O amor é ingrediente indispensável na vida da igreja. Sem ele não se pode ganhar almas e muito menos retê-las; talvez possam entrar, mas dificilmente permanecem. Trata-se do amor fraternal, o amor de irmãos. O apóstolo diz que sem ele não adiantam sacrifícios, nem palavras formosas, nem conhecimento, nem profecia e nem ainda a fé. Jesus disse que possuí-lo seria demonstração de que somos Seus discípulos, enquanto que João diz que sua essência na alma revelaria conhecimento de Deus.

Não precisamos citar capítulos e versos das indicações acima porque todos os conhecemos de cor. Com efeito, a teoria do que é o amor, todos conhecemos; o problema começa quando temos de tradu-zi-lo em atos.

A primeira declaração que queremos fazer ao analisar o amor na evangelização e na obra pastoral é esta: Mais almas podem ser ganhas mediante uma vida de amor verdadeiro e verdadeira união por parte do ministério e da igreja do que por meio de planos pessoais de evangelização. Ao examinar o livro de Atos não encontramos planos complicados de evangelização, embora os cristãos tenham enfrentado inimigos tão fortes como eram o paganismo romano ou o judaísmo, e o progresso haja sido espetacular. Por quê?

Talvez sejam duas as razões: 1. O amor que tinham a Jesus era impressionantemente profundo. Isto dava a seu testemunho uma convicção quase irresistível. Falavam de Cristo e Sua mensagem ao vizinho, ao colega, a todos que os rodeavam, sem temor de espécie alguma. Essa comunhão tão real com Cristo, essa religião baseada na experiência e não na simples aceitação de um sistema de doutrinas fazia dos cristãos um conjunto de verdadeiros irmãos em meio a um mundo de violências e ódio. Eles demonstravam uma união e um amor fraternal que impressionavam os pagãos e os atraíam. Entre eles havia nobres e escravos, publicanos e carpinteiros, romanos e judeus, mas era como se as barreiras houvessem desaparecido. “Porque Ele é a nossa paz, que de ambos os povos fez um, derribando a parede de separação”. “Para mediante a cruz reconciliar a ambos num só corpo, matando a inimizade”. Efés. 2:14-16. “Onde não há judeu nem grego, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro nem cita, servo nem livre, mas Cristo é tudo em todos”. Col. 3:11.

Podiam circular comentários e testemunhos falsos asseverando que os cristãos tinham ritos misteriosos, que praticavam sacrifícios humanos, etc.; mas quando alguém entrava em contato com eles, comprovavam efetivamente que eram pessoas excepcionais. Era evidente que conquanto estivessem no mundo, não eram do mundo. Para manter essa imagem e essa experiência Pedro aconselhava a igreja: “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas obras que em vós observam”. I S. Ped. 2:12.

Volvamos agora a nosso ambiente do século vinte. Talvez nossa maior necessidade seja o cultivar mais e mais em todas as nossas congregações essa espécie de real fraternidade. É verdade que já o temos, mas devemos procurar melhorá-lo.

Um evangelista chegava às etapas finais de uma grande campanha de evangelização. Revia o seu temário e o programa realizado nos meses anteriores. Como era maravilhoso o evangelho apresentado durante sete semanas! A razão de seu êxito devia-se ao fato de que o numeroso público havia encontrado uma nova maneira de viver e aquilo que os havia atraído como por um milagre. Que igreja maravilhosa ! Que gente extraordinária esta! era o comentário geral.

O coração do evangelista, contudo, trem: . quando deixava de pensar no HOJE para pensar no AMANHÃ. Será que este evangelho tão maravilhoso será visto pelos bons crentes também na vida da congregação à qual irão se unir? Que sucederá com os novos crentes quando assistirem a uma sessão bienal deste campo, onde comumente há certas situações bastante tensas?

A maioria das deserções nas fileiras da igreja devem-se a este contraste entre o ideal do evangelho e a tradução que dele faz o crente. Não é esta uma situação nova, pois a disparidade existiu entre o glorioso evangelho que Cristo pregou e a vida de Seus discípulos, ou a comunhão direta com a coluna de fogo no antigo Israel e as constantes murmurações do povo. Todavia, apesar de explicável e comum, esse contraste é sempre chocante.

Diga-o agora! — eis nosso lema para 1975. Diga que Cristo vem logo e que é preciso preparar-se; mas procure fazer que o povo veja os sermões, e não apenas os ouça. Que os veja em sua vida de ministro e que os veja na vida de sua igreja. Este é o argumento irrespondível. O reavivamento e a reforma tão desejados em nossas fileiras não são outra coisa que não isto: a maravilhosa teoria do evangelho descendo das frias alturas do dogma ou da doutrina e acompanhando nosso viver diário. Só assim, “nosso exemplo falará mais alto do que nossas palavras”. O que o mundo hoje quer é amor, compreensão, é encontrar um ambiente de fraternidade em meio à solidão, compreensão no meio de um mundo cheio de ódio surdo. O ideal da mensagem é precisamente este: amor fraternal. O povo remanescente tem uma doutrina maravilhosa, mas o que o mundo hoje quer não é convicção intelectual. Com efeito o existencialismo anulou a preocupação de raciocinar. A neo-ortodoxia e o secularismo ao nascer na igreja cristã trouxeram uma desvalorização da doutrina teórica. Contudo ambas as correntes trouxeram uma imensa preocupação pelo amor, pois surgiram num mundo materialista e mecanizado em que o homem não é mais do que um simples número; e a igreja não deve alterar a verdade que prega para adaptá-la aos tempos, porque o seu evangelho é eterno, mas deve, isto sim, estar com os olhos abertos a fim de descobrir qual é a necessidade do mundo e como atendê-la. Se esta fome é de amor, de compreensão e de fraternidade, não há nenhuma instituição mais capacitada para atendê-la do que o povo remanescente.

Estimado Pastor, estimado líder ou irmão da igreja, você tem o alimento que o mundo necessita, e tem também a ordem de Jesus de dar de comer aos que têm fome. Não deixe que o mundo pereça de fome. Dê-lhe amor fraternal!