O pastor que morreu e ressuscitou é o Dr. Paul Yonggi Cho, pastor da maior igreja protestante do mundo, com 350.000 membros, em Seul, Coréia.

Paul era um jovem e ambicioso ministro que sonhava ter a maior igreja de seu país. No primeiro ano, orou que o Senhor lhe concedesse 150 almas, e as obteve. No segundo ano, pediu 300 almas, e também as ganhou. No terceiro ano, orou por 600 almas, e o Senhor lhas concedeu. Por último pastoreava uma igreja de 2.400 membros.

O Pastor Paul Yonggi Cho estava, porém, cometendo um grave erro que quase o levou para a sepultura: “Eu estava realizando grandes coisas para o Senhor, correndo desesperadamente desde cedo de manhã até tarde da noite, mas os meus nervos estavam arruinados. Sofria constante fadiga, mas continuava forçando a mim mesmo, pregando, aconselhando, visitando, ministrando aos enfermos. Achava-me em contínuo movimento.’’1 Qual era o erro do Pastor Yonggi Cho? Ele mesmo o explica: “Eu cria que devia fazer tudo por mim mesmo. Considerava-me um vaso escolhido por Deus e pensava que Deus só podia usar a mim.’’2 O erro terrível e quase fatal do Pastor Yonggi era trabalhar arduamente, mas sozinho, o que por fim lhe ocasionou um colapso total que arruinou sua saúde por dez anos. Graças ao Senhor, não morreu fisicamente; morreu, porém, o seu ministério solitário e equivocado.

Durante os meses em que permaneceu prostrado, estudou cuidadosamente a Bíblia e em especial a organização da Igreja apostólica. Como resultado, ressuscitou para um ministério totalmente renovado: “O Senhor quis mostrar-me que eu precisava delegar responsabilidades na igreja.’’3 Organizou os membros de sua igreja em células nos lares, o que produziu um crescimento fenomenal e uma verdadeira revolução no evangelismo. O velho Pastor Yonggi, que trabalhava arduamente, mas sozinho, morreu para sempre, e nasceu um dos líderes evangélicos mais conspícuos do presente século, que se dedica com fervor a recrutar e capacitar milhares de leigos, obtendo assim resultados extraordinários. Ele desenvolveu o conceito das células nos lares como centros de culto e evangelismo; incorporou em grande escala as mulheres na obra da evangelização e descobriu princípios de crescimento que têm sido aplicados em muitas partes do mundo. Yonggi explica que tudo começou quando ele viu que “a delegação de responsabilidade e autoridade é definitivamente uma parte da vontade de Deus’’.4

Em Êxodo 18, temos uma experiência quase similar: Moisés, o grande homem de Deus, labutava arduamente de manhã até à noite, resolvendo toda a espécie de problemas. Seu sogro Jetro lhe perguntou: “Que é isto que fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até ao pôr do Sol?”5 Moisés estava seguro e até orgulhoso da importância de sua tarefa, por isso respondeu com segurança e um pouco de arrogância: “É porque o povo me vem a mim para consultar a Deus;… para que eu julgue entre um e outro, e lhes declare os estatutos de Deus e as Suas leis.”6 Moisés estava convencido de que era a única pessoa capaz de realizar tão delicada tarefa. No entanto, para sua surpresa, o sogro lhe disse sem rodeios: “Não é bom o que fazes. Sem dúvida desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo: pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer.”7

Jetro percebeu que Moisés corria o perigo de um colapso por querer fazer tudo sozinho; percebeu também que o povo se rebelaria contra esse sistema; por isso continuou paternalmente: “Eu te aconselharei, e Deus seja contigo.”8 Qual foi o conselho de Jetro? Muito simples, muito sensato e muito adequado: 1) Escolher homens capazes e virtuosos, 2) ensinar-lhes as leis e os estatutos, 3) delegar responsabilidades neles, 4) confiar no bom senso e critério desses auxiliares, 5) ser dirigente e mestre, trabalhando com uma equipe escolhida e habilitada. Uma das razões da grandeza de Moisés é que ele ouviu o acertado conselho, colocou-o imediatamente em prática, e o êxito não se fez esperar. O trabalhador sobrecarregado, acabrunhado e solitário se transformou num líder e mestre, com ótimos resultados para todos.

Jesus nunca trabalhou sozinho. Os discípulos sempre O acompanhavam e aprendiam diariamente do Mestre. Jesus dedicou Seus melhores esforços para ensinar a esses homens como realizar a obra. “Ele estava pessoalmente com eles para indicar-lhes os seus erros, aconselhá-los e corrigi-los.’’O resultado não se fez esperar: “Haviam escutado Seus discursos, haviam andado e falado com o Filho de Deus, e de Sua instrução diária tinham aprendido a trabalhar para a elevação da humanidade.’’10

Paulo também não trabalhou sozinho. Sempre estava acompanhado de fiéis auxiliares que depois assumiam maiores responsabilidades. Uma parte importante de seu trabalho era a formação de dirigentes. Ele era um mestre que forjava líderes para a Igreja, multiplicando desse modo a utilidade de seu ministério: “E, promovendo-lhes em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.”11

Qual é sua experiência, estimado pastor? Você trabalha como o velho Pastor Yonggi, ou como o novo? Seus métodos para dirigir a igreja são como os de Moisés antes de Jetro, ou depois de Jetro? Conheço muitos pastores que se ufanam de trabalhar intensamente, mas sozinhos; por isso não conseguem entender por que suas igrejas não os apreciam. Suas esposas e filhos se queixam, e em poucos anos sua saúde se debilita.

Consideremos algumas declarações surpreendentes do Espírito de Profecia. “O ministro não deve sentir ser seu dever fazer todas as pregações e todos os trabalhos e todas as orações.”12 “A idéia de que o ministro deve arcar com todos os encargos e fazer todo o trabalho, é grande erro.”13 “É erro fatal supor que a obra de salvação de almas depende só do ministério.”14 Será possível que um ministro esteja trabalhando arduamente, e, no entanto, cometa um “grande erro”, ou pior ainda, um “erro fatal”? O grande erro não consiste em trabalhar arduamente, e, sim, no método de trabalhar, isto é, trabalhar só.

Qual é, então, o plano de Deus? “A Igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio tem sido plano de Deus que Sua Igreja reflita para o mundo Sua perfeição e competência.”15 “Toda alma que Cristo salvou, é chamada a atuar em Seu nome pela salvação dos perdidos…. Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário.” Se o pastor trabalha só, está estorvando o plano de Deus, prejudicando o desenvolvimento dos membros e atrasando a terminação da obra. “Os pastores não devem fazer a obra que pertence à igreja, cansando-se, e impedindo que outros desempenhem seu dever. Devem ensinar os membros a trabalhar na igreja e na comunidade.”17

Qual é, portanto, a genuína missão do pastor? Nem mais nem menos que pôr a igreja a trabalhar, atribuindo uma tarefa a cada membro, segundo os seus dons.

O pastor é um pedagogo que ensina, um general que adestra o maior número possível de soldados, um diretor de orquestra que dirige um grande número de músicos, um técnico que instrui a maior quantidade de obreiros. O pastor conhece o trabalho, mas não o faz sozinho, assim como um general jamais travaria uma batalha sozinho, ou um diretor de orquestra nunca pretendería dar um concerto sem os seus músicos. Seu êxito consiste em recrutar, capacitar e pôr a trabalhar a maior quantidade de membros de igreja.

A missão do pastor está claramente definida em Efésios: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo.”18 A obra do ministério não é uma exclusividade do pastor, mas a obra de todos os santos, sendo o principal papel do pastor ensinar e aperfeiçoar os santos para o ministério e depois desempenhá-lo junto com eles. “Muitos pastores falham em conseguir, ou em não tentar, que todos os membros da igreja se empenhem ativamente nos vários ramos da obra. Se os pastores dessem mais atenção a pôr e manter seu rebanho ativamente ocupado na obra, haviam de realizar mais benefícios, ter mais tempo para estudar e fazer visitas missionárias, e também evitar muitas causas de atrito.”19

O autor trabalhou arduamente por muitos anos, convencido de que pregar, dar estudos bíblicos, preparar candidatos, ministrar aos enfermos e necessitados era “sua missão”, até ficar tão enfermo que seu ministério quase terminou. Graças ao Senhor, compreendi o plano divino, e agora minha principal tarefa é adestrar e ensinar aos pastores como recrutar, habilitar e utilizar os leigos. Tenho dirigido gigantescas campanhas evangelizadoras, só com a ajuda de leigos bem adestrados, obtendo os maiores resultados de meu ministério.

No México, o jovem Pastor Robinson Méndez há dois anos ganha mais de mil almas por ano em seu distrito e organiza dezenas de novas igrejas e congregações. O seu método consiste em preparar evangelistas, instrutores bíblicos, carteiros missionários e leigos que trabalham junto com ele. Dedica uma parte substancial de seu tempo para instruir os membros a realizar obra missionária e atender e administrar a igreja.

Estimado pastor: Não seria bom que você também “morresse” e “ressuscitasse”? Isto poderia ser a experiência mais extraordinária de sua vida. O Espírito de Profecia nos diz: “Os que ocupam lugar de líderes na igreja de Deus devem sentir que a missão do Salvador é dada a todos os que crerem no Seu nome.”20 “A obra de Deus na Terra nunca poderá ser finalizada enquanto os homens e mulheres que compõem nossa igreja não cerrem fileiras, e juntem seus esforços aos dos ministros e oficiais de igreja.”21

Imaginemos que Jetro nos visitasse e observasse nosso desesperado e infrutífero trabalho solitário. Ele nos diria: “Querido pastor, não é bom o que fazes. O trabalho é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer. Sem dúvida desfalecerás, assim tu, como tua igreja. Escuta o meu conselho: Escolhe leigos capazes, tementes a Deus, homens de verdade, para que dirijam campanhas evangelísticas, dêem estudos bíblicos e organizem classes batismais. Além disso, devem ajudar-te a administrar a igreja e realizar o trabalho pastoral. Será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo.”22

Qual será nossa reação? Seria bom que procedêssemos como Moisés: “Moisés atendeu às palavras de seu sogro, e fez tudo quanto este lhe dissera. Escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, e chefes de dez. Estes julgaram o povo em todo o tempo.”23

Sim, prezado pastor, cumpre trabalhar arduamente, mas nunca sozinho, e, sim, de acordo com o plano de Deus: “Que os ministros e membros leigos saiam para os campos a amadurecer.”24

CARLOS E. AESCHLIMANN

Referências:

1. Dr. Paul Yonggi Cho, Successful Home Cell Groups, pág. 4.

2. Idem, pág. 5.

3. Idem, pág. 15.

4. Idem, pág. 19.

5. Êxodo 18:14.

6. Êxodo 18:15 e 16.

7. Êxodo 18:18.

8. Êxodo 18:19.

9. Ellen G. White, EI Deseado de Todas las Gentes, pág. 315.

10. Ibidem.

11. Atos 14:23.

12. Ellen G. White. Serviço Cristão, pág. 69.

13. Idem, pág. 68.

14. Ibidem.

15. Idem, pág. 15.

16. Idem, págs. 10 e 9.

17. Ellen G. White, Historical Sketches, pág. 291.

18. Efésios 4:11 e 12.

19. Ellen G. White, Serviço Cristão, pág. 70.

20. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, pág. 110.

21. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, pág. 365.

22. Ver Êxodo 18:17-22.

23. Êxodo 18:24-26.

24. Ellen G. White, Serviço Cristão, pág. 67.