Cinco características indispensáveis de um sermão verdadeiramente efetivo

Pregar não é simplesmente sermonear ou apresentar uma conferência sobre qualquer assunto, embora a prática de sermonear ou de fazer uma conferência apareça, não raro, como substituta da pregação ou compreendida como tal. A utilização desse substitutivo significa que as congregações são, com muita freqüência, submetidas a um período de 25 minutos a uma hora de falatório humano, vazio de graça salvadora. As características desse falatório variam da exibição de brilhantismo intelectual à simples arenga cheia de banalidades, destituída de qualquer conteúdo significativo. As congregações sofrem; a duras penas suportam tal situação, e, algumas vezes, encontram no sono o único meio de escapar dessa forma de perseguição religiosa.

Ser alguém chamado por Deus para proclamar Sua verdade salvadora em Cristo Jesus é um privilégio incomparável. Um privilégio que, muito freqüentemente, não é reconhecido e na maioria das vezes é desperdiçado. A tragédia não é apenas que os adoradores não são alimentados, mas que a oportunidade para que a graça e o poder divinos toquem vidas é desperdiçada. O momento de adoração toma-se assim, na melhor das hipóteses, uma experiência social com entretenimento leve e, com maior freqüência, um exercício de paciência.

Em direção a Deus

Jamais houve tempo em que a pregação estivesse livre dos seus detratores e críticos. Nem haverá. Apesar disso, em sua mais verdadeira e melhor expressão, a pregação do evangelho ergue a alma humana, levando-a à presença de Deus. O pregador toma-se o agente através do qual as necessidades humanas são conectadas ao poder divino. Deus e a humanidade se unem em um encontro divino que salva, fortalece e renova o indivíduo. A igreja necessita desesperadamente desse tipo de pregação. Qualquer coisa fora dessa realidade leva a congregação a transformar-se em um confortável grupo social de muitos matizes, isolada da realidade, do poder e da presença de Cristo.

A pregação, nos púlpitos contemporâneos, pode aparecer subvertida por apresentações em power point, sermões enlatados tirados da internet, ou plagiados de livros e revistas. E os ouvintes saem famintos daquele encontro com Deus que a pregação deve proporcionar. Nenhum pregador acerta o alvo todas as vezes. Há ocasiões em que as coisas não dão certo, tudo sai terrivelmente errado, apesar dos nossos melhores esforços. Mas permanece o fato de que a pregação bíblica cria uma sólida experiência cristã.

Qualquer pessoa que tenha estado sob a pregação do evangelho vivo conhece a bênção resultante dessa experiência. Ele move homens, mulheres, jovens e crianças em direção a Deus, em uma forma definitiva.

Durante um pastorado desenvolvido por mais de 40 anos, tive o privilégio e a alegria de ouvir sermões de pregadores famosos e anônimos, ser abençoado e aproximado de Deus através das mensagens que eles pregaram. Homens como Martin Lloyd Jones, Billy Graham, James Stewart e John Stott não estão sozinhos no trabalho de ligar a alma humana com o coração de Deus. Pregadores e pastores relativamente desconhecidos, em igrejas cristãs de todas as tradições têm, através de suas mensagens cheias do Espírito, levado homens e mulheres sem conta à presença de Deus. Afinal, essa é a razão última, o alvo principal da verdadeira pregação cristã.

Elementos comuns

A igreja adventista do sétimo dia foi abençoada, em anos passados, pela existência de pregadores tais como Roy Allan Anderson, H. M. S. Richards, Norval Pease, Charles Bradford e outros. Nos dias atuais, há muitos nomes de expressão, também conhecidos por sua vida de poder e influência da pregação bíblica.

O elemento comum em todos esses pregadores sempre foi, e ainda é, a proclamação da graça salvadora e do poder de Jesus Cristo. Como Paulo, eles foram alcançados e dominados pela graça, e foram compelidos a proclamá-la. Comunicaram às respectivas audiências o que eles creram, e experimentaram o envolvimento de Deus em seu próprio coração e mente. Conseguiram mover outras pessoas porque eles mesmos foram movidos.

É muito improvável que um pregador preencha sempre as necessidades de todos os seus ouvintes. Também é verdade que a pregação derivada da experiência pessoal do pregador, com Deus e com o povo, tem mais possibilidades de auxiliar o maior número de pessoas que ouvem sua mensagem.

Toda pregação efetiva tem elementos comuns, sem os quais seu valor é significativamente reduzido. A pregação deve brotar de uma ideologia que informa e influencia como e o que o pregador crê e transmite. Esse conceito pode ser ilustrado pela oportunidade às vezes oferecida a um pastor, de pregar em uma igreja que não seja a sua. O que falará? Suponhamos que você seja convidado a falar em uma congregação a respeito da qual não tem o mínimo conhecimento. O que você dirá que signifique uma bênção àqueles que irão ouvi-lo? Como você pode esperar conectá-los a Deus?

É aqui onde uma ideologia que informa, ou a falta dela, se mostra mais dramaticamente. Um pregador deve conhecer Deus, e também deve compreender homens e mulheres com suas necessidades. Esses elementos são fruto de sua intimidade com a Palavra de Deus e seu conhecimento das pessoas, através da visitação nos lares.

A esta altura, desejo apresentar uma filosofia de pregação, que me tem ajudado muito a evitar os excessos da pobreza homilética. Apesar de que, quando reflito sobre muitos dos sermões que tenho pregado, eu me encolho de vergonha, embaraçado com minha ignorância e falta de percepção do que estava fazendo.

Hoje, quando estou preparando qualquer sermão, escrevo a sigla eric no topo da página. Esse acrônimo expressa uma abordagem ideológica da preparação da mensagem. Ele me tem livrado da tentação de pensar apenas numa palestra ou conferência, e, na maioria das vezes, de simplesmente sermonear. O eric focaliza minha mente naquilo que eu deveria fazer. Conserva-me atento para os elementos essenciais de um sermão: encorajamento, relevância, instrução/ilustração e Cristo.

Encorajamento

Todas as pessoas são beneficiadas pelo encorajamento. Ninguém o rejeita. Quando você reflete sobre a realidade experimentada por seus ouvintes, suas lutas, os difíceis caminhos da vida que têm trilhado, seus altos e baixos, você pode captar facilmente a idéia de que o encorajamento – alguma coisa que especificamente os anime – ajudará a maioria deles.

O doente será encorajado. Pais que lutam com dificuldade para encaminhar seus filhos na vereda cristã serão encorajados. Jovens com seus conflitos e questionamentos, tentando administrar o que fazer com a vida, darão boas-vindas a palavras de encorajamento. O idoso que se sente inútil, o desempregado, o doente crônico, o desanimado, cada um e todos eles serão beneficiados pelo encorajamento. Especialmente se isso vem de Deus, de Sua Palavra, conferindo significado e esperança à alma.

O encorajamento que os ouvintes recebem, vindo do coração de Deus, os erguerá e solidificará sua determinação de continuar lutando por seus ideais, perseguindo melhores coisas. Encorajamento cria esperança e abençoa a alma do ouvinte e do pregador. Ninguém o rejeita, muito menos sofre ou sente-se deprimido ao recebê-lo. Para ser efetivos, os sermões devem ter um elemento de ânimo.

Relevância

É mais fácil do que se imagina, e fatal, pregar sermões irrelevantes. Por irrelevância, quero dizer sermões que não coçam onde o povo sente a coceira. Lamentavelmente, quem não tem sido vítima – como pregador ou ouvinte – desse infortúnio?

Esse fato chamou-me a atenção alguns anos atrás quando fui convidado a coordenar o estudo da lição em uma unidade da Escola Sabatina. O assunto era “Preparação para o casamento”. Mas a unidade era composta por um grupo de senhoras idosas, algumas das quais eram solteironas. Ninguém tinha menos de 70 anos. Todos nós, felizmente, logo percebemos o aspecto humorado e irrelevante do assunto naquele caso particular. E bom humor, não graça, animou a hora do estudo. A relevância estava ausente.

A pregação deve estar direcionada às necessidades humanas com precisão germânica. Pode ter, e na verdade tem, outros aspectos; mas deve ser relevante para aqueles a quem é dirigida. Uma aspirina não pode ajudar um homem cuja perna está para ser amputada. Falar sobre os enfeites do vestuário do sumo sacerdote ou definir os parâmetros clássicos do existencialismo pode não ser relevante para a alma que se encontra lutando com o desespero e a depressão.

Nesse sentido, o pregador necessita policiar-se a fim de que não acabe malhando em ferro frio. Conheci um pastor que pregou sobre o tema da música por onze semanas em um trimestre, incluindo o sermão da Santa Ceia. Sua irrelevância contribuiu para formar uma congregação crítica e inquieta. Ao contrário disso, a pregação que é relevante forma cristãos amadurecidos que são motivados a viver a vida cristã.

Relevância e visitação pastoral se favorecem mutuamente. Um pastor visitador conhece as necessidades do seu rebanho, ao estar com as ovelhas na casa delas. Andrew Blackwood escreveu, no livro Pastoral Work, à página 213: “um ministro visitador torna devota uma congregação”. A visitação pastoral também cria despertamento no pastor para a realidade atual das carências humanas. Ajuda-o a ser relevante, como pregador, no que ele diz quando se encontra no púlpito. A visitação ainda tem outro aspecto importante: É um antídoto contra a depressão e o mal-estar ministerial. O contato com o povo nos lares dá ao pastor perspectivas da realidade e nos livra do autocentrismo doentio.

Instrução/ilustração

Ninguém nasce com experiência de vida. Aprendemos através de instrução, ilustração, imitação, aplicação e implementação. A pregação não deve somente encorajar e ser relevante, mas também ajudar as pessoas a adquirir experiência. O escopo da pregação é vasto, e a média dos nossos ouvintes não conhece tudo a respeito do assunto sobre o qual falamos. Nosso povo necessita não somente conhecer teoricamente, mas também aprender como fazer.

Como faço para exercitar a fé? Como me arrependo e confesso? Qual é o significado da Ceia do Senhor? Como faço para participar dela? Como posso testemunhar? Como posso me preparar para a volta de Jesus? Como posso estudar a Palavra de Deus de modo que consiga compreendê-la? Como devo me relacionar com a hostilidade? Como faço para viver com fé e confiança? Como devo tratar a dúvida? Como exercito a fé salvadora? As pessoas necessitam de um guia para aprender fazer, e a nossa pregação deve ajudá-las nesse sentido.

Assim, o que as pessoas necessitam é de sermões com um elemento como implícito, ou explícito, neles. Assumir que nossos ouvintes compreendem tudo o que dizemos implicitamente é um engano. Em muitos casos eles não conseguem isso, e nós devemos instruí-los sobre como aprender a viver a vida cristã com fé e confiança em seu Senhor. Acho que foi Charles Spurgeon que se referiu à ilustração como “janelas pelas quais entra a luz”. As melhores ilustrações são aquelas tiradas da nossa experiência pessoal e da experiência dos ouvintes. Muitos deles têm histórias incríveis para contar. Geralmente tomamos conhecimento delas na visitação. A ilustração deve fazer justamente isto: ilustrar.

Necessitamos evitar os ditos espirituosos, as histórias engraçadas e desnecessárias, mencionados só com o propósito de fazer o povo gargalhar. Embora a pregação deva ser intensamente interessante, não é entretenimento. O humor tem o seu lugar, mas nunca deve deslocar a verdade, ao ponto de a congregação lembrar, depois, o humor e não a verdade.

Cristo

A pessoa maravilhosa de Cristo tem de estar presente em todo o sermão. De todas as acusações e reprimendas que possam ser feitas contra a pregação e os pregadores, a ausência de Cristo no sermão é a mais séria. A reflexão sobre tal omissão deve fazer-nos lamentar profundamente. De todas os erros cometidos na pregação, esse é verdadeiramente indesculpável.

Certa vez, um colega me fez a se-guinte observação: “Você não pode colocar Cristo em todo detalhe de um sermão.” Então respondi-lhe: “Nesse caso, não pregue este sermão.” Sermões sem Cristo, freqüentemente, são nada mais que transferência de informações, arengas secas como poeira, exercício de egoísmo, vaidoso desempenho intelectual, ou apresentações mal construídas, apenas para encher 30 minutos das pessoas.

Necessitamos captar a profunda realidade das palavras de Jesus: “Sem Mim nada podeis fazer” (João 15:5). Isso especificamente inclui e se aplica à pregação. Colocar Cristo em todo o nosso sermão não é uma opção. É um item essencial, inegociável, que não devemos ousar negligenciar nem omitir.

Num passado que vai longe, ainda nos dias em que frequentava o seminário, tive um professor, o Dr. George Keough, que requeria dos alunos, independente da matéria lecionada, a leitura do livro Obreiros Evangélicos. E ainda solicitava que memorizássemos algumas passagens. Dou graças a Deus por sua perspicácia. Tenho ainda na mente algumas das porções memorizadas. Cito uma que tem sido de valor inestimável para mim:

“O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em tomo da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário. Apresento perante vós o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e redenção – o Filho de Deus erguido na cruz. Isso tem de ser o fundamento de todo discurso feito por nossos pastores.” – Obreiros Evangélicos, pág. 315.

Todo sermão deve ter Cristo como centro. Nosso dever e responsabilidade, mais que nosso privilégio, é levantá-Lo diante do povo, torná-Lo grande em seu coração e mente. As razões para isso são óbvias. Sem Jesus não há salvação. Ele é o único caminho para Deus. Não existem alternativas. Como Pedro o disse, “não há salvação em nenhum outro” (Atos 4:12).

Quando Cristo é apresentado em nossa pregação, o que está sendo proclamado não cai nos ouvidos e nos corações como algum tipo de apêndice ou algum tipo de reflexão tardia. Ao contrário disso, toma-se o corpo e a substância do que estamos dizendo e também do que é essencial para a vida bem vivida. Então a salvação torna-se possível para homens, mulheres, moços, moças e crianças. Sem Ele, nada acontece. Com Ele as pessoas são transformadas, encorajadas, fortalecidas e erguidas. E encontram liberdade, alegria, esperança e coragem. Em uma palavra, tomam-se cristãs.O eric da pregação – encorajamento, relevância, ilustração e Cristo – sempre carrega consigo a possibilidade de salvação. Essa ideologia tem potencial transformador. Não é o único método, mas tem guiado um relutante pregador a compreender que a pregação tem um propósito e uma finalidade: conectar a alma dos seres humanos com o coração de Deus, numa experiência salvadora. É um maravilhoso privilégio, e demanda nossos melhores esforços para fazê-la acontecer.

Para ser relevante, o pregador deve ter conhecimento de Deus e das necessidades humanas

De todas as críticas feitas aos pregadores, a ausência de Cristo no sermão é realmente imperdoável

Patrick Boyle, Pastor jubilado, reside em Watford, Hertsfordshire, Inglaterra