LUÍS K. DICKSON

(Vice-Presidente da Associação Geral)

UM dos maiores perigos que a igreja enfrenta hoje é a sua aparente crescente incapacidade de encontrar líderes habilitados para a hora a que chegamos. A liderança que Deus aprova neste momento exige algo mais do que simples capacidade de manter em movimento as engrenagens de nossa grande organização. Não basta meramente manter a estabilidade de nosso plano denominacional e decantar as alturas das consecuções, e estar simplesmente amontoando registos sempre crescentes, a que os homens apontam como sinais de progresso.

Em verdade, o impulso firme de um movimento triunfante, progressista e expansivo, tal como o representado pelo Adventismo, mostrará mais ganhos materiais e grande crescimento de meios e homens. Mas, juntamente com êstes, existe o grande perigo de que os seus registos celestes de apatia e complacência, de decadentes fé e piedade, igualmente aumentem mais e mais.

A liderança apropriada exige agora visão clara do estado espiritual da igreja e suficiente ânimo, fé e poder espritual para mudar o rumo que está tomando. Precisará da fé de Jesus e da coragem dos mártires o postar-se agora como líder e, guiado por Deus, “tocar a buzina no Meu santo monte.” Mas isso precisa ser feito, pode ser feito e será feito, e serão achados líderes que se disponham a sacrificar tôda ambição pessoal, se necessário fôr, para consegui-lo.

A liderança aceitável hoje em dia, exige mais do que simplesmente assumir perante nossos semelhantes essas atitudes que conquistarão sorrisos de aprovação dos que sabemos que nos proporcionarão promoção ou nos garantirão a reeleição ou continuidade no cargo. Deus precisa agora de homens de fibra, homens que não sejam comprados nem vendidos, homens de convicção e espírito heróico, como João Knox, ao pé de cuja cova pôde ser dito: “Aqui jaz quem nunca temeu a face do homem.” 

É preciso mais do que uma casual inspeção do nível de nossas consecuções espirituais para chegar ao reconhecimento claro de que alguma coisa tem que ser feita, e isso com rapidez, quanto ao nosso minguante número de líderes de verdadeiro valor espiritual.

Que acontecerá se nossas instituições atingirem as nuvens? Se nosso número alcançar dezenas de milhões? Se nosso tesouro e seu orçamento somar bilhões de dólares por ano? Que, perguntamos, significaria tudo isso se nossa vida espiritual continuasse em seu presente nível e o demônio da apatia e a destruidora complacência se mantivessem no trono?

Que aconteceria se nossa expansão nos levasse aos confins da Terra, e tôda nação, e tribo, e língua, e povo ouvisse nossa crescente voz proferir a mensagem, e nossos altares serem erigidos com pouco fogo sôbre êles, ou sem nenhum fogo? O próprio Jesus Cristo apresentou claramente a possibilidade dos que se chamam pelo Seu nome fazerem muitas obras maravilhosas, mas sem O conhecerem.

Não estamos nós certos ao manter que o garantirmos a liderança espiritual apropriada para a igreja hoje em dia em qualquer de suas partes ou em tôdas, é um objetivo de interêsse transcendental, urgente e mundial? Num dia como êste, que exige o erguimento de uma igreja espiritualmente preparada para a terminação da obra de Deus, dia em que todos reconhecemos, sem discrepância, que esta é a condição mais necessitada para que a plenitude do poder celeste seja concedida ao povo de Deus, por que estamos permanecendo em níveis tão baixos de consecução espiritual?

Não está a exigir-se entre nós um despertamento de liderança nesse sentido? Não é tempo de rompermos as peias do temor, da falta de ânimo, do interêsse pessoal, ou o que quer que nos impeça de liderar o povo de Deus sob o impulso intenso de Seu Espírito Santo, e para que iniciemos grande avanço com Deus em níveis mais elevados?

Fontes Esquecidas

Chegamos nós ao tempo em que as fontes de água viva, que eram o âmago de nossos princípios, estejam sendo encobertas pelo esfôrço humano e pelas “coisas” que construímos em tôrno delas? Conta-se a história de uma cidade da Inglaterra que teve origem numa fonte de água de propriedades curativas. As pessoas que bebiam essa água recobravam a saúde. Com o tempo foi construído um hotel junto á fonte, depois uma ferraria, um armazém, e algumas casas, até que a aldeia cresceu e transformou-se numa comunidade orgnizada. Anos mais tarde, porém, ao perguntar um viajante a uma autoridade, onde estava a fonte, o funcionário sacudiu a cabeça, embaraçado, e disse: “Isso é o pior da história: Esquecemos a localização da fonte.”

O bom trabalho da liderança é guiar de maneira tal que essas fontes esquecidas sejam relembradas e glorificadas entre os interêsses da igreja.

Mais e melhor liderança dêste tipo é necessária hoje. Muito temos feito para desenvolver a liderança entre nós, mas precisamos, e temos o direito de esperar maior harmonia interna e unidadede liderança que, com a bênção divina, venha a guiar com êxito êste grande movimento, rapidamente a uma posição mais forte do que hoje vemos. Impõe-se nova ênfase nessa necessidade, para que saiamos dêste ponto morto em que caímos.

Nossas normas e planos para a promoção de nossa obra são bons e estão-se desenvolvendo satisfatoriamente, mas não estão salientando de maneira apropriada a experiência mais rica e mais profunda que devemos agora buscar a fim de estarmos preparados para a grande hora a que chegamos.

Estivéssemos nós, todos, como dirigentes, imprimindo a liderança espiritual que é hoje necessária, estivéssemos interpretando corretamente o insistente apêlo divino de atingirmos mais altos níveis da experiência cristã, que dariam á igreja o necessário preparo para a chuva serôdia; e feitos maiores seriam realizados, e criar-se-ia da parte do povo de Deus uma atitude que assombraria o mundo e traria para o nosso meio a plenitude do poder que agora espera “o nosso pedido e a nossa recepção.”

Provavelmente nunca dantes em nossa história têm os membros da igreja estado tão conscientes da necessidade de a igreja ser guiada a coisas espirituais mais profundas. Hoje, o líder da igreja que não se dedica a guiar o rebanho a um aprimoramento de sua vida espiritual, já em grande medida se desqualificou no conceito dos membros. Dessa obrigação não pode êle esquivar-se, quer aos olhos de Deus quer do povo de Deus.

Por causa desta convicção e esperança no coração de nossos membros de tôda parte, as oportunidades que enfrentamos de reavivamento e reforma na igreja são tão brilhantes quanto é obrigatório o nosso dever. A presente fome e anseio de nossos crentes fiéis tem-nos proporcionado grandes possibilidades, que nos capacitam para, confiantemente, planejar a missão tão espiritual a que Deus nos está concitando nesta hora importante. Somos possuidores de oportunidades para a realização de importância espiritual, de valor incalculável e de urgência sem precedentes.

Planos Sem Proveito

Somos uma igreja que tem alicerce espiritual e significação profundos, que envolvem o devotamento, não meramente para aumentar o acervo e o número de membros, mas especialmente para o aprofundamento da vida espiritual de cada um dos membros o Movimento. Na concepção mais simples dessa importante tarefa estamos consagrados para a terminação de uma grande obra espiritual. Esta consagração não deve sê-lo meramente para expandir os complementos de nossa vida religiosa mas particularmente para aumentar a luminosidade de nossa vida por meio do acesso ao cumprimento das grandes promessas divinas feitas a Seu povo para esta hora. Para êste fim, deve concorrer todo o nosso trabalho e atividade. Ao planejarmos um grande avanço, devemos subordinar todo propósito à prova de sua contribuição para êsse desígnio central. Devemos cuidadosamente alijar todo plano sem proveito, de forma a promover o crescimento principal. Nosso critério deve ser a qualidade do fruto e não o tamanho da planta ou a quantidade dos brotos apodrecidos.

Não atingiremos êste propósito por meio de passos revolucionários, quer de reorganização administrativa, quer de estratégia de atividade. Atingimos na história adventista um ponto em que uma diversão violenta no procedimento rotineiro não é desejável nem necessária.

A necessidade presente exige a ênfase da mais profunda devoção e espiritualização, bem como de expansão. Exige a concentração de esfôrço e tempo no enriquecimento de nossas consecuções, de forma que com maior clareza demonstrem a presença de Deus em nosso meio. Um procedimento tal não será espetacular, mas profundamente ardente e duradouro. Isto, estamos convictos, é o de que mais necessitamos agora, e é o objetivo da liderança sábia para esta hora estranha.

Nosso grande movimento precisa ser mais espiritualmente desenvolvido, reforçado e revigorado. São êstes os pontos que podemos classificar de essenciais e importantes para a causa.

Temos que multiplicar os esforços para o preparo final do povo de Deus. Uma grande reserva de homens e mulheres espiritualmente fortes, bem desenvolvidos e consagrados, é necessária para dêles lançarmos mãos para nossa futura liderança. Esta necessidade é de primordial importância para liderarmos a igreja nestas horas finais. Temos que buscar para cada novo acréscimo à liderança dêste Movimento, a certeza de melhora da qualidade es-piritual. Deve êste ser o alfa e o ômega de nossa prática e planejamento. Dêsse fortalecimento depende tôda sugestão para um melhor serviço prestado a Deus, e em substituição a êle não bastará nenhum plano feito no papel, nem admoestação alguma por meio de resolução.

A prova principal dos homens que chamarmos e designarmos tem que ser o devotamento integral ao progresso e à liderança espirituais, e o apêgo às crenças originais de nossa grande mensagem. Por “espiritual” compreendemos o entusiasmo disciplinado e esclarecido pela vida espiritual, tão devotado e intenso que tenha que ser partilhado com outros consciente e inconscientemente, quer pela mera fôrça do exemplo, quer pela pregação, pelo ensino ou pela pena.

Semelhante espírito em nossa liderança é a única defesa segura contra o maior perigo que a igreja enfrenta — o vírus insidioso da complacência, do conformismo, da presunção e do egoísmo. Como líderes, temos que estar incessantemente em guarda contra o hipnótico da apatia no tocante à edificação duma casa espiritual. Temos que ser sempre os nossos próprios críticos, e isso com tôda a vigilância. Sempre surge em nosso redor a tenta-ção de descairmos para a mediocridade e a complacência.

Como líderes neste grande movimento, recebemos cargos de extraordinário privilégio com a obrigação de que o justifiquemos por nosso devotamento extraodinário, fé, ânimo e compreensão. Devemos sempre lembrar que somos todos membros de um corpo dedicado a uma causa única. Tem de necessàriamente haver entre nós distinção de funções, mas não pode haver divisão de propósito — “para preparar um povo para o Senhor.’’