Uma ocasião no passado, decidi que era tempo de averiguar sinceramente se meu trabalho pelas almas correspondia ou não ao escopo que me fôra designado pelo Céu; assim apliquei-me a examinar mais detalhadamente os métodos de trabalho de Cristo, quando Se encontrava na Terra. Não levou muito tempo para que sofresse a perda definitiva de vários conceitos de trabalho ministerial, e penetrasse num intensivo programa de experimentação, o ano passado, que abriu novas fronteiras de atividade bem à minha frente. Embora seja um tanto espetaculoso comparar acontecimentos do ano passado com a experiência do apóstolo Paulo na estrada de Damasco, certos aspectos bem podem ser comparados a uma manifestação repentina de luz, um cair de joelhos, além de uma noção mais ampla do trabalho ministerial.

Para servir de base a esta exposição, detenhamo-nos um pouco para repassar diversas citações vitais, que despertaram uma sensacional série de experimentos médico-missionários, nesta União Atlântica. Afirmou a serva do Senhor: “Percebo que na providência de Deus a obra médico-missionária é uma notável cunha de entrada, por meio da qual a alma enfêrma poderá ser alcançada.” — Counsels on Health, pág. 535. Agora leiamos com reflexão a seguinte e surpreendente frase: “Quão vagarosos são os homens em compreender a preparação de Deus para o dia de Seu poder! Deus hoje trabalha da mesma maneira para alcançar corações, como fazia quando Cristo estava sôbre a Terra. Lendo a Palavra de Deus, vemos que Cristo introduziu a obra médico-missionária cm Seu ministério. Não podemos abrir os olhos para discernir os métodos de Cristo? Não podemos compreender a incumbência que confiou aos discípulos e a nós?” — Medicai Ministry, pág. 246. Ou ainda: “Ministros, não restrinjais o vosso trabalho a dar estudos bíblicos. Fazei trabalho prático. Procurai restaurar os doentes à saúde. Isto é autêntico ministério. Lembrai-vos de que a restauração do corpo prepara o caminho para a restauração da alma.” — Idem, pág. 240. Notai ainda a impressionante sentença: “Nenhuma linha deve ser traçada entre a genuína obra médico-missionária e o ministério evangélico. Êstes dois devem misturar-se. Não devem ser separados como linhas distintas de trabalho. Devem ser ligados numa união inseparável, assim como a mão está ligada ao corpo.” — Idem, pág. 250. Examinemos ainda mais uma declaração que parece iluminar o âmago dêste importante assunto: “A união da obra idêntica à de Cristo em favor do corpo, com a obra idêntica à de Cristo em favor da alma, é a verdadeira interpretação do evangelho.” — Welfare Ministry, pág. 33. Isto nos leva ao seguinte conselho: “Devemos agora unir-nos e pela verdadeira obra médico-missionária preparar o caminho para a vinda de nosso Rei.” — Testimonies, Vol. 8, pág. 212.

Nestas, e em numerosas citações semelhantes, o suposto médico-missionário descobre uma aparente brecha, freqüentemente separando a teoria da obra médico-missionária de sua capacidade de realmente exprimir essa teoria na prática. No entanto, tomemos em consideração as palavras proféticas, que nos inspirarão com renovada coragem e com a preparação pessoal para o dia em que “veremos a obra médico-missionária alargar-se e aprofundar-se em cada setor de seu desenvolvimento, devido à afluência de centenas e milhares de caudais, até que tôda a terra esteja coberta como as águas cobrem o mar.” — Medical Ministry, pág. 317.

Ninguém negará que o nosso trabalho mundial, através dos sanatórios e hospitais, evidentemente cumpra uma grande parte da profecia acima mencionada. No entanto, se pararmos aí, ignoraremos os mais extensos planos do Céu da participação de todo ministro e membro na genuína obra médico-missionária, como foi revelado nas seguintes e inspiradas palavras: “Atingimos um tempo em que todo membro da igreja deveria lançar mão da obra médico-missionária.” — Test. Seletos (Edição Mundial), Vol. 3, pág. 102. Admitamos francamente que tão claras declarações, em vista das populações civilizadas de hoje viverem dentro do alcance do telefone do mais adiantado tratamento médico, e rigorosas leis restringirem as atividades médicas da parte dos leigos, à primeira vista quase parecem impossíveis de serem postas em prática. Por outro lado, antes que êstes parágrafos sejam concluídos, descobriremos uma maneira de realizar trabalho médico-missionário, por meio dum plano que o Dr. J. Wayne McFarland e eu estivemos testando calmamente, través de programas orientadores na União Atlântica, há mais de um ano.

Antes de tudo, porém, haverá pouco proveito em discutir os princípios médico-missionários do ponto de vista ministerial, sem compreender-mos bem que no Éden o homem originalmente caíu pela investida de Satanás contra a sua natureza física, mental e espiritual. Havendo iniciado um bem sucedido ataque à natureza física daquele, Satanás prosseguiu até lograr romper a ligação espiritual do homem com Deus. Pela razão de o mesmo cair nos três níveis citados, não se torna imediatamente evidente que os verdadeiros esforços ministeriais para salvar o homem todo, devem ser despendidos na recuperação de sua natureza física, mental e espiritual, para que Deus dêles Se possa agradar?

A desolada e satânica filosofia pagã: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”, com tôdas as suas perniciosas conseqüências históricas, difundiu-se mais do que se possa imaginar, até mesmo no pensamento religioso da atualidade. Após uma recente palestra sôbre saúde, apresentada pelo Dr. McFarland à associação ministerial duma cidade, um eminente clérico declarou: “Nós, os ministros, por muito tempo acreditámos que a mente e a alma eram os mais importantes elementos do homem, religiosamente falando, por isto dedicámos pouca atenção à sua natureza física.” Para evitar êste conceito errôneo, Jesus, o grande Médico-Missionário, geralmente atendia em primeiro lugar o corpo, antes de procurar alcançar o coração humano. Certamente Jesus sabia o que estava fazendo quando Se inclinou ao pó e formou um corpo físico como habitação para o cérebro, desta maneira capacitando Adão para adorar o Criador. Por conseguinte, fomos criados para o tríplice desígnio de desenvolver o físico, o mental e o espiritual. A fim de realizar, pois, um equilibrado trabalho ministerial em favor do homem como um todo, não nos devemos limitar à sua restauração mental e espiritual, trabalhando apenas parcialmente pela sua recuperação física. Se negligenciarmos o físico, o Céu comparará nosso trabalho a um tripé um tanto deformado, com uma escora bem mais curta que as outras duas, e inclinado para um lado, se é que poderá ficar em pé. Prestemos, portanto, atenção para estas inspiradas palavras: “Cristo permanece à nossa frente como o Homem-modêlo, o grande Médico-Missionário — um exemplo para todos os que viriam depois.” — Medical Ministry, pág. 20. Então segue uma quase clamorosa e suplicante pergunta: “Acaso realizarão os homens e as mulheres, algum dia, uma obra que tenha as feições e o caráter do grande Médico-Missionário?” — Ibidem. Devido à graça de Deus sempre ser transformante e eficaz, a instrução ministerial sôbre o divino evangelho da graça deve simultâneamente abranger um compreensivo programa de educação em favor das faculdades físicas, mentais e espirituais do homem, que se processará melhor na ordem acima mencionada.

Nós, adventistas, desenvolvemos uma considerável habilidade para pregar a natureza obrigatória dos Dez Mandamentos, com especialidade do quarto mandamento. No entanto, gostaria de saber se já percebemos que no sexto mandamento — Não matarás — reside o próprio âmago do princípio da verdadeira obra médico-missionária. Temos, então, moralmente, o sagrado dever de declarar que todo o hábito físico que prepara o terreno para futuras doenças e uma possível morte prematura, constitui uma grave violação do claro mandamento de Deus — Não Matarás.

Observando o fluxo e refluxo da multidão, na esquina duma rua de Nova York, pensei comigo mesmo: — Como posso fazer de nossa mensagem de saúde uma cunha de entrada para êstes corações? Depois de muito meditar sôbre o fato de que Deus nos concedeu um sistema superior de vida, destinado a reformar os costumes de vida do mundo, achei que a única maneira viável seria pesquizar o livro The Ministry of Healing e adaptar seus eternos princípios para o tempo atual. Então, numa reunião em que se planejou a propaganda para uma série de palestras sôbre a saúde em geral, surgiu inesperadamente esta audaciosa idéia: — Por que não cobrar a entrada do programa, eliminando assim a necessidade de se retirar uma oferta? Conseqüentemente, nosso anúncio no New York Times declarava que os assentos reservados custariam um dólar e vinte e cinco centavos, cada um. Para surpresa minha, o telefone tocou constantemente por vários dias, terminando por ficar o nosso salão repleto com 800 dos mais atenciosos ouvintes que se possam imaginar, todos êles resolvidos a obter o máximo de seu dinheiro. Animados com isto, continuamos com o plano de vender ingressos para os vinte programas adicionais sôbre saúde, obtendo uma assistência bem maior do que a de outras reuniões gratuitas que versavam apenas sôbre religião. Evidentemente, embora êste método apenas possa ser usado sob determinadas condições e com muita cautela, depois daquele sucesso inicial, eu não necessitava provas adicionais de que bons princípios de saúde realmente se possam tornar uma poderosa cunha de entrada. Mas compreendi que sòmente tocara na superfície do plano de Deus para alcançar os corações. Para os colegas de ministério que desejam desenvolver uma filosofia mais cabal sôbre o evangelismo médico-missionário, muito recomendo um cuidadoso estudo de uma compilação de 47 páginas, intitulada: A Call to Medicai Evangelism and Health Education, com um incentivo prefácio do Departamento Médico da Associação Geral, e editada pela Associação Publicadora do Sul. Lemos na página oito: “O evangelho da saúde deve estar intimamente relacionado com o ministério da palavra.” (Citação tirada do Medicai Ministry, pág. 259). Agora vem a inevitável pergunta: — Está o meu ministério intimamente relacionado com a obra médico-missionária?

Por mais de um ano, tem-me sido um privilégio empreender nesta União Atlântica, com a cooperação do Dr. McFarland, uma série de ponderadas experiências médico-missionárias. Como incentivo, observei o Dr. H. W. Vollmer e senhora, nas aulas de nutrição por êles realizadas através desta União, adestrando as espôsas dos ministros na arte de fazer demonstrações culinárias. Era emocionante ver uma jovem senhora, assim preparada, subir à plataforma por trinta minutos, antes do sermão evangelístico do marido, e primorosamente preparar um saudável alimento. Seu marido modestamente declarou: — Êles vêm para vê-la cozinhar e permanecem para me ouvir pregar. Em parte êle está certo. Êstes dois jovens obreiros estão apenas demonstrando a grandiosidade do evangelismo da saúde. Abertamente nos foi declarado que as aulas de nutrição devem acompanhar cada esfôrço evangelístico, empregando dêste modo o plano do Céu na salvação do homem todo.

No ano passado, observei ministros iniciarem séries de conferências, levando médicos locais à plataforma, e ombro a ombro prosseguirem numa série de questões arranjadas de antemão, o que muitas vêzes me pareceu ser mais eficiente do que apenas a palestra de quinze minutos sôbre saúde, por parte dum médico. Os assistentes se impressionam ao verem ministros e médicos visivelmente associados, e em estreita cooperação. Outros pastôres, não tendo algum médico dedicado para ajudá-los, introduziram nas reuniões noturnas a série de filmes do Dr. Clifford Anderson sôbre assuntos médicos, acompanhada da respectiva narração em fita. Algumas noites uma enfermeira local vinha demonstrar certos tratamentos caseiros, ante uma fascinada assistência. Que estava acontecendo? Êstes ministros simplesmente utilizaram alguns princípios básicos da obra médico-missionária, obtendo um conhecimento essencial para futuras realizações.

Certa vez, uma afirmação extraordinária comoveu-me intensamente. Ei-la: Um nôvo elemento deve ser introduzido na obra. O povo de Deus deve atender à advertência, e trabalhar pelas almas exatamente onde elas se encontram; pois as pessoas não compreendem sua necessidade e perigo.” — Idem, pág. 319.

Muitas vêzes refleti na pergunta: — Que “nôvo elemento” é êste, que deverei introduzir em meu trabalho? Esta pergunta não deve ser considerada levianamente. Por muito tempo senti um persistente descontentamento devido a sòmente pregar para as pessoas e visitá-las do ponto de vista intelectual e espiritual, sabendo muito bem que suas mentes freqüentemente estavam tão obscurecidas por errôneos hábitos de vida, que eram incapazes de se apoderarem completamente dos grandes temas do dever e do destino. Outrossim, na citação anterior somos admoestados como um povo a “trabalhar pelas almas exatamente onde elas se encontram.” Com certeza, isto sugere uma tentativa de elevar a humanidade, começando com um plano que a ajude a se libertar dos escravizantes hábitos, pelos quais tem estado ligada a Satanás.

Naturalmente, deve haver algo com que iniciar êste trabalho, que também deverá ser do interêsse daquêles que se deseja ajudar. Evidentemente, a pessoa mediana não sente a constrangedora necessidade de mudar seus pontos de vista sôbre o milênio ou o estado dos mortos, mas milhares de pessoas pensantes se preocupam com o fumo e a saúde em geral. Acaso é esta a chave para uma nova fronteira na obra médico-missionária? Como um povo, estamos há décadas proclamando os perigos do fumo e ajudando as pessoas a deixá-lo. Por conseguinte, do ponto de vista histórico e de saúde, acaso não somos nós o povo certo para apresentar ao mundo, com exatidão, como quebrar êste hábito aviltante?

Surgiu o seguinte pensamento: “Aquêles que procuramos ajudar geralmente são induzidos por sentimentos religiosos a combater o fumo, e o homem comum da rua não o é.” De alguma maneira veio-nos uma convicção recorrente de que se empregássemos vários métodos já usados durante anos, com muito êxito, por ministros e médicos desta denominação, poder-se-ia inventar um plano capaz de fazer grandes grupos de pessoas quebrarem o hábito de fumar, mesmo que não fossem impulsionadas por convicções religiosas.

Neste primeiro período de experimentação, o fato de o Pastor W. J. Hackett, presidente da União Atlântica, demonstrar inabalável confiança na idéia básica do plano e instar com o Dr. McFarland e comigo para inicarmos um programa de experimentação em larga escala, foi-nos uma animação. Depois de passarmos quase um ano realizando diversas tentativas, encontramo-nos relacionados com um emocionante programa de imensas possibilidades, em que êste contato faz mais do que apenas abrir portas diante de nós. Quando bem efetuado, êste plano figuradamente como que remove aquelas portas pelos gonzos. Conhecido como “O Método de Deixar de Fumar em Cinco Dias”, êste projeto será detalhadamente descrito em outro artigo.