Em 22 de outubro de 2014, dia que marcou os 170 anos do Grande Desapontamento, tive a oportunidade de estar na fazenda de Guilherme Miller, acompanhado por alguns amigos. Ali, renovei meu compromisso com o Senhor e refleti mais amplamente sobre o legado deixado pelos pioneiros do adventismo. Eles nos deixaram preciosas lições, as quais gostaria de compartilhar nesta reflexão.

Compromisso com a Bíblia

Os pioneiros eram profundamente comprometidos com o estudo da Bíblia. O líder do movimento milerita, Guilherme Miller, dedicou 16 anos examinando as Escrituras, antes de começar a pregar. José Bates, de New Bedford, Massachusetts, percorreu quase 300 km em direção a uma igreja em Washington, New Hampshire, a fim de estudar a questão do sétimo dia. Depois de compreender e aceitar essa verdade bíblica, tornou-se um disseminador da doutrina, colaborando diretamente para que o casal Tiago e Ellen White aceitasse a observância do sábado, conforme as Escrituras.

Durante o período de desenvolvimento doutrinário (1844-1848), os líderes do adventismo sabatista empregaram muitas horas de oração, jejum e estudo da Bíblia. De acordo com Ellen G. White, algumas vezes, eles passaram “a noite toda em solene investigação das Escrituras, para compreender a verdade para o nosso tempo” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 25).

Em um período em que o “assim diz o Senhor” corre o risco de ser substituído por novos paradigmas hermenêuticos, olhar para os exemplos de Miller, Bates e do casal White serve como constante lembrança a respeito da sólida plataforma teológica sobre a qual a Igreja
Adventista foi erigida.

Ousadia na proclamação

Outra característica destacável dos pioneiros foi a ousadia com que proclamavam a mensagem. No movimento milerita, Josué Himes foi o responsável por estabelecer um trabalho estratégico com publicações em inglês, francês e alemão, alcançando vários países. Com intrepidez, ele se empenhou na aquisição de uma grande tenda, capaz de abrigar cerca de quatro mil pessoas, armada em cidades onde os pregadores não tinham o apoio das igrejas locais. A presença da chamada “tenda do pai Miller” era, por si só, um ousado desafio publicitário!

No adventismo sabatista, a obra de publicações assumiu, desde o início, um papel semelhante àquele exercido no milerismo. Em 1848, Ellen G. White foi impelida por uma visão a incentivar seu esposo a começar um pequeno jornal. No ano seguinte, Tiago publicou o Present Truth. Em 1850, nasceu a Second Adventist Review and Sabbath Herald, conhecida como Adventist Review. Por meio desse periódico, os pioneiros encontraram um elemento unificador que contribuiu muito para o estabelecimento da igreja.

É importante ressaltar que, em meados do século 19, a mídia impressa havia se tornado o principal veículo de comunicação nos Estados Unidos. O aumento da alfabetização, da urbanização e do poder aquisitivo, aliado à alteração de valores sociais e ao desenvolvimento de novas tecnologias de impressão, contribuiu para essa conjuntura. Assim, os adventistas estavam inseridos no que havia de mais moderno e eficaz em termos de divulgação da mensagem.

Igreja-movimento

Por último, os pioneiros entendiam que a igreja era um movimento, não monumento. O milerismo sacudiu as estruturas religiosas da sua época. A pregação profética impulsionou uma forte onda evangelística. Recursos foram empregados para a publicação de jornais e panfletos. Pregadores saíram convictos de que tinham de alcançar o maior número de pessoas. Cristãos apelaram para que seus familiares e amigos assumissem um compromisso com o Senhor.

Após compreenderem o papel escatológico de 1844, os líderes do movimento não pouparam esforços para disseminar as boas-novas, por todos os meios. Assim, os adventistas do sétimo dia eram constantemente incentivados a manter viva a noção de movimento contínuo e ascendente. Todas as atividades deveriam ser realizadas considerando o propósito único de preparar um povo para o encontro com o Senhor.

Penso que estas características dos pioneiros: compromisso com o estudo da Bíblia; ousadia na proclamação da mensagem; e, noção de igreja-movimento, devem nos inspirar hoje a continuar apresentando com fervor a mensagem do advento, “pois em breve, muito em breve, Aquele que vem virá, e não demorará” (Hb 10:37).