Pergunta 36
Segunda Parte (Conclusão)
2. O Apagamento do Pecado. — Mas não só os nomes serão apagados do livro da vida. A Bíblia fala também do apagamento do próprio pecado. Davi rogou: “Segundo a multidão das Tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões” (Sal. 51:1) e: “Apaga tôdas as minhas iniqüidades” (v. 9). E Neemias orou, acerca dos inimigos de Deus e de Seu povo: “Não lhes encubras a iniqüidade, e não se risque diante de Ti o seu pecado.” Neem. 4:5. O apóstolo Pedro aguardava o tempo em que, por motivo do arrependimento dos homens, seus pecados fôssem “cancelados” (Atos 3:19).
Na Escritura nota-se diferença entre o perdão e o apagamento do pecado. O perdão dos nossos pecados é muito real, e é algo que pode ser sabido e experimentado pela viva fé em nosso Senhor. No ato divino do perdão de nossos pecados são removidos de nós, e somos livres, libertos, salvos. Mas a destruição final do pecado aguarda o dia do ajuste de contas divino, quando o pecado será para sempre extinto do universo de Deus.
A Escritura ilustra claramente a diferença entre o perdão e a extinção do pecado. Tome-se, por exemplo, S. Mat. 18:23-35. Aqui se faz referência a um servo que devia ao seu senhor dez mil talentos. Nada tendo com que pagar, suplica misericórdia, o rei lhe perdoa a dívida, e êle se vai, grandemente aliviado. Encontra, porém, um conservo que lhe deve apenas cem denários. Êste segundo devedor, igualmente, não tem com que pagar, e suplica misericórdia e prazo para liqüidar o que deve. Mas, embora o primeiro servo tivesse sido perdoado, êle agora procede de maneira rude e brutal para com seu companheiro, não lhe demonstra misericórdia, e lança-o na prisão. O rei, ao ouvir isso, fica irado, e lança na prisão o servo a quem perdoara, para ali ficar até que salde tôda a dívida.
Aqui está um caso em que é retirado o perdão que fôra concedido. Jesus então acentua a lição: “Assim também Meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.” V. 35. Concordamos, em princípio, com as conclusões dos dois doutos a seguir:
R. Tuck (The Pulpit Commentary, sôbre S. Mat. 18:35), diz:
“Os ensinos de Cristo neste ponto têm mesmo um lado severo: mesmo Seu perdão pode ser revogado, se Êle observa que, por causa do nosso procedimento depois de recebido o perdão, somos moralmente inaptos para recebê-lo.” — Pág. 242.
E B. C. Coffin acrescenta, no mesmo livro:
Sua crueldade cancelou o perdão que lhe havia sido concedido. Seu último estado ficou pior do que o primeiro. Os que, tendo uma vez sido iluminados, descaem da graça, acham-se em terrível perigo. “Teria sido melhor para êles que não tivessem conhecido o caminho da justiça do que, depois de o terem conhecido, volverem costas ao santo mandamento que lhes fôra entregue.” — Pág. 223.
Alberto Plummer (Commentary on Matthew, S. Mat. 18:30 e 35) também declara:
O espírito que não perdoa, por certo que provoca a ira de Deus; tanto assim que Seu livre perdão aos pecadores deixa de os favorecer. . . . Êsse espírito revive a culpa dos seus pecados, que de outro modo seriam perdoados.
Já nos referimos à descrição do livro de Ezequiel (Ezeq. 18:20-24), do trato de Deus com santos e pecadores que mudam seu procedimento. Aí o apóstata tem cancelado o perdão, justamente como o homem da parábola de Cristo foi obrigado a assumir de nôvo o compromisso de sua dívida enorme. O verdadeiro apagamento do pecado, portanto, não pode efetuar-se no momento de ser perdoado o pecado, pois atos e atitudes posteriores podem afetar a decisão final. Em vez disso, o pecado permanece no registo até que a vida termine — com efeito, as Escrituras indicam que êle permanece até ao juízo.
A Bíblia apresenta a Cristo como nosso Advogado. “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.” I S. João 2:1. Mas Cristo não pode defender nosso caso a menos que o confiemos a Êle. Êle não nos representa à revelia de nossa vontade, nem força os homens para dentro do Céu contràriamente a sua própria decisão. E como nos dirigiremos a Êle? Diz a Escritura: “Se confessarmos os nossos pecados, Êle é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de tôda injustiça.” I S. João 1:9. Deus pode perdoar porque Cristo pagou a penalidade. Cristo é então o representante do pecador, e alega os méritos de Seu próprio sacrifício expiatório em favor do pecador.
Se todos os pormenores da vida de um homem são registados no Céu, então suas confissões também serão ali registadas, e naturalmente o fato de Cristo lhe haver perdoado os pecados. Bem se pode aplicar aqui o comentário do apóstolo Paulo: “Os pecados de alguns homens são manifestos precedendo o juízo.” I Tim. 5:24. As coisas secretas que nos tenhamos recusado a confessar, serão trazidas à luz depois que se abrir o juízo (Ecl. 12:14; I Cor. 4:5).
Quando o nome de um fiel filho de Deus aparecer a juízo, o registo revelará que cada um dos pecados foi confessado — e foi perdoado graças ao sangue de Cristo. A promessa diz: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos.” Apoc. 3:5. Cristo expõe o princípio: “Todo Aquêle que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de Meu Pai que está nos Céus; mas aquêle que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante de Meu Pai que está nos Céus.” S. Mat. 10:32 e 33. A nós, parece-nos claro que teremos de continuar nossa fidelidade através da vida tôda, se queremos que Cristo nos represente no juízo.
Quando Cristo Se encarrega de um caso no tribunal celestial, não existe a mínima possibilidade de perder Êle a questão, pois conhece todos os fatos, e é capaz de aplicar o remédio. Quando Êle confessa diante de Deus e dos santos anjos que o pecador arrependido se acha revestido das vestes de Seu caráter imaculado, isto é, as vestes brancas que lhe serão fornecidas, ninguém no universo poderá negar a êsse homem salvo a entrada no reino eterno de justiça. Então, naturalmente, é a ocasião de serem para sempre apagados os seus pecados, pois Cristo o reivindica como Lhe pertencendo.
Decididos todos os casos, poderá então provir do trono o decreto: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.” Apoc. 22:11.
A Bíblia serve-se de várias figuras para expressar a completa obliteração dos pecados do povo de Deus. Diz o profeta Miquéias: “Lançará todos os nossos pecados nas profundezas domar.” Miq. 7:19. Descreve-o Davi: “Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.” Sal. 103:12. Por meio do profeta Jeremias prometeu Deus: “Perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais Me lembrarei.” Jer. 31:34. E por meio de Isaías proclamou Deus: “Eu, Eu mesmo sou O que apago as Tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados não Me lembro.” Isa. 43:25. Dir-se-ia que Deus quisesse varrer do universo tôda lembrança do pecado, de modo que das experiências tristes e penosas desta vida “não haverá lembrança. .. jamais haverá memória delas.” Isa. 65:17. O apagamento de todo o trágico registo dos pecados é parte do plano de Deus, tão positivamente como o é o perdão.
A seguinte descrição do juízo investigativo, da pena de Ellen G. White baseia-se, cremos, inteiramente nas reveladas verdades da Palavra de Deus, como as expusemos nas páginas precedentes:
“Ao abrirem-se os livros de registo no juízo, é passada em revista perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus. Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos. Todo nome é mencionado, cada caso minuciosamente investigado. Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes. Quando alguém tem pecados que permaneçam nos livros de registo, para os quais não houve arrependimento nem perdão, seu nome será omitido do livro da vida, e o relato de suas boas ações apagado do livro memorial de Deus…. Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido do pecado e que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como seu sacrifício expiatório, tiveram o perdão aposto ao seu nome, nos livros do Céu; tornando-se êles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o seu caráter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão apagados e êles próprios havidos por dignos da vida eterna.” — O Conflito dos Séculos, págs. 482 e 483.
3. O Último Fim do Pecado e dos Pecadores. — Os adventistas do sétimo dia crêem que, de 1844 para cá, até à segunda vinda de Cristo, é o período do juízo investigativo. A êste período nos referimos como o antitípico Dia da Expiação. Mas durante êsse tempo, como é indicado no serviço típico ou simbólico, a obra da salvação prossegue continuamente para tôda a humanidade, cumprindo assim o tipo. Entretanto, justamente antes de nosso Senhor vir em tôda a Sua glória, termina a misericórdia e o tempo da graça, como se acha indicado em Apoc. 22:11 e 12.
Quando, no serviço típico, o sumo sacerdote concluía sua obra no Dia da Expiação, vinha êle à porta do santuário. Então se realizava o ato final com o segundo bode, Azazel. De maneira semelhante, quando nosso Senhor completar Seu ministério no santuário celestial, também Êle Se apresentará. Quando isto fizer, terá para sempre expirado o dia da salvação. Cada alma terá então tomado sua decisão, a favor ou contra o Filho de Deus. Então será imposta a Satanás, o instigador ao pecado, a responsabilidade de haver iniciado e introduzido a iniqüidade no universo. Mas êle em nenhum sentido expia vicariamente os pecados do povo de Deus. Todos êsses pecados Cristo tomou plenamente sôbre Si, expiando-os vicàriamente, na cruz do Calvário.
Tendo concluído Seu ministério como sumo sacerdote, nosso Salvador retorna então à Terra, em glória, e é então que Satanás é lançado no abismo, onde êle e seus confederados de rebelião permanecerão por todo o milênio a que faz alusão Apoc. 20:1 e 2. A Terra é então seu cárcere, e êle se verá em meio a uma completa devastação. Depois, no final dos mil anos, os ímpios mortos ressuscitam, e com o diabo e seus anjos, são lançados no lago de fogo. Esta será sua recompensa: a segunda morte, ou morte eterna (Apoc. 20:13-15). (Ver perg. 42.)
Em Mal. 4:1 lê-se: ‘O dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo.”
Contemplando aquêle dia, em que terá sido apagado todo e qualquer vestígio de pecado, disse o rei Davi: Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos ’ do Senhor serão como o viço das pastagens: serão aniquilados e se desfarão em fumaça.” Sal. 37:20. “Mais um pouco de tempo e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar, e não o acharás. Mas os mansos herdarão a Terra, e se deleitarão na abundância de paz.” Vs. 10 e 11. “Pois a Terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.” Hab. 2:14. Dizemos, pois: “Bendito para sempre o Seu glorioso nome, e da Sua glória se encha tôda a Terra. Amém, e Amém.” Sal. 72:19. — Questions on Doctrine, págs. 423-445.