O pastor que visita os membros está mais capacitado a nutrir relacionamentos e compreender as necessidades das pessoas
Ao despedir-se dos anciãos da igreja de Éfeso, Paulo os instruiu: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue” (At 20:28). Certamente, já ouvimos dizer que “onde não há profecia, o povo se corrompe” (Pv 29:18). Que tal parafrasearmos essa declaração, afirmando que “onde não há visitação, o rebanho e o pastor perecerão”?
Um dos objetivos da visitação pastoral é mostrar que os pastores se importam com o rebanho. As pessoas não se incomodam com nosso nível de conhecimento até que percebam que nós nos importamos com elas. No entanto, alguns membros dizem não ter recebido uma visita pastoral há muitos anos. Então, que tipo de mensagem está sendo enviada pelos pastores que não visitam o povo?
Arte perdida
Há muitos fatores que têm levado pastores a negligenciar a visitação pastoral. Primeiro, as mudanças demográficas. Em muitos lugares, os membros residem longe da igreja. Segundo, o modelo de família nuclear, em que os membros cuidam das necessidades familiares e têm pouco tempo para receber visita dos pastores ou de outros líderes. Terceiro fator, alguns pastores têm-se afastado muito do modelo de pastor para o de gerente – estão amarrados a minúcias e complexidades administrativas, de modo que não têm tempo para os membros da congregação.
Para os crentes mais antigos, a visita do pastor era norma; porém, para as gerações modernas, a visitação pastoral se tornou uma arte perdida. Embora alguns pastores se considerem nutridores, eles tentam fazer isso unicamente através de sermões, em lugar de visitar os membros. Para mim, isso é um grande erro.
Por que eles saem
Todos os anos, milhares de novos membros têm sido adicionados à igreja adven-tista do sétimo dia, em todos os lugares. Porém, infelizmente, também contabilizamos baixas. Poderia ser que muitos desses irmãos nunca foram visitados após o batismo? Em conversa com membros que tenho visitado em vários lugares, sei que muitos esperaram uma visita pastoral.
Costumamos dizer que muitos dos que deixam a igreja não fazem isso por questões doutrinárias, mas devido a fatores sociais, isto é, os pastores ou anciãos não os visitaram em casa, quando estavam doentes no hospital, ou quando enfrentaram problemas familiares. Alguns membros fazem tanta questão da visita do pastor que se outro líder fizer a visita, para eles, não faz muito sentido.
Aparentemente, a perda de membros está relacionada com o sentimento de que a igreja os abandonou. O senso de abandono também emerge nas questões disciplinares, durante e após as fases de mágoa e sofrimento, na colheita das conseqüências de separação ou divórcio, e até na aposentadoria. A visitação pastoral pode contribuir para solução desses problemas. Essa visita revela que você se importa com as pessoas. Isso faz a diferença.
Abordagens
O pastor que visita é capacitado a nutrir relacionamentos e compreender as necessidades das pessoas. Isso tanto fortalece a conservação dos membros antigos, como ajuda a conquistar novos crentes. A visitação pastoral pode realizar o que programas de evangelismo massivo não conseguem fazer. Por exemplo, se o pastor tem alguma preocupação a respeito de um dos seus auxiliares, em lugar de abordar publicamente esse auxiliar, perguntando-lhe por que não tem cumprido suas responsabilidades, a melhor coisa a fazer é visitá-lo em casa, no trabalho, ou na sala pastoral. Então, ficará surpreso com o modo como esse membro aceitará, sem muita persuasão nem coerção, continuar suas atividades pela igreja.
A visitação pastoral é tão básica como reservar tempo para ouvir sobre as necessidades de alguém. Uma das coisas que o pastor freqüentemente ouve é a seguinte: “Pastor, odeio preocupá-lo, mas…”, como se as necessidades de um membro significasse intromissão em nosso trabalho. A muitas pessoas tem sido dito, de algum modo, que suas necessidades são secundárias e, quando procuram o pastor, já estão condicionadas a ser consideradas sem importância.
Tome a iniciativa
Como os pastores bem sabem, muitos fatores contribuem para disputas e conflitos congregacionais. Se eles não tomam a iniciativa de visitar, acabam contribuindo para agravar os problemas. Não raro, as igrejas têm boa vontade para tolerar sermões enfadonhos, administração desastrosa e falta de organização. Mas, os membros não toleram a falta de visitação pastoral. Eles consideram isso negligência. Mesmo aqueles membros que dizem não precisar de visita ficam entusiasmados quando o pastor os visita. Geralmente, são muito generosos em suas referências e seu reconhecimento ao pastor.
Tem havido casos em que o pastor é poupado da ira de alguns membros porque alguém se levanta e o defende, realçando suas qualidades como visita-dor, e até como, em tempos de crise, foi beneficiado por essa virtude pastoral. Contudo, manutenção da paz e auto-proteção não podem ser consideradas motivos para que o pastor realize visitas. Ele deve fazê-lo simplesmente porque é seu dever.
Tomar iniciativa nesse aspecto pressupõe que essa prática é importante e apropriada para o pastor, como alguém que se importa com o rebanho, buscando alcançá-lo mesmo sem convite. Se o pastor visita regularmente, é mais provável que ouvirá sobre crises e terá mais condições para manter um relacionamento restaurador. Tal relacionamento provê um clima no qual sempre está presente a certeza de receber cuidado e atenção em momentos de crise.
A visitação pastoral regular ajuda as pessoas a desenvolver confiança no pastor, tornando-as mais abertas para falar de suas necessidades. Certo membro de igreja comentou: “Porque o pastor está sempre em minha casa, vendo meu sofá manchado e minha cortina puída, sinto que posso confiar-lhe outras manchas da minha vida.”
Dicas para visitação
Deve o pastor visitar apenas em caso de emergência? Deve fazer isso uma vez ao ano? Considerando que os pais geralmente trabalham fora, talvez seja necessário ao pastor procurar um horário em que possa encontrá-los em casa: à noite, nos domingos ou feriados, entre outras opções condizentes com a realidade local. Numa época como a nossa, em que as pessoas estão vivendo mais, há idosos nos lares que também apreciam a visita do pastor e dela necessitam.
No caso de um membro ser internado no hospital, a visita pastoral também é esperada. Famílias que atravessam crises necessitam ser visitadas, aconselhadas e animadas. Indivíduos ou famílias que passaram a assistir regularmente à igreja devem ser visitados pelo pastor, a fim de ser encorajados a se tomar membros da congregação. Nesta época de tanta pressa e ocupação, é bom que o pastor telefone antes, marcando a visita. Isso faz com que a pessoa se prepare para o encontro. Mas, a visita é sempre bem-vinda, ainda que seja feita de surpresa.
Ao fazer a visita pela primeira vez, tome tempo para conhecer cada membro da família. Pergunte sobre o tempo de residência na cidade, trabalho, carreira estudantil ou profissional. Normalmente, as pessoas gostam de falar sobre si mesmas ou seus familiares. Olhe discretamente ao redor: fotografias, brinquedos, livros ou animais de estimação fornecem boas oportunidades para diálogo. Você pode falar algo a respeito de si mesmo ou sobre sua família.
Jamais diga que tem pouco tempo, mas também não superestime sua boa-vinda àquele lar. Uma visita que dure menos de quinze ou vinte minutos pode parecer muito apressada. Porém, mais de uma hora já configura um encontro social, não uma visita pastoral.
Caso você se surpreenda distraindo-se, durante a conversa, mude sua postura corporal e concentre-se no que está ouvindo. A postura corporal define se você é bom ouvinte ou bom distraído.
Você é pastor
Quando o pastor visita um membro de sua igreja, seus deveres incluem o aconselhamento desse irmão em sua fé cristã. O pastor não deve tentar ser médico nem psiquiatra ou assistente social. Os pastores são generalistas com um alvo específico: partilhar o evangelho. O que ele diz durante uma visita é vitalmente importante.
Ao visitar um doente, não faça perguntas sobre o tipo de cirurgia realizada nem sobre o tamanho da cicatriz. Faça perguntas como, por exemplo: “Como está sendo seu dia até agora?” “Como está se sentindo hoje?” Ouça com empada, mas não dê conselhos nem conte histórias sobre o que aconteceu a você ou a outras pessoas que tiveram a mesma doença. Lembre-se: você não é médico, mas pastor. Converse com outros familiares e se mantenha bem informado.
Leia a Bíblia e transmita esperança. Nunca deixe o quarto do doente, nem o lar da pessoa visitada, sem orar. Ainda que o doente esteja em coma, ore. Audição é um dos últimos sentidos perdidos pelo enfermo; assim, seja cuidadoso com o que diz ao lado da cama.
Lembre-se de que seu pastorado será mais forte e significativo, quando forem envidados esforços para estar em prontidão, sempre, para atender os membros da igreja, nos inconstantes cenários da vida – em suas tristezas e alegrias. Foi para isso que Deus lhe confiou Seu rebanho.