Mais de uma vez tenho passado por humilhações em meu ministério, tanto pastoral como educacional, em virtude de minha ineficácia no trato com problemas espirituais críticos. Ao refletir sobre essas experiências, cheguei à conclusão de que a maioria de tais insucessos tinha sua raiz na falta de preparo. E a falta de apreciação pelos recursos disponíveis e à mão. Nesta reflexão vi, mais de uma vez, a história da igreja em microcosmo.

Tão freqüentemente falamos sobre “a igreja”, que passamos por alto um ponto de extrema importância: nós somos a igreja. Assim, quando falamos sobre problemas da igreja, falamos de nossos próprios problemas. A medida de nosso sucesso em nosso ministério será a medida do sucesso da igreja; a medida de nosso fracasso é, por correlação, a medida do fracasso da igreja. Por falta de preparo, e, por conseguinte, por ineficácia, a igreja tem estado muitas vezes em posição desoladora, enquanto os homens, por sua vez, têm afundado no desespero. Tragicamente, muitos têm chegado à conclusão de que a igreja está morta como instituição espiritual, ou, se viva e lutando, totalmente fora de contato com a realidade.

Se a igreja é fraca e falha, é porque nós praticamos um ministério sem vida. A natureza humana, entretanto, tem uma tenacidade tal que a leva a mudar de uma direção da qual não lhe vem socorro, para outra de onde o auxílio pode vir.

É A RELIGIÃO INADEQUADA?

Há, nas Escrituras, uma experiência que nos dá a essência de problemas humanos e sua solução. O Salmo 73 contém a história de um homem que, embora praticante da religião formal, havia achado a religião inadequada para as perplexidades da vida. Contudo, ele não foi precipitado em pôr de lado sua religião. Antes, buscou primeiro ajuda dos líderes espirituais de seu tempo.

Os problemas deste homem não eram diferentes dos que encontramos diariamente. Ele estava confuso pela inconsistência dos homens de seu tempo. Ficara perplexo pela visível prosperidade dos ímpios e confuso pela indiferença de seus pares pela total bancarrota da moralidade. E, nesta confusão, buscou auxílio. “Se há Deus, por que Ele permite tais coisas? Onde está Deus, no momento em que devia estar levando estas coisas a um fim? Se Deus realmente existe, por que não responde a minhas orações?”

Buscando resposta a essas indagações, como que lhe foi dito, em essência: “Sim, existe Deus, mas não é Ele essa infantil imagem de um pai que você alimentou em sua mente. Ele é um Deus grande, grande demais para estar preocupado com coisas triviais como os acontecimentos deste mundo ou com os de sua vida. Pragmaticamente, Deus está morto!”

O herói deste salmo era uma pessoa racional. Se Deus estava realmente morto — e a proposição parecia-lhe racional em vista das condições sociais de seu tempo — então era um perfeito absurdo dedicar-se mais ao que havia sido sua religião até agora. Assim, como o faria um intelectual honesto, ele alijou de si sua fé religiosa. Virou as costas à igreja e saiu a proclamar sua recém-encontrada liberdade. Ora, não percam de vista o significado deste último ponto. Ele era um homem que tinha chegado ao ponto de abandonar sua fé. Estava livre, tranqüilo, não mais sujeito a conceitos fora de moda de seus antepassados; e agora se dispunha a levar aos outros seus novos pontos de vista.

Como é da natureza de quase todas as narrativas bíblicas, os pormenores não contam. Neste caso, não nos é dada a explicação de como ou por que as coisas tomaram o rumo que tomaram; mas o relato bíblico nos informa que antes de chegar a levar a outros sua experiência, ele encontrou a igreja.

O resto do salmo contém o louvor deste homem pelo seu encontro com a igreja e pelo fato de não ter chegado a causar prejuízos a outros em virtude de sua temporária perda de fé no Deus vivo. Em outras palavras, ele descobriu que Deus não estava morto; ao contrário, estava bem vivo, e a diferença era a descoberta deste fato em sua experiência.

CEPTICISMO MODELA O PENSAMENTO HUMANO

Vivemos hoje num século de desintegração espiritual e moral, quando o cepticismo modela o pensamento humano. Não é afirmar demais que o homem vive hoje num ambiente de crise — de muitos tipos de crises. Em geral, é nos períodos críticos da vida que a consciência religiosa é despertada. Ela conduz a uma busca de respostas. E nestas indagações, como no Salmo 73, as pessoas têm a oportunidade de encontrar a igreja, talvez por vosso intermédio, ou por meu intermédio. Se estivermos fora de forma em nosso ministério, o desejo humano de alívio é tal que eles buscarão ajuda em outras fontes. E sabemos que outros ministradores serão encontrados, ministradores que na verdade serão prejudiciais, por isto que podem oferecer cura apenas parcial.

Seria um insulto à inteligência pôr em dúvida a medicina Psicossomática. Desde 1930, temos tido mais do que empírica evidência de que, aquilo que o homem crê, afeta sua saúde, tanto mental como física.

Não precisamos minimizar o grande progresso que se tem feito no tratamento de enfermidades mentais e seu relacionamento com manifestações físicas. Na busca de saúde mental, entretanto, tem sido geralmente esperado que a religião colabore com o comportamento das ciências, e nunca a ele se oponha. Assim, quase que por omissão, o clérigo se encontra substituído pelo cientista.

AUMENTAM AS ENFERMIDADES MENTAIS

Um estranho e perturbador paradoxo nos confronta. A despeito de nosso crescente progresso no campo da psicologia, de nossa progressiva técnica de sofisticada psicoterapia, e da aceitação cada vez maior de ambas, enfermidades mentais estão aumentando em vez de diminuir. Devido a uma multidão de fatores, o sofrimento das pessoas não tem diminuído, mas se tem agravado penosamente. Isto tem produzido considerável preocupação entre os que trabalham no campo da saúde.

Ora, seria grosseira mistificação se fôssemos atribuir ao psicoterapeuta ou ao procedimento do cientista a causa em si desse mal, embora alguns, como Fromm e Mowrer, estejam prontos a afirmar que eles não podem ser totalmente absorvidos. O fato é que eles, como nós mesmos, estão muitas vezes tratando apenas os sintomas das enfermidades em vez de as causas.

Quando examinamos de perto a psicoterapia, descobrimos que alguns dos instrumentos mais eficazes são implementos tomados emprestado à igreja. Esses processos incluem ouvir, encorajar, aconselhar e transferir, até o ponto em que o paciente encontre segurança em poder confiar no conselheiro. A despeito do fato de que a técnica ao terapeuta é muito mais multiforme que a do ministro, a cura da alma está gravitando cada vez mais fora das mãos da igreja para as mãos do psiquiatra. Por quê?

Uma das razões, possivelmente, é que os pacientes preferem causas físicas para suas dificuldades; e o psiquiatra, sendo médico, pode encontrar tal causa. Se consegue encontrar essa causa, então o paciente está livre da necessidade de enfrentar a realidade de sua vida interior. Uma causa no corpo é geralmente menos perturbadora do que uma causa no caráter.

O PRESTÍGIO VESTE O PSIQUIATRA

Uma segunda razão é que os pacientes temem ao pastor. Tenho-me sentido esmagado desde que deixei o ministério formal para descobrir até que ponto o leigo deixa de ter confiança no homem de Deus. Ele teme que o pastor faça um sermão, ou oração, ou julgamento moral de seu caso. Este pode ser um dos fatores que contribuem para a popularidade do conselho não diretivo.

Outro fator pode ser o vasto prestígio da ciência médica que reveste o psiquiatra. Muitas pessoas são encorajadas em sua confiança pelos tremendos êxitos da medicina moderna, e transferem essa confiança ao psiquiatra em virtude de sua identificação com a medicina. As vitórias da igreja, entretanto, são de gerações passadas.

Também pode ser que muitos, considerando o psiquiatra diferente do clérigo, creiam que ele está mais em dia com importantes descobertas sobre a mente humana. Há um sentimento de que o clérigo tem usado todo o seu conhecimento com pouco sucesso, e que não há novos conhecimentos que ele possa utilizar e que sejam de benefício, ao paciente.

À luz destas considerações, não é difícil à mente moderna chegar à conclusão: “Aqui está um novo ramo da Ciência. Deus, se existe, tem demonstrado que só opera mediante leis naturais.” E não são poucos os membros do clero que abonam esta idéia.

Um fato sobremodo importante pesa grandemente contra esta solução totalmente secular. Este fato é sempre insistente verdade de que o que um homem crê determina em grande medida tanto a sua saúde física como mental. A fé religiosa, por ser básica, muitas vezes se torna a mais importante de todas as crenças. Algumas autoridades estão convencidas de que uma das razões por que a psiquiatria não tem sido mais bem-sucedida ainda, é sua predisposição secularista de descartar a religião como fator benéfico para fixá-la apenas como fator causai de distúrbios mentais.

Gostaria de explorar a mais significativa contribuição que pode ser feita à saúde mental e na qual o clérigo tem uma definida vantagem sobre o psiquiatra típico. A moderna psicologia dá muita atenção à agressão, hostilidade, rivalidade, poder à ansiedade, mas atenção apenas microscópica aos elementos de amor dos relacionamentos humanos. Temos a tendência de esquecer que esses estados negativos, sempre presentes nas desordens mentais, são desenvolvimentos secundários. Aparecem quando o plano de atividade da vida sofre distúrbios. O que tem estado a reclamar nossa atenção é arregimentação de fenômenos reativos que resultam da ausência ou da privação do amor. A segurança que resulta de ser amado e de dar amor a outros é a base de saudável existência em qualquer idade da vida.

Por contraste, a religião oferece uma interpretação e regra de vida baseadas inteiramente no amor. Ela chama a atenção continuamente para este terreno fundamental. A ênfase sobre isto é insistente em toda a Escritura.

É possível que esta própria insistência da religião tenha, em parte, sido responsável pelo “adorável tabu” que tem marcado muito da psicologia. Havendo rejeitado a perspectiva religiosa para a cura das almas, a Ciência considera esta cura como mais realística, e centra-a nas condições reativas do homem — o ódio, a agressão, o impulso sexual, etc.

AMOR DE DEUS, MAIOR ANTÍDOTO

Uma mudança, entretanto, tem estado a desenvolver-se, e já os psicólogos estão conotando mais e mais a incondicional necessidade da criança por segurança e amor dentro do lar. Em alguns exemplos, esta segurança está sendo descoberta como igualmente válida entre adultos que têm apaixonada fome de associação com a família, com seus colegas e com a comunidade. Maior potencialidade para cura existe na afiliação com o infinito — pertencer a Deus, identificar-se com Ele e ser aceito por Seu amor.

Em outras palavras, minha proposição é que o amor de Deus ainda é o maior antídoto para os males do homem. Pela própria relutância da terapia secularmente orientada em prescrever este remédio, conclui-se que é tempo de os homens de Deus ocuparem este vazio — e todos devemos ser homens de Deus.

Nunca cesso de maravilhar-me do poder restaurador que existe na correta relação entre o homem e seu Deus. Não faz muito, estive em contato de aconselhamento com um homem tão inseguro de sua própria identidade que compulsivamente coletava tudo no sentido de aumentar o seu prestígio e convencer os outros — e especialmente a si mesmo — de que era alguma coisa; que sua pessoa era importante; que havia algum tipo de significado para sua existência. A transformação havia, depois que adquiriu compreensão do amor de Deus, particularmente no que se podia ver desse amor no sacrifício expiatório de Cristo, não foi me-nos que miraculosa. O compreender que ele, na realidade, era importante a ponto de ser notado por um Deus infinito, que era suficientemente desejado a ponto de ser redimido pela morte do Filho de Deus — esta compreensão do amor de Deus fez por ele alguma coisa que nada no mundo poderia ter feito.

Não ousaria negar que a moderna psicologia tem ajudado a muitas pessoas. Não negaria que em seu corrente vocabulário muitas pessoas têm encontrado novos intuitos. Mas é aqui que uma interessante possibilidade se apresenta a nossa geração. Não há aqui a possibilidade de que muitos de nossos jovens, levados pelo simbolismo e fé da psicologia, quando em face das perplexidades da vida possam encontrar a refrigerante e apropriada expressão da Palavra escrita, plena de significado para a sua experiência? Há hoje os que encontrariam a beleza iluminadora e refrescante das Escrituras, se tão-somente houvesse alguém que as lesse para eles.

Como vedes, nosso problema não é o não termos nada eficaz para os males da humanidade, mas sim em que temos sido ineficazes em comunicar nossas soluções. Temos estado tão obcecados com a idéia de que há “gigantes” ministradores na Terra que temos perdido a fé no Deus que prometeu dar-nos a Terra em possessão.

Não devíamos ir ao encontro das pessoas precisamente quando estão considerando, e interrogando, e buscando o significado da vida? Não as vemos ponderando sobre que forças têm prevalecido contra elas? Não notamos que em muitos desses casos essas horas de recolhimento e indagação representam precisamente o solo fecundo para a semente espiritual?

É justamente porque encontramos diariamente tais pessoas que temos necessidade de um ministério dinâmico.

E. STANLEY CHACE, pastor e educador