Posição da Igreja Adventista

Como pudemos observar, Armínio entrou em debate frontal com as teorias de Calvino. Os primeiros anos do século 17 foram testemunhas desta colisão de idéias, com referência à livre vontade do homem.

A controvérsia fez que Calvinismo e Arminianismo se tomassem conceitos teológicos opostos. Todavia, desde então, muitas modificações têm sido feitas nos dois conceitos, sendo que ambos os homens que idealizaram e levaram avante estes pensamentos e doutrinas, ficariam muito surpresos de ver a mudança realizada nestes conceitos que hoje em dia levam os seus nomes.

Transcreveremos, a posição da Organização Adventista com referência ao assunto estudado e conforme é encontrado no livro “Questions on Doctrine,” pois cremos que nada esclarece e apresenta melhor o ponto de vista da Igreja. Entrar em outros detalhes, seria apenas especular e fugir do ensinamento como exposto neste livro, que foi feito justamente quando os Batistas lançavam suas redes tentando colher entre nosso povo. Iniciando na página 405, no segundo parágrafo:

“A Igreja Adventista não é nem Calvinista, nem totalmente Arminiana em teologia. Reconhecendo as virtudes de ambos, tem procurado assimilar aquilo que parece ser o ensino da Palavra de Deus.

Enquanto crê que João Calvino foi um dos grandes reformadores protestantes, não pode partilhar de sua idéia que alguns homens “são predestinados para a morte eterna, sem qualquer, demérito deles próprios, meramente pela sua vontade soberana.” — Calvin, “Institutes,” Livro III, cap. 23, § 2. Ou que os homens “não são todos criados com um destino semelhante; mas que a vida eterna é pré-ordenada para alguns, e a condenação eterna para outros.” — Ibid., Livro III, cap. 21, § 5.

Pelo contrário, cremos que a salvação está à vontade de todos os membros da raça humana, porque “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça mas tenha a vida eterna.” S. João 3:16. Regozijamo-nos com o apóstolo Paulo de que “desde a fundação do mundo” (Efés. 1:4) Deus tinha o propósito de enfrentar as necessidades do homem, devesse ele pecar. Este “propósito eterno” envolveu a encarnação de Deus em Cristo, a vida imaculada e a expiação total da morte de Cristo, Sua ressurreição dos mortos e o Seu ministério sacerdotal no Céu, ministério tal que irá ter o seu clímax nas grandes cenas do julgamento.” — “Questions on Doctrine,” págs. 405 e 406.

Começando novamente na página 406:

III. A Raça Humana Perdida Através do Pecado de Adão

“O pecado de Adão envolveu toda a raça humana. “Por um homem o pecado entrou no mundo e a morte pelo pecado,” declara Paulo (Rom. 5:12). A expressão “pelo pecado” mostra claramente que ele está se referindo, não aos pecados individuais propriamente, mas sim à natureza pecaminosa que todos nós herdamos de Adão. “Em Adão todos morreram.” I Cor. 15:22. Devido ao pecado de Adão “a morte passou a todos os homens.” Rom. 5:12.

“Foi para enfrentar o homem em sua necessidade, e para salvar a raça da morte eterna, que a Palavra Eterna se tornou “encarnada.” Cristo viveu como um Homem entre os homens, morrendo, então, no lugar do homem. A morte substitucionária de Nosso Senhor é o coração do Evangelho. Quando, pela fé, nós O recebemos, Sua morte se torna nossa morte — “Se um morreu por todos, então todos morreram.” II Cor. 5:14. As Escrituras revelam que assim como foi de longo alcance o efeito do pecado de Adão, assim será o efeito da graça livre.

“Diz a Escritura: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação; assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.” Rom. 5:18. Mas se nós “reinarmos em vida” (verso 17), devemos aceitar o “dom da justiça.” E o apóstolo João cita o Senhor, como dizendo: “Quem quiser, tome de graça da Água da Vida.” Apoc. 22:17. A única maneira de tomarmos daquela vida é tomarmos a Ele, que é o Autor da Vida. “E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho. Aquele que tem a vida tem o Filho; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a Vida.” I S. João 5:11 e 12. Este dom da vida, nós entendemos, é oferecido a todos; no entanto, somente aqueles que aceitarem a provisão divina, têm vida eterna.

“Em Adão nós herdamos uma natureza pecaminosa. Somos todos “por natureza” “filhos da ira.” Efés. 2:3. Sendo judeus ou gentios, nós estamos “todos sob o pecado.” “Não há ninguém que busque a Deus. Não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Rom. 3: 9, 11 e 12. Conseqüentemente, todos são “culpados diante de Deus.” Verso 19. Porém, se os homens apenas aceitarem o dom gratuito de Deus, de justiça, então não importa quão longe eles se afastaram de Deus, ou quão profundamente eles se chafurdaram no pecado, poderão ser justificados, pois a justiça de Cristo, quando aceita, é reputada como deles. Tal é a graça inigualável de Deus.

“Quando Paulo fala da justificação que é nossa em Cristo, ele diz primeiro, que nós somos “justificados gratuitamente por Sua graça” (Rom. 3:24), pois é a Origem. Depois, ele diz, que somos “justificados pela fé” (Rom. 5:1), pois a fé é o Método. Então ele culmina tudo dizendo que nós somos “justificados pelo Seu sangue” (verso 9), pois o sangue é o Meio. Tiago acrescenta uma outra qualidade, declarando que “uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.” S. Tiago 2:24. Mas as obras são a evidência, não os meios de justificação. Todos estes fatores vitais unidos operam na vida do cristão, e todos que quiserem podem participar desta gloriosa experiência.”

IV. As Provisões Para Nossa Redenção

“Cremos que a Bíblia ensina que nenhum poderá se perder devido à falha de Adão, pois através da obra redentora de Cristo, provisão tem sido feita para todos aceitarem a graça de Deus, através da qual poderão ser salvos do pecado e reestabelecidos na família celestial. Quando o apóstolo João escreveu sobre Cristo Jesus sendo “propiciação pelos nossos pecados,” isto é, os pecados dos crentes, a declaração foi feita que a expiação reconciliadora ou propiciação, foi não somente pelos nossos pecados, mas também pelos pecados de todo o mundo. (I S. João 2:2).

“O fato trágico, no entanto, é que nem todos aceitarão o sacrifício e receberão a vida eterna. Jesus disse: ‘Contudo não quereis vir a Mim para terdes vida.’ S. João 5:40. Em seu apelo de amor, Ele disse: ‘Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos. . . e tu não o quiseste.’ S. Mat. 23:37. E mais tarde, Estêvão acusou aqueles fariseus de serem de dura cerviz e estarem sempre resistindo ao Espírito Santo (Atos 7:51). Assim, através do testemunho bíblico, concluímos que eles não foram compelidos a resistir ao Espírito; eles escolheram resistir. Concordamos com Armínio, que disse:

“5. ‘Todas as pessoas irregeneradas têm livre vontade e a capacidade de resistir ao Espírito Santo, de rejeitarem a graça oferecida por Deus, de rejeitarem o conselho de Deus contra si mesmos, de recusarem aceitar o evangelho da graça, e de não abrirem a Ele, que bate à porta do coração; estas coisas, eles podem realmente fazer, sem distinção do eleito e do réprobo. (“The Writings of James Arminius” — Baker, 1956, Vol. II, pág. 497).

Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte…. Rom. 5:12.

“O apóstolo Pedro, falando do grande sofrimento de Nosso Senhor, declarou que Ele não quer que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” II S. Ped. 3:9. Esta mensagem não está restrita ao Novo Testamento; “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho, e viva.” Ezeq. 33:11. Mas quando o homem ímpio se arrepende e volta do seu mau caminho, por este mesmo ato ele se toma um filho de Deus e se coloca a si mesmo onde o Espírito de Deus pode guiá-lo a fazer a vontade de Deus. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.” Rom. 8:14.

“É importante que aprendamos ‘qual é a vontade do Senhor.’ Efés. 5:17. Escrevendo aos Tessalonicenses, Paulo disse: ‘Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação.’ II Tes. 4:3. O evangelho de Cristo são boas-novas, contando como Deus pode tomar uma alma perdida, uma que é Seu inimigo por natureza, e depois de perdoar seu pecado pode transformar sua vida de tal maneira, que não somente estará limpo de toda contaminação, mas através do crescimento na graça será mudado conforme à imagem de Seu Senhor.”

V. A Graça Divina Justifica e Santifica

‘‘O primeiro trabalho da graça é justificação. A obra contínua da graça na vida é a santificação. Alguns que começam no caminho a Deus e se regozijam no fato, ou no pensamento de serem justificados, falham em se apropriarem do poder interior de Cristo, (através do qual eles podem ser santificados, somente) que é apenas através do qual podem ser santificados. O resultado é que no final eles são achados indignos. É por isto que o apóstolo diz: ‘Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados?’ (II Cor. 13:5). Jesus disse: ‘Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos céus.’ (S. Mat. 7:21).

“A graça de Deus é dada ao cristão para que ele possa se desembaraçar de todo peso; e do pecado que tão tenazmente o assedia, e correr com perseverança a carreira que lhe está proposta. (Heb. 12:1). O poder do Espírito Santo lhe capacita de experimentar a vitória sobre o pecado agora, e de viver uma vida completamente consagrada a Deus. ‘Porquanto a graça de Deus se manifesta salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente.’ (Tito 2:11 e 12). Pela graça nós somos justificados e pela mesma graça nós somos feitos um ‘povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.’ (Tito 2:14). E através do Espírito Santo habitando em nós, somos transformados à imagem dEle que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Novamente citamos Armínio:

“É esta graça que opera na mente, nas afeições e na vontade; a qual coloca bons pensamentos na mente, inspira bons desejos nas afeições, e dobra a vontade a levar em execução bons pensamentos e bons desejos. . . evita tentações, assiste e dá socorro em meio às tentações, sustém o homem contra a carne, o mundo e Satanás, e nesta grande carreira dá ao homem a alegria da vitória. . . . Esta graça inicia a salvação, promove-a, aperfeiçoando-a e consumando-a. — “The Writings of James Arminius,” Vol. II, págs. 472 e 473.

“Quando Cristo está vivendo dentro do coração de um verdadeiro cidadão do reino de Deus, será evidente abundantemente, pois cada palavra e ato serão subjugados sob o controle do Espírito Santo. Isto é o que o Senhor espera de Seu povo, pois “aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar assim como Ele andou.” I S. João 2:6. O grande apóstolo diz: ‘Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle.’ (Col. 2:6).

“João Wesley expressou este pensamento em um de seus sermões:

“Pela justificação nós somos salvos da culpa do pecado, e restaurados no favor de Deus; pela santificação nós somos salvos do poder e raiz do pecado e restaurados à imagem de Deus.” (“Sermons: ‘On Working Out Our Own Salvation’ ”).

“Falando, então do amor de Deus, ele diz:

“Este amor aumenta mais e mais, até que ‘crescemos em todas as coisas nEle que é a nossa Cabeça;’ até que ‘alcancemos a medida da estatura da plenitude de Cristo.’ ” — (Ibid.).

“Realmente, ‘crescer em graça,’ no entendimento de Wesley, não era meramente um privilégio, mas um absoluto requisito para a retenção da ‘grande salvação.’ ”