O Pastor Don Reynolds conta que, certa vez, durante um vôo, conversava sobre aspectos de liderança com um presidente de Divisão. De repente, um outro passageiro que ouvia a conversa interferiu, comentando a suposta incoerência de certos líderes. Disse ele: “Se um líder diz que vai fazer algo, faz justamente o oposto.”
Num campo de batalha, os soldados foram instruídos para apontar suas armas primeira-mente na direção dos líderes do exército contrário, pois quando os líderes são destruídos, os soldados perdem sua força moral. Sabe-se até de soldados que abatem seus oficiais impopulares no fragor da batalha. Algumas vezes, eu me surpreendo de que essa é a analogia que melhor se ajusta à Igreja nos dias atuais.
A liderança está enfrentando tempos difíceis. Líderes estão sendo questionados, desafia-dos, desacreditados e colocados sob suspeita.
Admoestações e expectativas
Já nos dias do Novo Testamento, o escritor da Epístola aos Hebreus aconselhava: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a Palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. … Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles; pois velam por vossas almas, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Heb. 13:7 e 17).
Nesse texto encontramos uma série de admoestações. Entre elas, um chamado para lealdade aos líderes, bem como uma descrição das expectativas relacionadas com líderes cristãos. As admoestações reafirmam aqueles que estão na liderança: “Lembrai-vos”, “obedecei” e “sede submissos”. E as expectativas em relação aos líderes, retratadas nesses ver-sos, são solenes e quase emocionantes.
Como são descritos os líderes cristãos? Que comportamento os membros das nossas igrejas têm o direito de esperar de nós, como líderes? O escritor bíblico responde:
- 1. “Vos pregaram toda a Palavra de Deus. O primeiro dever que, segundo o texto em consideração repousa sobre o líder cristão é o compromisso com a proclamação da Palavra de Deus. Liderança cristã não é primeiramente um assunto de excelência organizacional ou conquistas acadêmicas. Ela não está construída sobre o fundamento da perspicácia financista ou da astúcia corporativista. Deus, evidentemente, não deprecia apropriada aquisição de aprendizagem e experiência. Mas Ele conduz Sua Igreja, através de pessoas cujas vidas estejam saturadas com a Palavra de Deus.
Certo oficial da igreja, empreiteiro de um edifício, residia na cidade de Nova Iorque. Ao dirigir seu automóvel, numa determinada manhã, foi abordado por dois homens, enquanto esperava a luz verde do semáforo. Empunhando revólveres, os desconhecidos ordenaram que seguisse em direção a uma área deserta e suspeita. Em lá chegando, saíram do carro e ficaram argumentando entre si. Após alguns minutos de conversa, um deles retomou e pediu ao nosso irmão apenas dinheiro para comer, mandando-lhe que fosse embora.
Dois dias depois, novamente parado num semáforo, nosso irmão foi abordado por um daqueles homens que logo lhe garantiu estar desarmado. Pediu-lhe permissão para um diálogo e perguntou-lhe se era um adventista do sétimo dia. “Sim, sou”, foi a resposta. “Eu vi a Bíblia e a Lição da Escola Sabatina em seu carro, no último dia em que nos encontramos”, disse o desconhecido, acrescentando ter sido um adventista no passado, e ter demovido o companheiro assaltante da idéia de matá-lo e roubar-lhe o carro, quando viu o material devocional.
Embora a motivação maior para o estudo da Bíblia não deva ser a salvação da vida física, o exemplo acima mostra que isso pode ocorrer. Mas, eu insisto em que nossa vida espiritual estará à mercê das perigosas forças da impiedade social, do materialismo e do secularismo, da mesma forma que nossos corpos diante das armas de fogo. É necessário tomar tempo para comungar com Deus através de Sua Palavra. Se permitirmos que a televisão, os esportes, hobbies, e mesmo os deveres de nossas atividades pastorais entrem em competição com o estudo da Bíblia, certamente ela não terá nenhuma chance.
Precisamos tomar a firme decisão de priorizar o tempo com a Palavra de Deus. Não apenas para ensinar alguma lição, preparar estudos bíblicos ou sermões, mas para construir nossa própria vida.
O sucesso do ministério de Paulo estava relacionado com o uso que fazia da Palavra. Não pregava a si mesmo, mas a Cristo (II Cor. 4:2 e 5). Usava a Escritura para exaltar a Cristo (I Tess. 2:13; II Tim.4:3).
Quando abrimos a Bíblia para ensinar, ficará evidente se estamos partilhando uma vida plena do Espírito, através do estudo das Sagradas Escrituras, ou se falamos superficialmente. Deixe que a Palavra de Deus fale a você, pastor, e através de você a outras pessoas. Os ouvintes querem ver a coerência de nossos atos e palavras com aquilo que diz a Palavra de Deus. Nossa vida deve ser a tradução da Palavra àqueles que nos ouvem e com os quais nos relacionamos, mesmo no círculo familiar.
Os líderes são conhecidos como pessoas de visão, valores e princípios. Stephen Covey, um especialista no ramo de liderança, estabelece uma distinção entre princípios e valores. Ele nos lembra que mesmo os ladrões têm seus padrões de valores – não se envolverem com outras gangs, o dar informações sobre um comparsa, por exemplo. Princípios, afirma Covey, são imutáveis, em virtude de estarem enraizados em verdades que transcendem idéias humanas. É justamente isso o que o escritor de Hebreus está nos dizendo. Firme sua liderança nos eternos princípios da Palavra de Deus. Deixe as Escrituras brilharem como uma estrela fixa na constelação de sua vida. Então, vá em frente.
- 2. “Imitai a fé que tiveram.” Essa frase nos leva à famosa galeria mundial da fé, exposta no capítulo 11 do livro de Hebreus. Ali se encontram figuras tais como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, San-são, Jefté, Davi, Samuel, “os profetas” – que lista fantástica! Todos nós gostaríamos de fazer parte dela, juntamente com Abel, Eno-que, Noé, e outros, mas talvez quereriamos deixar fora Jefté, Raabe e mesmo Sansão. Porém, o ponto de maior importância parece ser que todas essas pessoas, as boas e as não tão boas, deixaram-se usar por Deus para o cumprimento de alguma missão especial para Ele. Assim, o autor de Hebreus diz: “Imitai a fé dos vossos líderes.”
Como nos qualificamos para isso? Modernos especialistas em liderança dizem que uma qualidade dos líderes efetivos é que eles arriscam em lugar de quererem ser imitados no medo de falhar. É você um líder que arrisca-se pela fé, ou somente avança quando vê o caminho aplainado? Em geral, quanto mais recursos a Igreja acumula, menor é a disposição de arriscá-los no cumprimento de sua missão.
Não estou dizendo que devemos agir de modo irresponsável ou presunçoso, mas por fé. Então seremos dignos de ser imitados.
- 3. “Considerando atentamente o fim da sua vida”. Que significa a expressão “fim da sua vida”, ou “maneira de vida”, como dizem outras traduções?
Recorrendo novamente a Stephen Covey, encontramos sua afirmação no sentido de que as pessoas mais eficientes, especialmente líderes, “iniciam seus projetos tendo um fim em mente”. Isso enfatiza a importância de termos um propósito compensador, um alvo, um objetivo para nossa vida. A qualidade de vida é medida, não pela força que acumulamos, a popularidade que desfrutamos, ou o aparente sucesso de nossos empreendimentos. Nossa vida é medida por seu objetivo final.
- 4. “Velam por vossas almas, como quem deve prestar contas.” Líderes cristãos dispensam temo e constante cuidado pelas pessoas, valorizando-as como filhos e filhas de Deus, indivíduos pelos quais Ele deu a vida. E aceitam prontamente esse compromisso diante de Seu Senhor.
- 5. “Com alegria e não gemendo.” Líderes cristãos eficientes desfrutam o seu trabalho. Eles têm de aproveitar cada minuto de seu tempo, e olham sempre adiante ao iniciar cada dia. Sua alegria e maior satisfação nasce da oportunidade de poder contribuir para o crescimento de outros. Para eles é o conselho de Pedro, no sentido de agir não como “dominadores da herança de Deus”, mas guiando pelo exemplo, visão e encorajamento.
Amor mútuo
Como líderes e irmãos em Jesus Cristo, amemo-nos uns aos outros. Amemos a Deus, ensinemos Sua palavra. Amemos Seu povo, e dessa maneira nos regozijaremos no privilégio de exercer a liderança cristã.