Os desafios sucessos que lançaram as bases do evangelismo integrado no adventismo

O conceito e prática que encerra a frase “evangelismo integrado” é tão importante que merece a luz que provém da nossa tradição adventista. Ainda hoje, podemos tirar várias lições da prática evangelizadora adventista do sétimo dia entre 1870 e 1880. Essa década revela uma interessante interação entre pastores-evangelistas (itinerantes) e os membros voluntários. Foi realmente uma década muitíssimo especial em termos de evangelização e crescimento de igreja1, quando o índice de crescimento anual alcançou um histórico 12%. O número de membros aumentou de 5.440 para 15.570. O crescimento em instituições, a penetração na Europa e o recrutamento de novos obreiros também foram significativos.

Participação leiga

Segundo a literatura disponível sobre o assunto, de uma forma geral, durante aquela década, houve uma progressão positiva que teve seu ponto culminante na maior valorização dos membros da igreja.2 Esse membros assumiram sua responsabilidade no sustento financeiro da Causa e participaram ativamente na distribuição de tratados impressos, que, de acordo com S. N. Haskell, não se tratava de uma fortuita distribuição, mas um projeto cujo objetivo era “ver quanto de bem pode ser alcançado”.3

Os leigos revelaram capacidade para fazer o trabalho de evangelismo público e, especialmente, pessoal. Se houve algum grau de indiferença entre os membros, até 1878, Ellen White explica o porquê: “Foi-me mostrado que muitos não se comprometem com o trabalho missionário porque este assunto não lhes tem sido apresentado… pelos pastores que têm trabalhado em seu benefício. Esses pastores têm descuidado uma parte essencial de seu dever, e como resultado alguns são indiferentes, mas poderiam estar trabalhando se houvessem sido mais perfeitamente instruídos”4, ela escreveu.

Desafio pioneiro

Do ponto de vista da ação dos pastores, devemos lembrar que essa década foi mais evangelística do que pastoral. No início de 1879, foi votado que alguns pastores permaneceriam num distrito durante um ano, depois de terem servido como itinerantes, com todo o sacrifício que isso implicava.5 O editor da Review and Herald, naquela ocasião, opinava: “Uma mudança a esse respeito produzirá um estado mais saudável dos assuntos em nossas igrejas.”6

Até o final daquela década, os pastores contraíram distintas enfermidades, o que levou o Pastor Tiago White a fazer um apelo, em 1871, no sentido de que “todos os amigos da causa, sejam pastores ou irmãos, atuem pronta, cuidadosa e liberalmente com a sua parte na causa, e esperem de nós fazer somente a nossa parte proporcional da obra”.

Quatro anos mais tarde, ele escreveria o seguinte: “Tem chegado o momento de deixar cargas, um ponto do qual nunca podemos ser induzidos a voltar atrás. Que estes cuidados e cargas sejam divididos entre nossos homens mais jovens.”7 Num processo de avaliação, em 1880, ao recordar a paralisia que o afetou em 1865, Thiago White pôde afirmar: “Estamos livres de dor e debilidade.”8 Significativamente, no mês que se seguiu à declaração do Pastor White, a Review publicou um artigo intitulado “Health as a Factor in the Minister’s Success” [Saúde como um fator no êxito de um ministro].

As campais

Especialmente de 1875-1880, foram realizadas muitas e bem freqüentadas reuniões campais, as famosas camp-meetings. Embora essas reuniões representassem uma oportunidade para o culto corporativo, e fossem consideradas “uma necessidade”, estavam centralizadas em uma oratória destacada.

A respeito desses encontros Tiago White escreveu, na Review de 30/06/1874: “Os adventistas do sétimo dia terão, na presente temporada, 13 campais… estas são grandes reuniões. Para nossas igrejas, não tendo pastores permanentes ou estabelecidos, é importante uma assistência geral dos membros a essas assembléias anuais, para desfrutar sermões práticos, daqueles eminentemente qualificados para alimentar o rebanho de Deus e participar num culto social As campais são mais uma necessidade do que uma opção para nossa juventude, amplamente em expansão e crescente organização.”

As reuniões campais não eram perfeitas em seu desenho e Ellen White fez duas recomendações sobre elas: Deveriam ser cristocêntricas e os pastores deveriam aproveitar a oportunidade para capacitar os membros da igreja. Em 1879, ela escreveu: “Se não forem conduzidos de maneira a exaltar Jesus e a verdade, em vez de mostrar o que tem sido feito, os esforços serão desperdiçados, e o tempo e energia para manter o interesse das reuniões serão piores do que a perda.”10

Na esteira desse pensamento, o editor da Review and Herald escreveu um artigo cujo teor e conteúdo o fazem ser, talvez, inédito até então. Do ponto de vista da Tract and Missionary Society [Sociedade de Folhetos e Missionários], disse que “os pastores deveriam sentir a responsabilidade de educar nossos irmãos nesta parte da obra… tanto nossas igrejas jovens como os irmãos e irmãs de igrejas mais antigas estão dispostos a trabalhar quando têm sido devidamente instruídos”. Isso apareceu na Review de 16/06/1880.

Daquele artigo, podem ser destacados três assuntos importantes: 1) Ainda no contexto da distribuição de folhetos, a função pastoral seria educar os membros; 2) membros novos e antigos estavam dispostos a realizar a tarefa, mediante a condição de serem capacitados para ela; 3) declínio da manifestação de confiança por parte da liderança da igreja na capacidade dos membros (novos e experientes), até o fim da década em apreço. Até aí, “muitos obreiros eficientes mostravam tendência para o desânimo e a inatividade no trabalho missionário, porque não viam resultados imediatos de seu trabalho”.11

Esvaziamento

Infelizmente, Howard Weeks estabelece que a década seguinte (1880-1890) mostrou uma mudança no formato das reuniões campais que, somada a outros fatores, produziu um declínio importante em resultados quantitativos. Weeks, tanto em sua tese como em seu livro Adventist Evangelism in America [Evangelismo Adventista na América], menciona que o crescimento de membros nos Estados Unidos e no Canadá entre 1880 e 1904 foi de apenas 2%, diminuindo ainda mais nos anos posteriores.

Esse autor apresenta quatro fatores que influenciaram o ritmo da evangelização a partir de 1880: 1) Debate teológico interno, que alcançaria seu clímax na assembléia de Mineápolis, em 1888; 2) agitação interna pelas leis dominicais e a conseqüente ação da Igreja em favor de uma legislação apropriada; 3) desprezo aos movimentos de reavivamento, por serem parciais e infiéis à doutrina bíblica; e 4) movimentos de pessoas do campo em direção à cidade (migração interna).12

Por outro lado, Uriah Smith, em 1878, lamentava, através da Review (18/08), a reduzida assistência dos membros a uma campal: “Deve ser dito, somente 36 igrejas das 60 pertencentes à Associação de Michigan tiveram representantes no local. Isso significa que de 24 igrejas dessa Associação, nenhum representante foi encontrado, dentro desta grande reunião de guardadores do sábado.”

Observando o desânimo ministerial e o declínio evangelístico, M. L. Huntley, na Review and Herald (01/04/1880), animou os pastores a que recobrassem o ânimo, diante do que alguns membros da igreja estavam fazendo em matéria de pregação do evangelho. Isso parece ser evangelismo integrado, forjado tanto nos sucessos como nos desafios de toda a igreja.

Nosso aprendizado

Que lições podemos extrair de tudo isso, para o nosso programa atual de evangelização?

♦ Necessidade de equilíbrio pessoal e institucional.

♦ Um método originalmente efetivo pode perder essa propriedade. Os métodos devem ser avaliados constantemente, e não devem ser vistos como eternos nem associados com uma personalidade denominacional carismática e influente.

♦ A evangelização deve ser cristocêntrica em sua pregação e deve programar a capacitação dos membros dispostos a somar na pregação. Pastores e membros estão associados em uma missão comum. É complementação, não competição.

♦ Trabalhar com os irmãos pode chegar a ser, em determinados momentos, uma experiência ingrata e pode registrar uma velocidade mais lenta no começo. Mas os resultados serão mais estáveis e gloriosos.

♦ Tanto pastores como leigos mostraram espírito de consagração e sacrifício.

♦ O crescimento da igreja é afetado quando controvérsias teológicas são desenvolvidas e não se toma uma ação definida para resolvê-las.

♦ A evangelização acontece dentro do contexto geral da igreja.

♦ Em uma década de crescimento pela evangelização, pode, simultaneamente, estar se desenvolvendo uma desaceleração ou estancamento desse crescimento.

♦ Os pastores, aparentemente, não trabalham conscientes de estar criando um importante precedente para a igreja. O que parece claro é seu espírito de consagração e sacrifício.

Referências:

1 Howard B. Weeks, Adventist Evangelism in the Twentieth Century, Review and Herald Publishing Association, 1969, pág. 14.

2 Review and Herald, 23/08/1877, pág. 66.

3 S. N. Haskell, Review and Herald, 02/12/1875, pág. 173.

4 Ellen White, Review and Herald, 19/12/1878, pág. 193.

5 Review and Herald, 30/01/1879, pág. 37.

6 Ibidem.

7 Ellen White, R&H, 08/01/1875, pág. 16.

8 R&H, 26/08/1880, pág. 152.

9 R&H, 08/07/1880, págs. 40 e 41.

10 Ellen White, R&H, 10/07/1879, pág. 17.

11 M. L. Huntley, R&H, 01/04/1880, pág. 219.

12 Mais detalhes em Weeks, A Historical Study of Public Evangelism in the Seventh-day Adventist Church: 1900-1966, Tese doutorai (Michigan State University, 1966), opágs. 8-11.

Juan Millanao O., D.Min., professor de Teologia na Universidade Adventista do Chile