Já sentiu você o dissabor de ser levado preso? Eu já. Isso aconteceu há pouco mais de um ano, numa semana em que eu deveria viajar a serviço da revista Ministry. Você deve gostar desta explicação.

Numa tarde eu estava levando minha filha Christi, de um passeio no shopping para a casa de um amigo. Depois de fazer um retorno à esquerda, para alcançar uma estrada livre, logo percebi luzes vermelhas e azuis piscando através do retrovisor. Policiais já estavam trabalhando atentamente, chamando-me para explicações. Parei, e permaneci desanimadamente sentado durante seis minutos enquanto o policial se comunicava com o quartel central, através de um rádio, buscando assegurar-se de que eu não era algum traficante de drogas. Finalmente ele entregou-me um papel amarelo onde eu devia assinar meu nome, após o que, timidamente, continuei a viagem.

Não querendo registro de multa manchando meu registro de motorista, gastei o próximo domingo na escola de tráfego. Foi aí onde eu me deparei com a realidade de que havia estado preso por alguns instantes. Segundo as leis da Califórnia, quando o oficial apanhou-me ele colocou-me sob prisão. Ao assinar o papel que me foi entregue, eu estava admitindo justamente isso. Quando ele me permitiu dirigir outra vez, estava me liberando da detenção.

Eu fiquei verdadeiramente chocado ao descobrir que eu agora era um criminoso. Um transgressor da lei como outro qualquer. E eu que pensava ser um cidadão honrado! assim como pensava ser também um muito gentil esposo.

Mais ainda, pensava ser um excelente obreiro de Cristo. E até cheguei a tentar tirar vantagem das oportunidades para ganhar almas que Ele me deu. No último ano, enquanto voava para Los Angeles, eu testemunhei para Darryl Strawberry, um jogador de baseball que tinha sérios problemas pessoais. Não muito tempo depois de tornar-se um crente, ele disse a um repórter que a mudança começou em uma noite quando em um avião, um ministro falou-lhe sobre o amor de Deus. Darryl não é um adventista. Ele dizima seu salário de cinco milhões de dólares para um grupo carismático. Mas, indubitavelmente, eu tive algum papel em sua conversão. Isso me fez feliz.

E, confesso, para minha vergonha, que também fiquei orgulhoso. Que pena! Deus conduz as coisas, usa-me, e eu atribuo a glória a mim mesmo. Vergonha por meus motivos confusos. Eu na verdade não sou tão bom obreiro cristão, depois de tudo, nem sou tão bom esposo ou tão correto cidadão.

E quanto a você, colega de ministério, qual é o seu sentimento? É você um bom cidadão? Ou também se sente sob a condenação da lei? Acabei sendo informado de que em média, os motoristas transgridem as leis de trânsito oito vezes por dia.

Agora vamos sair da estrada e visitar seu lar. Quão bom esposo você é? Mostra-se compreensivo e abnegado todo o tempo? Ou quando senta em sua cadeira de balanço, folheando revistas, algumas vezes seus olhos param demoradamente em alguma figura tentadora? Na Igreja, você é especialmente atencioso e alegre com as pessoas atraentes do sexo oposto?

E você, esposa que lê este artigo, não sinta justiça própria se o seu esposo luta contra as tentações sexuais. Naturalmente é verdade que acariciar pensamentos lascivos equivale a adultério, e isso é inexcusável. Em Deus existe abundância de poder espiritual para guardar a mente e o coração do seu esposo em Cristo Jesus. Mas lembre-se de suas próprias lutas. Tende você a mergulhar em um poço de ressentimento quando ele a desaponta? Jesus disse que a indulgência com uma atitude odiosa e de amargura equivale a crime.

O fato é que todos nós somos pecadores. A Bíblia diz: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um pelo seu próprio caminho’’ (Isaías 53:6). Se como pecadores procuramos nos relacionarmos com um Deus santo com base em nossas conquistas espirituais, nós somos malditos, estamos condenados e mortos.

Notemos a surpreendente advertência da lei de Deus: “Todos quantos pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las” (Gál. 3:10). A lei de Deus requer absoluta perfeição. Todas as coisas no livro da lei devem ser cumpridas a cada momento. E isso requer mais que mera resistência à tentação para fazer alguma coisa errada ou alimentar pensamento proibido. A lei amaldiçoa não apenas pecados de comissão — as coisas más que praticamos —, mas os pecados de omissão — as boas coisas que não fazemos.

Aqui nós temos um assombroso sopro para nossa justificação própria. Desde que a lei requer não apenas ausência de pecado, mas perfeito cumprimento de todos os deveres, nós jamais deveríamos transigir com o pecado, ainda estando sob a maldição da lei. Pense nisso!

Essa foi uma novidade absolutamente chocante para mim. Então, que esperança nós temos? Eu ponderei. Continuei lendo em Gálatas 3 e descobri minha salvação: “Cristo resgatou-nos da maldição da lei, fazendo-Se Ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: ‘maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”’(v. 13). Graças a Deus, Jesus tomou nossa maldição para que nós possamos receber Sua bênção. Ele usou nossa coroa de condenação para que possamos usar Sua coroa de glória.

Essa boa nova deve enternecer nossos corações e encher-nos com o mesmo intenso amor, a tal ponto que seremos induzidos a guardar todos os Seus mandamentos. Repousando em Cristo não esmoreceremos na complacência. A graça de Deus dá-nos coragem para encarar os nossos pecados: “e os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências”(GáI. 5:24). Quão doloroso é que muitos crentes nominais — algumas vezes incluindo ministros —, tornam-se descuidados, reclamando as bênçãos da cruz, enquanto continuam agarrados ao pecado. Estão igualmente amaldiçoados, condenados e mortos. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para sua própria carne, da carne colherá a corrupção…’’ (Gál. 6:7 e 8).

A despeito da sincera obediência, nós carecemos da glória de Deus. O fato é que “o ideal divino para Seus filhos é mais alto que os pensamentos humanos podem alcançar’’, diz Ellen G. White.

Consideremos estas solenes palavras: “É pecado desperdiçar nosso tempo; é pecado desperdiçar nossos pensamentos. Perdemos todo momento que dedicamos ao egoísmo. Se cada momento fosse devidamente avaliado e empregado do modo devido, teríamos tempo para tudo o que necessitamos fazer para nós mesmos ou para o mundo.’’ — A Ciência do Bom Viver, pág. 208. Meu irmão, minha irmã, quão perto nós estamos desse elevado padrão? As pessoas que padecem de legalismo necessitam compreender a maldição da lei; como ela condena como pecado, cada traço de injustiça e imperfeição. Quão ousados e presunçosos nos demonstramos ao argumentarmos com Deus com base em nossas conquistas! Aqueles que vivem pela lei, morrerão pela lei. Se nós insistimos em ascender ao Céu, a partir do Monte Sinai, nós perderemos nossa alma. Salvação somente é possível no Monte Calvário.

Somente sobre a base da graça de Deus podemos ter um relacionamento com Cristo. Todavia, é tão difícil admitir nossa insuficiência!

Um amigo meu apresentava uma mensagem numa reunião campal, quando uma senhora, no final, aproximou-se dele e muito desapontada disse: “Jovem, eu tenho servido a meu Senhor por 40 anos como uma obreira bíblica; e você está dizendo que todo o meu sacrifício não conta nada no julgamento?’’

“Minha cara irmã”, respondeu o pastor, “somente o sacrifício de Cristo na cruz conta alguma coisa para o julgamento. Sua única esperança, e minha, é ‘Jesus Filho de Davi, tem misericórdia de mim’.”

Sabe qual é o verdadeiro problema do legalista? Ironicamente ele não leva a lei tão a sério como parece. Procura estabelecer padrões para a Igreja, mas seus próprios padrões de santidade são desmedidamente baixos. Na tentativa para argumentar com Deus sobre quão bem ele está cumprindo a lei, inevitavelmente minimiza seus infinitos requerimentos. O fundamento de sua fé é realmente uma aparência de uma fina camada de gelo quebrando sob seus pés. Na verdade, sua única esperança está em Cristo, a sólida Rocha.

“Jamais poderemos alcançar a perfeição através de nossas boas obras. O indivíduo que contempla a Jesus pela fé, repudia sua própria justiça. Ele vê a si próprio como imperfeito, insuficiente seu arrependimento, considera fraqueza sua maior demonstração de fé, inferior seu mais dispendioso sacrifício, e então mergulha em humildade ao pé da cruz. Mas uma voz vinda dos oráculos divinos, lhe fala. Com assombro, ele ouve a mensagem: ‘Nele estais aperfeiçoados.’ Agora tudo se acha em repouso em sua alma. Ele não mais precisa empenhar-se em descobrir algum valor em si próprio, algum ato meritório através do qual obter o favor de Deus.” — Meditações Matinais, 1986, pág. 68.

Essa declaração deixa-nos com algumas questões inquiridoras em nosso coração. Devemos arrepender-nos dos nossos pecados; mas, também deveríamos repudiar nossa justiça própria? Deveríamos ver nosso arrependimento como incompleto, nossa fé como frágil, nosso mais custoso sacrifício como insuficiente?

Talvez você tenha batizado 25 almas ou 125, ou até mais, no último ano. Isto é ótimo, mas não conte com isso para argumentar diante de Deus. Sem os méritos de Cristo continuamente imputados em nossa conta, estamos amaldiçoados, condenados e mortos.

Mas, graças a Deus, se nos entregamos inteiramente a Ele, pela fé, então estamos completos em Jesus.

De nós mesmos, somos desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus. Mas em Jesus nós somos ricos, crescemos em bondade, e não necessitamos de nada mais adicional para sermos honrados.

MARTIN WEBER, Editor associado da revista Ministry.