Caminhos para o êxito na evangelização de grandes centros e áreas resistentes à pregação

Não importa onde você esteja: se em São Paulo ou Buenos Aires, Rio de Janeiro ou Montevidéu, Salvador ou Lima, pode ser que esteja vivendo em uma Atenas moderna. As grandes metrópoles e muitos países são surpreendentemente iguais à Atenas dos dias do apóstolo Paulo. Cinismo, confusão e resistência à verdade bíblica marcaram a capital grega naquela época, tal como acontece em grande parte do mundo atual.

Em Atos 17, é-nos dito que Paulo pregou em três cidades: Tessalônica, Bereia e Atenas. Não é difícil imaginar Paulo refletindo posteriormente e, analisando as condições encontradas, concluir que essas cidades não eram nada iguais; na verdade, quase pareciam três planetas diferentes.

Tessalônica: conversões e perseguição

Era manhã de sábado e Paulo entrou numa sinagoga em Tessalônica. Num gesto de audácia, ele proclamou que Jesus era o Cristo. E ocorreram conversões, especialmente entre os gregos. “Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los [Paulo e Silas] para o meio do povo” (Atos 17:5).

No esforço de salvar-lhes a vida, os crentes protegeram os evangelistas, le-vando-os para fora da cidade, sob o brilho cintilante das estrelas.

Beréia: conversões sem perseguição interna

Na próxima cidade, as coisas foram diferentes. Beréia era um lugar com facilidades para o trabalho. Paulo pregou, o povo refletiu, examinou a mensagem e muitos foram persuadidos. Lucas registra que “estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens” (Atos 17:11).

Aparentemente foram os judeus que abriram o caminho para a recepção do evangelho, e os bereanos absorveram avidamente a verdade. Depois, a perseguição veio de Tessalônica; não da própria Beréia.

Atenas: poucas conversões

Então havia Atenas – uma lixeira virtual de ídolos. “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos”, Paulo declarou (Atos 17:22). Na realidade, Atenas era uma cidade muito religiosa. Os adoradores escolhiam o seu deus do mês em um rico cardápio de ídolos. Sua fascinação pelas teorias revelava uma espantosa mistura de inteligência e tolice. E, como resultado disso, poucos receberam o Messias.

Paulo nunca plantou uma igreja em Atenas. Todavia, Ellen White lhe tributa reconhecimento por seus esforços e métodos ali empregados. Ela se refere ao ministério do apóstolo naquela cidade como “a vitória por ele obtida para o cristianismo mesmo no coração do paganismo” (Atos dos Apóstolos, pág. 241). Paulo não estava acostumado com esse tipo de vitória, mas ela aconteceu em Atenas.

O mundo atual

As cidades mencionadas em Atos 17 nos ajudam a compreender nosso mundo do século 21. Quando nos referimos à receptividade espiritual, o interesse varia largamente de lugar para lugar, de nação para nação. Mas a natureza e o grau de receptividade em geral correspondem a uma daquelas três cidades.

Alguns países do mundo são como Tessalônica. Nós pregamos o evangelho, as pessoas se convertem, mas surge a perseguição. Países em tais condições são dominados por extremistas religiosos ou comunistas. Nesses lugares, os adventistas e outros cristãos lutam com o dilema de encontrar caminhos para fazer avançar o reino.

Outros países são como Beréia. É prazeroso evangelizar em Bereia. Em tais lugares uma equipe de obreiros lança-se ao trabalho e muitos são convertidos. As leis nacionais apoiam a liberdade para praticar e divulgar a religião. As pessoas estão famintas pela Bíblia e pela verdade.

Veja o caso do Pastor Dave, meu amigo, que recentemente conduziu uma série de colheita em um país de características bereanas. Ele voltou para os Estados Unidos com o rosto brilhando, tal como o de Moisés depois de falar com Deus no Sinai. Com muita vibração, descreveu as experiências vividas. Pregava todas as noites e, da plataforma onde se encontrava, nem podia ver onde a multidão terminava. No último sábado milhares de novos cristãos seguiram o Mestre no batismo. Louvamos a Deus pela maravilhosa operação do Espírito Santo. Evangelizar Beréia é emocionante. Produz esperança. Assegura-nos que Deus ainda está abençoando a igreja.

O Pastor Dave retomou ao seu lugar original de trabalho e aí realizou uma nova série de colheita. O mesmo pregador, a mesma mensagem, o mesmo equipamento, o mesmo Espírito Santo. E batizou onze pessoas. Qual a diferença? Ele vive em Atenas.

Muitos países e regiões do mundo são Atenas. A receptividade espiritual é diferente nesses lugares, especialmente entre a maioria da população, o que não deveria nos surpreender. E aqui vão algumas opções pelas quais podemos agir. Primeiramente, podemos ignorar os atenienses modernos, concluindo que eles não se importam com Deus. Podemos lavar nossas mãos em fingida preocupação e dizer: “eles sabem onde encontrar as igrejas. Se estiverem interessados, virão.”

Ou, ao contrário disso, podemos resolver que não tememos Atenas. Nossa missão é clara: levar a mensagem de Jesus a todos os lugares, inclusive os mais difíceis, da Terra. Na dependência do Espírito Santo, não retrocederemos. Na verdade, vamos vencer.

Pressuposições básicas

Vamos construir algumas pressuposições:

  • 1. Ganhar almas está no DNA adventista. Nossa abordagem produz claros resultados, mas ainda temos desafios e precisamos encontrar meios pelos quais superá-los.
  • 2. Os modernos atenienses estão espiritualmente polarizados. Embora muitos enveredem pelos caminhos do pós-modernismo e outras orientações filosóficas e religiosas, milhares de todas as idades e antecedentes estão buscando unir-se às igrejas. Nos dois casos todos estão buscando algo melhor.
  • 3. O que funciona em Beréia pode ou não funcionar em Atenas.
  • 4. O que costumava funcionar em Atenas, tempos passados, só será efetivo se ainda for relevante para hoje.
  • 5. Quando a igreja vive o evangelho e comunica a mensagem em formas apropriadas com a época, experimentamos vigoroso reavivamento.

Ampliando limites

Nossos métodos atuais de evangelismo estão bem, mas parece-me que ainda são muito limitados. Quando uma igreja anuncia que está planejando “fazer evangelismo”, todos nós sabemos o que esperar. Aqui estão algumas coisas que nos vêm a mente:  

  • 1. Um evento durante cinco ou seis semanas, com quatro reuniões semanais.
  • 2. Um evangelista profissional fará as apresentações. Algumas vezes pessoalmente; outras vezes, via satélite.
  • 3. O evento alterará a vida da congregação. Quando ele terminar, tudo voltará a ser como antes.
  • 4. Gastaremos algum dinheiro produzindo material para convidar pessoas com as quais nunca nos reunimos.
  • 5. Avaliaremos o êxito do empreendimento pelo número de batismos.
  • 6. Certamente o acontecimento apelará a uma insignificante minoria na comunidade.

Dois itens contribuem para a retração: o primeiro é o tempo. Algumas pessoas não têm tempo para assistir a um programa, mesmo que trate do seu assunto preferido, quatro noites semanais, durante cinco ou seis semanas. O segundo item está relacionado com a curiosidade das pessoas em relação à Bíblia. De acordo com algumas pesquisas, 4% dos americanos dizem estar interessados em assistir a um seminário para aprender mais sobre a Bíblia e suas profecias.

Se representarmos esses 4% numa figura, teremos a seguinte ilustração:

4%

Enquanto o tempo passa, em lugares iguais a Atenas, encontramo-nos gastando mais dinheiro para atrair uma multidão dessa estreita faixa populacional. E o que dizer dos outros 96% ? Conscientemente ou não eles estão buscando a Deus. Como iremos alcançá-los?

Agora consideremos a seguinte escala de evangelismo:

-10 -5      0      +5     +10

Nesta escala, alguém que, espiritualmente falando, está distante de Deus é -10. Os passos em direção à cruz indicam um interesse crescente até que, junto à cruz, a pessoa escolhe ser um seguidor de Cristo. Os passos à direita da cruz denotam crescimento espiritual com o alvo eventual de se tomar um discípulo devoto de Cristo.

Pensemos sobre os 4% que disseram estar interessados em assistir a um seminário bíblico. O que é verdadeiro a respeito deles, em relação à escala de evangelismo? A maioria crê em verdade absoluta e gostaria de aprender mais sobre a Bíblia. Se fôssemos localizá-los na escala, eles estariam muito perto da cruz, num ponto -1 ou -2. Mas quando nosso único evangelismo é o semi-freqüente evento, apelamos só às pessoas que estão perto da cruz e inconscientemente excluímos o restante. Desde que elas permanecem longe de nossas reuniões, desenvolvemos a trágica pressuposição de que não estão interessadas em Deus.

A média das pessoas está mais ou menos na vizinhança de -6 na escala. Elas pensam em Deus. No íntimo, sabem que há uma resposta final às suas indagações. Seguramente estão confusas em relação à Bíblia. Pergunte-lhes que palavra lhes vem à mente quando pensam em uma igreja e a resposta será algo entre “maçante” e “deixe-me em paz”. Mas, à sua própria maneira, estão buscando alguma coisa. E nós podemos alcançar muitas delas com o evangelho.

Mudanças

Se já estamos prontos para ampliar nossa definição de evangelismo, temos de começar com quatro mudanças de paradigmas.

O objetivo da comissão evangélica é fazer discípulos. Por anos, perecíamos confusos a respeito da comissão evangélica. Pensávamos que Jesus disse: “Ide, portanto, e batizai”, quando Ele realmente ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos”. Mas tão raras quanto pinguins nas regiões tropicais são as igrejas que possuem uma trajetória de discipulado para ajudar os novos membros a se tomarem definitivamente discípulos devotados.

Mas quem é exatamente um discípulo? Alguém que tem o caráter e as prioridades de Jesus Cristo. “Em verdade, em verdade vos digo”, falou Jesus, “que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço e outras maiores fará, porque Eu vou para junto do Pai.” (João 14:12). As implicações dessas palavras são muito profundas.

O evangelismo tradicional começa com as pessoas que já estão perto da cruz. Através de cinco ou seis semanas de reuniões, o Espírito Santo trabalha em seu coração, levando-as a tomar uma decisão. Os novos conversos ainda nem bem enxugaram a roupa molhada pela água do batismo, quando o evangelista vai embora e inicia o trabalho em outra cidade. E o que é feito do discipulado dos novos crentes? Isso explica o alto nível de apostasia entre pessoas batizadas em uma campanha evangelística.

Evangelismo não é um evento; é um processo. Todo fazendeiro sabe que você colhe em uma diferente estação daquilo que foi semeado. Infelizmente poucos na liderança da igreja entendem que isso é verdade também no evangelismo. Ganhar pessoas para Cristo sempre foi um processo. Paulo disse: “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento veio de Deus” (I Cor. 3:6). “Eu fiz a minha parte”, o apóstolo afirma, “então confio que Deus suscitará Apoios para regar a semente. E estou confiante em que Deus pode dar o crescimento.”

Quando o evangelismo torna-se mais que um evento, milhares encontram salvação. Mas, vamos ser honestos, estamos viciados em resultados imediatos. Com efeito, o evangelista pensa: quem precisa de Apoios? Se eu não conseguir a decisão agora, pode ser que ela nunca seja feita.

O evento a que nós chamamos evangelismo inconscientemente descarta o discipulado como se fosse uma erva daninha no jardim. Quase tudo o mais que não seja esse evangelismo rápido é desprezado como não sendo evangelismo real. Isso nos leva ao terceiro paradigma a ser mudado.

Redefinição de termos. Se o evento de cinco ou seis semanas é básico para nossa definição de evangelismo, o que dizer sobre tudo o mais que é feito pela igreja? Não é evangelismo, pelo menos evangelismo real. E se não é, não tentamos fazer, ou não lhe damos a devida prioridade. Assim, não deveríamos ficar surpresos quando, à parte de séries evangelísticas curtas, os batismos são uma ocorrência rara, forçando-nos a realizar o máximo de campanhas evangelísticas, perpetuando assim nossas lutas.

Tudo o que uma igreja faz pode e deve ter dimensão evangelística. Ao lado disso, creio ser urgente que mudemos nosso vocabulário. Talvez devêssemos deixar de nomear como evangelismo esse evento de cinco ou seis semanas. Ele é uma parte do evangelismo, uma parte vital quando feito como um elemento do processo. Quem sabe poderíamos chamá-lo de “jornada de colheita”, “programa de colheita”, ou qualquer outra identificação contemporânea. Nos anos 50, alguns chamavam esse evangelismo de “campanha de colheita”.

O que fazemos hoje? Tomamos uma série de colheita de seis semanas, a comprimimos para cinco, quatro ou mesmo três semanas. Convidamos estranhos, muitos dos quais nunca ouviram falar de adventismo, e os incentivamos para apressar o batismo. Depois, quando eles deixam a igreja, colocamos a mão na cabeça lamentando que a informação transmitida não foi suficiente para firmá-los no terreno da fé.

O segundo termo que poderíamos redefinir é “evangelista”. Se a pessoa que é um pregador itinerante, ou fala de uma cidade distante, via satélite, é um evangelista, o que isso diz dos outros membros da igreja? Não são evangelistas. Nesse caso, parece perfeitamente lógico que não deveriam se preocupar em fazer o trabalho, deixando-o para o profissional.

Talvez devêssemos redefinir esse termo, aplicando-o a todos os que, na igreja, desenvolvem sua maturidade espiritual e seus dons.

A grande comissão não diz: “vinde”, mas “ide”. A mudança desse paradigma é especialmente profunda. Normalmente agimos como se a comissão evangélica fosse dada ao perdido, convidando-o a vir para nossas igrejas. Dessa maneira, criamos eventos tais como programas de saúde, séries de colheita, classes bíblicas, esperando que as pessoas venham a nós.

A sociedade mudou; as pessoas estão envolvidas em outros interesses que dificultam sua freqüência às igrejas. E se operarmos meramente no paradigma “vinde”, fracassaremos. Hoje, especialmente, a igreja deve ir. Durante anos referimo-nos ao perdido que procura a verdade como sendo um pesquisador. Essa é uma definição razoável, mas está baseada no conceito de “vir”, ao invés de “ir”. A igreja deve tomar a iniciativa. Deve sair de sua condição de convidativa para se tornar uma igreja que se infiltra. No cumprimento de sua missão, ela deve seguir os passos de Cristo que deixou o Céu e veio buscar e salvar o perdido.

Quando líderes e membros abraçarem essa visão, e organizar a igreja de acordo com ela, começaremos a alcançar os modernos atenienses em um número expressivo. Isso não apenas deveria revolucionar positivamente a igreja, mas fazer vibrar o coração de Deus.

Ron Gladden, Diretor de Crescimento de Igreja na União Norte do Pacífico, Estados Unidos