Lembro-me dele, à mesa, antes de tomarmos o desjejum, dirigindo o culto familiar.

Lembro-me dele no escritório. Bíblia em cima da escrivaninha, óculos cuidadosamente postos ao lado, e ele ajoelhado conversando com o Pai.

Lembro-me dele em suas noites. Quero dizer… não me lembro muito. Ele quase não ficava em casa durante a noite. Sempre tinha alguém para visitar, um estudo bíblico para dar, um necessitado para atender, um culto a realizar.

Lembro-me dele quando defendia não o mais conveniente nem o mais popular; mas o certo, pelo simples fato de ser o certo.

Lembro-me dele naqueles momentos em que, ao sentar-se ao lado de alguém no ônibus, ou esperar na fila de um banco, iniciava uma conversa com alguém, para falar sobre Jesus.

Lembro-me do brilho dos seus olhos, quando precisava identificar-se como pastor. Ele considera uma honra ser pastor.

Mas não me lembro de algumas coisas como, por exemplo, ouvir de seus lábios palavras de descontentamento ou crítica contra os líderes. Mesmo quando eu captava sua tristeza e buscava dele uma palavra de censura, o máximo que ouvia era: “cada um dará conta de seu ministério a Deus”.

Não me lembro de tê-lo visto lutando para galgar posições na Igreja. Sempre estava feliz em qualquer lugar. A política não o seduziu. Sua crença firme é que Deus deve atuar por meio das comissões; e não que as pessoas, em nome de Deus, atendam interesses pessoais. Uma visão idealista, talvez guardada apenas para aqueles que confiam mais em Deus do que em si mesmos.

Perfeito? Não, absolutamente. Ninguém o é. Mas ele me tem dado o exemplo em muitas coisas, e tenho prazer em dizer: Meu pai é um pastor. Na verdade tem sido pastor por 35 anos. E agora que chega à merecida jubilação, vejo-o não como alguém que sai do jogo; mesmo porque o jogo não acabou e ele nunca vai deixar o campo. Vejo-o, sim, como alguém que encerra o trabalho institucional, mas continuará sendo o que sempre foi: um pastor.

Oro a Deus para que meu ministério possa ser tão abençoado quanto o do meu pai. E espero que, um dia, meu filho também diga com a mesma exultação com que digo hoje: Meu pai é um pastor.

Elmar Borges, pastor no Instituto Adventista Paranaense, filho do Pastor Décio Borges