Pergunta 41

Por que não aceitam os senhores a crença, mantida geralmente de que por ocasião da morte o homem vai, ou para o Céu ou para o inferno? Esta crença é tão amplamente adotada pelos cristãos da maioria das denominações, que se tornou hoje uma das doutrinas ortodoxas no espírito da maioria dos guias eclesiásticos.

O estado do homem na morte tem intrigado os doutos através dos séculos. Muitos líderes ilustres têm diferido entre si quanto a esta doutrina, e não poucos têm discordado da opinião popular. (Ver a perg. 44.) Os adventistas têm procurado seguir o que eles crêem ser o ensino da Escritura Sagrada quanto a receber o homem, ao morrer, sua recompensa imediata, ou repousar na sepultura, aguardando a manhã da ressurreição.

Nós, adventistas, chegamos à definitiva conclusão de que o homem descansa na tumba até à manhã da ressurreição. Então, na primeira ressurreição (Apoc. 20:4 e 5), a ressurreição dos justos (Atos 24:15), estes ressurgem imortais, ao chamado de Cristo, o Doador de vida. Participam então da vida eterna, em seu lar eterno, no reino da glória. É assim que compreendemos o assunto.

  • I. A Morte Como é Descrita na Escritura

No Antigo Testamento a palavra “morte” se refere quase exclusivamente à morte física. No Novo Testamento ela assume outras nuances de sentido, como se vê nas várias palavras gregas usadas. O termo usado com mais freqüência é thanatos, que quer dizer, ou morte física, ou uma indiferença carnal às coisas espirituais, ou uma insensibilidade aos assuntos divinos. As palavras gregas para “sono” — tais como koimao, katheudo, e hupnos — muitas vezes traduzidas por “sono,” referem-se freqüentemente ao sono da morte.

W. E. Vine (Expository Dictionary of New Testament Words, 1939, Vol. 1, pág. 81), observa o seguinte:

Este uso metafórico da palavra sono é apropriado, por motivo da semelhança que há entre um corpo adormecido e um corpo morto.

Referindo-se ao sentido de “morte,” diverso do de morte física, os autores do Novo Testamento declaram que os que condescendem com os prazeres da impiedade são “mortos” embora vivam (I Tim. 5:6); os que estão fora de Cristo acham-se “mortos em ofensas e pecados” (Efés. 2:1); os que se convertem a Deus passam “da morte para a vida” (S. João 5:24); os que nasceram de novo estão “mortos para o pecado” (Rom. 6:11); e o verdadeiro filho de Deus “nunca verá a morte” (S. João 8:51).

  • II. Estado do Homem na Morte

As Escrituras expõem claramente o estado do homem na morte. Os textos seguintes respondem a muitas perguntas que nos vêm ao pensamento.

Sal. 6:5 — “Na morte não há lembrança de Ti; no sepulcro quem Te louvará?”

Sal. 30:9 —“Que proveito há,… quando desço à cova? Porventura Te louvará o pó? anunciará ele a Tua verdade?”

Sal. 88:10 — “Mostrarás Tu maravilhas aos mortos, ou os mortos se levantarão e Te louvarão?”

Sal. 115:17 — “Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio.”

Sal. 146:4 — “Sai-lhes o espírito, e eles tornam-se em sua terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.”

Ecles. 9:5 e 6 — “Os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol.”

Isa. 38:18 e 19 — “Não pode louvar-Te a sepultura, nem a morte glorificar-te; nem esperarão em Tua verdade os que descem à cova. Os vivos . .. esses Te louvarão.”

I Cor. 15:17 e 18 — “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé. . .. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.”

* Reconhecemos que todos os homens, tanto os justos como os ímpios, morrem. Mas o sentido dessa passagem é que os filhos de Deus não experimentarão a segunda morte.

  • III. A Ressurreição, e Não a Morte, é a Esperança dos Santos

Em todas as cartas apostólicas, é impressionante o fato de que o fundamento da mensagem evangélica era o fato de haver Jesus, o Messias, ressurgido dentre os mortos. Em parte alguma referem os apóstolos que Sua alma tivesse voltado do Céu. Mencionam expressamente que Ele ressurgiu dos mortos (S. Luc. 24:3-6). Isto é repetido várias vezes. “Sua alma não foi deixada no Hades” (a sepultura); (Atos 2:31; Sal. 16:10), ou seja, no hebraico, sheol, embora Ele tivesse derramado “a Sua alma na morte” (Isa. 53:12).

A ressurreição é chamada a esperança do cristão. (Ver S. João 6:39 e 40; S. Luc. 20:37; comp. com S. Mat. 11:5; S. Luc. 7:22.) Jó declarou: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a terra” (Jó 19: 25). E o salmista Davi, expressando sua esperança quanto ao futuro, declarou: “Satisfar-me-ei da Tua semelhança quando acordar.” Sal. 17:15.

Mesmo nos dias de Jesus, quando os fariseus Lhe fizeram perguntas acerca do futuro, não falaram na questão da morte, mas sim do assunto da ressurreição (S. Mat. 22:28-30). A esperança de Paulo firmava-se definitivamente nesse acontecimento culminante. Escrevendo à igreja de Filipos, expressou os anelos da alma quando exclamou: “Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dos mortos” (Filip. 3:11). (Ver também I Cor. 15:18, 22 e 23; I Tess. 4:14 e 17.) O Novo Testamento refere-se à ressurreição dos cristãos como “a ressurreição da vida” (S. João 5:29), “pela ressurreição de Jesus Cristo” (I S. Ped. 3:21).

A recompensa é dada aos santos, não por ocasião da morte, mas do segundo advento. A ressurreição dos justos dar-se-á quando nosso Salvador voltar do Céu para reunir Seu povo (S. Mat. 16:27; Isa. 40:10; II Tim. 4:8 etc.).

Outro fato importante é que, por ocasião da morte, os santos descem à sepultura. Viverão de novo, para viver com Jesus, depois de ressurgirem dos mortos. Dormindo no túmulo, os filhos de Deus nada sabem. Não lhes importa o tempo. Se ali ficassem mil anos, esse tempo se lhes afiguraria um instante apenas. A pessoa que serve ao Senhor, cerra os olhos ao morrer, e quer decorra um dia, quer decorram dois mil anos, seu próximo momento consciente será quando abrir os olhos e contemplar seu bendito Senhor. Para ele, segue-se à morte a súbita glória.

  • IV. Primeira e Segunda Mortes

Conquanto não apareça na Bíblia a expressão “primeira morte,” usa-se a outra, “segunda morte,” em Apoc. 2:11; 20:6 e 14; 21:8). Esta segunda morte associa-se com a punição final dos ímpios, e indica, aliás, uma morte da qual não existe ressurreição. A primeira morte é obviamente aquela que resultou da transgressão de Adão. Desta primeira morte, ou sono, haverá uma ressurreição para toda a humanidade. Isto se aplica a todos, justos e injustos, pois as Escrituras dizem claramente que “havera ressurreição, tanto de justos como de injustos” (Atos 24:15). Bem observa Alberto Barnes, sobre S. João 11:11:

Nas Escrituras, a palavra sono é usada para dar a entender que a morte não será final: que vai haver um despertar desse sono, ou seja, uma ressurreição. Ê uma expressão bela e tema, que remove tudo que na morte é terrível, e enche a mente com a idéia de calmo repouso após uma vida de labuta, com alusão a uma ressurreição futura com aumentado vigor e faculdades renovadas.

  • V. Alguns já Voltaram da Sepultura

Se, por ocasião da morte, uma alma ou espírito consciente deixasse imediatamente o corpo, indo para o Céu ou para o inferno, que seria, então, dos que morreram e já ressuscitaram? Tiveram eles qualquer coisa a nos contar? Há pelo menos sete casos de pessoas que ressuscitaram dentre os mortos: o filho da viúva (I Reis 17); o filho da sunamita (II Reis 4); o filho da viúva de Naim (S Luc. 7:11-15); a filha de Jairo (S. Luc. 8:41, 42 e 49-56); Tabita (Atos 9:36-41); Êutico (Atos 20:9-12); e Lázaro (S. João 11:1-44; 12:1 e 9).

Sem dúvida alguns desses tinham morrido havia pouco, pois segundo o costume dos judeus, o sepultamento se dava no mesmo dia do falecimento. (Ver A. T. Robertson, Word Pictures, sobre S. João 12.) Lázaro, porém, fazia mais tempo que morrera — “quatro dias,” segundo disse Marta.

A pergunta que naturalmente surge é a seguinte: Foi a alma dessas pessoas, imediatamente após a morte, ou para o Céu ou para o inferno? Neste caso, seria rematada crueldade tirar alguém do Céu, onde, uma vez chegado, naturalmente esperaria ficar para sempre. Devolver alguém, dos domínios da bem-aventurança, para este vale de lágrimas, seria expo-lo ao risco de pecar de novo, e perder assim a recompensa eterna. Por outro lado, alguém que fosse chamado do inferno, como se entende geralmente, dar-lhe-ia isto muita satisfação por livrar-se do castigo, e teria ele outra oportunida-de aceitar o evangelho da graça de Deus.

Se a alma, por ocasião da morte, fosse ou para o Céu ou para o inferno, certamente os que já ressuscitaram falariam das glórias da terra celestial, ou advertiríam os pecadores, em termos positivos, dos tormentos dos condenados. Entretanto, não existe registo de haverem eles dito uma palavra sequer. Quão estranho é que, se é certo que a alma ou espírito sobrevive à morte, como entidade consciente, não tenhamos nenhuma palavra de qualquer dos indivíduos mencionados, acerca do que lhes aconteceu durante o período em que estiveram mortos!

Excelente comentário sobre o assunto aparece em Expositor Bible, de W. Robertson Nichol:

Qual foi a experiência de Lázaro, nesses quatro dias? Especular quanto ao que ele viu ou ouviu ou experimentou, traçar o remígio de sua alma através dos portais da morte para a presença de Deus, pode parecer a alguns tão insensato como acompanhar aqueles curiosos judeus, que afluíram a Betânia para pôr os olhos nessa maravilha: um homem que passara para o mundo invisível e todavia dele retomou. Mas, embora, sem dúvida haja bons e grandes propósitos na obscuridade que envolve a morte, não se pode julgar inteiramente ocioso nosso empenho de penetrar as sombras, e obter alguns vislumbres de uma vida da qual havemos de em breve participar. Infelizmente, é pouco o que aprendemos de Lázaro. — Volume I, sobre S. João, pág. 360.

A probabilidade é que ele nada tivesse a revelar. Como Jesus disse, Ele fora “para despertá-lo” do sono (S. João 11:11). Tivesse Lázaro aprendido quer que fosse do mundo dos espíritos, algo haveria que transparecer. A preocupação quanto a um segredo que todos os homens ansiavam por desvendar, e que os escribas e doutores da lei de Jerusalém teriam feito tudo para dele extrair, ter-lhe-ia prejudicado a mente e oprimido a vida. Seu ressurgimento deve ter sido como o despertar de um homem, de um sono profundo, mal sabendo o que fazer, tropeçando e cambaleando na mortalha, e surpreso à vista da multidão. O que Maria e Marta hão de ter apreciado foi o imudado amor que se lhe refletia do semblante, ao reconhecê-las, a mesma voz familiar e as expressões de ternura — tudo o que mostrava quão pouca mudança traz a morte, quão pequena ruptura de afeições ou de qualquer elemento bom, quão vrdadeiramente era ele ainda o irmão delas. — Idem, pág. 362.

Bem se poderia mencionar um dos santos da antiguidade. Morreu, como era natural, e foi sepultado, como o foram seus pais antes dele. Diz o registo divino: “Davi. . . morreu e foi sepultado e o seu túmulo permanece entre nós até hoje” (Atos 2:29). Dizer que foi o corpo de Davi que foi sepultado, e que sua alma foi para o reino das bem-aventuranças, por certo não estaria de acordo com o ensino da Palavra de Deus. Poderia isto estar de acordo com a teologia popular, mas a Palavra divina declara categoricamente que “Davi não subiu aos Céus” (v. 34).