Oportunidades para criar centros de influência virtuais
Marcos Santiago
Vivemos em um tempo mutante, palco de tensões trazidas pela diversidade e formação de novos grupos sociais, com expectativas e carências niilistas. Marc Augé afirmou que é “um mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório, ao efêmero”.1 Um espaço com lugares transitórios, nos quais sempre se está de passagem, como rodoviárias, aeroportos, estações de trem, shopping centers e hipermercados.
Em um mundo com tanta diversidade, a formação de comunidades é fortalecida por redes de histórias que passam a ser vividas por pessoas em contínua migração. Nesse vai e vem, a ansiedade por se relacionar não é suprida apenas em lugares concretos, e a ideia de conviver entre quatro paredes produz angústia. Por isso, a internet com suas “lojas”, “praças” e “centros de lazer” passou a ser um lugar de busca de sentido para a vida. O emaranhado de sentimentos, pensamentos, sistemas de trocas de experiências e serviços mediados por ela é compreendido como uma sociedade em rede.2
Essa nova sociedade se materializa em espaços virtuais que, como centros urbanos, agregam pessoas que se movimentam de site em site em busca de soluções para os problemas da vida. Nesse ambiente, povos, nações ou mesmo tribos vivem experiências singulares, trocando artefatos da cultura e criando novas identidades individuais e coletivas.
Expansão das comunidades virtuais
Comunidades virtuais podem se formar a partir de grupos de interesses comuns. Elas são um retrato das relações de família, religião, amizade e cidadania. A interação é apoiada ou mediada pela tecnologia e guiada por normas e protocolos simbólicos. Além disso, são confortáveis e aconchegantes. Ou seja, representam o abraço em desprotegidos em relações familiares frustrantes ou a assembleia de peregrinos que estão fora de órbita nas relações off-line.3
As pessoas procuram preencher o senso de pertencimento como resposta à angústia por falta de um lugar para chamar de lar. Nos diversos sites e redes sociais, revelam desejo de permanência, corporativismo, solidariedade e amizades. Assim, a flexibilidade de conexão transforma um nativo da zona rural em um cidadão global. As comunidades virtuais agregam necessidades e oportunidades psicossociais. O quadro abaixo apresenta um recorte que ajuda a mapear suas possibilidades.
Uma comunidade virtual é formada ou refeita por mudança de cultura, propósitos ou relacionamentos. A mobilidade e efemeridade de tempo e espaço na internet dão às pessoas condições de participar simultaneamente de várias agremiações, mesmo que não seja por muito tempo. Apesar de manterem conexões, às vezes, falta endereço virtual fixo e adaptado às necessidades ou interesses de cada grupo. Portanto, ter um lugar no ciberespaço é como construir um shopping onde todos se encontrem, com salas conforme especificidades afetivas e benefícios comuns.
Centros de influência adventista
Centros de influência são espaços que conectam pessoas a fim de promover o desenvolvimento de pensamentos, sentimentos, crenças e propósitos particulares ou coletivos. Eles conjugam interesses e carências em redes de relacionamentos presenciais ou virtuais.
Jesus personificava esse conceito. Ele Se misturava com pessoas de diferentes culturas, crenças e idades. Convivia com elas, compreendia suas lutas e, finalmente, apresentava soluções. A partir do exemplo de Cristo, a Igreja Adventista entende que centro de influência é um espaço aberto para que as relações humanas, de acordo com os interesses e necessidades, recebam influência das crenças antropológicas e teológicas da denominação.4
Assim, os centros de influência servem para expandir a presença da igreja e, conceitualmente, são limitados à área urbana.5 Ellen White apelou aos líderes da igreja, dizendo: “Ampliem seus espaços; espalhem-se; sim, mas jamais em um único lugar. Vão estabelecer outros centros de influência em lugares em que nada, ou quase nada, tem sido realizado.”6
Como movimento religioso, o adventismo é uma comunidade em expansão. Difunde princípios bíblicos a partir da influência de pessoas, constituídas como referenciais sociais. É sensível às necessidades da vida urbana, às diferenças culturais, aos vizinhos (no bairro, trabalho, ônibus ou na internet), integra fé e obras e se compromete com a criatividade, ressignificando a rotina coletiva.
Centros de influência virtuais
Diante da qualidade da vida urbana e da virtualização das relações em comunidade, é estratégica a criação de centros de influência no ciberespaço. Afinal, com a densidade populacional que transita pelas avenidas da internet, elas podem servir de pontos de encontro, descanso, saúde mental e aprendizagem.
Um centro de influência adventista virtual pode ou não funcionar como um tipo de comunidade virtual. Mas, de fato, é um espaço nas redes sociais para conectar pessoas que buscam pertencimento a grupos de interesses diversos. Uma plataforma digital, coordenada por voluntários e profissionais, com opções de serviços adaptados às necessidades das pessoas, servirá como um prédio onde se solucionam problemas sociais. Os quadros ao lado ajudam a entender essa proposta.
Em termos funcionais, um centro de influência digital pode estar em um site personalizado, com opções para a interação entre os usuários, de acordo com o interesse de pertencimento comunitário, ou também estar disponível em uma rede social. Há ainda a possibilidade de criação de aplicativos, nos quais os cadastrados se conectam em salas de batepapo ou chamadas de vídeo coordenadas por voluntários habilitados a influenciar os participantes a conquistar os propósitos de inserção na comunidade. Afinal, o cristianismo se adapta a qualquer circunstância, exercendo influência para a expansão do reino de Deus. De fato, não há mais fronteiras, e podemos evangelizar tribos, nações, povos e línguas por meio da internet.
Tipo de comunidade | Área maior | Área menor |
Memória | História | Países, cidades ou comunidades |
Lugar | Bairro, cidade | Necessidades básicas |
Relacionamento | Afeto | Família e amigos |
Necessidade | Saúde | Doenças físicas Doenças emocionais Profissionais de saúde |
Aprendizagem | Inteligência coletiva Educação a distância Socialidades, comunicação e cultura | |
Conhecimento | Pesquisa | Comunicação científica entre pesquisadores |
Prática | Troca de informações e ideias para solução de problemas técnicos |
Tipo de comunidade | Área maior | Área menor |
Necessidade | Saúde | Câncer, diabetes, doenças renais |
O que fazer: Um espaço virtual mediado por voluntários como psicólogos, pedagogos e religiosos. Público-alvo: Casais, adolescentes, pais, mães, solteiros, divorciados, viúvos. Propósito: Construir laços a fim de ressignificar o sentido da vida. Como: Abrir salas de conversa em que os participantes compartilhem projetos, traumas ou crenças. Metodologia: A partir de inscrições, por grupos e áreas de interesse, os voluntários atendem com uma pauta de assuntos que promovam a autoestima e reconstruam expectativas para uma vida saudável. Possibilidades criativas: (1) Curso de inteligência emocional personalizado para o perfil do grupo; (2) cursos para noivos ou casados; (3) espaço para discussão de temas sobre paternidade e maternidade. Periodicidade dos encontros: Indefinida. |
Tipo de comunidade | Área maior | Área menor |
Relacionamento | Afeto | Família e amigos |
O que fazer: Um espaço virtual mediado por voluntários como médicos, nutricionistas e psicólogos. Público-alvo: Pessoas em tratamento de câncer, diabetes ou doenças renais. Propósito: Construir laços afetivos e compartilhar conhecimento sobre tratamentos e formas de adaptação à realidade social. Como: Abrir salas de conversa em que os participantes compartilhem experiências, traumas e projetos. Planejar um ciclo de palestras por meio de grupos de apoio, coordenados por profissionais. Metodologia: A partir de inscrições, por grupos e áreas de interesse, os voluntários atendem com uma pauta de assuntos que promovam a autoestima e reconstruam expectativas para uma vida saudável. Possibilidades criativas: (1) Ciclo de palestras sobre autoestima, depressão e inteligência emocional para diabéticos, pessoas em tratamento de câncer ou pacientes renais crônicos; (2) espaço para discussão sobre tratamentos e abordagens bem-sucedidas às doenças. Periodicidade dos encontros: Indefinida. |
Referências
1 Marc Augé, Não Lugares: Introdução a uma Antropologia da Super Modernidade (Campinas: Papirus, 1994), p. 74.
2 Manuel Castells, A Galáxia da Internet (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003).
3 Zygmunt Bauman, Comunidade: A Busca por Segurança no Mundo Atual (Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2003).
4 Gorden R. Doss, Introduction to Adventist Mission (Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists, 2018).
5 Gary Krause, Seeking the Shalom: A Wholistic Approach to Adventist Urban Mission in the United States Drawing on Ellen White’s “Centres of Influence” Concept (tese de doutorado, The University of Queensland, 2020), p. 95.
6 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), v. 8, p. 128.
Marcos Santiago, líder de Ministério Pessoal e Escola Sabatina para os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro