Nascido na cidade de Maués, Amazonas, há 39 anos, o Pastor Benedito Muniz con­cluiu a Faculdade de Teologia no Instituto Adventista de Ensino, em 1988. Desde o início de 1993, lidera o distrito da Igreja Central de Santo An­dré, na Associação Paulistana.

O Pastor Muniz recebeu a ordenação ao Ministério em julho do ano passado. É casado com Maria Helena Infanger Muniz. Um filho, Leonardo, completa a felicidade do casal.

Mesmo estando em período de férias, concedeu à revista MINISTÉRIO a seguinte entrevista:

MINISTÉRIO: Poderia especificar o momento e as circunstâncias em que sentiu o chamado para ser um ministro?

BENEDITO MUNIZ: Senti que seria pastor quando era um juvenil, ao ver o trabalho dos missionários no Amazonas. Entre outros, posso citar: Aldo Carvalho, que já na década de 60 pregava a Justificação pela Fé, e domi­nava a Bíblia com rara habilidade; João Wolff, cujas pregações vibrantes, sob as serin­gueiras, muito me marcaram; Luiz Fuckner, com seu arrojo e ternura; Derly Gorski, amigo dos jovens; foi quem viu em mim o embrião pastoral e trouxe-me para o IAE, em 1974.

MINISTÉRIO: Hoje, qual é a sensa­ção de ser um pastor distrital?

BENEDITO MU­NIZ: Sinto-me reali­zado. Deus tem Seus servos nas mais va­riadas funções, conforme seus dons. Mas estar junto ao rebanho é maravilho­so. Para quem ama a pregação, como os

pastores adventistas, aqui é um constante de­ safio em direção ao crescimento.

MINISTÉRIO: No seu modo de entender, o que é sucesso pastoral?

BENEDITO MUNIZ: É conseguir pôr em ação as forças da igreja. Não centralizar em si o comando da congregação. Saber ouvir e, quando necessário, ter humildade para admitir o erro. O pastor de sucesso está seguro de que sua mensagem semanal edifica a igreja e a mantém ao lado de Jesus. Ele não é inacessível, áspero, impa­ ciente, ou desprovido de ética. Antes, é compassivo, afável e temo, princípalmente com os que erram. É amoroso, sem transi­gir princípios. Não discrimina suas ove­ lhas. Não perde seus objetivos por causa dos elogios, abraços e outras manifestações de aprovação que recebe, nem devido às carrancas que inevitavelmente surgem em seu trajeto.

MINISTÉRIO: Ser pastor de uma igreja grande – o que isso significa para o senhor?

BENEDITO MUNIZ: Sinto-me grato por tantos talentos ativos que amam a Jesus e O servem com prazer. O volume de trabalho é grande, porém, se as forças da igreja sentirem liberdade de ação, o pastor fica liberado para pastorear, e os líderes administram praticamente tudo. Eles querem seu pastor pregando bons sermões, visitando e promovendo o evangelismo.

MINISTÉRIO: Fale de sua experiência ao trabalhar com os jovens.

BENEDITO MUNIZ: Somos amigos. Procuramos promover palestras, retiros espirituais, e, de acordo com os talentos que possuem, envolvê-los no trabalho.

MINISTÉRIO: Qual é o momento mais gratificante do ministério, e o mais espinhoso?

BENEDITO MUNIZ: O momento mais gratificante é aquele quando o pecador demonstra que prefere Jesus, ao mundo e seus prazeres. Fui ordenado em julho de 1993 e, desde então, o ato de batizar tem sido um momento de intenso gozo para mim. A pregação também é muito gratificante. Tenho-a como a mola mestra do meu ministério.

Quanto ao aspecto mais espinhoso, eu menciono o momento de conduzir uma comissão para disciplinar ou excluir um membro. Isso se toma ainda mais doloroso quando o motivo é apostasia. Dói mais do que levar um justo ao descanso.

MINISTÉRIO: O senhor acha que nosso púlpito está carente?

BENEDITO MUNIZ: Infelizmente não é preciso ser um especialista para concordar. Mas podemos reverter a situação. Para isso devemos, como pregadores, levar em conta três coisas. Primeiramente, precisamos de um relacionamento pessoal e diário com Aquele que ministra por nosso intermédio a pregação – o Espírito Santo. E isto não é sugestão; é mandamento (ver Atos dos Apóstolos, pág. 50, e Evangelismo, pág. 66).

“A mensagem adventista é mais que evangélica.

E fortemente escatológica. Com a Soteriologia levamos a segurança da justificação em Cristo.

Com a Escatologia levamos o sentido de urgência.”

Depois, do ponto de vista cultural, o pregador necessita de muito estudo e muita leitura diária. Ele deve ser um devorador de livros. Ter a Bíblia como o centro, juntamente com a literatura do Espírito de Profecia, e a oração como o sagrado hábito da busca do poder e aprendizado.

Finalmente, devemos lembrar que a mensagem adventista é mais que evangélica. É fortemente escatológica. Com a Soteriologia levamos a segurança da justificação e da santificação em Cristo. Com a Escatologia levamos o sentido de urgência.

A Lutero, Deus confiou a Reforma na doutrina da salvação. A nós, Ele confiou a continuação da obra de Lutero, mais o enaltecimento da Lei, como clímax do conflito. É essa mensagem que prepara um povo para a Volta do Rei e que na última hora da Terra vindica o caráter de Deus, vindicando Sua Lei. É uma tarefa tão solene e importante, que, para desempenhá-la o pregador necessita de corpo e mente fortes e saudáveis. Por isso ele deve ser também temperante.

MINISTÉRIO: Um calendário de sermões ajuda realmente?

BENEDITO MUNIZ: Sem dúvida. Um calendário de pregação, seja anual ou semestral, é indispensável. Precisamos ter objetivos na pregação. Particularmente uso um calendário semestral. Por exemplo: num semestre prego todos os sábados sobre o Espírito Santo; no outro sobre a segurança em Cristo. Às quartas-feiras, estudo com a igreja algum livro da Bíblia. Aos domingos utilizo mensagens proféticas, centralizadas em Cristo. O povo tem demonstrado aprovar, vindo aos cultos.

MINISTÉRIO: Como é realizado o trabalho de visitação pastoral em sua igreja?

BENEDITO MUNIZ: Contamos com a ajuda das Unidades de Ação da Escola Sabatina e, especialmente, dos anciãos. Eles sempre têm sob seus cuidados um determinado número de famílias.

MINISTÉRIO: O senhor recebe convites para realizar semanas especiais de oração. O atendimento a esses convites e o trabalho local não representam uma sobrecarga?

BENEDITO MUNIZ: Na escala de valores do meu ministério, como no de qualquer outro colega, Jesus ocupa o primeiro lugar. Em seguida vem a família, e, então, o trabalho. Quanto a este último item, minha atenção prioritária é direcionada ao meu distrito. Apesar de ser difícil dizer “não” a um convite, saio do distrito só uma vez por ano, conforme designação do Campo ao qual sirvo, a Associação Paulistana.

A família não sofre. Tenho um filho de três anos e oito meses, brincamos juntos diariamente. Às vezes a quantidade de tempo não é grande, mas, graças a Deus, estou seguro de que a qualidade é ótima.

Tudo está marchando sem transtornos.

“Na escala de valores das atividades pastorais, Jesus ocupa sempre o primeiro lugar. Em seguida, vem a família.

MINISTÉRIO: Entre evangelismo público e evangelismo pessoal, qual o meio mais eficiente de conquista de almas?

BENEDITO MUNIZ: Ambos têm o seu lugar. Nossos evangelistas fazem um bom trabalho. Mas, segundo afirmam alguns, são uma espécie ameaçada. A liderança da Igreja em seus vários níveis deveria investir em homens que possam continuar a tarefa.

Pelo que tenho observado, os conversos do evangelismo pessoal se mostram mais seguros, apostatam em menor escala. Mas o ideal é a união dos dois métodos.

MINISTÉRIO: Que métodos utiliza para envolvimento da igreja no trabalho missionário?

BENEDITO MUNIZ: Treinamento, em primeiro lugar. Depois, os irmãos envolvidos no trabalho são chamados a testemunhar sobre a experiência vivida, e isso serve de inspiração para os demais.

MINISTÉRIO: Como o senhor explica o fato de que, de um modo geral, a maioria ainda permanece à margem das atividades missionárias?

BENEDITO MUNIZ: Há dois motivos: primeiro, Jesus ainda não é o fascínio, o motivo maior e interior, para tais pessoas. E, segundo, falta de preparo. “Muitos teriam boa vontade de trabalhar, se lhes ensinassem a começar”, diz Ellen White.

MINISTÉRIO: E as igrejas praticamente vazias, nas noites de domingo?

BENEDITO MUNIZ: Aqui, em Santo André, temos uma novidade: o culto evangelístico realizado aos domingos, pela manhã, às 9h00. Há um ano temos o templo sempre repleto. Esta é uma experiência que se ajusta a determinadas igrejas, nas quais existem recursos para uma boa programação, e em lugares onde o povo tem, no domingo, uma vida social intensa e à noite está cansado.

Verificamos alguns pontos positivos na mudança feita: 1) O povo em geral está predisposto a ir a uma igreja, no domingo pela manhã. É uma questão psicológica. 2) Conseqüentemente, é mais fácil levar visitas. 3) Os talentos da igreja estão à disposição. 4) O pastor sempre está presente e prega. 5) A Palavra de Deus chega à mente do povo antes da televisão. 6) Pessoas que já não vão à igreja, com medo da violência, têm nova opção. Finalmente, 7) libera-se a igreja para sua vida social e o lazer.

MINISTÉRIO: Por que tão poucos filhos de pastores ingressam no ministério?

BENEDITO MUNIZ: Possivelmente alguns ainda não tiveram despertada a vocação, ou mesmo nem a possuam. Há aqueles que se decepcionam ao ouvirem as queixas nutridas pelo pai e pela mãe. Na casa pastoral deveria ser proibido falar mal da Obra, dos membros da igreja, de outros pastores, ou coisa semelhante.

MINISTÉRIO: Qual a doutrina que mais lhe impressiona e por quê?

BENEDITO MUNIZ: É a doutrina da salvação – a Justificação pela Fé em Jesus porque ela é o eixo em tomo do qual todas as outras giram. Somente ela, quando compreendida, liberta o homem da culpa, do remorso e o leva a adorar o Criador sem medo. Somente ela é que, dando a certeza da aceitação divina, toma a obediência um prazer.

Particularmente, sou grato a Deus por ter aberto os meus olhos, meu entendimento, há sete anos, para essa luz. E, especialmente, por haver-me ajudado a compreendê-la num contexto de “Verdade Presente”, isto é, tal como deve ser apresentada nos dias atuais. Justificação pela Fé, na ótica adventista, tem uma abrangência cósmica. Não estamos interessados só em ver o homem livre da condenação, mas livre dos seus traumas. Queremos ver uma igreja, produto desta mensagem, que esmague as pretensões da Besta e sua imagem; e que reflita plenamente a imagem de Jesus. Que comova os anjos e mundos não caídos. E da qual o Senhor possa dizer, em meio ao conflito final: “… aqui es-tão os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus”. Se o ponto culminante da Justiça pela Fé não for esse, a pregação pode até estar certa, mas incompleta; e não é “Verdade Presente”.

No bojo desta mensagem, estão “as verdades semelhantes”, que diferenciam nossa pregação de uma meramente “evangélica”. Nosso desafio é compreender e pregar a terceira mensagem angélica, integralmente.

MINISTÉRIO: O que, como pastor, espera dos administradores?

BENEDITO MUNIZ: Assim como o pastor distrital deve ouvir com atenção as exposições dos membros, também os administradores devem ter a mesma sensibilidade para com os pastores. Especialmente, os mais novos temos necessidade de orientação. Felizmente, em nosso Campo temos sempre ouvidos e coração abertos.

Hoje, os modernos métodos de administração concordam num ponto: aproximação entre líder e liderado. A hierarquia é tão-somente um chamado ao serviço. Cristo já falou disso. Não há mais espaço para o líder arrogante, muito menos para o método ameaçador. Para um pastor consciente tais atitudes não fazem a menor diferença. Direitos e deveres dos obreiros devem ser expostos com a mesma clareza.

Outrossim, os pastores esperam mais desafios espirituais. Desafios às reformas necessárias. Deus diz que as Associações devem se preocupar com isso (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 73). Também esperam ver iniciativa e envolvimento pessoal no evangelismo. Os administradores que possuem um estilo espiritual e evangelístico são homens de intenso labor e merecem nosso respeito.

Finalmente, se um administrador for convidado a assumir, de novo, um distrito pastoral, que o faça desprovido de sentimento de revolta ou complexos. Mas faça dessa volta o renascimento daquela emoção que o envolveu, por ocasião do primeiro chamado. Acho que o distrito é o posto máximo do pastor.

MINISTÉRIO: Em seu modo de ver, qual é a maior necessidade da Igreja atualmente?

BENEDITO MUNIZ: O Senhor já disse, através da Sua serva, que a nossa maior necessidade é de “um reavivamento da ver-dadeira piedade”. E a História nos mostra que os grandes reavivamentos sempre foram precedidos pela pregação autêntica. Assim, creio eu, necessitamos de pregação genuína; aquela pregação com a qual Deus visitou Seu povo em 1888, lá em Mineápolis, para que tenhamos uma igreja viva e desperta; pronta para a consumação da Missão Global.

Diz Ellen White: “O tempo de prova está exatamente diante de nós, pois o alto clamor do terceiro anjo já começou na revelação da justiça de Cristo… Este é o princípio da luz do anjo, cuja glória há de encher a Terra.” (R&H, 22/11/1892).

A Igreja precisa da libertadora mensagem da Justificação pela Fé. Este é o privilégio dos pregadores adventistas. Só uma Igreja segura da salvação pode, prazerosamente e reavivada, viver a ética do Rei Jesus, amar e buscar os que perecem.

MINISTÉRIO: Seu maior ideal como ministro de Deus.

BENEDITO MUNIZ: Quero contribuir para que em nossos dias vejamos nosso povo, revestido da Chuva Serôdia, cruzar os eventos finais, contemplar o Salvador em Sua formosura e viver a parousia do grande Deus.