Define-se liderança pastoral como a habilidade que tem o pastor para levar sua congregação ao cumprimento da missão, obtendo deles a máxima colaboração e o mínimo de oposição aos planos traçados.

Estudos realizados por Donald McGavran, Peter Wagner, Gottfried Oosterwal, e recentemente por Daniel Rode, em sua tese doutorai sobre crescimento de igreja, demonstram que um dos fatores essenciais para tal crescimento é a qualidade de liderança exercida pelo pastor.

Isso pode ser comprovado quando uma igreja estagnada recebe um pastor com lide-rança sólida e passa a crescer de modo considerável. Ou quando uma igreja em franco processo de crescimento passa a ter um pastor que não demonstra possuir uma liderança dinâmica. Essa igreja simplesmente estanca em seu desenvolvimento.

Aceita a idéia de Ted Engstrom, de que “o líder não nasce feito; ele se faz ao longo da vida”, poderiamos dizer que todos os pastores podem desenvolver as condições que os converterão em líderes de sucesso. É inegável que a liderança de um pastor nos dias atuais, deve ser multifacetada e multifuncional. Ele necessita atender a um grande número de pessoas, e assistir a muitas reuniões e comissões, decorrentes da multiplicação de instituições, igrejas e congregações de seu distrito. E necessita empregar tempo para a proclamação do evangelho às pessoas que ainda não conhecem a Cristo, sem esquecer a atenção à família.

Desafio

Num encontro de capacitação, realizado com um grupo de leigos, eles expressaram suas preocupações relacionadas com os pastores e as funções que lhes cabe desempenhar. Em resumo, estes foram os pontos abordados:

  • 1. Há escassez de pregação essencialmente bíblica, por parte dos pastores. Além disso, a impressão que deixam transparecer é que não dedicam tempo suficiente para preparar seus sermões.
  • 2. Algumas famílias de pastores não representam uma inspiração para a comunidade.
  • 3. Há necessidade de mais instrução da parte dos pastores a seus colaboradores, para que estes os ajudem no trabalho de pregação do evangelho e de administração da igreja.

O propósito deste artigo é, primeiramente, sugerir o fortalecimento de duas áreas que devem ser enriquecidas em nosso minis-tério, e que permitirão ao pastor o alcance de uma liderança pastoral adequada para esta época. Em segundo lugar, serão dadas sugestões sobre como conseguir-se o crescimento da igreja e do distrito.

Deveres insubstituíveis te com a divindade, por meio do estudo da Bíblia. Ele pode elaborar um plano sistemático de estudo, que lhe permita relacionar-se melhor com Deus. Por exemplo, pode escolher um livro da Bíblia e estudá-lo até o fim. Feita a escolha, ler um ou dois capítulos por dia, sublinhar um versículo especial e memorizá-lo. Esse versículo deve ser repetido mentalmente, durante todo o dia.

A comunhão diária com Deus capacita o pastor e lhe comunica poder celestial para desenvolver, com êxito, todas as suas atividades. Por meio da relação pessoal com Deus, é-lhe permitido ver suas limitações e, Conseqüentemente, a necessidade da “brasa viva” que o habilitará para o ministério (Isaías 6:5-8).

  • 2. Oração e meditação. Estabeleça um horário apropriado para orar especificamente em favor de seu ministério. Na ocasião em que fui convidado para lecionar na Faculdade de Teologia da Universidade da União Incaica, em Lima, Peru, senti a necessidade de orar a fim de que o Senhor me fortalecesse nesse novo trabalho. Tal aproximação de Deus redundou em muitos lucros e grandes alegrias espirituais, para mim e meus alunos.

Orar por um programa de trabalho, por um interessado, um enfermo, ou por uma necessidade específica, produz uma vivência especial com Deus, que nos permite manter uma relação de intimidade com Ele.

  • 3. Busca do Espírito Santo. É imprescindível a procura diária da direção e do derramamento do Espírito Santo, para guiar-nos no cumprimento das responsabilidades cotidianas em nosso ministério. “Por que não temos fome e sede do dom do Espírito, visto como este é o meio pelo qual haveremos de receber poder? Por que não falamos sobre Ele, não oramos por Ele e não pregamos a Seu respeito? … Por batismo do Espírito deve todo obreiro estar pleiteando com Deus. Devem reunir-se grupos para pedir auxílio especial, sabedoria celeste, a fim de que saibam como fazer planos e executá-los, com sabedoria.”2

Diariamente, com fervor, deveriamos orar pelo batismo do Espírito Santo. Nas cidades em que se encontram vários pastores, eles deveriam reunir-se, quem sabe, uma vez por semana, para orar em favor do derramamento do Espírito Santo. Mesmo pastores que trabalham mais distantes, poderiam reunir-se uma vez por mês, com o mesmo objetivo. Tais encontros produzirão um reavivamento, e as igrejas serão envolvidas pela atmosfera espiritual, resultando num crescimento qualitativo e quantitativo.

A esposa do pastor necessita de privacidade e atenção especial.

Ela é a “irmã” que mais necessita de cuidado e atenção.

Idoneidade ministerial

 A idoneidade de um pastor não é obtida de uma vez por todas, no momento de seu chamado. Essa é uma experiência que será confirmada paulatinamente, através da vida cotidiana. Eis alguns dos aspectos que a configuram:

  • 1. Vida familiar. O apóstolo Paulo enfatiza a importância da família do pastor. Diz que o ministro deve “governar bem sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito (pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da Igreja de Deus?)” (I Tim. 3:3 e 4). Não se espera que a família do pastor seja perfeita, porém é justo esperar-se que ela viva de maneira cristã. A família do pastor converte-se no testemunho palpável de uma vida prática e no exemplo de todas as famílias da igreja.

O ministro deve reservar tempo para ficar a sós com sua família. Nenhuma atividade deve substituir essa responsabilidade. Em primeiro lugar, a esposa do pastor necessita de privacidade e atenção especial; requer ajuda na educação dos filhos, colaboração e identificação nas tarefas domésticas. A esposa é a “irmã” que necessita de mais atenção e cuidado.

Em segundo lugar, os filhos necessitam que o pastor cumpra seu papel de pai. Certa vez, um dos meus filhos, quando tinha apenas cinco anos de idade, falou para minha esposa: “Não quero ser pastor, porque papai nunca fica muito tempo conosco.” Essa confissão acabou fazendo com que eu remanejasse radicalmente o tempo que dedicava à família. Notemos o conselho de Ellen White: “Coisa alguma pode desculpar o ministro de negligenciar o círculo interior, pelo mais amplo círculo externo. O bem-estar espiritual de sua família vem em primeiro lugar. No dia do final ajuste de contas, Deus há de perguntar que fez ele para atrair para Cristo aqueles que tomou a responsabilidade de trazer ao mundo.”4

A família do pastor pode chegar a ser uma influência abarcante para o bem, ou pode contradizer a influência do pastor sobre a congregação.

E responsabilidade do pastor afastar-se de tudo que induza outros a colocar em dúvida sua integridade pessoal.

  • 2. Transparência. A vida do pastor não somente deve ser aceitável, como também deve evitar toda aparência do mal, tratando de projetar uma conduta cristalina. O ministro deve evitar aproveitar-se de sua função para realizar empréstimos, ou adquirir vantagens econômicas dos membros, congregações ou simpatizantes. Jamais faltar com a verdade, por nenhum motivo, pois isso é abominação a Deus (Prov. 12:22). Devido à mentira, o pastor perde a credibilidade que deve gozar como servo de Deus.

O pastor deve manter-se livre de toda insinuação, intimidade ou aparência do mal, em seu relacionamento com as senhoras e senhoritas. “Não desçam os embaixadores de Cristo a frívolas conversações, a familiaridades com mulheres, sejam elas casadas ou solteiras. Mantenham-se no lugar que lhes convém, com a devida dignidade; entre-tanto, podem ser ao mesmo tempo sociáveis, bondosos e corteses para com todos. Devem estar acima de tudo que tenha ares de vulgaridade e familiaridade. Isso é terreno proibido, no qual não é seguro pisar.”5

É responsabilidade do pastor afastar-se de toda familiaridade que induza outros a colocar em dúvida sua integridade moral.

Fazendo a igreja crescer

Vamos centralizar nossa atenção em quatro áreas pastorais cujo desenvol­vimento é indispensável para que o pastor veja sua igreja crescer.

1. Pregação. O ministro necessita separar tempo suficiente para a preparação de seus sermões. Deve estudar a Palavra, para extrair de suas páginas sermões profundamente bíblicos. A pregação tem progredido na orató­ria, porém tem diminuído substancialmente na elaboração de sermões de conteúdo bíblico. A situação se agrava, porque os irmãos devido ao trabalho ou à distância em que moram, só ouvem uma pregação por semana. Em alguns lugares, a pregação é tão precária, que quando os membros desejam levar visi­tas à igreja, primeiro perguntam quem vai ser o pregador. Tudo isso deveria estimular opastor a preparar-se convenientemente a fim de alimentar, fortalecer e conver­ter, com o poder do Espírito Santo, as pessoas que chegam para ouvir a Palavra de Deus.

“Ponde em vosso trabalho todo o entusiasmo que possais. … Duas razões existem pelas quais deveis fazê-lo. Uma é que podeis conquistar a reputação de ser um pregador interessante; a outra é que podeis preservar a vossa saúde.”6

A pregação bíblica produz crescimento na igreja, porque os irmãos assistem regularmente às reuniões, sabendo que a pregação os fortalecerá. Outrossim trazem visitas para ouvirem o pastor, e membros de outras igrejas serão também atraídos às reuniões evangelísticas.

2. Visitação. A visitação é uma obra vital que o pastor realiza ao prestar assistência aos membros nos lugares onde eles se encontram, ou se a solicitam: lares, lugar de trabalho, hospitais, etc. Esse é um dos métodos de conservar os membros na igreja, evitando apostasia. Numa breve pesquisa, realizada em algumas igrejas, descobrimos que o pastor do qual os irmãos guardam mais grata recordação, é aquele que os visitava freqüentemente. Lamentavelmente, pela diversidade de responsabilidades que o pastor tem de cumprir, a visitação tomou-se a área mais descuidada. Mas não seria desperdício tentar seguir estas sugestões:

Seja o primeiro a cumprimentar e visitar os irmãos que estão celebrando algum acontecimento especial: aniversário, festa de bodas, nascimento, formatura, ou algo relevante. Seja o primeiro a visitar e consolar aqueles que estão passando por momentos difíceis, como enfermidade, falecimento, qual-quer tipo de perda ou provação. Visite e anime todos os oficiais de sua igreja.

Estabeleça um cronograma de visitas por regiões ou bairros. Dessa maneira alcançará maior número de membros. Ao despedir os irmãos, após o culto, estabeleça, conforme o caso, o horário mais conveniente para visitá-los em seus lares.

Além dos benefícios que a congregação receberá, o próprio pastor também lucra conhecendo a realidade espiritual e as necessidades dos irmãos. A visitação é o meio efetivo pelo qual um pastor pode chegar a seus membros, e a maneira mais direta pela qual pode estabelecer os desafios missionários.

3. Instrução. Por vários anos, acreditei erroneamente que a vida ministerial era uma vida solitária, ou que o pastor era um “trabalhador solitário”. Estas idéias equivocadas impediram uma participação ativa dos membros nos ministérios da igreja. Mas para que a igreja possa crescer, o ministro deve especializar-se na instrução. Esse trabalho pode ser executado em duas áreas:

Instrução interna. É a capacitação sobre administração e organização eclesiástica para os dirigentes locais. Esse tipo de instrução é básico e deve ser ministrado anualmente aos novos oficiais que assumem cargos diretivos. Ela permitirá ao pastor a delegação de responsabilidades que devem ser assumidas pelos dirigentes e pela irmandade, e ao mesmo tempo faz com que os membros amadureçam e se desenvolvam na liderança eclesiástica.

Uma forma efetiva de realizar esta instrução interna consiste em reunir os dirigentes de todas as igrejas e congregações do distrito, e levar a cabo jornadas de capacitação para cada departamento da igreja.

Instrução externa. Trata-se do treinamento ministrado a todos os membros da igreja, para que participem no trabalho de ganhar almas para o reino dos Céus. A instrução deve ser teórica, abordando os diferentes métodos para partilhar a mensagem de salvação. Considerando a diversidade de dons que Deus tem repartido à igreja, o pastor deveria ajudar a cada irmão a descobrir a maneira efetiva pela qual pode testemunhar.

Além da teoria, o treinamento evangelístico deve incluir também a parte prática. Em 1994, sugerimos aos alunos de Teologia que escolhessem, nas diversas igrejas onde realizam a prática pastoral, um irmão que permanecería como seu acompanhante durante dois meses. Nesse período, o irmão seria ensinado a fazer contatos missionários e dar estudos bíblicos. Os resultados não poderiam ser melhores: em primeiro lugar, os alunos se disseram realizados ao atuarem como instrutores. Em segundo lugar, as igrejas cresceram porque conseguiram instrutores bíblicos permanentes.

O pastor que se considera um “trabalhador solitário”, condena-se e condena a igreja a vegetar. O pastor que é um instrutor produzirá crescimento progressivo, porque utilizará paulatinamente uma quantidade maior de auxiliares e criará a consciência de que cada discípulo é um agente ganhador de almas.

  • 4. Formação de pequenos grupos. Forme pequenos grupos compostos por seis a dez pessoas. Ellen White afirma que “a formação de grupos pequenos como base do esforço cristão foi-me apresentada por Um que não pode errar”.7 Sugerimos que sejam formados ou fortalecidos, caso já existam, os seguintes grupos familiares em cada igreja e congregação de seu distrito:

Grupos de oração – Encarregados de interceder e pedir a Deus continuamente em favor de necessidades específicas da igreja, ou de algum dos seus membros.

Grupos de testemunho – Irmãos que tenham um grande desejo de compartilhar sua experiência espiritual. Esses grupos se encarregarão de buscar pessoas interessadas.

Grupos de instrutores bíblicos – Responsáveis por dar estudos bíblicos e levar os interessados à decisão pelo batismo.

Grupos de instrutores – Desempenharão a tarefa de ajudar os membros recém-convertidos a se tomarem discípulos.

Conclusão

 O ministério é uma tarefa difícil, mas a capacitação e a idoneidade para cumpri-la provêm de Cristo. A Igreja necessita hoje, mais que nunca, do trabalho de homens que exerçam uma liderança pastoral que transforme, por seu exemplo, a vida dos membros que estão sob seus cuidados.

Um ministério pastoral fortalecido pela obra do Espírito Santo, conduzirá a um crescimento eclesiástico semelhante aos dias do Pentecoste. Oremos, trabalhemos, instruamos e vivamos como obreiros que representam dignamente o Senhor da Obra.