FRANK H. YOST

A Profecia Aponta o Papado

ACÊRCA da “ponta pequena”, o profeta diz: “Êle proferirá palavras contra o Altíssimo.” Pareceria que o papado houvesse de surgir ansiosamente das páginas da História para informar que suas declarações isentam de todo equívoco a identificação procurada.

Deve ser exercido cuidado, porém, ao selecionar as pretensões papais, no sentido de que sejam declarações oficiais. Ao serem citadas autoridades católico-romanas, o prestígio da autoridade que formulou as declarações deve ser tal que lhes empreste validade.

A maior parte das fontes válidas são as reconhecidas decretais dos papas. Quando o papa fala excathedra, isto é, de seu trono de sumo pontífice, para pronunciar-se acêrca da fé e da moral, suas declarações não estão apenas sòmente investidas de autoridade, mas são infalíveis. As declarações dos membros da cúria romana, o conselho de assessores do papa, formado pelos cardeais, e que conta com a ajuda dos chefes dos vários departamentos e congregações do papado, são oficiais. Deve ser lembrado que os cardeais não constituem em si uma classe na hierarquia católico-romana, como seria o caso dos diáconos, os sacerdotes e os bispos, mas são uma classe da nobreza eclesiástica separada da hierarquia e à qual foi atribuída um pôsto honorífico nas diversas igrejas da própria cidade de Roma, em virtude da qual levam o título de cardeal-diácono, cardeal-sacerdote, ou cardeal-bispo. Os cardeais dos Estados Unidos são bispos, segundo sua dignidade eclesiástica — de fato, arcebispos — mas, alguns dos de Roma são simples sacerdotes. O título cardeal (do latim cardo “gonzo”) significa que estão tão intimamente unidos ao papa, como os gonzos à porta. Uma vez generalizado, o título se reduziu a um emprêgo mais particular desde 1.568. As declarações dos cardeais se revestem de autoridade.

A autoridade eclesiástica da Igreja de Roma reside nos bispos, dos quais o papa é o chefe. Quando uma publicação leva o imprimatur do bispo, reveste-se de autoridade. Enciclopédias tais como “A Enciclopédia Católica”, que leva o imprimatur, têm validez. Os catecismos, para poderem ser usados, precisam levar o imprimatur. As publicações que difunde, nos Estados Unidos, o Concilio Nacional do Bem-Estar Católico, apoia-se na alta autoridade episcopal. Os cânones dos concílios episcopais reconhecidos pela igreja tam-bém podem ser considerados autoridade.

Além das declarações oficiais católicas, existem documentos empregados durante muito tempo pela igreja, que podem ser considerados autorizados pela sanção do uso. Os escritos daqueles pais, acêrca dos quais a igreja reconhece que formam parte da tradição inspirada, constituem um grupo superior desta classe. Um documento sancionado por sua antiguidade e por seu uso, é a coleção conhecida com o nome de “Decretum” de Graciano. Conquanto nunca reconhecido oficialmente pela igreja, tal como o declarámos anteriormente, está revestido do acatamento que lhe outorgam séculos de emprêgo oficial. Grandes obras históricas, tais como os “Anais” de Barônio, que é a resposta católica à grande apologia protestante dos membros da reforma: a “Magdeburg Centuries”, obra de Belarmino, e obras de sua espécie, têm muito pêso.

As declarações dos teólogos dos centros de estudos católicos são muito acatadas, mas não necessàriamente autorizadas. As declarações dos sacerdotes podem sòmente ser tomadas como opinião dos mesmos. Os periódicos publicados sob a supervisão dos bispos para os leigos católicos em suas dioceses, dos quais Our Sunday Visitor é um exemplo nos Estados Unidos [A Ave Maria e O Domingo, no Brasil] não levam imprimatur e po-dem ser rejeitados com todo o êxito pelos católicos, se empregados em controvérsias que possam pôr em desvantagem os defensores do catolicismo. Tal matéria reflete o pensamento católico, mas não o ensino oficial do catolicismo. O mero fato de que uma citação seja “católica” não significa que convenha ser usada.

Proferirá Palavras

Embora, porém, haja que exercer tais precauções, ao selecionar as declarações relativas ao papado, muito do que é válido e digno de confiança pode ser obtido das fontes católicas, como demonstração das pretensões blasfemas da Igreja de Roma.

“Outro Deus na Terra.” — Marcellus (1)

“Senhor Deus o papa.” — Graciano, Decretum. (1 2)

“Ocupamos na Terra o Lugar de Deus Todo-poderoso.” — Papa Leão XIII. (3)

“Verdadeiro Vigário de Cristo.” — Concilio de Trento. (4)                              

“Vigário do Encarnado Filho de Deus.” — Cardeal Manning. (5)

“Vigário do Filho de Deus.” — Cardeal Manning. (6)

“Vigário na Terra, não de um mero homem, mas do próprio Deus.” — Decretum. (7)

“1. Que a igreja romana foi estabelecida só por Deus.

“2. Que unicamente o pontífice romano pode ser chamado corretamente universal.

“3. Que somente êle tem o poder de repor os bispos.

“4. Que seu legado, embora de ordem eclesiástica inferior, preside sôbre os bispos reunidos em concilio, e tem a faculdade de ditar contra êles sentença de deposição.

“5. Que o papa tem a faculdade de depor os que estão ausentes [isto é, sem sequer prestar-lhes ouvido.]

“6. Que, entre outras coisas, não devemos permanecer na mesma casa daqueles a quem êle excomungou.

“7. Que só êle tem o direito, de conformidade com o que ditam as circunstâncias, de decretar novas leis, criar novos bispados, dar a categoria de mosteiro a um grupo de monges e vice-versa, e também dividir um bispado rico ou unir vários bispados pobres.

“8. Que êle sòmente pode usar a insígnia imperial.

“9. Que todos os príncipes devem beijar os pés do papa somente.

“10. Que somente seu nome deve ser citado nas igrejas.

“11. Que os nomes a êle aplicados pertencem a êle somente.

“12. Que tem o poder de depor imperadores.

“13. Que tem a faculdade de transferir bispados, de uma sede para outra, quando o julgue necessário.

“14. Que tem a faculdade de ordenar para o sacerdócio qualquer pessoa de qualquer parte da igreja.

“15. Que qualquer pessoa por êle ordenada pode governar [como bispo] sôbre outra igreja, mas não pode servir [como sacerdote] nela, e que tal clérigo não deve receber hierarquia mais elevada que nenhum outro bispo.

“16. Que não se pode convocar um concilio geral sem sua ordem.

“17. Que nenhum acôrdo de um concilio, nem nenhum livro pode ser considerado canônico sem a sua autorização.

“18. Que seu decreto não pode ser anulado por ninguém, e que êle pode anular o decreto de todos.

“19. Que não pode ser julgado por ninguém.

“20. Que ninguém se atreverá a condenar uma pessoa que haja apelado para a sé apostólica.

“21. Que os casos importantes de qualquer igreja devem de ser referidos à Igreja Romana [isto é, ao papa].

“22. Que a Igreja Romana nunca errou e nunca errará por tôda a eternidade, em conformidade com o testemunho das Sagradas Escrituras.

“23. Que o pontífice romano, que foi canônicamente ordenado, é santificado pelos méritos de São Pedro, em conformidade com o testemunho de Santo Enódio, bispo de Pavia, o que confirmam muitos dos santos pais, e tal como se manifestam nos decretos do bem-aventurado papa Símaco.

“24. Que por seu mandado ou permissão os súditos podem acusar seus governantes.

“25. Que podem depor e repor bispos, sem convocar um concilio.

“26. Que ninguém se pode considerar católico sem estar em conformidade com a Igreja Romana.

“27. Que tem a faculdade de relevar os súditos de seu juramento de fidelidade aos governantes ímpios.” (8)

“Todos os nomes que nas Escrituras se aplicam a Cristo, aplicam-se também ao papa.” — Belarmino. (9)

“O papa é de uma dignidade tão grande e tão exaltada, que não é mero homem, mas como se fôsse Deus e o Vigário de Deus.

“O papa é de tão elevada e suprema dignidade que, falando com tôda a propriedade, não foi colocado em nenhuma hierarquia de dignidade, mas pôsto acima de tôdas as hierarquias e dignidades.

“Diz-se que o papa é santíssimo porque se presume corretamente que o seja.

“Os imperadores e os reis não podem ser chamados santíssimos; porque conquanto nas leis civis a expressão ‘sacratíssimo’, em algumas oportunidades tenha sido usurpada pelos imperadores, nunca o foi a expressão ‘santíssimo’.

“Sòmente o papa merece receber o nome de ‘santíssimo’, porque só êle é o Vigário de Cristo, a fonte e a plenitude de tôda a santidade.

“O papa, devido à excelência de sua suprema dignidade, é chamado bispo dos bispos.

“Também é chamado ordinário dos ordinários.

“Igualmente é bispo da Igreja Católica [universal].

“É igualmente o monarca divino, o imperador supremo e rei dos reis.

“Daí ser o papa coroado com uma coroa tripla, como rei do Céu, e da Terra, e das regiões inferiores.

“Ainda mais, a superioridade e o poder do pontífice romano de maneira nenhuma se circunscreve sòmente às coisas celestiais, às terrestres ou às que se encontram debaixo da Terra, mas estende-se sôbre os anjos, entre os quais é êle o maior.

“De maneira que se fôsse possível que os anjos pudessem errar em assuntos de fé, ou pensar de maneira contrária à fé, poderiam êles ser julgados e excomungados pelo papa.

“Porque sua dignidade e poder são tão grandes, que forma um e o mesmo tribunal com Cristo.

“De maneira que tudo quanto o papa faça, parece proceder da bôca de Deus, em conformidade com a maioria dos doutores, etc.

“O papa é como se fôra Deus na Terra, único soberano dos fiéis de Cristo, chefe dos reis, dotado da plenitude do poder, a quem foi confiada pelo Deus onipotente a direção, não sòmente do reino terrestre, mas também do celestial.

“O papa possui uma autoridade e um poder tão grandes, que pode modificar, explicar e interpretar até mesmo as leis divinas.

“O papa pode modificar a lei divina, pois seu poder não é de homem mas de Deus, e atua como Vigário de Deus na Terra com o mais amplo poder de ligar e desligar as suas ovelhas.

“Tudo quanto o próprio Senhor Deus e o Redentor se diz que fazem, isso faz também Seu Vigário, com a condição de que nada faça contrário à fé.” Ferraris. (1°)

“Tem o primado sôbre todo o mundo.”

“Cabeça de tôda a igreja.”

“Pai e mestre de todos os cristãos.” — Concilio de Trento. (4)

“O mais elevado poder no mundo.”

“Ungido sumo-sacerdote.”

“Supremo governante temporal.” — Cardeal Manning. (5)

“Exerce as funções não de mero homem, mas do verdadeiro Deus.” — Gregório, “Decretum.” (11)

“Dissolve, não por autoridade humana, mas divina.” — Ídem. (11)

“O poder monárquico não é superior ao pontificai, mas está a êle sujeito e submetido à sua obediência.” — Ídem. (12)

“Príncipe sôbre tôdas as nações e sôbre todos os reinos.” — Papa Pio V. (10 11 12 13)

“Tem poder para impor leis; . . . bem como para conceder dispensação dessas leis, . . . para anulá-las. . . . Esta autoridade jurídica pode incluir o poder de perdoar o pecado. Porque o pecado é uma brecha produzida nas leis do reino sobrenatural.” (14)

“Dai que êle [o papa] se arrogue um poder celestial, e daí que possa modificar até a natureza das coisas, aplicando a substância de uma a outra: pode fazer alguma coisa do nada, um juízo nulo pode torná-lo real, porque nas coisas que êle quer, sua vontade é aceita como razão. Tampouco pode alguém dizer-lhe: ‘Por que fazes isso?’ Porque êle pode isentar-se da obediência à lei, pode converter a injustiça em justiça, corrigindo e modificando a lei, e tem a plenitude do poder.” — Gregório, “Decretum”. (15 16 17)

Note-se o que diz a irmã White:

“Uma das principais doutrinas do romanismo é que o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo, investido de autoridade suprema sôbre os bispos e pastôres em tôdas as partes do mundo. Mais do que isto, tem-se dado ao papa os próprios títulos da Divindade. Tem sido intitulado: ‘Senhor Deus, o Papa,’ e declarado infalível. Exige êle a homenagem de todos os homens. A mesma pretensão em que insistia Satanás no deserto da tentação, êle ainda a encarece mediante a igreja de Roma, e enorme número de pessoas estão prontas para render-lhe homenagem.” (16)

“E, convém lembrar, Roma jacta-se de que nunca muda. Os princípios de Gregório VII e Inocêncio III ainda são os princípios da Igreja Católica, Romana. E tivesse ela tão sòmente o po-der, pô-los-ia em prática com tanto vigor agora como nos séculos passados. Pouco sabem os protestantes do que estão fazendo ao se proporem aceitar o auxílio de Roma na obra da exaltação do domingo. Enquanto se aplicam à realização deseu propósito, Roma pretende restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida. Estabeleça-se nos Estados Unidos o princípio de que a igreja possa empregar ou dirigir o poder do Estado; de que as observâncias religiosas possam ser impostas pelas leis seculares; em suma, que a autoridade da igreja e do Estado devem domi-nar a consciência, e Roma terá assegurado o seu triunfo naquele país.” (17)

Destruirá os Santos do Altíssimo

A profecia anuncia o advento de uma potência que “destruirá os santos do Altíssimo”. (Dan. 7: 25; ver Apoc. 13:7.) Também neste caso o papado quase eleva um verdadeiro clamor para que seja reconhecido como o poder assinalado pela profecia.

A filosofia que justifica as perseguições religiosas tem base na premissa de que é correto conseguir que as diferentes crenças religiosas se harmonizem com o grupo que, quer seja maioria quer minoria, possua a suficiente autoridade e disponha do suficiente poder para induzir os demais a com êle se harmonizarem. O papado está disposto a forçar os dissidentes a se harmonizarem com êle. Se não quiserem fazê-lo, vêem-se forçados também a sofrer as conseqüências.

Em uma sociedade em que a autoridade religiosa e a civil formam parte de uma mesma administração, não há lugar para a liberdade religiosa. Os poucos dissidentes tolerados serão tão insignificantes em número, que o grupo detentor do poder, dotado de faculdades supressivas, poderá ignorá-los.

Na maior parte da história humana, não tem havido separação entre a vida política e a religiosa. Em vez disso, a situação histórica normal tem sido a de que o Estado dominou a religião. Mesmo esta expressão é uma frase moderna aplicada ao passado. Não tem havido praticamente separação entre os conceitos de religião e de Estado. Por exemplo, na economia hebréia, a religião dominava amplamente a vida política, até onde êstes dois aspectos da vida do homem podem ser considerados separadamente. Outro exemplo é encontrado entre os galos, para quem a autoridade dos sacerdotes drúidas eclipsava a autoridade civil dos chefes celtas.

Em Roma pagã, a religião estava sob o domínio do Estado; e o chefe do Estado, primeiramente o rei e mais tarde o imperador, levava como sumo sacerdote o título de Pontifex Maximus. A religião do Estado ou da província, que Roma absorvia, era permitida sob condição de que não engendrasse rebelião contra a autoridade de Roma. Na Gália, os drúidas converteram-se em um perigo tal, que foram suprimidos. Na Judéia, os judeus e os romanos chegaram a um convênio incômodo, sob o qual a religião judaica foi tolerada, mas foi-lhe proibida tôda interferência no campo civil.

O cristianismo começou como um culto judeu; pelo menos o seu vocabulário, sua estrutura e seu pessoal eram judeus. Recusaram os judeus, porém, aceitar o cristianismo como culto hebreu. Ficou êle, então, sem patrocinadores nacionais ou políticos, e o govêrno pagão de Roma o considerou uma religião sem antecedentes, que por sua própria natureza era uma religio illicita. Por isso Roma pagã perseguiu o cristianismo. (18)

Estas perseguições do culto cristão, da parte de Roma pagã, cessaram com o Edito de Milão, promulgado em nome dos imperadores Constantino e Licínio, no ano 313 A. D. Em sua redação, êste documento grandiloqüente concedia liberdade religiosa a todos, mas suas palavras nunca se converteram em realidade, —exceto para dar ao cristianismo a liberdade de adorar e de propagar suas doutrinas, uma liberdade que nunca dantes tivera.

Mas as liberdades que o edito garantia não se aplicaram plenamente, e quando o cristianismo se converteu na religião da sociedade e do Estado, o que ocorreu muito pouco depois do ano 313, os cultos pagãos começaram a ser perseguidos. Com efeito, as seitas dissidentes dos cristãos foram perseguidas por turnos, segundo qual delas estivesse em boas relações com o Estado. Os trinitários ortodoxos, quando tiveram em mãos o poder político, perseguiram os arianos; e êstes, quando seus aderentes eram favorecidos pelo govêrno, perseguiram os ortodoxos.

Isto estava em conformidade com a lei romana, a qual, depois que veio a tolerância, concedeu aos bispos cristãos o direito de examinar, acusar e sentenciar os hereges (18 19 20 21 22 23 24). Cêrca do ano 400 A. D., a lei romana tornara-se tão virulenta contra o paganismo, que os templos dos deuses foram fechados amiúde (20), e algumas vêzes, depois de um processo de purificação, eram usados pelos cristãos.

A autoridade civil dos bispos contra os hereges foi revogada mais tarde, embora os bispos tivessem assento regularmente nos concílios provinciais do Estado. Mas os bispos exerciam muito ampla autoridade eclesiástica. ‘Nêles residia a função docente da igreja, que, segundo se pretendia, foi descrita por Cristo em S. Mat. 28:19 e 20, e legada aos bispos pela tradição dos apóstolos. Sustinha-se que a igreja tinha a verdade, que devia ensinar a verdade, que devia introduzir a verdade na sociedade, e que o Estado devia ajudá-la a fazê-lo. Cada bispo era o juiz presidente da côrte eclesiástica de sua própria diocese, o que, com efeito, era um apêndice histórico de textos tais como os encontrados em S. Mat. 18:15-18 e em I Cor. 6:1-5. Através da Idade Média, os bispos dessas côrtes episcopais deram audiência em casos de heresia, pronunciaram sentenças de culpabilidade, e recomendaram aos magistrados locais o castigo que devia ser aplicado.

Um exemplo de tais côrtes episcopais nos chega do século XII. Um bispo cavalgava no norte de França com sua escolta, quando um jovem adjunto à côrte episcopal viu uma moça junto à estrada. Deteve-se para falar com ela e fêz-lhe uma proposta desonesta, que ela repeliu com enérgica repulsa. Imediatamente se deu conta de que ela não era uma rapariga comum, e deu disso. ciência ao bispo. Ao serem levadas perante o bispo, a moça e sua tia, descobriu-se pertencerem à seita dos publicanos ou cátaros (puritanos) e foram condenadas por heresia. Diz-se que a tia escapou, valendo-se de artes mágicas; mas a moça foi condenada à morte. (21)

Nessa época da história, os bispos muito amiúde eram demasiado condescendentes com as heresias que encontravam em sua diocese, ou demasiado indiferentes para incomodarem-se. A igreja, porém, foi de opinião que chegara justamente o tempo de incomodar-se; não era um momento em que os bispos pudessem refestelar-se na comodidade. A heresia brotava por tôda parte. Os valdenses, os albigenses, os pobres de Lião, os cátaros, os bogomilos e os begardos apareciam por tôdas as partes. Inocêncio III promulgou decreto sôbre decreto contra os hereges, e autorizou a sangrenta cruzada de 1.209 contra os albigenses. (22) Foi necessária, porém, uma autoridade centralizada que atuasse contra os hereges que se difundiam além das dioceses locais. Em 1.221, o papado empreendeu a destruição dos hereges e organizou com êste fim o Santo Ofício da Inquisição. (23)

Dizer que a história da Inquisição não é boa, é amesquinhar a realidade. A perseguição, sempre considerada uma necessidade pela igreja, converteu-se numa virtude. A igreja católica, romana, justificou a perseguição:

“No tocante aos hereges, devem ser considera dos dois fatôres: um da parte dêles e outro da parte da igreja. Da parte dêles, está o pecado pelo qual mereceram, não somente ser separados da igreja pela excomunhão, mas ser desarraigados do mundo pela morte. Porque é uma ofensa muito mais grave corromper a fé, por meio da qual se sustém a vida da alma, do que falsificar a moeda, a qual é um auxílio para a vida temporal. Portanto, se os falsificadores ou outros malfeitores são entregues ao príncipe secular para que lhes inflija justa morte, muitíssimo mais os hereges, imediatamente depois de serem condenados por heresia, não só devem ser excomungados, mas também entregues a uma justa morte. À igreja, porém, corresponde exercer misericórdia em favor da conversão dos que erram; e por isso não condena imediatamente, mas depois da primeira e segunda admoestações, de acôrdo com o ensino do apóstolo. Depois disso, não obstante, se o homem continua pertinaz, a igreja, não tendo já mais esperança na sua conversão, a fim de prover a segurança dos demais, o separa da igreja pela sentença de excomunhão; e mais tarde o entrega ao tribunal secular para que seja desarraigado do mundo.” (24)

“Os príncipes temporais devem ser lembrados e exortados, e, se necessário, por censuras espiri-tuais, obrigados a abandonar cada uma de suas funções; e, se desejam ser reconhecidos e mantiverem-se fiéis, portanto, na defesa da fé, devem fazer publicamente o juramento de que tratarão de boa fé e com tôda a sua autoridade, de extirpar de seu território todos os hereges apontados pela igreja; de modo que quando qualquer pessoa estiver a ponto de assumir qualquer autoridade, quer seja espiritual quer temporal, se veja obrigada a confirmar seu título mediante êste juramento. E se um príncipe temporal, sendo convocado e admoestado pela igreja, descuida a purificação de seu reino de qualquer heresia, que o metropolitano ou outro bispo provincial o atem com os laços da excomunhão; e se êle se recusa obstinadamente a dar satisfação, seja êste assunto notificado no término de um ano ao sumo pontífice, para que êle declare estarem os seus súditos absolutos de sua fidelidade, e permita que seus territórios sejam ocupados por católicos que, depois de exterminar os hereges, possam possui-los sem oposição alguma, e preservá-los na pureza da fé.” (25)

“Na bula ‘Ad extirpanda (1.252) Inocêncio IV disse: ‘Quando aquêles condenados como culpados de heresia tenham sido entregues ao poder civil pelo bispo ou por seu representante, ou pelo tribunal da Inquisição, o podestá, ou magistrado chefe da cidade, os tomará imediatamente, e executará, no prazo máximo de cinco dias, as leis feitas contra êles, ‘… Não podia restar dúvida no tocante ao que significavam os regulamentos civis, porque os passos que ordenavam que os hereges impenitentes fôssem condenados à fogueira, estavam insertos nas decretais imperiais ‘Commissis Nobis’ e ‘Inconsutibilem Tunicam. A já mencionada bula ‘Ad extirpanda’ chegou a ser, daí em diante, um documento fundamental da inquisição, renovada ou reforçada por vários papas, co-mo sejam: Alexandre IV (1254-1261), Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292), Bonifácio VIII (1294-1303) e outros. As autoridades civis, portanto, se sentiam obrigadas perante os papas, sob pena de excomunhão, a executar as sentenças legais que condenavam à fogueira os hereges impenitentes.” (26)

“Com efeito, a princípio a igreja agiu com mais suavidade no tocante aos hereges, excomungando-os, confiscando-lhes as propriedades . . . até que se viu obrigada a infligir-lhes a pena capital; ‘a experiência demonstra (diz Belarmino em ‘De Lai-cis’ I, 3, c 21) que não há outro remédio: porque a igreja gradualmente avançou, e provou to-dos os meios, primeiro a excomunhão sòmente, depois foi acrescentada uma multa pecuniária, em seguida o destêrro, FINALMENTE SE VIU OBRIGADA A RECORRER À MORTE [as palavras em maiúsculas foram postas pelo autor]. Os hereges desprezam a excomunhão e dizem que o raio não tem poder; se ameaçados com uma multa pecuniária, não temem a Deus nem respeitam os homens, pois sabem que encontrarão suficientes loucos que creiam o que sustêm. Se encarcerados ou desterrados, corrompem os que estão próximos mediante sua palavra, e os que estão distante, por meio de seus livros. De modo que O ÚNICO REMÉDIO CONSISTE EM ENVIÁ-LOS LOGO AO SEU PRÓPRIO LUGAR [maiúsculas postas pelo autor]. A sociedade da igreja e sua ordem pública, contra a perturbação das quais há muitas normas eclesiásticas, devem ser necessàriamente preservadas, para que as almas sejam santificadas pela verdadeira fé e as boas obras, a fim de que possam ganhar a salvação eterna.” (27)

“Aquêle que publicamente aprova uma heresia e trata de perverter os demais por palavra ou exemplo, pode não somente ser excomungado, mas justamente condenado à morte; para que, por seu contágio pestilento, não contamine outros; porque um homem mau é pior que um mau animal e faz mais dano, como diz Aristóteles. Portanto, se não é mau matar um animal mau que produz grande dano, deve ser correto privar de sua vida prejudicial o herege que se apartou da verdade divina e conspira contra a salvação dos demais.” (25 26 27 28)

Portanto, concluímos que a igreja não pode de si mesma condenar à morte a ninguém, e que, no entanto, tem o direito de sentenciar os hereges obstinados ou reincidentes, não sòmente ao castigo corporal, mas à condenação do castigo máximo, se assim o julgar necessário; daí que os inimigos da fé se apartem igualmente da verdade ao acusar falsamente a igreja de haver condenado por sua própria conta alguns hereges à fogueira, e muitos apologistas católicos, creiam que tôdas as sentenças de morte devam ser atribuídas ao poder secular, ou timidamente concordem com que a igreja, submetendo-se ao espírito da época, se tenham desviado um tanto neste assunto. A história testifica com tôda a segurança que a inquisição romana, se não com as palavras textuais, pelo menos com têrmos equivalentes, sentenciou os hereges à pena máxima, para ser infligida sem exceção pelo braço secular, com numerosas censuras se deixava de cumprir seu dever; quem, portanto, se atrevería a dizer que a igreja errou em assunto tão sério?” (29)

A cruzada militar contra os albigenses de Provença, França, foi sòmente mais sangrenta no sen-tido de que foi mais concentrada, no tempo e no espaço, do que a cruzada inquisitorial lançada contra os hereges e prosseguida em tôdas as partes nos anos subseqüentes. Os denunciantes recebiam parte das propriedades confiscadas aos acusados de heresia e contra os quais haviam testemunhado, e as confissões eram obtidas, não como a livre declaração de homens valorosos dispostos a dar testemunho em favor de seu Senhor, mas em resultado da agonia das torturas, tão brutais, que não são encontradas piores nos registos das nações mais apartadas dos ensinos de Cristo, e a mente humana se revolta ante o mero relato delas.

Não nos atrevemos a calcular o número dos que sofreram depredação, prisão, ferimentos e morte cruel ou tortura no cadafalso. Certamente não faz bem algum, e ao contrário muito dano, entregar-se ao exagêro. Com consciência limpa, porém, podemos dizer que através dos séculos, homens, mulheres e crianças, aos milhares, sofreram perseguição. Se incluímos os que morreram nas guerras de religião que se produziram entre as nações, o número aumenta notàvelmente, mas só certos dêsses casos podem ser considerados perseguições.

Não estranha que o “cavalo amarelo” (Apoc. 6:7 e 8) seja tão horrível e que, alegoricamente, as almas que estão “debaixo do altar” apareçam, pela inspiração, clamando: “Até quando, Senhor, santo e verdadeiro?” (Ver 9-11.)

Não devemos pensar que a luta contra os santos predita na profecia bíblica, cessou com a Reforma protestante. Os anglicanos perseguiram os lolardos, os luteranos, os católicos, romanos, os puritanos, os independentes e os separatistas. Com base na diferença de religião, os luteranos tornaram desditosa a vida dos católicos, romanos, dos anabatistas e dos reformadores que adotavam a teologia de Calvino. Os Zwinglianos perseguiram os anabatistas. Os calvinistas deram caça aos anabatistas e aos socianos e dissidentes que seguiam a Servet, que foi queimado publicamente em Genebra, por heresia. As filhas de Babilônia (Apoc. 17:5) (30) têm como base de seu ânimo perseguidor os mesmos princípios de sua mãe prostituta. Fracassaram em suas perseguições, não intencionalmente, mas por falta de oportunidade, de unidade de ação, de perícia ou experiência, e da plena colaboração do poder civil.

Um Tempo, e Tempos e Metade de Um Tempo

Os dias foram abreviados. (S. Mat. 24:22; S. Mar. 13:19, 20 e 24.) Os 1.260 dias durante os quais os santos deviam estar debaixo da mão da mãe prostituta e de suas filhas, não se cumpriram plenamente devido ao profundo ressentimento que surgiu contra a perseguição, da parte dos pensadores liberais dos últimos anos do século XVIII, especialmente aos sarcasmos do altamente influente Voltaire que, radicado na côrte de Frederico, o Grande da Prússia, pediu, com frazes causticantes e irônicas que cessasse o derramamento de sangue fundamentado na diversidade de religião. (31 32) A perseguição chegou a ser aborrecível para os pensadores que haviam visto mais da dura intolerância das organizações religiosas, que da doce caridade do verdadeiro cristianismo.

O comêço e o fim do período de 1.260 dias, ou sejam, os “tempo, e tempos, e metade de um tempo,” de Apoc. 12:14, foram examinados anteriormente, e fixados nos anos 538 e 1798 A. D. (32) Deve exercer-se discernimento para descrever o que ocorreu no catolicismo e no protestantismo balbuciante durante êste período.

A expressão “Idade Escura” tem para o historiador moderno uma significação muito diversa da que lhe atribuem os adventistas. Sabendo-o, devemos empregar esta expressão com prudência. Para os historiadores, o têrmo aplica-se ao período que se seguiu ao colapso de Roma imperial no Ocidente, no ano 476 A. D., que não foi assinalado por uma decadência, mas por um desaparecimento total da cultura clássica nessa zona, que durou até ao restabelecimento de uma linha imperial ocidental sob Henrique, o Passarinheiro, em 918 da mesma era. (33) Depois desta restauração veio um reavivamento da cultura e do saber, que culminou com a Renascença dos séculos XIV e XV, coisas que o historiador se vê obrigado a reconhecer. A história não denomina “Idade Escura” aos séculos que se seguiram ao ano 900.

Para os adventistas, a expressão descreve um período de escuridão espiritual. O advento da igreja romana ao poder, marcou o princípio da idade média [idade escura, em inglês]. (34) Ainda prevalecia o obscurantismo no século XIV porque “Wycliffe surgiu dentre as trevas dos tempos de ignorância e superstição”. (35) O têrmo tem um significado para os historiadores, e outro muito diverso para os adventistas.

Deve ser lembrado que o período de 1.260 dias, que se estende um pouco além de 150 anos, a partir de nossos próprios dias, inclui assombrosos reavivamentos culturais entre os homens da Idade Média, e foram celtas, germanos, francos e italianos; a Renascença já mencionada, a Reforma, a era dos pietistas e o reavivamento metodista; e a era das luzes.

Deveria ser lembrado, também, que o período de 1.260 dias não é um lapso de realizações papais invariáveis. Não nos referimos sòmente às graves perdas sofridas pelo papado e pela igreja romana por motivo da Reforma, perdas ocorridas 250 anos antes de terminar o período profético citado. Referimo-nos ao fato de que, ao princípio do período, por exemplo, o papa era uma figura débil, que por anos foi hóspede, senão prisioneiro do imperador Justiniano na cidade de Constantinopla. (36) Referimo-nos também ao período que se estendeu a partir do ano 900 A. D., o colapso dos últimos restos da dinastia carolíngia, à ascensão do imperador Henrique III, em 1039, um período em que nenhum católico, sejam quais forem os seus conceitos de ética, pode examinar sem corar de vergonha. Referimo-nos aos papas completamente amorais e agnósticos, quando não ateus, do século XV. Referimo-nos aos setenta anos do cativeiro babilônio dos papas, no século XIV, quando tiveram sua sede em Avinhão, como vassalos dos reis francêses. Referimo-nos ao cisma papal que se seguiu, quando dois, e até três papas, reclamaram simultâneamente o título. Referimo-nos aos papas descuidados que precederam a Reforma ou lhe foram contemporâneos.

Que interpretação pode ser dada ao período dos 1.260 dias? O papado não começou em 538. Já estava começado quando Paulo escreveu: “Já o mistério da injustiça opera.” (II Tess. 2:7). Fêz sua primeira aparição no cenário do poder quando estabeleceu a observância do domingo em meados do século II. Mas em 538 foi posta em operação a maquinaria política necessária para reconhecer a hegemonia eclesiástica do papa, e para desarraigar os reis germanos arianos que estavam opondo obstáculos ao poder político dos papas. A combinação dos poderes eclesiástico e político dos papas, que constitui a natureza da “ponta pequena”, é vista na pessoa de Gregório o Grande, (590-604) cuja carreira ilumina os derradeiros anos do século VI, assinalados pelo ano 538. (37)

A profecia dos 1.260 dias que se seguiu, não requer a invariável e constante supremacia papal. Nem sequer o diabo pôde dar ao seu principal agente na Terra êste êxito tão completo. Mas durante êste período o papado não sòmente não teve nenhum rival religioso; tampouco teve igual na cristandade.

Detinha êle um assombroso poder político enquanto dominava a vida religiosa, e perseguiu quase sem impedimentos todos os dissidentes religiosos, e teve poucos fracassos em suas maquinações políticas. A cabeça papal era ao mesmo tempo papa e rei, e pôde cumprir muitas vêzes sua pretensão de ser superior aos príncipes terrestres.

Cuidará em Mudar os Tempos e a Lei

O papado cuidaria em “mudar os tempos e a lei.” (Dan. 7:25.) Que o papado estabeleceu o domingo é fato indiscutível. Que tenha influído sôbre Constantino para promulgar a primeira lei dominical, 175 anos mais tarde, é assunto de informação que tem base na autoridade inspirada. (38) Sua aversão ao sábado (39) e sua preocupação pelo domingo (40) foram já mencionados. Daí que o sábado seja extirpado dos catecismos católicos, romanos, em que o direita da igreja para estabelecer dias de culto é ilustrado com o domingo.

O segundo mandamento está omisso nos catecismos católicos, romanos. Se não o fôsse, as imagens teriam que desaparecer das igrejas. Mas isto não o permitiría a igreja. Os iconoclastas do oriente, no século VIII, insuflados tanto pelos judeus como pelos maometanos, trataram de limpar de imagens as igrejas cristãs, mas fracassaram. Os concílios celebrados sob a presidência de Carlos Magno, na Alemanha, aprovaram os propósitos dos iconoclastas. (41) Mas ao tratar o papado do problema, mudaram os sentimentos. As imagens tridimensionais foram conservadas no ocidente e, as bidimensionais, restauradas no oriente. Citamos:

“O característico especial da bêsta, e, portanto, de sua imagem, é a violação dos mandamentos de Deus. Diz Daniel, a respeito da ponta pequena, o papado: ‘Cuidará em mudar os tempos e a lei.’ [Dan. 7:25.] e São Paulo intitulou o mesmo poder: ‘O homem do pecado’”, que deveria exaltar-se acima de Deus. Uma profecia é o complemento da outra. Unicamente mudando a lei de Deus poderia o papado exaltar-se acima de Deus. Quem quer que conscientemente guarde a lei assim modificada, estará a prestar suprema honra ao poder pelo qual foi efetuada a mudança. Tal ato de obediência às leis papais se-ria um sinal de vassalagem ao papa em lugar de Deus.

“O papado tentou mudar a lei de Deus. O segundo mandamento, que proíbe o culto às imagens, foi omitido da lei, e o quarto foi mudado de molde a autorizar a observância do primeiro dia, em vez do sétimo, como sábado. Mas os romanistas aduzem como razão para omitir o segundo mandamento, ser êle desnecessário, achando-se incluído no primeiro, e que estão a dar a lei exatamente como era desígnio de Deus fôsse ela compreendida. Esta não pode ser a mudança predita pelo profeta. É apresentada uma mu-dança intencional, com deliberação: ‘Cuidará em mudar os tempos e a lei.’ A mudança no quarto mandamento cumpre exatamente a profecia. Pa-ra isto à única autoridade alegada é a da igreja.

Aqui o poder papal se coloca abertamente acima de Deus.” (42)

A correspondência existente entre as marcas identificadoras da “ponta pequena” de Daniel 7 e do leopardo de Apocalipse 13, são tão notáveis, e tão claramente compreensíveis, que passaremos a elas com esta única menção.

A Imagem da Bêsta

Mas, que é a imagem da bêsta? Entendemos que a bêsta de duas pontas de Apocalipse 13 representa os Estados Unidos, com sua liberdade civil e religiosa manifestada por meio de sua separação da Igreja e Estado. Mas, aparentemente, a imagem se está formando apenas agora, ou se formará no futuro. Em 75 anos o protestantismo desuniu-se na discussão de assuntos relativos à alta crítica e ao modernismo e, especialmente nos Estados Unidos, formou-se, em resultado disso, um grupo de crentes conscientes de si mesmos e conservadores, denominados fundamentalistas. Se entre êles, ou entre os não menos conscientes e liberais, se hão de descobrir atividades que conduzam à formação da imagem da bêsta, não nos atrevemos a profetizar. Certamente, os fundamentalistas são mais ferventes em suas convicções, em seu apêgo à Bíblia e, paradoxalmente, em seu apoio da promulgação das leis dominicais, que a ala liberal.

Mas entre os liberais, a unificação das igrejas é o propósito básico. Até agora esta unificação tem evitado as complicações doutrinais. Formaram-se numa espécie de organização. Surgiu uma meia dezena de uniões de igrejas, com êxito relativo.

  • 1. A unificação das entidades denominacionais fraccionadas, como os metodistas.
  • 2. A união dos congregacionalistas locais em uma cidade, para formarem uma igreja da localidade.
  • 3. A união de duas ou mais igrejas independentes em uma única comunidade religiosa, como é o caso da Igreja Unida do Canadá e as igrejas congregacionalistas e cristãs dos Estados Unidos.
  • 4. A formação dos concílios de igrejas locais e estaduais nos Estados Unidos.
  • 5. A formação do Concilio Nacional de Igrejas nos Estados Unidos, denominada anteriormente Concilio Federal de Igrejas, com ramificações em outros países.
  • 6. A formação do Concilio Mundial de Igrejas, sobretudo de estrutura orgânica, que começa, porém, a manifestar preocupação notável pelos assuntos doutrinais.

Constituem estas uniões o comêço da luta final? Devemos esperar e vigiar alerta. Eis as declarações da irmã White, no tocante ao protestantismo e seus procedimentos:

“Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável.” (43)

“Mediante os dois grandes erros — a imortalidade da alma e a santidade do domingo — Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através da voragem para apanhar a mão do espiritismo; e estender-se-ão por sôbre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, êste país seguirá as pegadas de Roma, concul-cando os direitos da consciência.” (44)

“No movimento ora em ação nos Estados Unidos a fim de conseguir para as instituições e usos da igreja o apoio do Estado, os protestantes estão a seguir as pegadas dos romanistas. Na verdade, mais que isto, estão abrindo a porta para o papado a fim de readquirir na América protestante a supremacia que perdeu no Velho Mundo. E o que dá maior significação a êste movimento é o fato de que o principal objeto visado é a obrigatoriedade da observância do domingo, prática que se originou com Roma, e que ela alega como sinal de sua autoridade. É o espírito do papado — espírito de conformidade com os costumes mundanos, com a veneração das tradições humanas acima dos mandamentos de Deus — que está embebendo as igrejas protestantes e levando-as a fazer a mesma obra de exaltação do domingo, a qual antes delas fêz o papado.” (45)

O Papado e o Futuro

E que sucederá com o papado no futuro? De novo surge aqui um resplandor de advertência, e não uma luz iluminadora da profecia não cumprida.

João nos diz que “tôda a Terra se maravilhou após a bêsta”, aparentemente depois da cura da “chaga mortal”. (Apoc. 13:3 e 12.)

Daniel diz, depois de profetizar que “serão entregues na sua mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo,” que “o juízo estabelecer-se-á, e êles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até ao fim.” (Dan. 7:25 e 26.)

Mais adiante, diz João, concernente à prostituta e à bêsta sôbre a qual está sentada, que “os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a bêsta. … E os dez chifres que viste na bêsta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo. Porque Deus tem pôsto em seus corações que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à bêsta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.” (Apoc. 17: 12-17.)

Temos aí uma profecia notável que parece assinalar uma confusão vindoura, no reino e entre os aliados da bêsta.

O próprio dragão — o anticristo por excelência — se manifestará. Satanás em pessoa virá à Terra, durante a queda das pragas, justamente antes da vinda de nosso Senhor:

“Como ato culminante no grande drama do engano, o próprio Satanás personificará Cristo. A igreja tem há muito tempo professado considerar o advento do Salvador como a realização de suas esperanças. Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de Deus dada por São João no Apocalipse. [Apoc. 13:13-15.] A glória que o cerca não é excedida por coisa alguma que os olhos mortais já tenham contemplado. Ressoa nos ares a aclamação de triunfo: ‘Cristo veio! Cristo veio!’ O povo se prostra em adoração diante dêle, enquanto êste ergue as mãos e sôbre êles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra estêve. Sua voz é meiga e branda, cheia de melodia. Em tom manso e compassivo apresenta algumas das mesmas verdades celestiais e cheias de graça que o Salvador proferia; cura as moléstias do povo, e então, em seu pretenso caráter de Cristo, alega ter mudado o sábado para o domingo, ordenando a todos que santifiquem o dia que êle abençoou. Declara que aquêles que persistem em santificar o sétimo dia estão blasfemando de seu nome, pela recusa de ouvirem seus anjos a êles enviados com a luz e a verdade. É êste o poderoso engano, quase invencível.” (46)

Neste engano não será colhido o povo de Deus. Através das perseguições do papado, ao chegar o tempo do colapso dêsse poder e a manifestação dêsse “poderoso engano, quase invencível” de Satanás permanecerão fiéis cheios de poder do Espírito Santo, fortificados pela santa Palavra de Deus, e cobertos, ainda mais, impregnados da justiça de seu bendito Salvador. Então, o verdadeiro Cristo aparecerá nas nuvens dos céus.

“Aqui findou a visão.” “E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo: o Seu reino será um reino eterno, e todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão.” (Dan. 7:28 e 27.)

Sinal do Tempo

HÁ 32 anos, um jovem piloto chegou a San Diego, na Califórnia, procedente de Hempstead, em Long Island, no outro extremo dos Estados Unidos, e disse, emocionado:

— O impossível acaba de acontecer!

O “impossível” fôra o fato de que êle voara em 26 horas 2.450 milhas.

Agora, um avião F-84F Thunderstreak acaba de voar de Los Angeles a Nova York, uma distância de 2.445 milhas, em três horas e 46 minutos.

O piloto do F-84F, mais prudente do que o colega de 1923, limitou-se a dizer:

— Foi uma viagem rápida!