Mensagem devocional apresentada em New Orleans, na sexta-feira, 28 de junho de 1985.

A viagem de Jerusalém a Emaús começou em desespero. Os sonhos dos homens a respeito do reino foram desfeitos. O Homem no qual eles criam não estava mais ali. O sussurro das mulheres deu lugar ao estranho rumor de que até o Seu corpo desaparecera. Mas, em algum lugar dessa viagem desalentadora, a palavra profética foi aplicada a eles.

“Começando por Moisés”, a história passou a ser relatada por Aquele que é o autor e o objetivo da profecia. “Porventura não nos ardia o coração?” — exclamaram os cansados viajantes quando eles relembraram o poder da palavra profética. E o que parecia ser um beco sem saída transformou-se numa estrada para a eternidade (S. Luc. 24:27-32). O desespero converteu-se em esperança. A crise foi substituída pela celebração. Desvaneceu-se a dúvida. E a fé criou asas para contar ao mundo que o Senhor existe e que Ele está agindo a fim de preparar um povo.

Na interpretação e no cumprimento da profecia é aumentada a nossa confiança na Escritura e fortalecida a nossa fé em Deus. Satanás tem procurado impedir que as pessoas estudem as profecias. Ele sabe que na correta interpretação da profecia são desmascarados os seus desígnios de unir o mundo sob o seu estandarte. A mais completa revelação da vontade de Deus ocorreu por intermédio dAquele que expôs as profecias a Cléopas e seu companheiro no caminho para Emaús. Durante o infame julgamento perante Pilatos, Jesus declarou: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.” S. João 18:37.

Deus age. Ele age no tempo. Ele age no espaço. No tempo de Noé, na saída de Ur, contra a arrogância de Faraó, para o estabelecimento do povo do concerto, na criação de um esboço da história divina, em Belém, no Pentecostes, na preservação de Sua verdade através dos escuros séculos da História, a ação de Deus está aí para que a vejamos.

Creio que o mesmo Senhor agiu em 1844. Houve muitos acontecimentos importantes por volta desse tempo. O cristianismo evangélico estava no apogeu. Grandes movimentos missionários se alastraram pela Ásia e pela África. Esse período viu também a teoria evolucionista de Darwin desafiando o relato de Gênesis. Marx e Engels estavam trabalhando para produzir o Manifesto Comunista, procurando criar um novo deus para uma nova era, e milhões de pessoas hoje adoram no seu relicário.

O espiritismo moderno remonta sua origem a esse período. O outro lado do mundo estava despertando num frenesi de nacionalismo, quando a Índia começou sua longa cruzada pela libertação do colonialismo e da opressão. Religiosa, científica e politicamente, o período em volta de 1844 se destaca como um marco na História. Acima de tudo, porém, 1844 simboliza o relógio profético de Deus batendo a hora decisiva, proclamando que é chegado o tempo do fim.

Seguindo certos princípios de interpretação profética, Guilherme Miller chegou à conclusão de que a purificação do santuário mencionada em Daniel 8 apontava para a volta de Jesus Cristo à Terra e que esse acontecimento ocorreria em 1843. As evidências indicam que a Igreja primitiva reconhecia o significado da profecia das 70 semanas e que o princípio do dia-ano era aceito por cristãos judeus ao interpretarem as profecias simbólicas do tempo. Reformadores protestantes também confirmaram a inclusão do período de 70 semanas no começo e junto com o período dos 2.300 dias.

Mil oitocentos e quarenta e quatro não é um acidente, nem o resultado de uma imaginação fantasiosa. Não é uma fórmula para a sobrevivência de alguma coisa equivocada. É o apelo final de Deus ao homem. O desapontamento após a errônea interpretação de Miller assemelhava-se à viagem a Emaús — mas Deus interveio. A Palavra de Deus foi estudada diligentemente. Suas profecias não podiam falhar; por conseguinte, elas foram estudadas novamente. Nos dias que se seguiram ao desapontamento de 1844, os pioneiros deste movimento examinaram as Escrituras, começando com Moisés. Como resultado dessa pesquisa, como resultado desse ardor do coração, nasceu um movimento profético para o futuro — a fim de proclamar que as reivindicações de Deus não podem ser comprometidas; a fim de “anunciar” que Deus está procurando reproduzir o Seu caráter na vida de Seu povo. Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que lhes foi confiada a sagrada tarefa de cooperar com as instrumentalidades divinas a fim de preparar um povo para o encontro com o seu Senhor.

Nossa Incumbência

Nossa incumbência, o conteúdo de nossa mensagem e nossas credenciais divinas se encontram todos em Apocalipse 14. A incumbência é proclamar “o evangelho eterno… aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo” (verso 6). É o encargo de transmitir as boas novas do evangelho eterno — o evangelho que se centraliza na Pessoa e no ministério expiatório de Cristo. É uma reafirmação da incumbência dada aos onze discípulos, mas adaptada às circunstâncias e ao tempo especial de sua apresentação. É a pregação do evangelho na certeza do iminente regresso de nosso Salvador. “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo,para testemunho a todas as nações. Então virá o fim.” S. Mat. 24:14.

Os Adventistas do Sétimo Dia têm encarado esta incumbência com toda a seriedade. Temos sido os primeiros a chamar a atenção do mundo para as profecias que predizem o fim da presente ordem mundial. Ensinamos a Segunda Vinda literal e visível no contexto da promessa de Cristo em S. João 14:1-3. Pregamos os sinais do fim delineados por Cristo e pelos escritores do Novo Testamento.

O Conteúdo de Nossa Mensagem

O conteúdo de nossa incumbência se encontra na mensagem dos três anjos de Apocalipse 14. É um apelo para temer e adorar a Deus como Criador e Juiz. Anuncia o tempo do Juízo. Aponta para a queda das religiões falsas e adverte contra a adoração da besta e o recebimento de sua marca ou sinal.

Nosso mundo, na atualidade, tem uma idéia deformada a respeito de Deus. Grandes segmentos da sociedade excluíram a Deus de suas cogitações.

Nosso encargo é chamar a atenção, de modo especial, para Deus como Criador. A quase total aceitação da teoria da evolução, dando apoio a asserções geológicas de um longo e prolongado processo para que a Terra viesse à existência, confere adicional relevância à mensagem do primeiro anjo. Os Adventistas do Sétimo Dia proclamam audazmente uma semana da Criação de sete dias. Deus declara que Sua qualidade como Criador é um dos sinais de Sua divindade e autoridade. É à luz desta mensagem que o sábado do sétimo dia assume especial significação.

O primeiro anjo anuncia que é chegada a hora do Seu juízo. Esta mensagem do Juízo deve ser dada antes da Segunda Vinda e depois do período de 1.260 anos de dominação da besta de Apocalipse 13. O assunto do juízo se encontra em toda a Bíblia, e sua importância especial foi mostrada ao “pequeno rebanho” depois do desapontamento de 1844. O juízo deve começar com o povo de Deus, e é uma vindicação de sua confiança nEle. É um julgamento que resulta em libertação.

A mensagem do segundo e do terceiro anjo descreve a queda das falsas religiões que têm exigido a lealdade de todas as nações da Terra.

Os juízos de Deus irão cair sobre todos os que se opuseram a Sua autoridade e palavra. Antes da destruição do mundo pelo Dilúvio, Deus enviou uma mensagem de advertência por intermédio de Noé. Suas advertências incluíam um símbolo de livramento — mas para os incrédulos ele tornou-se objeto de desdém. Antes de caírem as pragas sobre o Egito e antes da matança à meia-noite, Deus enviou Moisés e Arão para que advertissem a Faraó das conseqüências da desobediência. Além das advertências, Ele deu amplas evidências de Seu poder para cumprir Suas ameaças. Mas Faraó foi insensível a essas mensagens enviadas pelo Céu.

Nossas Credenciais

Os leais seguidores de Deus têm apenas um sinal de identificação, mas esse sinal os distingue do resto do mundo. Seu estilo de vida, sua adoração e seus objetivos são todos moldados por essa credencial. Eles têm o nome do Pai e do Filho escrito na fronte. Este nome, ao qual se apegam ternamente, a despeito de provas e perseguições e da própria morte, faz com que sejam dignos de seguir o Cordeiro para onde quer que vá. Devido a esse nome, eles têm guardado a fé de Jesus — a mesma fé que seu Salvador confiou aos Seus discípulos. Por causa dEle — o qual é sua justiça — eles têm sido guardados por Sua palavra. Numa época de permissividade e de insolente abandono dos santos preceitos de Deus, eles têm, por meio de Seu nome, aceito voluntariamente esses princípios. Pela fé nEle, tornaram-se participantes da natureza divina.

Eles aguardam pacientemente a volta de seu Senhor. Apesar da aparente demora e em face de ridículo e temor, eles sabem que “Aquele que vem virá, e não tardará” (Heb. 10:37).

A mensagem dos três anjos dividirá o mundo em dois grupos: os que seguem o Cordeiro e os que adoram a amalgamação de falsos sistemas. Sob as forças operadoras de milagres, descritas em Apocalipse 16, a ira do mundo inteiro será despertada contra o remanescente que guarda os mandamentos. Só os que demonstraram lealdade a Deus serão poupados aos terríveis juízos proferidos sobre os que se opuseram à Sua palavra. As multidões vitoriosas sobre o mar de vidro seguiram o Cordeiro de Deus enquanto se achavam na Terra, e terão o privilégio de segui-Lo nos novos Céus e na Nova Terra.

Que privilégio é fazer parte de um movimento especial, pertencer ao último segmento das sete divisões da Igreja de Deus, fazer parte de um movimento suscitado em cumprimento da profecia bíblica! Somos despenseiros da última mensagem de advertência do Céu a homens e mulheres que vivem no tempo do Juízo. Nosso imperativo divino requer planos que correspondam às expectativas do Céu. Não somos reformadores sociais; não somos batalhadores da liberdade política. Todo o nosso empenho e estilo de vida precisa proclamar que “é chegada a hora do Seu juízo”.

Os que nos contemplam não precisam maravilhar-se de nossas realizações ou das estatísticas de saúde referente ao nosso povo, mas devem ser levados a exclamar: “Que faremos para ser salvos?” Devemos preparar um povo para encontrar-se com Deus e demonstrar em nossa existência a justiça e a misericórdia de Deus. Precisamos desmentir a afirmação de Satanás de que a provisão de Deus para a salvação não salva os homens dos pecados deles. Ao considerar estes privilégios e responsabilidades, não sentis “arder” também o coração?

“O Senhor dá ao povo uma verdade especial quando este se encontra em situação difícil. Quem ousa recusar-se a publicá-la? Ele ordena a Seus servos que apresentem o último convite de misericórdia ao mundo. Eles não podem permanecer silenciosos, a não ser com perigo de sua alma. Os embaixadores de Cristo nada têm que ver com as conseqüências. Devem cumprir seu dever e deixar os resultados com Deus.” — O Grande Conflito, pág. 615.