Nosso compromisso é inspirado pelo amor, e, para ter esse tipo de compromisso, necessitamos também de um componente crucial: a fé
Com que palavras podemos definir o conceito de compromisso? Compromisso pode ser definido como a decisão de fazer o que necessita ser feito, independentemente do preço a ser pago. Essa é uma definição que caracteriza incontáveis heróis ao longo da História.
Entretanto, o compromisso cristão pode ser ainda melhor definido, iniciando com o exemplo do próprio Deus: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Deus decidiu salvar o mundo perdido. O preço disso foi a morte cruel e desprezível do Seu próprio Filho. Qual foi a motivação desse compromisso? Ele foi inspirado pelo amor conforme definido por Jesus: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15:13).
De que maneira isso se aplica aos seguidores de Jesus Cristo, especialmente aos pastores? O diálogo entre Jesus e Pedro responde a essa pergunta: “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Ele lhe disse: Apascenta os Meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu Me amas? Ele Lhe respondeu: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as Minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu Me amas? Pedro entristeceu-se por Ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu Me amas? E respondeu-Lhe: Senhor, Tu sabes todas as coisas, Tu sabes que eu Te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as Minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-Me” (Jo 21:15-19).
Amor que inspira
Seguir a Jesus e alimentar Seus cordeiros e ovelhas, essa era a missão de Pedro. E o amor o inspirou a cumpri-la. Embora Pedro não compreendesse muito a missão, no momento em que se tomou discípulo, ele cresceu em amor e se tomou um dos fundadores da igreja cristã – um comprometimento que, no fim, lhe custou a vida.
Amor a Cristo não significa simplesmente um sentimento ou afeição, mas um compromisso de segui-Lo em todos os caminhos. “Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-Me” (Lc 9:23). Cristo também disse: “Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos” (Jo 14:15). O amor cristão inspira o compromisso para obedecer, não para ganhar o favor de Deus, mas porque Ele conquistou nosso coração. O amor cristão demonstra o significado do discipulado. Impulsionados por esse amor, dizemos o que Ele nos ordena falar, iremos aonde Ele nos enviar, faremos o que Ele nos pedir – a qualquer preço.
Fé motivadora
Nosso compromisso é inspirado pelo amor, e, para ter esse tipo de compromisso, necessitamos também de um componente crucial: a fé. “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11:1). Tendo em vista nossas limitações humanas, o que esperamos e não vemos não pode ser confirmado como fato, pelo menos como o mundo compreende o que seja fato. Entretanto, a fé nos dá a segurança e a convicção de que as coisas que esperamos e não vemos tomam-se realidade, um fato.
De Enoque é dito que agradou a Deus. “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que O buscam” (Hb 11:6). Enoque não podia tocar muito menos ver Deus, mas ele creu em Deus. A fé fez com que Deus Se tornasse realidade para ele.
Em Romanos 4, Paulo nos dá outro exemplo de fé como realidade na vida de Abraão. É-nos dito que “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações” Rm 4:18). Sara já havia ultrapassado os anos favoráveis à concepção de filhos e o patriarca considerava seu corpo praticamente morto, “mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4:20, 21).
Porém, a fé não pode ser confundida como simples crença: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem” (Tg 2:19). “Pela fé, Noé aparelhou uma arca para a salvação de sua casa” (Hb 11:7). Ele não apenas creu em Deus, mas fez o que Deus lhe ordenou. Construiu um imenso navio em terra seca, enquanto anunciava ao povo a iminência de um dilúvio, num tempo em que, até então, jamais tinha chovido. Em função disso, ele foi ridicularizado, zombado, desafiado e menosprezado, mas continuou em sua missão, enfrentando tudo isso por 120 anos.
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hb 11:8). A fé revelada por Abraão o motivou a fazer o que muitos, hoje, consideram impensável.
Olhando para Jesus
Atitudes como as desses patriarcas somente são vistas em homens de fé. O capítulo 11 de Hebreus nos expõe uma verdadeira “galeria da fé” – Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e outros profetas “os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11:33, 34).
Seguindo sua definição e exemplo em Hebreus 11, o escritor do livro nos dá um modelo para manter o compromisso, no capítulo 12: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12:1, 2).
Em seguida, somos admoestados a não arrefecermos ou enveredar pelos caminhos da covardia, pois em nossa luta contra o pecado ainda não chegamos ao ponto de derramar nosso sangue (v. 4). Devemos lutar em busca da “santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (v. 14). Lutar pela santificação se toma um compromisso; mas qual é a motivação dessa luta?
Se Cristo é o Modelo, nossa motivação é a alegria que nos está proposta. Essa alegria pode ser descrita como a alegria da salvação, a alegria de saber que tudo o que Deus prometeu se cumprirá.
É a fé em Jesus que nos motiva a segui-Lo, razão pela qual a justificação pela fé não significa contemporização com o pecado. A substituição da nossa injustiça pela justiça de Cristo não é graça barata, mas um ato misericordioso do Seu amor que nos motiva a obedecer-Lhe. Estando comprometidos com Cristo, não nos perguntamos: “Quão difícil será?” Nosso compromisso com Ele nos leva a dizer: “Tudo posso nAquele que me fortalece” (Fp 4:13). Se estivermos comprometidos com Cristo, jamais diremos: “Não posso ser perfeito”, mas, “não sou perfeito, porém em Jesus posso ser”.
O que Cristo tem feito, faz e continuará fazendo por nós e em nós deve ser a suprema motivação para que comprometamos nossa vida com Ele. Seu convite, também para nós, é: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve” (Mt 11:28-30).