Identificação com a vida e missão de Jesus é o sinal que distingue os que Lhe pertencem

Becher Cabrera – Pastor em La Pampa, Missão Argentina do Sul

Para muitas pessoas no mundo cristão, a figura de Cristo tornou-se apenas um slogan, um símbolo ou fetiche. Para outras, Ele é um personagem histórico, capaz de ser manipulado de tantas formas, conforme os seus objetivos. Mas também há quem O veja através da mensagem das Escrituras e encontram nEle salvação, o centro da fé e o amigo poderoso que está sempre junto, ajudando a enfrentar as provas da existência.

Mas haverá, porventura, algo novo sobre Cristo, relacionado com o povo remanescente? Possuem as Escrituras uma mensagem distinta da pessoa de Cristo para o remanescente? Para responder a essas questões é natural que observemos o modo como nos é apresentado o caráter de Jesus no Apocalipse. Nesse livro, Ele é o Cristo de toda a Igreja cristã em sua peregrinação para o reino. Mas também, e de modo especial, é o Cristo do povo remanescente em suas diversas fases na História.

A identificação

O período representado pelas sete igrejas no Apocalipse assinala a existência de um remanescente fiel. Em Éfeso, ele sofreu com paciência e trabalhou por amor a Cristo (Apoc. 2:3). Em Esmirna, sofreu tribulação e pobreza, mas se manteve fiel até à morte (Apoc. 2:9). Na igreja de Pérgamo, o remanescente se manteve firme na fé (Apoc. 2:13), e serviu com amor, fé e paciência, nos dias de Tiatira (Apoc. 2:19). No período de Sardes, apenas uns poucos não mancharam seus vestidos (Apoc. 3:4). Em Filadélfia, o remanescente guardou a palavra e não negou o nome de Jesus (Apoc. 3:8). Embora não encontremos uma referência específica ao remanescente na igreja de Laodicéia, porque ela só recebe repreensões e advertências, ele aparece em Apoc. 12:17. Aí é mencionado o caráter do remanescente do tempo do fim, e sua fidelidade aos mandamentos e ao dom profético.

Ao dirigir-se às sete igrejas, João faz isso em nome de Deus, “dos sete Espíritos” e de Jesus Cristo. Então fala do caráter e da missão de Cristo, Aquele “que é, que era e que há de vir … a fiel Testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da Terra. Aquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados e nos constituiu reino, sacerdotes para o Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém” (Apoc. 1:4-6).

No mesmo contexto da mensagem às sete igrejas, Jesus aparece em uma impressionante manifestação de poder, para assinalar Seu cuidado, proteção e domínio sobre Seu povo. O vidente ouviu uma voz como de trombeta: “… Eu sou o primeiro e o último…” Ao procurar ver quem falava, João viu sete candeeiros de ouro e, andando entre eles, Jesus (Apoc. 1:12-18).

Todas essas características são vistas na mensagem às sete igrejas. “Aquele que conserva as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros” apresenta-Se a Éfeso. “O primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver”, apresenta-Se a Esmirna. Quem fala a Pérgamo é “Aquele que tem a espada afiada de dois gumes”. E o “que tem olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao bronze polido” fala a Tiatira. Quem Se dirige a Sardes é “Aquele que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas”. “O santo, o verdadeiro, Aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abre” dirige-Se a Filadélfia. Finalmente, “o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” apresenta-Se a Laodicéia.

Essa ênfase na revelação do caráter de Cristo ao remanescente é um claro sinal da identificação divina com a Igreja e também da necessidade que ela tem de uma relação viva com o Senhor.

O caráter de Cristo

A manifestação do caráter de Jesus é vista no que Ele faz em favor do Seu povo. Ele é “a fiel Testemunha”, porque Seu testemunho é a Palavra de Deus. Portanto, Sua mensagem é autêntica, verdadeira (Apoc. 21:5). Ele conhece as obras do Seu povo (Apoc. 2:2, 9, 13 e 19: 3:1, 8 e 15); pode fazer uma radiografia completa da Igreja (Apoc. 2:23); nada Lhe é oculto. Não falhará em cumprir Seus propósitos de salvação e restauração para o Seu povo, eliminando o pecado para sempre, e condenando os impenitentes. Não deixará de consumar a transformação do caráter de Seus filhos (Apoc. 21:3-8; 22:3, 4, 7 e 20).

Jesus Cristo é “Aquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (Apoc. 1:5). Essa qualidade é central na descrição do Seu caráter. Em Apocalipse 5, Ele é o único que possui autoridade para realizar o Juízo, por ser o Redentor através da expiação: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua povo e nação” (Apoc. 5:9). A mesma idéia é repetida no verso 12: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria e força, e honra, e glória, e louvor.”

A Igreja do tempo do Juízo não oculta sua compreensão do caráter misericordioso de Jesus. Conhece-o, valoriza-o e o manifesta. Amparada por essa misericórdia, ela enfrenta a crise final. Fundamentado na justiça divina, expressa no sacrifício substitutivo de Cristo em favor do ser humano, é que o remanescente vive e enfrenta o Juízo pré-advento.

O povo de Deus experimenta a alegria da salvação pela fé, a certeza da vitória, não a partir dos seus próprios méritos, mas através da cruz. Não a partir da sua própria bondade, mas da bondade do Senhor. Por isso, o remanescente termina cantando um cântico de vitória atribuída “ao … que Se assenta no trono e ao Cordeiro” (Apoc. 7:10). Essa é a razão pela qual também permanecerá diante do trono de Deus; Lhe serve dia e noite, experimenta a transformação do caráter e viverá por toda a eternidade bebendo da Fonte da Vida. Sim, “lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7:14).

“O primogênito dos mortos, e o Soberano dos reis da Terra” (Apoc. 1:5); “Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso” (Apoc. 1:8); o “Filho do homem” (Apoc. 1:13). Essas são referências a Seu poder, autoridade e missão sobre todas as criaturas e, de um modo definido, sobre Seu povo.

A missão

Anunciar o evangelho (Apoc. 14:6) é sempre a missão de Cristo. Mas no contexto do tempo do fim, esse evangelho adquire características especiais. Em primeiro lugar, o personagem central da missão aparece na figura do “Filho do homem”, tomada do Juízo de Daniel 7:13 e 14, onde Cristo recebe autoridade e domínio, e entrega o reino à Sua Igreja: “Mas os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre” (Dan. 7:18).

Que a missão da Igreja seja expressa no contexto do Juízo é muito importante. Significa que a Igreja só pode cumpri-la se o conteúdo de sua mensagem incluir esse evento (Apoc. 14:7), e sua experiência de fé incluir os benefícios desse Juízo: “tendo nas frontes escrito o Seu nome e o nome de Seu Pai”; “não se contaminaram com mulheres…”; seguindo “o Cordeiro por onde quer que vá”, “foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro”; não se achando “mentira em sua boca” (Apoc. 14:1-5).

A proclamação e a experiência do Juízo estão unidas no remanescente. Suas atividades missionárias devem exaltar a Cristo, anunciando que, por Sua vitória na cruz, Ele tem o domínio sobre todas as coisas. Seu poder está ativo e por meio dele os homens recebem os benefícios da salvação e da santificação. O remanescente não apenas tem a mensagem certa, mas vive de acordo com ela: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apoc. 14:12).