Sete princípios que definem o estilo de liderança pastoral efetiva 

Cada época tem seu próprio modo de estudo e prática de liderança. Como líderes cristãos, devemos começar com a Bíblia. Uma forma de focalizar os conceitos bíblicos de liderança é o estudo da vida de seus grandes personagens.

Este artigo esboça um estudo sobre as lições de liderança que podemos captar da vida de José. Juntas, elas formam o que podemos chamar de “fator José”. Esse fator reúne sete habilidades essenciais de liderança que estão bem de acordo com as pesquisas atuais sobre o assunto. É verdade que tem havido avanços na teoria e prática da liderança; mas, como outros ramos de pesquisa, avaliaremos a utilidade desses estudos à luz da Palavra viva de Deus.

Escolha

O primeiro e mais notável elemento da liderança de José mostra que nada em sua origem familiar poderia prever que ele seria um líder efetivo. Considere os “negativos” de seus antecedentes: José era filho de Jacó, um polígamo que tinha quatro esposas rivalizando entre si. José tinha dez irmãos nascidos de três mães diferentes; ele e seu irmão mais novo partilhavam a mesma mãe. Seu avô, Labão, enganou Jacó, fazendo-o casar-se com Lia que não era sua primeira escolha.

Outros negativos incluem duas outras mães que eram substitutas. José perdeu a mãe quando era jovem e seu pai o favorecia, porque ele era o filho da velhice, o primeiro filho do primeiro amor de Jacó. Mas isso lhe atraiu somente amargura e o ódio de seus irmãos. Apesar desses antecedentes, José galgou notáveis alturas na liderança. Aos 30 anos, se tornou o primeiro ministro do Egito (Gn 41:39-46).

O que fez a diferença? Ele escolheu um caminho diferente do que teria sido escolhido por outros com semelhante origem. Pesquisas sobre os antecedentes de líderes corporativos revelam que os sobreviventes de sérias adversidades, em vez de se tornarem permanentemente depressivos, se tornam grandes líderes, quando “usam a experiência como um momento de definição”. As dificuldades os fortalecem.1

Visão

O segundo conceito no fator José de liderança é visão, o sonho que guia líderes e liderados à desejada condição futura. O sonho de José (Gn 37:5-9) esboçou o plano de Deus para sua vida. José sabia que fora chamado para liderar. Seu sonho proveu o ritmo que orientou sua vida através dos altos e baixos. Isso mostra exatamente como a visão funciona no exercício da liderança. Ela conserva viva a chama da esperança, no coração e mente de líderes e liderados. Sem visão, não há liderança.

Muitos líderes têm atestado a importância da visão como diretriz do desempenho organizacional. Tendo em vista criar um banco nacional, James Stillman, presidente do Citicorp, de 1891 a 1909, e gerente, de 1909 a 1918, empregou pessoas com quem partilhou sua visão e espírito empreendedor. Sam Walton, fundador do Wall-Mart, visionou estabelecer uma organização varejista de baixo custo. Paul Galvin, fundador da Motorola, sonhou em construir uma grande e duradoura companhia; e Wall Disney desejou fazer felizes as pessoas, levar alegria às crianças e modelar a imaginação delas.

O que distinguiu esses líderes foi o fato de que eles foram visionários organizacionais,2 ou seja, anteviram e construíram empresas permanentes. A visão deve desafiar, inspirar, arregimentar forças numa direção comum. Ela desempenha “papel fundamental em designar o futuro, ao servir como dianteira no processo de elaborar estratégias”.3

Consideremos o lado eclesiástico da nossa organização. Embora as orientações sejam designadas para facilitar solidariedade em função, não raro, tais orientações são marcadas pela conformidade em vez de liderança visionária. Essa condição prevalece em muitos lugares porque as orientações não apenas expressam valores organizacionais; elas criam os limites da organização. A cultura organizacional forma os parâmetros para liderança aceitável e função dos liderados. Esses parâmetros de conformidade explicam por que alguns líderes, no ramo eclesiástico de nossa instituição, frequentemente são encontrados com ceticismo. Outros líderes, mais sanguíneos, captam essa mensagem e logo se tornam gerentes cautelosos, em vez de líderes corajosos e visionários.

Muito de nossa energia organizacional está concentrada em supervisão, em vez de capacitação para visão. Pesquisadores modernos mostram que os líderes devem favorecer a opinião daqueles que desejam e são hábeis para exercer liderança, a partir da base. Os que estão engajados em fazer o trabalho da instituição são capazes de “ver” inconsistências e outros perigos que poderíam não ser aparentes à liderança executiva. As opiniões comprometidas devem ser encorajadas e protegidas. Como Martin Luther King Jr., todo líder deve ser capaz de dizer: “Eu tenho um sonho”. A visão impulsionará a organização para seu futuro. Embora nenhum aspecto da instituição possa reclamar perfeição, nosso lado eclesiástico deve se envolver em aprendizado intraorganizacional, como acontece em nossas instituições de saúde.

Perseverança

Os inesperados vaivéns da vida de José – da cisterna, à prisão e ao palácio – foram sublinhados com uma constante: perseverança. Embora os primeiros 30 anos de sua vida sejam significativos, José viveu 110 anos. Isso significa que viveu fielmente, em meio à prosperidade, por 80 anos depois de sair da prisão (Gn 50:22). Os líderes são chamados para correr uma longa distância na vida.

Liderança perseverante pode ser observada melhor diante da adversidade. Não é fácil liderar (1Tm 4:16; 2Tm 2:3). Não raro, os líderes enfrentam desânimo, rejeição, ridículo, ressentimento, falsidade entre outros desafios. Entretanto, a história de José demonstra que a rejeição sofrida pelo sonhador não mata seus sonhos. Alguns líderes têm dificuldade para se recuperar da rejeição, mas não José. Pois seu caráter e visão foram beneficiados.

A liderança moderna mostra que os ousados sobreviventes da adversidade, como José, perseveraram, apesar dos desafios internos e externos de suas empresas. R. H. Macy faliu sete vezes antes de alcançar êxito em seus negócios. Lee Iacocca poderia ter-se desesperado, mas aceitou o desafio de administrar a Corporação Chrysler, em bancarrota. Porém, sua liderança levou a empresa ao sucesso. Perseverança requer resistência diante dos desafios, para que o líder se torne cada vez mais forte.

Autogerenciamento

Pondere sobre o autogerenciamento como terceiro ingrediente do fator José. Uma descrição de José o apresenta como “formoso de porte e de aparência” (Gn 39:6). Temos ouvido de líderes que têm explorado seu dom de sedução física ou política em prejuízo de si mesmos, seus familiares e da organização. Caso você tenha sido abençoado com atração física, lembre-se de que deve utilizá-la para honra de Deus e progresso do Seu reino. Como parte de sua influência capital, a atração deve ser utilizada em benefício de outros; e o autogerenciamento é a capacidade de subordinar nossos impulsos aos requerimentos de nossa vocação.

A esposa de Potifar assaltou José até o limite do autogerenciamento. Quando ela tentou seduzi-lo, ele podia ter explorado sua atração. Porém, seu caráter brilhou novamente. Ele respondeu: “Como, pois, cometería eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39:9). José decidiu não ceder ao comportamento imoral, embora fosse muito fácil racionalizar. Um líder moral tem que se comportar de maneira ética e moral, fazendo sempre o que é certo, mesmo que ninguém o observe. José demonstrou maturidade espiritual, junto com caráter moral, para alcançar maior nível de liderança.

Autogerenciamento descreve a habilidade do líder para controlar seus pensamentos, emoções e comportamento. Líderes efetivos decidem se gerenciar, enquanto gerenciam outras responsabilidades relacionadas ao trabalho. Peter F. Drucker afirmou que, como os grandes conquistadores da História, um líder deve “aprender a gerenciar-se”.4 Para Drucker, gerenciamento do eu inclui autocontrole e desenvolvimento. O líder efetivo conhece seus pontos fortes, fracos, as limitações, e como se desempenham e aprendem. Por exemplo, produzo resultados como tomador de decisões ou como consultor? Trabalho bem sob estresse, ou necessito de um ambiente altamente estruturado? Para o autogerenciamento eficaz, Drucker identifica a autorreflexão, para compreensão da personalidade, atitudes, caráter e, portanto, preferência de comportamento.

Diligência

Como quarto ingrediente do fator José encontra-se a diligência, definida como consciencioso compromisso do líder com o dever, responsabilidade, ou atribuição. A diligência forma o fundamento da credibilidade da liderança. Promessas feitas são promessas cumpridas. Projetos são executados do início ao fim. A comunicação completa esse laço. Poucas coisas são mais desmoralizadoras para os liderados que os líderes que não cumprem planos nem promessas. Lee Iacocca se perdeu na segunda metade do seu mandato à frente da Chrysler devido à “falta de disciplina para permanecer dentro das áreas em que a Chrysler podia ser melhor”. Na verdade, ele passou a fazer “uma farra de diversificações altamente indisciplinadas”.5

Em lugar de lamentar oportunidades que desejavam ter tido, líderes diligentes maximizam as oportunidades que têm. José podia ter dito: “Sou destinado a governar. Não é minha responsabilidade supervisionar operações numa prisão egípcia”. Porém, sempre que podia ser útil, ele não desperdiçava a chance. Maximizou as oportunidades apresentadas, em vez de crer que a grama de outro pasto podia ser mais verde. Mesmo quando foi levado ao Egito, como escravo, ele decidiu que “serviría ao Senhor com inteireza de coração; enfrentaria as provações de sua sorte, com coragem, e com fidelidade cumpriría todo dever”.6

Deus abençoou a casa de Potifar porque José lá estava. Se a instituição não é abençoada porque você e eu servimos a ela, necessitamos parar e fazer um inventário. Em qualquer lugar que José fosse, as bênçãos o seguiam. Na prisão, ele gerenciou as tarefas de mordomo tão diligentemente que seu chefe ampliou suas ações. A prisão foi abençoada. Como resultado, José foi encarregado de todas as responsabilidades associadas com a prisão (Gn 39:22; Pv 6:6-11).

Discernimento

A seguinte pérola do fator José denota a habilidade do líder para identificar e descobrir modelos atrás de eventos ou ações aparentemente casuais. Líderes espirituais discernem o movimento de Deus nas circunstâncias da vida. No cenário do encontro relatado em Gênesis 45:5-8, o testemunho de José forma uma clássica declaração sobre discernimento providencial: “Deus me enviou adiante de vós… Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus”. Até esse ponto na história, o leitor permanece sob a impressão de que José foi vendido. Mas, como um vice-faraó de 40 anos, José utiliza o termo hebraico shalach, derivado da raiz primitiva “enviar”. José liga os pontos de sua experiência passada e afirma: “Deus me enviou. Como um apóstolo, missionário, ou embaixador, Ele me enviou adiante de vós”.

Pelo fato de José articular esse dom de discernimento no ponto alto da narrativa, alguém poderia concluir que ele não o havia compreendido anteriormente. Na verdade, ele fez isso nove anos antes. Na ocasião em que foi levado ao faraó para lhe interpretar o sonho das vacas magras e gordas (Gn 41:1-10), José viu o caminho de sua vida. Então, a porção original da visão de Gênesis 39 foi cumprida. Entretanto, o cumprimento do segundo elemento da visão, a reverência prestada por seus irmãos, foi materializado nove anos depois.

Líderes cristãos são chamados não apenas para discernir, mas também para reconhecer a mão de Deus, compreender Sua vontade e providência, “ouvir” Sua voz e “ver” Suas realizações. Discernimento é dom de Deus!

Compaixão

O sétimo e último componente do fator José de liderança é a compaixão, a habilidade do líder para estender graça aos liderados que falham. Essa graça pode ser transformadora. Pesquisadores descobriram que tal atitude para com o errante liberta ofendido e ofensor. Jesus restaurou Pedro (Jo 21:15-19). Paulo expressou desejo de ter de volta Marcos, a quem anteriormente julgara incapaz para o ministério (2Tm 4:11). Líderes efetivos praticam a arte de perdoar, esquecer e apoiar os que os decepcionaram.

Os irmãos de José erraram em relação a ele, da pior forma imaginável. Ele podia ter aproveitado a oportunidade para a desforra, e até podia justificar isso, mas não estava interessado em vingança. Gênesis 41:51 mostra a cura das lembranças. O primeiro filho de José nasceu enquanto ele estava no Egito e recebeu o nome de Manassés, cujo significado é: “Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento”. O segundo indicador de que José resolveu suas experiências traumáticas está no verso 52, onde se lê que deu ao segundo filho o nome de Efraim, ou seja: “Deus me tornou próspero na terra da minha aflição”.

O fator José aponta sete características efetivas da verdadeira liderança. São qualidades desejadas por qualquer empresa hoje. Mais que isso, elas podem ser características que definem nosso estilo como pastores e líderes cristãos.

Referências:

  • 1 Ann Kaiser Stearns, Coming Back: Rebuilding Lives After Crisis and Loss (Nova York: Ballantine, 1988), p. 294.
  • 2 James C. Collins e Jerry I. Porras, Business Leadership: A Jossey-Bass Reader (Koboken, NJ: John Wiley & Sons, 2003), p. 373-403.
  • 3 Burt Nanus, Ibid., p. 359.
  • 4 Peter F. Crucker, Harvard Business Review, março-abril 1999, p. 65-74.
  • 5 James C. Collins, Good to Great, p. 132.
  • 6 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 214.