Devemos buscar o poder do Consolador, na certeza de que Deus O enviará a nós, pois assim prometeu

Quais são as condições que devem ser preenchidas, a fim de sermos dotados com o poder do Espírito Santo? Na edição anterior desta revista, analisamos quatro das sete condições para que isso se torne realidade em nós, conforme reveladas no Novo Testamento: arrependimento, implícita confiança, obediência e conscientização do nosso dever de alcançar pecadores com a mensagem de salvação.

Neste artigo, abordaremos as três últimas condições: persistente intercessão, honra ao templo do corpo e permissão para que Cristo habite em nosso coração.

Persistente intercessão

Em uma de Suas parábolas, Jesus ilustrou a persistente intercessão, ao falar a respeito do vizinho importuno. Ele ensinou: “Eu lhes digo: Embora ele [o vizinho] não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar. Por isso lhes digo: Peçam, e lhes será dado… Pois todo o que pede, recebe… Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos Céus dará o Espírito Santo a quem O pedir!” (Lc 11:8-10,13).

A expressão “persistente”, ou “importuno”, é mais suave do que a palavra grega original anaideia, cuja tradução pode ser “desavergonhado” ou “atrevido”.1 De fato, Deus não está, absolutamente, relutante em nos conceder o Espírito. A questão é a seguinte: Estamos nós tão famintos para tê-Lo, de modo que jamais aceitemos um “não” como resposta, nem deixemos Sua presença até que a porta seja aberta? Semelhantemente ao vizinho da parábola, podemos ser insistentes e audaciosos em pedir Àquele que é gracioso.

Corrie ten Boom, cristã holandesa que sofreu intensa perseguição por haver, com sua família, ajudado centenas de judeus a escapar do nazismo durante a segunda guerra mundial, se tornou uma das mais ardentes proclamadoras do perdão e graça de Deus na Europa. Sua pungente história foi imortalizada no livro The Hiding Place [O Esconderijo]. Depois da guerra, ela se ocupou em vários ministérios, inclusive o de ajudar um companheiro holandês, o irmão Andrew, a clandestinamente disseminar Bíblias em territórios comunistas.

Naquele tempo, parecia impossível conseguir que o trabalho fosse feito, por causa de restrições governamentais, suspeitas e outros inumeráveis impedimentos. A vida dos que estavam envolvidos nesse ministério estava em constante perigo. Porém, eles sentiam a responsabilidade de colocar a Palavra de Deus nas mãos daqueles que nada sabiam a respeito do Deus do Céu.

Quando as portas pareciam fechadas, o irmão Andrew, Corrie ten Boom e outros líderes reuniam-se para orar sem cessar, implorando a intervenção do Senhor na situação. Testemunhas falaram a respeito da ousadia de Corrie diante do Senhor: “Senhor, faça alguma coisa!”, ela orava. “Não há tempo a perder.” Então, como um advogado no tribunal, ela citava a Palavra de Deus diante dEle, encontrando a passagem exata e, argumentando com base no que estava escrito, insistia em que Ele devia responder. Com a Bíblia em punho, ela clamava: “Aqui, Senhor, leia o que o Senhor disse.”2

Isso não significa desrespeito, mas confiança diante de um Deus santo. “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16), porque Deus Se agrada imensamente quando nós colocamos nEle todo o peso de nossa confiança (Hb 11:6). Escrevendo sobre o dever de orar, Martin Lloyd-Jones disse: “Você terá essa mesma santa ousadia… entregando o caso a Deus, reivindicando Suas promessas. Oh, isso é todo o segredo da oração, penso algumas vezes… Não O deixe em paz. Incomode-O com Suas próprias promessas. Apresente-Lhe o que Ele disse que faria. Cite as Escrituras para Ele… Isso Lhe agrada… Deus é nosso Pai, nos ama e gosta de nos ouvir reivindicando Suas promessas, citando Suas palavras e dizendo: ‘À luz disso pode o Senhor recuar?’ Isso deleita o coração de Deus.” 3

Se você genuinamente deseja ser cheio de Deus até transbordar, peça e continue pedindo, até que isso aconteça. Então, continue pedindo as inexauríveis riquezas celestiais. Deus jamais esgota Sua graça. Ele não necessita ser persuadido por nós a nos garantir tudo o que tem prometido. Necessitamos apenas nos manter em oração, a fim de compreendermos quão importante isso realmente é para nossa vida. Nosso coração necessita de persuasão pela insistência.

Honrando o templo

A condição seguinte encontrada no Novo Testamento para a capacitação pelo Espírito Santo é honrar nosso corpo como templo de Deus: “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo” (1Co 6:19, 20).

Através da história, várias filosofias e ideias têm levado religiosos e outras pessoas respeitadas a considerar o corpo humano como sendo destinado apenas ao prazer. Por exemplo, durante os tempos apostólicos (At 17:18), os epicureus acreditavam que o maior bem era a prudente busca do prazer e ausência de sofrimento. Embora isso parecesse inofensivo e pregasse contra excessos, o foco era sobre o que faz com que uma pessoa se sinta bem. O extremo da filosofia era alguma forma de hedonismo, o qual ensinava descaradamente que a busca do mais elevado prazer para o corpo era o mais elevado bem. Por essa razão, os hedonistas se entregavam ao prazer sexual.

Hoje, em nome dos direitos individuais, as pessoas, principalmente nas sociedades ocidentais, se sentem muito protetoras de seus direitos para fazer o que desejam com seu corpo. Assim, ninguém deve criticar a coabitação homossexual, o sexo extraconjugal, nem mesmo os mais hediondos e pervertidos tipos de liberdade de expressão prontamente acessíveis na internet. O prazer governa. Essa atitude também é alimentada pela crença no dualismo, ou seja, a ideia de que o domínio físico é distinto e separado do espiritual. Mas pesquisas têm estabelecido claramente que o que acontece ao corpo afeta profundamente o espírito e a mente.4

A Bíblia ensina que nosso corpo é o templo, a residência, do Espírito Santo. Consequentemente, se desejamos que o Espírito habite em nós, temos que glorificar a Deus com nosso corpo (1Co 10:31). Isso também é parte da mensagem adventista ao mundo: “Temam a Deus e glorifiquem-nO” (Ap 14:7). O Espírito Santo afeta fisicamente nosso corpo. “O Espírito Santo… renovará cada órgão do corpo de modo que os servos de Deus possam trabalhar aceitavelmente e com êxito. A vitalidade aumenta sob a influência da ação do Espírito.”5

Se desejamos o Espírito Santo, se queremos dar lugar a Deus em nossa vida, simplesmente não podemos tratar nosso corpo de qualquer maneira que desejarmos. “Pois se vocês viverem de acordo com a carne”, Paulo nos lembra, “morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão” (Rm 8:13). Não podemos comer o que e quando quisermos, usar e abusar do nosso corpo, trabalhar até o esgotamento, sem que isso afete nossa habilidade para perceber o amor e a vontade de Deus para nossa vida. Se formos prósperos na saúde, também o seremos espiritualmente (1Jo 3:2).

Assim, as escolhas pessoais afetam nossa saúde física e exercerão impacto à saúde espiritual.

“Se você genuinamente deseja ser cheio de Deus até transbordar, peça e continue pedindo até que isso aconteça”

Portas abertas a Cristo

A última condição encontrada no Novo Testamento para que sejamos capacitados pelo Espírito Santo é permitir que Cristo habite em nosso coração. Se devemos ter Jesus, devemos ter o Espírito. Considerando que o ministério do Espírito Santo é glorificar a Jesus (Jo 16:14), ter o Espírito significa ter a própria imagem de Deus reproduzida em nós. “Do seguinte modo sabemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu” (1Jo 3:24).

Se não desejamos que Cristo habite em nosso coração, então nada mais a respeito da vida cristã fará nenhum sentido. O que realmente importa em nossa vida é Cristo. É por isso que Ele está ministrando em nosso favor no santuário celestial, e o Espírito ministra a nós aqui na Terra. Caso você perceba que ainda não deseja que Cristo habite em sua vida, mas gostaria que isso mudasse, não se desespere. Deus sempre conhece nossa relutância em aceitá-Lo de todo o coração. Ajoelhe-se e simplesmente peça que Ele lhe dê o desejo de ter Jesus permanentemente em sua vida. Você ainda não viu milagres, até que veja o que Deus pode fazer com esse pedido sincero do coração.

Muitos anos atrás, quando eu ainda pastoreava igrejas na Califórnia, certa mulher apareceu em nossa igreja. Semelhante ao óleo na água, ela instantaneamente repelia as pessoas. Ex-adventista, ela era escrava do cigarro, insensível, tinha um estilo de vida imoral e era possuída pelo demônio. Parecia ter vinte anos mais do que sua idade real. Não tinha amigos e mudava de um lugar para outro, porque ninguém lhe abria portas. Eu era jovem e não soube fazer mais do que ouvi-la e tentar ver se a Palavra de Deus poderia invadir aquela pobre criatura. Eventualmente, me tornei seu único amigo.

Naqueles dias, o Senhor estava realizando um trabalho espiritual muito importante em meu coração e no de minha esposa. Estávamos crescendo no amor a Ele e na experiência de buscar Sua face com muita satisfação. Certo dia, o escritório da igreja recebeu uma ligação daquela irmã, solicitando que o pastor ou outra pessoa da igreja fosse à casa dela. Era urgente! Minha secretária e eu telefonamos para vários líderes procurando alguém que pudesse me acompanhar naquela visita. Eu achava melhor não ir sozinho, mas ninguém estava disponível. Depois de orar, decidi que iria assim mesmo.

O lugar era escuro, havia uma ou duas velas bruxuleantes. Ela me pediu que não acendesse as lâmpadas. Então, soou uma voz: gutural, grave, diabólica, de arrepiar os cabelos. Não era voz humana. Aquela não era minha primeira experiência de enfrentamento de maus espíritos, mas não era menos irritante. Ela falava pouco, enquanto fumava no escuro. Era impossível ver a face dela, pelo que fiquei realmente agradecido. Não sabendo exatamente o que fazer, abri a Palavra de Deus e li algumas passagens das quais ela escarneceu e desdenhou. Fiz perguntas que ela não soube responder. Depois de algum tempo, elevei a Deus uma simples, mas fervorosa oração pedindo que Ele perdoasse os pecados dela, a libertasse do poder do mal, que a graça e a paz do Senhor enchessem seu coração.

A visita terminou sem maiores incidentes, pelo menos até que eu cheguei ao meu automóvel. Tão logo entrei nele, as comportas se abriram e eu chorei como um bebê, por causa daquele pobre e miserável ser, prisioneira de Satanás, que desejava se libertar, mas não sabia como. Disse ao Senhor que eu desejaria dar minha vida em favor dela. Por mais de trinta anos tinha sido meu privilégio conhecê-Lo, e que Ele tinha sido tão gracioso, bondoso e paciente para comigo, mas o estado daquela mulher era pior do que a morte. Pedi que o Senhor desse àquela mulher a mesma alegria que eu tinha e a inundasse com Seu amor, ainda que isso significasse minha vida.

Exceto por uma vez, quando a vida de nosso bebê Alex foi ameaçada, eu nunca desejei tanto render minha vida em favor de outra pessoa. Você precisa compreender que o egoísmo, o autocentrismo, tinha sido meu deus na maior parte da minha vida. E o amor cristão que eu senti por aquela mulher, naquele dia, não era natural para mim. Era o amor de Cristo operando em mim e através de mim. Paulo nos lembra: “Deus derramou Seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu” (Rm 5:5).

Aquele foi um momento do Espírito. Logo depois desse incidente, ela desapareceu e nunca mais ouvi falar a respeito dela. Mas, talvez um dia, quando estivermos todos perfilados junto ao mar como que de vidro, uma mulher, a quem nós dificilmente reconheceremos, se aproximará de nós e dirá: “Jesus me libertou do pecado e da morte. Por isso, estou aqui.”

Referência:

  • 1 Seventh-Day Adventist Bible Commentary, p. 789. William D. Mouce, ed., Mounce’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2006), p. 1081.
  • 2 Brother Andrew and Suzan DeVore Williams, And God Changed His Mind (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1990), p. 88, 89.
  • 3 Martyn Lloyd-Jones, Revival (Wheaton, IL: Crossway Books, 1987), p. 81.
  • 4 Neil Nedley and David DeRose, eds., Proof Positive: How to Reably Combat Disease and Achieve Optimal Health Through Nutrition and Lifestyle (Admore, OK: Neil Nedley, 1999), p. 1-9.
  • 5 Ellen G. White, Review and Herald, 14/01/1902, p. 12.