Lucas Alves

Ao longo do meu ministério tive o privilégio de conduzir várias entrevistas com candidatos ao curso de Teologia. Lembro-me do modo em que muitos entravam na sala, cheios de entusiasmo e sonhos. Eram recebidos sempre com a pergunta: Por que você deseja ser pastor? A resposta mais comum era: “Porque Deus me chamou.” Na sequência, eu ouvia as mais diferentes e emocionantes histórias a respeito do chamado. Para maioria deles, esse era o ponto de referência, o começo de tudo, a razão de abrir mão de tantas coisas e seguir em frente pela fé. Nada era mais forte no coração dos candidatos do que a convicção de que um dia serviriam a Deus como pastores.

O ministério é alimentado pela certeza de que o chamado não é fruto do acaso, da iniciativa humana nem de algum impulso do coração, mas é obra direta de Deus em nossa vida. Fomos escolhidos, e o Senhor assumiu total responsabilidade por essa escolha. Paulo afirmou a Timóteo: “Sou grato para com Aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1:12). Em meio aos desafios pastorais de Timóteo, Paulo lembrou de seu próprio chamado e, mais adiante, pediu que seu discípulo fizesse o mesmo (1Tm 4:14).

Quando se sentir sobrecarregado, incompreendido ou cansado, e lhe vier à mente o desejo de desistir ou fazer outra coisa na vida, lembre-se de que Deus o chamou e estará ao seu lado enxugando suas lágrimas, fortalecendo suas mãos, levando você ao descanso e conduzindo sua vida. Quando o horizonte for escuro e o medo congelar seu coração, volte-se para o seu chamado, seus primeiros anos de ministério, sua ordenação e às vezes em que Deus confirmou sua vocação. Isso ajudará você a olhar para a frente com coragem e fé.

Por que é tão importante lembrar-se do chamado? Porque lá está o ponto de referência do propósito da sua vida, o sentido do porquê você faz o que faz. Quem se esquece disso corre o risco de viver um ministério frustrado e mecânico. Mário Sérgio Cortella afirmou: “Uma vida pequena é aquela que nega a vibração da própria existência. […] É quando se vive de maneira automática, robótica, sem uma reflexão sobre o fato de existirmos e sem consciência das razões pelas quais fazemos o que fazemos” (Por que fazemos o que fazemos?, p. 7). Lembre-se de que o chamado é o ponto de referência que alimenta a convicção de que você não está só, e de que Aquele que o chamou o dirigirá de maneira segura até o fim.

Meu coração se sente muito grato a Deus quando leio este pensamento de Ellen White: “Deus tem uma igreja, e ela tem um ministério designado por Ele. […] Homens designados por Deus foram escolhidos para vigiar com zeloso cuidado, com vigilante perseverança a fim de que a igreja não seja subvertida pelos malignos ardis de Satanás, mas que ela esteja no mundo para promover a glória de Deus entre os homens” (Testemunhos para Ministros, p. 52). Isso não é maravilhoso? O Senhor tem uma igreja, um povo formado pelas mais variadas culturas e características; mas esse povo tem um ministério escolhido por Ele para dirigir, cuidar e inspirar no cumprimento da missão. Não tenho dúvidas de que as maiores recompensas do ministério pastoral serão entregues na eternidade. Por isso, nunca se esqueça do seu chamado e siga em frente, com perseverança, confiança e entrega. 

Lucas Alves, doutorando em Ministério, é secretário ministerial da Igreja Adventista para a América do Sul