Pouco antes de me formar em Teologia fui chamado para ser o pastor da “Igreja que Navega”, um projeto inédito e desafiador que consiste numa embarcação/auditório com capacidade para 150 pessoas, que visa à pregação do evangelho em comunidades ribeirinhas e tribos indígenas da Amazônia. Eu e minha esposa, Natália, aceitamos a tarefa e, após a formatura, iniciamos nossas atividades ministeriais. Em agosto de 2017, seguimos para uma comunidade que fica cerca de 40 horas descendo o rio Amazonas. O povoado era católico, e um pastor já havia sido expulso violentamente de lá. Fiquei pensando em qual seria a melhor estratégia para alcançar aquelas pessoas. Lembrei-me, então, de que a melhor estratégia seria amar a todos, inclusive quem viesse a nos ferir.
Começamos o evangelismo com o auditório cheio. Tínhamos 150 cadeiras disponíveis e ainda precisamos providenciar mais. Visitamos as pessoas todos os dias. Oramos com elas, ouvimos seus dramas e compartilhamos o evangelho. O tempo foi passando, e fui aprendendo a amar nossos novos amigos. Queria que todos aceitassem a Jesus como Salvador. A série ia muito bem; entretanto, no meio dos trabalhos, descobri que estava com câncer.
Eu havia ido ao médico numa sexta-feira para fazer exames, com o propósito de retornar no domingo seguinte. Contudo, quando o especialista viu alguns tumores, pediu-me para cancelar a viagem. Perguntei se poderia ser câncer. Então ele me disse que aqueles tumores raramente eram benignos, e que teria que retirá-los imediatamente. O médico ainda me informou que faria a cirurgia antes mesmo de esperar o resultado da biópsia. Assim, começamos os procedimentos para agilizar a operação, a fim de não atrapalhar o evangelismo.
Poucos dias depois fui operado e, graças a Deus, a cirurgia foi bem-sucedida. Quando me senti melhor, pedi ao médico para voltar ao trabalho. Ele me autorizou a viajar, mas me disse que, dependendo do resultado, eu deveria regressar imediatamente.
O evangelismo estava progredindo, e as expectativas eram boas. Minha preocupação era ter que interromper a série para voltar ao hospital, caso fosse necessário. Então pedimos a uma amiga, médica, que buscasse o exame. Quando minha esposa ligou para saber o resultado, percebi em seu semblante as más notícias. E agora? Deveria retornar? Ela me aconselhou a entrar em contato com o médico, para saber o que fazer.
Liguei para o especialista, que confirmou o diagnóstico. Entretanto, ele me deu uma boa notícia. Os exames demonstraram que não havia evidências de metástase em nenhum lugar do organismo. Os tumores estavam restritos; assim, a cirurgia havia sido suficiente. Eu deveria apenas fazer exames periodicamente. Louvado seja Deus pelo grande livramento! Segundo os médicos, os pacientes descobrem esses tumores quando eles já estão espalhados pelo corpo. Se esse fosse meu caso, o evangelismo teria sido prejudicado.
Enquanto dirigia a série de conferências, minha oração era para que o Senhor me ensinasse a amar aquelas pessoas. Muita gente pensa que a maior necessidade dos moradores do interior do Amazonas é de saúde, educação ou saneamento básico. Embora isso seja necessário, tenho percebido que a maior necessidade deles é de amor. Apesar das lutas, procuramos amar cada novo amigo e temos visto o poder do evangelho na vida deles. Deus me livrou de um câncer para que eu pudesse testemunhar vidas transformadas por Seu amor!
Durante o evangelismo, havia cerca de 120 participantes por reunião. Como resultado, 96 pessoas foram batizadas, e uma linda igreja foi construída. Agradeço a Deus o milagre da cura; mas o maior milagre foi despertar em mim o desejo de amar as pessoas. A vida no interior do Amazonas não é fácil, mas hoje, além das dificuldades exteriores, há algo mais que pesa sobre mim diariamente: a preocupação com todos aqueles que precisam de esperança, amor e salvação.
Reno de Aguiar Guerra é pastor da “Igreja que Navega”