A morte é sempre uma visitante inoportuna e indesejável. Ela alcança de maneira democrática pobres e ricos, cultos e iletrados, atingindo toda a humanidade. Nesse momento de dor, em que familiares e amigos lamentam a perda de um ente querido, o procedimento adequado do ministro responsável pela cerimônia fúnebre se torna essencial.
Atenção à família
Em primeiro lugar, o pastor deve demonstrar empatia e solidariedade, visitando a família prontamente após receber a notícia do falecimento e colocando-se à disposição para auxiliá-la no que for necessário. Esse não é um momento para discursos teológicos, mas uma oportunidade de orar com a família e oferecer palavras de conforto. Contudo, devido aos procedimentos relacionados ao velório e ao sepultamento, o contato mais prolongado entre o oficiante e a família costuma ocorrer no local em que o corpo está sendo velado.
O Guia Para Ministros afirma que, no contato inicial com a família, “sugestões específicas devem ser dadas sobre como a igreja pode ajudar, como prestar assistência na notificação aos parentes e amigos, atendendo ao telefone ou à porta, cuidando das crianças, da alimentação ou preparando a casa para receber os visitantes.”1
Sensibilidade
É preciso ter sensibilidade para compreender e respeitar as lágrimas e expressões de dor. As pessoas estão tentando assimilar a nova realidade: como seguir a vida sem a companhia do marido, da esposa, do filho, da filha, do pai ou da mãe. Nesse momento, o pastor deve oferecer seu companheirismo cristão, expressando-se por meio de palavras de alento ou mesmo pelo silêncio solidário. Se ele tinha alguma proximidade ou amizade com o falecido, será reconfortante para a família ouvir palavras de apreciação e sincero lamento pelo ocorrido.
Quando Jesus esteve na Terra, demonstrou empatia e sensibilidade para com os sofredores. “Jesus chorou” (Jo 11:35) é um dos menores versos da Bíblia, mas também um dos mais profundos. Ellen White declarou: “Embora fosse o Filho de Deus, revestira-Se da natureza humana e Se comovia com a dor da humanidade. Seu amável e compassivo coração está sempre pronto a se compadecer perante o sofrimento. Chora com os que choram e alegra-Se com os que se alegram.”2
Muitas pessoas não sabem o que dizer em um funeral, o que é perfeitamente compreensível, considerando as limitações de nossa humanidade. Frases como “Eu sei o que você está sentindo”, “Não fique triste, vai passar”, “Seja forte” ou “As coisas voltarão ao normal” nunca devem ser ditas em um momento de luto. Nessas circunstâncias, a melhor atitude é abraçar o enlutado, chorar com ele e ouvi-lo com empatia. Além disso, evite emitir opiniões sobre a condição espiritual da pessoa falecida. Lembre-se de que somente Deus conhece o coração. Quais foram os últimos pensamentos nos últimos segundos de vida? Apenas Ele sabe.3
Organização da cerimônia fúnebre
A ordenação não é um requisito para a ministração de funerais. Na ausência do pastor, um ancião pode organizar e oficiar o culto fúnebre. Em consulta com a família, deve-se definir o horário de início da cerimônia. Sempre que possível, a cerimônia deve ser concluída pouco antes do momento em que o corpo será levado do velório à sepultura. A sequência do culto é simples: introdução, oração, hinos (podendo incluir hinos favoritos do falecido), biografia, sermão e hino de consolação e esperança.
A abertura de um espaço para testemunhos deve ser conduzida com cautela e consulta prévia aos familiares. O Guia Para Ministros aconselha: “Algumas pessoas acham reconfortante dar ou ouvir testemunhos daqueles que assistem ao funeral. Embora isso possa ser útil em algumas ocasiões, essas memórias podem se tornar muito extensas, excessivamente emotivas ou inadequadamente pessoais.”4
Sermão
Ao apresentar a mensagem, o oficiante deve ter em mente que não é o momento para exibicionismo homilético ou teológico. Deve-se evitar cair na tentação de usar a cerimônia para doutrinar as pessoas presentes acerca da verdade bíblica sobre o estado dos mortos. O momento é próprio para oferecer o consolo da Palavra, e não para ferir crenças pessoais. Após uma cerimônia fúnebre conduzida com respeito e amor cristão, é comum que algumas pessoas se sintam tocadas e queiram conhecer melhor a Bíblia, especialmente sobre o que ela diz acerca da vida eterna, da vinda de Cristo e do Céu.
Duração
Com frequência, a cerimônia fúnebre é realizada em lugares nos quais os ouvintes não têm onde se sentar, sendo que, em algumas situações, eles ficam expostos ao calor do sol ou à chuva. Evidentemente, quando o culto ocorre na igreja, as pessoas se encontram em um ambiente mais confortável. Contudo, independentemente do local, não é prudente se estender na pregação.
Sepultamento
Nunca é demais lembrar a importância de utilizar adequadamente a Bíblia ao apresentar suas passagens mais confortadoras. Junto à sepultura, as palavras de Apocalipse 21:4 serão sempre oportunas: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” Ocasionalmente, poderá ser conveniente orar, de mãos dadas, o Pai Nosso com todos os presentes, enfatizando o significado da expressão “venha o Teu reino” proferida na oração. Nessa súplica, encontramos o anseio pela vinda do Senhor e a consequente vitória obtida por Ele sobre a tirania da morte.
Despedida
Após a cerimônia, o oficiante não deve ter pressa de ir embora. Ele deve demonstrar que esteve ali não somente para cumprir um compromisso religioso, mas para ser portador de esperança e consolo aos enlutados. Esse apoio não termina no velório ou sepultamento. O Guia Para Ministros afirma: “Considerando que os enlutados continuarão a sofrer a perda do ser amado após o funeral, um contato contínuo deveria ser programado. Passada a crise imediata, e com a dispersão das pessoas, começa a sensação de solidão. No funeral, o ministério aos enlutados apenas começa, e deve continuar por muitos meses depois. A igreja deve dar apoio aos enlutados mediante ministério contínuo.”5
Alceu Nunes, pastor jubilado
Referências
1 Guia Para Ministros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p. 194.
2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 425.
3 Nilza T. Araújo, “Jesus Também Chorou”, Ministério (2007), p. 16.
4 Guia Para Ministros, p. 197.
5 Guia Para Ministros, p. 201.