou o que quer que seja. Lembro-me do tempo em que usávamos barba — barbas longas, curtas, suíças, cavanhaques. Oradores, advogados, doutores, ferreiros, pedreiros e todo homem importante ou humilde, usava barba sempre que possível. Depois alguém começou a rapá-la. Surgiu o invento da navalha de segurança, e hoje, apenas meia geração distante do tempo das barbas, elas são estranhas, estrambólicas, excêntricas. Por quê? Êsse é o caso. Passaram de moda. Nós, homens, hoje em dia, não desmerecemos um rosto bem barbeado. Ao contrário, é até exigido — exigido apesar de, nalgum tempo da história do mundo, o cortar a barba ser considerado uma calamidade; porque se Deus não houvesse assim determinado, não teria feito o rosto do homem igual ao da mulher? Ora, nós, os pregadores, seguimos a moda, o costume do modernismo. Por quê? Porque no terreno da salvação isso não faz diferença alguma.

Tempo houve em que os homens usavam colarinho de laçada, meias brancas até aos joelhos, sapatos com fivelas largas e chapéu de três bicos. Por quê? Era moda! Houve tempo em que nem os pregadores usavam gravata. Por quê? Moda! Moda, então, é importante, e visto que, uns mais, outros menos, somos to-dos por ela influenciados, não será sábio da nossa parte não fazermos da moda ponto de salvação? Antes, “seja a vossa eqüidade notória a todos os homens.” Sêde modestos; tardios para condenar.

Do ponto de vista feminino, o cabelo comprido, cabelo encrespado, cabelo cacheado, cabelo liso, pó-de-arroz, cintas, saias abertas, saias compridas, saias curtas, saias de comprimento médio; mangas curtas, mangas compridas, blusa sem mangas; isso ou aquilo — tudo são assuntos de moda, mas a modéstia e a moderação devem governar os filhos de Deus, lembrando êles que são cidadãos do reino celestial.

Nossa ocupação não é condenar os atos alheios. Não é cristão o julgar. E a acusação é do diabo.

A Nossa Ocupação

Qual é, então, a nossa ocupação? Nossa ocupação é seguir a Jesus, viver como Jesus viveu. Por certo Êle estêve ocupado demais com amar e ajudar o povo, para que tivesse algum tempo para ajustar-lhes a maneira de vestir e comer, e não encontro em parte alguma menção nenhuma de que assim houvesse procedido.

Achamos, sim, um relato extraordinário em S. João 8; a história de uma mulher apanhada em adultério. Fôra ela levada a Jesus pelos pregadores da época. “Mestre,” disseram êles, “esta mulher foi apanhada no próprio ato, adulterando. E, na lei, (as normas da igreja) nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” Reza o relato que Êle na-da respondeu a princípio, mas, inclinando-Se, escrevia com o dedo na terra. Êles, entretanto, insistiam na pergunta, de forma que Jesus Se indireitou e disse-lhes: “Aquêle que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.” E, tornando a inclinar-Se, escrevia na terra. Não sabemos o que terá escrito. O fato é que foram acusados pela própria consciência e saíram sem que um único dentre êles atirasse qualquer pedra de condenação. Reza o relato que “endireitando-Se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aquêles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem Eu também te condeno: vai-te, e não peques mais.”

Admirável Jesus! Êle não veio ao mundo para condenar pessoa alguma; não, nem uma mulher apanhada em adultério. Ela não era uma rameira. Por certo era o que costumamos chamar filha de família, talvez desviada por algum homem casado e apanhada no próprio ato do adultério. Caso singular, por certo. Não obstante, embora a acusação fôsse inquestionável, não impugnada, e sem dúvida verdadeira, o Rei da glória, nosso Senhor, nosso Salvador, disse: “Nem Eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.”

Oh! se pudéssemos ser hoje como Êle foi! Sua preocupação exclusiva era salvar. E nossa ocupação é o que foi a Sua, a mesma ocupação que teve quando aqui estêve. Lembrar-nos-emos de que disse: “Aquêle que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela”? E não buscaremos, pela graça de Deus erguer os caídos, socorrer os fracos, suster os abatidos e transmitir esperança aos de-sanimados? Visto que a nossa ocupação é a do Mestre, não agiremos nós, irmãos e irmãs, como Êle agiu?