O mundo moderno representa um formidável desafio para o pastor. Com suas mudanças rápidas, descobertas fantásticas, crescente secularismo e desinteresse pelos assuntos religiosos, requer pastores altamente capacitados, poderosos, com uma mensagem relevante e que corresponda às exigências e necessidades de uma sociedade cada vez mais complexa.

E esse tipo de desafio não é novo. Se observarmos as características da sociedade do primeiro século, vamos encontrar muitas semelhanças com a civilização atual. Aquele era um mundo dominado, em grande medida, pela filosofia grega, pelo materialismo romano, pelo tradicionalismo judeu e pe-las superstições pagãs. Mas os discípulos, cheios do Espírito Santo, abalaram as estruturas sociais e religiosas de então.

O apóstolo Paulo, enquanto zelosamente executa-das por paixões pecaminosas que as leva-não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (II Tim. 43 e 5).

O futuro de Paulo já é nosso presente. E precisamos estar preparados para a luta.

Isso significa dizer que não devemos nos contentar com um preparo medíocre, superficial. A excelência deve ser nosso alvo. Ininterrupta reciclagem espiritual e intelectual. Para falar sobre esse assunto, Ministério entrevistou o Dr. Rex Edwards, diretor do programa de Educação

Contínua da Associação Ministerial, da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Sem a unção diária do Espírito, nenhum pastorado será efetivo. O grande alvo da Educação Contínua é a excelência a serviço dAquele que fez tanto por nós”, ele afirma.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista realizada no IAE, campus central, durante o concilio ministerial da Divisão Sul-Americana.

Ministério: Fale sobre o programa de Educação Contínua.

Dr. Edwards: Vamos começar dizendo que a Igreja Adventista do Sétimo Dia sabia da importância da Educação Contínua, desde o tempo de Ellen White. Ela lembrava reiteradamente que isso deveria ser um aprendizado de longo prazo; que o processo educacional não deveria estar limitado ao tempo em que os futuros pastores recebem preparo para a obra ministerial. Eu costumo dizer que os Seminários não usam atender ninguém que deseje aprender após esse período. A razão para a Educação Contínua, portanto, é muito óbvia. Dois fatores combinados contribuíram para a sua criação. Uma é a outra é a obsolescência de coisas que foram úteis no passado. Educação Contínua não é destinada a indivíduos que não se rápida expansão do conhecimento, e a jam profissionais, ‘mas é para dar ajuda prática a profissionais. Os objetivos da Educação Contínua são melhorados através do trabalho prático. Entre os ministros há diferentes níveis de experiência e aptidão. Existem os aspirantes, há os ministros ordenados cuja experiência os torna mais produtivos, e aqueles que estão prestes a se aposentar. As necessidades dessas três categorias são bem diferentes. En-tão, o programa de Educação Contínua foi estabelecido para atender essas necessidades. Acho que seria muito arrogante para qualquer pessoa que planejou a Educação Contínua, ou para qualquer líder, assumir a idéia de que pode atender todas as necessidades de um grupo tão diverso. A ênfase da Educação Contínua agora é que cada pastor cuide de seu próprio crescimento.

Ministério: O programa é exclusivo para pastores, ou obreiros de outras áreas também podem ser beneficiados?

Dr. Edwards: A Educação Contínua é algo que deve ser levado a sério por todos os profissionais: médicos, professores, advogados, etc. Mas nesse caso específico, não colocamos sob a nossa responsabilidade a Educação Contínua desses grupos. Existem anciãos que são professores, médicos, contadores, que podem e devem crescer em suas respectivas áreas profissionais. Tratamos da Educação Contínua em termos ministeriais. Evidentemente, a Associação Ministerial é responsável pelo treina-mento de anciãos; e há manuais produzi-dos com esse objetivo. Então, os secretários ministeriais e pastores podem reunir os anciãos, dar-lhes um curso com base nesses manuais, e, premiá-los com um certificado de participação nesse curso.

Ministério: Mas esse treinamento, que também envolve preparo para as tarefas ministeriais, não podería ser feito num contexto de Educação Contínua?

Dr. Edwards: Não no sentido formal. Porque a Educação Contínua deve estar relacionada com uma profissão específica. Ao ser administrada, deve ser compatível com a atividade profissional de quem a recebe. Por exemplo, se o ancião é um dentista, ele certamente participará de Educação Contínua na área odontológica. O mesmo acontece se ele é um advogado ou médico. Nós trabalhamos com os pastores. Precisamos separar o que a profissão de um indivíduo requer como Educação Contínua para a sua área, daquilo que. como pastores, fazemos com ele no sentido de habilitá-lo a ser um eficiente líder voluntário na igreja.

Ministério: O senhor considera que o pastor hoje é um homem devidamente pre-parado para enfrentar os desafios do mundo atual?

Dr. Edwards: Eu acho que atualmente temos mais condições de acesso a informações e coisas que nos possibilitam um preparo mais eficaz, do que tínhamos alguns anos atrás. Não posso falar muito sobre a América do Sul, mas posso falar sobre a América do Norte, onde, na última década, surgiram muitos programas destinados a aprimorar o desempenho do pastor. Por exemplo, na maioria dos seminários, foram instalados centros de treinamento permanentes de Educação Contínua, nos respectivos campus. O Seminário Teológico de Prince, em Nova Jersey, estabeleceu que o primeiro dia de cada mês seja destinado à Educação Contínua. A Universidade Andrews desenvolveu um programa denominado “Sementes 97”, relacionado à implantação de igrejas. Especialistas de várias partes do mundo ajudaram os pastores a desenvolver suas habilidades em plantar novas igrejas. Há seminários de liderança, pregação, entre outros assuntos. Essas iniciativas são muito importantes. E o pastor também deve tomar a iniciativa de buscar seu próprio crescimento. Acho que, inclusive, deveria ter um orçamento para isso.

Ministério: Muitos pastores são premidos por um volume de trabalho tão intenso que afirmam não dispor de tempo para tal iniciativa.

Dr. Edwards: Esta é uma questão que não deve ser desconsiderada, porque toca no assunto da prioridade. Na verdade, os professores dos seminários também enfrentam a mesma dificuldade, em diferentes ângulos. Por exemplo, alguns, sob a influência da escatologia da iminência, se perguntam: se Cristo está voltando, por que devo investir tanto tempo em preparo intelectual? Fui informado de que aqui mesmo no IAE, estão planejando um programa de treinamento para cinco anos. Por que gastar tanto tempo estudando grego e hebraico? Esse aprendiza-do pode ser questionado com o argumento de que é desnecessário para a pregação do evangelho. A questão relevante diz respeito às prioridades do nosso trabalho. Certamente, uma delas é a proclamação do evangelho. Mas um dos resultados dessa proclamação é o crescimento da igreja. Conseqüentemente, o pastor deve fazer discípulos e envolvê-los na missão. Onde ele vai adquirir habilidade para essa tarefa? Como ele pode manter-se no apogeu de sua capacidade de ensino e de pregar? Se o pastor alega falta de tempo para estudar, seu futuro ministerial está comprometido.

Ministério: A seu ver, quais as maiores ameaças à eficiência do pastor?

Dr. Edwards: Acho que a maior delas é o problema do gerenciamento do tempo. A Educação Contínua nunca acontece por acaso. Tem de ser uma coisa intencionalmente planejada. Há uma necessidade de avaliação, e o pastor tende a resistir qualquer tipo de avaliação de programa. Na Associação Geral, temos preparado instrumentos de avaliação, pelos quais a congregação pode avaliar seu pastor. Há também instrumentos que a Associação pode utilizar para avaliar o pastor. Sem essa avaliação, o pastor não pode conhecer suas reais necessidades. Se o pastor se submete a isso, não há dúvida de que estará no caminho do crescimento. Isso não significa diminuição de sua personalidade, descrença em sua capacidade, ou uma forma de criticá-lo. Não significa que sua carreira será comprometida. Vai simplesmente expor seus pontos fracos e propor caminhos de melhoramento. Se o pastor de-seja realmente crescer, ele deve começar com uma avaliação de suas necessidades. Conhecidos os pontos fracos, é pre-ciso estabelecer uma estratégia de mudança, que envolve um plano de aprendizado. Há três tipos de aprendizado: o estilo formal, o estilo independente e o interativo. Alguns pastores aprendem muito melhor numa classe formal. Outros têm o estilo independente. Nesse caso devem se submeter a um programa de estudo pessoal. Nós temos audiovisuais para isso, nas áreas de pregação, liderança, motivação e outras, e quem desejar pode entrar em contato conosco. Se o pastor é de estilo interativo, se dará bem num grupo de diálogo. Também oferecemos material para isso.

Ministério: O senhor é reconhecido como um ótimo pregador. Que segredos apontaria para melhorar a nossa pregação?

Dr. Edwards: Se o pastor está atento aos meios de comunicação, ele sabe o efeito da televisão sobre as pessoas. Nenhum pregador pode mais assumir que seu auditório está disposto e hábil para aprender, porque a televisão prejudicou o mecanismo de resposta das pessoas. Ela exerce um impacto muito grande sobre o telespectador. No conforto de sua casa, as pessoas ligam o televisor e têm acesso a programas culturais e informativos apresentados com o máximo de excelência. Se as pessoas observam no pregador um padrão de comunicação inferior ao que vêem na televisão, sua credibilidade será significativamente reduzida. Há muitos estudos na área da dinâmica da pregação. Por exemplo, na base de nosso cérebro, há uma glândula, uma retícula de ativação de sistema. É um filtro. Em todo momento, nossa mente é bombardeada por todo típo de estímulo. E o objetivo dessa glândula é levar-nos a focalizar uma coisa de cada vez. As pesquisas têm mostrado que apenas três coisas podem quebrar esse filtro: uma coisa rara, inusitada, algo de valor, ou uma coisa que nos ameaça. Então o pregador chega no sábado pela manhã, ou vai ensinar na classe de Escola Sabatina, falando coisas que, na maioria das vezes, não têm a menor relevância para os ouvintes. A mente do povo vai divagar. O pregador precisa conhecer as necessidades de seus ouvintes, contextualizar sua mensagem, torná-la prática. Como Jesus fazia. Ele não apenas recebia as mensagens de Seu Pai, mas também entendia a maneira como deveriam ser apresentadas.

Ministério: Em termos práticos, quais o senhor imagina serem as características de um pastor capaz de enfrentar os desafios do mundo atual?

Dr. Edwards: A Igreja do futuro passará por uma grande mudança. Certamente, a igreja local funcionará como um seminário, onde o pastor será visto como o reitor, e os membros serão seus colegas de ministério. Essa é a maneira como eu vejo a Igreja do futuro. Então o pastor precisa esmerar-se no preparo intelectual: e a Igreja tem tomado providências para isso. Segundo uma determinação do Concilio Anual, acho que de 1985, toda organização empregadora denominacional deveria tornar possível para que cada pastor sob sua jurisdição dispusesse de pelo menos 20 horas anuais de Educação Contínua. Essa é uma maneira formal de avisar ao pastor sobre o que a Igreja espera dele. Mas nós podemos trabalhar de duas maneiras: se o Campo falha em cumprir esse propósito, o pastor tem algo escrito sobre um direito legítimo que lhe pertence.

Ministério: Quais são as maiores necessidades do pastor adventista, atualmente?

Dr. Edwards: Depende de onde ele esteja atuando, falando agora geograficamente. Para um norte-americano, a qualificação requerida para começar o trabalho é o Mestrado em Divindade. Isso é mais abarcante do que o requerido na África Ocidental, por exemplo. Há lugares onde a formação pastoral é inferior ao segundo grau. Volto afirmar que cada pastor deveria tomar um propósito para melhorar sua Educação Contínua, baseado nas necessidades pessoais que ele detectou e avaliou. Pessoalmente, acho que a maior necessidade do pastor é ter habilidades exegéticas. Então o conhecimento das línguas originais da Bíblia vai torná-lo um exegeta muito mais habilitado. Quando ele pregar, sua congregação vai estar sob o julgamento da Palavra. Através dele, a Palavra fala. Além disso, ele será mais eficiente ainda em dar estudos bíblicos pessoais. Acho também que o pastor precisa desenvolver habilidades interpessoais, baseado em princípios psicológicos e pedagógicos. Como eu poderia estar hoje aqui, se não fosse a habilidade de um pregador? A experiência nos ensina que os bancos nunca podem se levantar mais alto do que o púlpito. Outra necessidade do pastor é a disciplina espiritual diária. Ele deve estar tão dedicado a essa disciplina, que lhe seja suprida abundante força do Espírito Santo indispensável ao desempenho do seu trabalho. Sem a unção diária do Espírito, seu ministério não será efetivo. O grande alvo da Educação Contínua é a excelência a serviço dAquele que fez tanto por nós.

Ministério: A mensagem final para os pastores.

Dr. Edwards: Prioridades. Estabeleçam suas prioridades, bem definidas. So-mos os servos dos servos de Deus. Aquele a quem nós servimos merece o melhor que podemos dar.